— Como assim eu não penso de forma pura? — Rebateu Maia, indignada, mas com um brilho travesso nos olhos. — Me diz, Ju, fala sério… Sozinhos, no meio da noite, um homem e uma mulher num apartamento, e não acontece nada? Isso sim que é um desperdício!Juliana respirou fundo, rolando os olhos.— Eu e ele não fizemos nada, tá bom? Se for para dizer que aconteceu alguma coisa, o máximo foi que eu… Dei uma surra nele. Serve?— Você o quê? — Maia arregalou os olhos, como se sua mente tivesse travado de tanto tentar processar a informação.Ela olhou Juliana de cima a baixo, com uma mistura de espanto e admiração.— Ju… Eu não imaginava que você fosse tão… Ousada assim…Juliana revirou os olhos de novo, sem paciência.— Quando eu disse que bati nele, é bater de verdade, Maia. Literalmente.Com poucas palavras, contou o que havia acontecido, como Bruno a assustou e como, por reflexo, ela o derrubou no chão.Maia, agora sentada ao lado dela, balançou a cabeça.— Ju, posso te falar uma coisa? Eu
O lustre pesado no hall de entrada balançava levemente com a força das batidas na porta.Juliana foi arrancada de um sono profundo.Irritada, sentou-se na cama, acendeu o abajur e desceu até a porta. No visor do interfone, apareceu a silhueta de um homem alto.Ele estava encostado na porta, com o punho cerrado, batendo com força.Juliana não conseguia enxergar o rosto dele com clareza.Sem hesitar, pegou o telefone e ligou para a administração do prédio.Enquanto aguardava a chegada dos seguranças, o homem continuava esmurrando a porta. Parecia incansável: a intensidade das batidas ia de fraca a forte, diminuía, e então recomeçava com ainda mais força.Aquela insistência quase fez Juliana admirar a perseverança dele.Cinco minutos depois, o pessoal da administração chegou, acompanhado por dois seguranças. Eles tentaram imobilizar o homem, mas, antes mesmo de encostar nele, levaram um soco inesperado.De repente, o corredor virou um cenário de confusão.Dois seguranças fortes e treinado
O amor na juventude era sincero e intenso.Naquela época, para conquistar Maia, ele insistiu sem parar, com toda a cara de pau e foi exatamente essa persistência que o fez conquistar o coração dela.Ele mesmo prometeu: “Jamais faria Maia se arrepender.”Disse que ela seria a mulher da sua vida. Para sempre.Mas a realidade foi outra.Com o tempo, aquela paixão avassaladora foi esfriando. A rotina, sempre igual, o deixou entediado. As tentações do lado de fora começaram a sussurrar em seus ouvidos, seduzindo-o, balançando seu coração.Ele tinha vontade... Mas não coragem suficiente.Até que, depois de muitas conversas com Viviane, tudo mudou.Foi Viviane quem o fez enxergar: ele não tinha deixado de amar Maia.Ele só precisava de algo para apimentar a monotonia, um escape, um tempero na vida.O casamento deles havia se tornado um ciclo repetitivo e sufocante.Se continuasse daquele jeito, Alexandre tinha certeza de que, mais cedo ou mais tarde, acabaria se transformando em um zumbi emoc
A última vez que Juliana havia sentido aquela sensação tinha sido no auge do seu antigo relacionamento.Naquela época, ela e Gustavo eram inseparáveis. Queriam estar juntos o tempo todo.Tudo o que faziam, um avisava o outro. Até as pequenas coisas.Mas, com o passar do tempo, as conversas viraram monólogos.As mensagens de Juliana eram longas, cheias de detalhes e carinho, do outro lado, Gustavo respondia só o final, isso quando respondia. Às vezes, ignorava tudo e mudava de assunto, como se nada tivesse sido dito.Ela tentou conversar, tentou resolver.Não adiantava.Gustavo simplesmente deixou de se importar com o que ela sentia.Quando surgiam desentendimentos, ele apenas se calava, certo de que, no fim, ela acabaria cedendo primeiro.Sete anos de relacionamento.Seis anos e meio de frustração silenciosa.Hoje, olhando para trás, Juliana só conseguia se achar tola.Havia desperdiçado anos preciosos com alguém que não merecia.Ela afastou aqueles pensamentos, respirou fundo e decid
Juliana entendeu perfeitamente a situação. Pegou o cartão e o guardou na bolsa com toda naturalidade:— Tudo bem. Vamos fazer como o Sr. Lorenzo propôs.Na vida, quanto mais aliados, melhor.Um favor de Lorenzo… Bem, poderia ser útil um dia.E, se não fosse para ela, talvez Maia precisasse.Com o comportamento que Alexandre tinha demonstrado naquela noite, era melhor estar atenta e manter uma carta na manga.Quando tudo foi resolvido, Alexandre finalmente saiu da sala de interrogatório.No momento em que viu Lorenzo, seu rosto escureceu na hora:— Por que é você?!Entre todas as pessoas que Alexandre odiava, Lorenzo estava no topo da lista.Eram irmãos apenas por parte de pai. Lorenzo, três anos mais velho, estava sempre um passo à frente.Todo o império da família Souza havia sido entregue a Lorenzo para administrar.E Alexandre?Chamavam-no de "o segundo filho da família Souza", um título bonito, mas que, na prática, não passava de um cachorro obediente, que vinha quando chamado e su
O som claro do tapa se misturou ao grito furioso de Alexandre, ecoando na noite silenciosa com uma nitidez impressionante.Juliana calmamente recolheu a mão.Alexandre, com o rosto ardendo, segurava a bochecha, incrédulo, os olhos arregalados, encarando-a sem acreditar no que acabara de acontecer.— Desculpa… Reflexo instintivo. — Disse Juliana num tom leve e despreocupado.Alexandre avançou de repente na direção dela, não dava pra culpá-la, né?Mesmo que aquele tapa tivesse, sim, um pouco de intenção, Juliana jamais admitiria."Eu não sou boba", pensou ela, com um sorrisinho discreto.Tomado por uma raiva quase cega, Alexandre avançou para cima dela:— Juliana! Tá querendo morrer?!Toda a frustração que ele vinha acumulando explodiu de vez naquele momento.Mas, antes que pudesse sequer encostar nela, alguém surgiu atrás de Juliana, como um raio.PAF!Outro tapa estalou no ar, desta vez simetricamente na outra bochecha de Alexandre.Ele sentiu a dor queimar dos dois lados do rosto e, q
— O dinheiro do acordo foi dado pelo Lorenzo.Ao ouvir aquele nome, Maia não conseguiu esconder o espanto no rosto.— Foi o Lorenzo quem pagou a fiança do Alexandre? — Perguntou, quase sem acreditar.A relação entre os dois irmãos sempre fora extremamente tensa. Como poderia Lorenzo, logo ele, ter vindo pessoalmente libertar Alexandre?Ela se lembrava bem: no dia do seu casamento com Alexandre, Lorenzo sequer apareceu. Mandou apenas um presente protocolar, sem qualquer demonstração de proximidade.E agora… Será que eles tinham se reconciliado?Mas não fazia sentido algum.As atitudes de Lorenzo eram mesmo difíceis de entender.Depois de pensar por um tempo sem chegar a conclusão nenhuma, Maia desistiu de tentar entender. Empurrou o cartão bancário na direção de Juliana:— Ju, fica com isso. E… Me desculpa pelo que aconteceu. Eu juro que não sabia que o Alexandre tinha contratado alguém para me seguir…Se não fosse por ela ter voltado de última hora à casa de Juliana para buscar algo, A
— Eu decidi… Daqui para frente, não vou mais dividir as despesas com o Leo. Todos os custos da casa vão sair do meu bolso. O dinheiro dele vai ser só para pagar o financiamento do apartamento, do carro… E o que sobrar, ele vai guardar como dote pro nosso casamento. — Camila falava com tanta certeza, o olhar sério, sem sinal algum de brincadeira.— Que pena. — Juliana deu um sorriso de canto.— Por que? — Camila ficou confusa.— Pena que eu não sou homem… — Juliana suspirou. — Porque, se fosse, ia disputar você na hora.Camila ficou toda vermelha e riu, sem graça:— Ju… Não brinca comigo…Juliana permaneceu em silêncio.Pronto. Caso perdido.Ela já nem conseguia diferenciar ironia de elogio.Juliana já tinha visto muita gente como a Camila.As que escutam conselhos, no fim, se dão bem.As que não escutam… Choram até não ter mais lágrimas.E naquele momento, Camila estava completamente fechada. Nada entrava.Sem um choque de realidade, qualquer palavra seria inútil.Juliana abaixou a cab