— Ajudar um pouco, de vez em quando, tudo bem… — Começou Juliana, com um olhar firme. — Mas você não percebeu? Você virou praticamente um caixa eletrônico ambulante. Uma versão feminina de um banco. Nessa relação… O que, exatamente, ele faz por você?As perguntas vinham uma atrás da outra, como pedradas. Camila, por um instante, ficou sem resposta.— Não precisa me responder agora. — Juliana suavizou o tom. — Faz o seguinte: manda uma mensagem para ele agora… E pergunta o que ele vai fazer hoje à noite.Camila pegou o celular e obedeceu, sem hesitar.Dois minutos depois, levantou os olhos:— O Leo disse que hoje à noite vai sair com o Sr. Gustavo… Compromisso de trabalho. Vão naquele karaokê no centro da cidade.Ele até passou o endereço certinho — claramente pra deixar tudo parecer transparente e não levantar suspeitas.Realmente, digno de alguém já com trinta anos.Juliana enxergava tudo com clareza.Alguns segundos depois, olhou direto nos olhos de Camila, calma, mas firme:— Mila,
A voz da mulher soava cheia de surpresa.Ela segurou Camila pelo braço, impedindo-a de seguir adiante, e olhou ao redor, desconfiada, mas não viu nada de estranho.O estado de Camila era visivelmente instável.Ela estava abatida, o rosto ainda marcado por lágrimas secas, os olhos vermelhos e inchados. Com a voz embargada, sussurrou:— Vivi… O Leo… Ele me traiu… Na noite anterior, ele ainda a abraçava, dizia palavras doces, prometia cuidar dela para sempre… Que, assim que juntasse o dinheiro do dote, a pediria em casamento.E hoje… Estava ali dentro, cercado por várias garotas bonitas no camarote.Camila podia ser ingênua, mas não era burra.Por dentro, Viviane xingava Leonardo mentalmente, mas não queria se envolver demais.Afinal, Gustavo a aguardava na sala 4006.Ela ajeitou o xale branco sobre os ombros, prendeu uma mecha de cabelo atrás da orelha e forçou um sorriso compreensivo, tão falso quanto ensaiado.— O Leonardo é o braço direito do Guto… O caráter dele não pode ser tão rui
Sem paciência para mais enrolação, Juliana agarrou o pulso de Camila e, com um empurrão firme, afastou Viviane, seguindo em frente sem olhar para trás.Sua postura decidida e arrogante fez o rosto de Viviane se contorcer de raiva.Juliana!O ódio queimava dentro dela, mas, mesmo assim, Viviane não teve coragem de seguir atrás.No instante em que viu Juliana arrombar a porta do camarote, ela rapidamente entrou na sala ao lado, a 4006.A porta se fechou, abafando os sons vindos do corredor.A iluminação suave e aconchegante da sala foi aos poucos acalmando a raiva no peito de Viviane, substituindo-o por um nervosismo sutil.Afinal, toda aquela armadilha daquela noite tinha sido cuidadosamente planejada por ela e Leonardo.A família Rodrigues não podia mais esperar até o final do ano para formalizar o noivado com a família Costa.O tempo era longo demais, e as incertezas… Muitas.Se, até lá, Gustavo mudasse de ideia, o que seria dela? E da reputação da família Rodrigues?Viviane não estav
Enquanto isso...Na sala ao lado.No exato momento em que Juliana escancarou a porta com um chute, Leonardo estava abraçado a duas mulheres, uma de cada lado.Camila tremia dos pés à cabeça, tomada por uma raiva que a fazia estremecer.Juliana ficou parada logo atrás dela, pronta para segurá-la caso não suportasse o choque e desmaiasse ali mesmo.— Mi... Mila... O rosto dele perdeu toda a cor num instante. Instintivamente, empurrou as mulheres para longe, desesperado para correr até Camila e tentar se explicar.No afobamento, derrubou alguns copos de vidro da mesa, que estilhaçaram no chão.— Não chega perto de mim! — Camila gritou, a voz aguda e trêmula.No caminho pelo corredor, ela ainda alimentava a esperança de que tudo não passasse de um grande mal-entendido.Talvez Leonardo tivesse chamado aquelas mulheres apenas para compor o ambiente, sem sequer encostar em nenhuma delas.Mas a realidade a atingiu como uma faca no peito.Dentro da sala, estava apenas Leonardo.E, nos braços d
Contando essa, Camila só tinha tido dois relacionamentos na vida.O primeiro havia terminado por traição.Ela acreditava, de coração, que na segunda vez não cometeria o mesmo erro. Que não precisaria reviver aquela dor.Mas o destino parecia gostar de brincar com suas ilusões, e agora, a dor era ainda mais cruel.Usando a desculpa de acompanhar o chefe num compromisso, Leonardo, na verdade, havia chamado acompanhantes do karaokê às escondidas.Era repugnante.Simplesmente nojento!O estômago de Camila se revirava. Ela se curvou, incapaz de conter, e começou a engasgar com ânsia seca.Leonardo tentou se aproximar para ampará-la, mas Juliana foi mais rápida.Com um estalo seco, deu a ele uma tapa firme na mão.Leonardo recuou imediatamente, sentindo a ardência.— O que você tá fazendo?! — Ele rosnou, irritado.Juliana apenas lançou a ele um olhar frio, cheio de desprezo, um olhar que dizia tudo sem precisar de palavras.Gustavo, agora, já havia entendido a situação por completo.Seu assi
Assim que Gustavo ergueu o braço para proteger Juliana, ela se moveu com uma agilidade impressionante, um giro rápido, seguido de um chute certeiro que acertou em cheio o antebraço dele.Com o impacto e a dor repentina, o movimento de Gustavo foi interrompido.Leonardo, que vinha correndo sem freio, não conseguiu parar a tempo. O caco de vidro que segurava rasgou a lateral do ombro de Gustavo.O sangue jorrou na hora, manchando a camisa impecável.O rosto de Gustavo empalideceu. Ficou tenso, o maxilar travado.— Se... Senhor Gustavo... — Leonardo começou a tremer dos pés à cabeça. — Eu... Eu juro que não queria te machucar! Não foi culpa minha! A culpa é dela! Foi essa mulher! — Jogava a responsabilidade para Juliana com a maior cara de pau.Juliana soltou uma risada gelada.— Ah, claro. Eu tenho poderes telepáticos. Fiz você atacar o Gustavo contra a sua vontade, né? Ela começou a achar que realmente tinha um talento natural pra ser bode expiatório.Às vezes, ela realmente se pergunt
Foi só quando algo atingiu seu rosto com força que Leonardo foi arrancado das doces fantasias em que estava mergulhado.O objeto que o acertou foi uma pulseira de cristal.Cada conta daquela pulseira, ele havia comprado no mercado popular, num pacotinho barato que custava poucos reais.Com aquelas miçangas simples, ele mesmo montou a pulseira e disse a Camila que era única, feita especialmente para ela.Camila nunca reclamou do preço ou da simplicidade.Pelo contrário, usava aquela pulseira todos os dias, como se fosse um verdadeiro tesouro.O pânico tomou conta de Leonardo.— Mila... A resposta dela veio firme, mas com a dor rasgando na voz trêmula:— Leonardo, a gente terminou.O peito de Camila doía tanto que parecia que o ar lhe faltava.As lágrimas já haviam secado, agora só restava a respiração curta, o nó na garganta, e uma vontade desesperada de ir embora dali.Ela não queria mais prolongar aquilo.Ver com os próprios olhos ele pisar em tudo o que ela considerava sagrado...Nã
O toque da chamada de vídeo soou por mais de dez segundos antes de Juliana finalmente atender.Quando a tela acendeu, o rosto de Bruno apareceu em close, ocupando quase todo o visor do celular.A imagem balançava um pouco, até que ele virou a câmera para a lente traseira.Juliana franziu levemente as sobrancelhas.O que ele estava fazendo?Ela ficou em silêncio, esperando que Bruno explicasse aquele movimento estranho.Mas ele parecia meticuloso.Mostrou o quarto inteiro com a câmera: cada canto, cada detalhe.Passou pela cama, abriu o guarda-roupa, até filmou debaixo da cama e atrás das cortinas, como se quisesse provar algo.Cinco minutos depois, voltou a câmera para o modo frontal.Com uma mão segurava o celular e, com a outra, começou a afrouxar a gravata.Os dedos longos, firmes e elegantes pareciam esculpidos em mármore.— Estou sozinho. — A voz dele, baixa e aveludada, saiu pelo alto-falante, envolvente, carregada de um tom íntimo e grave. — Não tem mais ninguém aqui.Juliana pi