A última vez que Juliana havia sentido aquela sensação tinha sido no auge do seu antigo relacionamento.Naquela época, ela e Gustavo eram inseparáveis. Queriam estar juntos o tempo todo.Tudo o que faziam, um avisava o outro. Até as pequenas coisas.Mas, com o passar do tempo, as conversas viraram monólogos.As mensagens de Juliana eram longas, cheias de detalhes e carinho, do outro lado, Gustavo respondia só o final, isso quando respondia. Às vezes, ignorava tudo e mudava de assunto, como se nada tivesse sido dito.Ela tentou conversar, tentou resolver.Não adiantava.Gustavo simplesmente deixou de se importar com o que ela sentia.Quando surgiam desentendimentos, ele apenas se calava, certo de que, no fim, ela acabaria cedendo primeiro.Sete anos de relacionamento.Seis anos e meio de frustração silenciosa.Hoje, olhando para trás, Juliana só conseguia se achar tola.Havia desperdiçado anos preciosos com alguém que não merecia.Ela afastou aqueles pensamentos, respirou fundo e decid
Juliana entendeu perfeitamente a situação. Pegou o cartão e o guardou na bolsa com toda naturalidade:— Tudo bem. Vamos fazer como o Sr. Lorenzo propôs.Na vida, quanto mais aliados, melhor.Um favor de Lorenzo… Bem, poderia ser útil um dia.E, se não fosse para ela, talvez Maia precisasse.Com o comportamento que Alexandre tinha demonstrado naquela noite, era melhor estar atenta e manter uma carta na manga.Quando tudo foi resolvido, Alexandre finalmente saiu da sala de interrogatório.No momento em que viu Lorenzo, seu rosto escureceu na hora:— Por que é você?!Entre todas as pessoas que Alexandre odiava, Lorenzo estava no topo da lista.Eram irmãos apenas por parte de pai. Lorenzo, três anos mais velho, estava sempre um passo à frente.Todo o império da família Souza havia sido entregue a Lorenzo para administrar.E Alexandre?Chamavam-no de "o segundo filho da família Souza", um título bonito, mas que, na prática, não passava de um cachorro obediente, que vinha quando chamado e su
O som claro do tapa se misturou ao grito furioso de Alexandre, ecoando na noite silenciosa com uma nitidez impressionante.Juliana calmamente recolheu a mão.Alexandre, com o rosto ardendo, segurava a bochecha, incrédulo, os olhos arregalados, encarando-a sem acreditar no que acabara de acontecer.— Desculpa… Reflexo instintivo. — Disse Juliana num tom leve e despreocupado.Alexandre avançou de repente na direção dela, não dava pra culpá-la, né?Mesmo que aquele tapa tivesse, sim, um pouco de intenção, Juliana jamais admitiria."Eu não sou boba", pensou ela, com um sorrisinho discreto.Tomado por uma raiva quase cega, Alexandre avançou para cima dela:— Juliana! Tá querendo morrer?!Toda a frustração que ele vinha acumulando explodiu de vez naquele momento.Mas, antes que pudesse sequer encostar nela, alguém surgiu atrás de Juliana, como um raio.PAF!Outro tapa estalou no ar, desta vez simetricamente na outra bochecha de Alexandre.Ele sentiu a dor queimar dos dois lados do rosto e, q
— O dinheiro do acordo foi dado pelo Lorenzo.Ao ouvir aquele nome, Maia não conseguiu esconder o espanto no rosto.— Foi o Lorenzo quem pagou a fiança do Alexandre? — Perguntou, quase sem acreditar.A relação entre os dois irmãos sempre fora extremamente tensa. Como poderia Lorenzo, logo ele, ter vindo pessoalmente libertar Alexandre?Ela se lembrava bem: no dia do seu casamento com Alexandre, Lorenzo sequer apareceu. Mandou apenas um presente protocolar, sem qualquer demonstração de proximidade.E agora… Será que eles tinham se reconciliado?Mas não fazia sentido algum.As atitudes de Lorenzo eram mesmo difíceis de entender.Depois de pensar por um tempo sem chegar a conclusão nenhuma, Maia desistiu de tentar entender. Empurrou o cartão bancário na direção de Juliana:— Ju, fica com isso. E… Me desculpa pelo que aconteceu. Eu juro que não sabia que o Alexandre tinha contratado alguém para me seguir…Se não fosse por ela ter voltado de última hora à casa de Juliana para buscar algo, A
— Eu decidi… Daqui para frente, não vou mais dividir as despesas com o Leo. Todos os custos da casa vão sair do meu bolso. O dinheiro dele vai ser só para pagar o financiamento do apartamento, do carro… E o que sobrar, ele vai guardar como dote pro nosso casamento. — Camila falava com tanta certeza, o olhar sério, sem sinal algum de brincadeira.— Que pena. — Juliana deu um sorriso de canto.— Por que? — Camila ficou confusa.— Pena que eu não sou homem… — Juliana suspirou. — Porque, se fosse, ia disputar você na hora.Camila ficou toda vermelha e riu, sem graça:— Ju… Não brinca comigo…Juliana permaneceu em silêncio.Pronto. Caso perdido.Ela já nem conseguia diferenciar ironia de elogio.Juliana já tinha visto muita gente como a Camila.As que escutam conselhos, no fim, se dão bem.As que não escutam… Choram até não ter mais lágrimas.E naquele momento, Camila estava completamente fechada. Nada entrava.Sem um choque de realidade, qualquer palavra seria inútil.Juliana abaixou a cab
— Ajudar um pouco, de vez em quando, tudo bem… — Começou Juliana, com um olhar firme. — Mas você não percebeu? Você virou praticamente um caixa eletrônico ambulante. Uma versão feminina de um banco. Nessa relação… O que, exatamente, ele faz por você?As perguntas vinham uma atrás da outra, como pedradas. Camila, por um instante, ficou sem resposta.— Não precisa me responder agora. — Juliana suavizou o tom. — Faz o seguinte: manda uma mensagem para ele agora… E pergunta o que ele vai fazer hoje à noite.Camila pegou o celular e obedeceu, sem hesitar.Dois minutos depois, levantou os olhos:— O Leo disse que hoje à noite vai sair com o Sr. Gustavo… Compromisso de trabalho. Vão naquele karaokê no centro da cidade.Ele até passou o endereço certinho — claramente pra deixar tudo parecer transparente e não levantar suspeitas.Realmente, digno de alguém já com trinta anos.Juliana enxergava tudo com clareza.Alguns segundos depois, olhou direto nos olhos de Camila, calma, mas firme:— Mila,
A voz da mulher soava cheia de surpresa.Ela segurou Camila pelo braço, impedindo-a de seguir adiante, e olhou ao redor, desconfiada, mas não viu nada de estranho.O estado de Camila era visivelmente instável.Ela estava abatida, o rosto ainda marcado por lágrimas secas, os olhos vermelhos e inchados. Com a voz embargada, sussurrou:— Vivi… O Leo… Ele me traiu… Na noite anterior, ele ainda a abraçava, dizia palavras doces, prometia cuidar dela para sempre… Que, assim que juntasse o dinheiro do dote, a pediria em casamento.E hoje… Estava ali dentro, cercado por várias garotas bonitas no camarote.Camila podia ser ingênua, mas não era burra.Por dentro, Viviane xingava Leonardo mentalmente, mas não queria se envolver demais.Afinal, Gustavo a aguardava na sala 4006.Ela ajeitou o xale branco sobre os ombros, prendeu uma mecha de cabelo atrás da orelha e forçou um sorriso compreensivo, tão falso quanto ensaiado.— O Leonardo é o braço direito do Guto… O caráter dele não pode ser tão rui
Sem paciência para mais enrolação, Juliana agarrou o pulso de Camila e, com um empurrão firme, afastou Viviane, seguindo em frente sem olhar para trás.Sua postura decidida e arrogante fez o rosto de Viviane se contorcer de raiva.Juliana!O ódio queimava dentro dela, mas, mesmo assim, Viviane não teve coragem de seguir atrás.No instante em que viu Juliana arrombar a porta do camarote, ela rapidamente entrou na sala ao lado, a 4006.A porta se fechou, abafando os sons vindos do corredor.A iluminação suave e aconchegante da sala foi aos poucos acalmando a raiva no peito de Viviane, substituindo-o por um nervosismo sutil.Afinal, toda aquela armadilha daquela noite tinha sido cuidadosamente planejada por ela e Leonardo.A família Rodrigues não podia mais esperar até o final do ano para formalizar o noivado com a família Costa.O tempo era longo demais, e as incertezas… Muitas.Se, até lá, Gustavo mudasse de ideia, o que seria dela? E da reputação da família Rodrigues?Viviane não estav