Juliana começou a suspeitar que estivesse tendo alucinações auditivas.Como um homem impecável e reservado como Bruno poderia dizer algo assim?Com certeza ela tinha ouvido errado.Mas, assim que relaxou, convencida de que era coisa da sua cabeça, ele repetiu e, dessa vez, com um tom ainda mais sério:— Está doendo de verdade.Por um momento, ela ficou tão constrangida que nem sabia onde colocar as mãos.O olhar penetrante de Bruno era intenso demais, então ela abaixou os olhos e, após hesitar por alguns segundos, sugeriu cautelosamente:— Que tal irmos ao hospital agora? Podemos fazer uma tomografia...Afinal, sua força não deveria ser capaz de causar um dano cerebral nele, certo...A hesitação dela não passou despercebida por Bruno.Segurando o riso, ele deu partida no carro.— Não precisa.Depois de uma breve pausa, explicou:— Eu te chamei algumas vezes, mas você não respondeu. Só me aproximei para te ajudar a colocar o cinto de segurança.Ele disse apenas isso, sem insistir na bri
Durante os sete anos em que esteve com Gustavo, todos acreditavam que ela não era boa o suficiente para ele, que estava tentando alcançar algo além de sua capacidade.Hoje, pela primeira vez, ouviu alguém dizer o contrário.Juliana não sabia exatamente como se sentia.Bruno, atento, entregou a ela um lenço de papel e abriu a porta do carro.— Vou fumar um cigarro.Ele deixou o espaço para Juliana.Juliana tinha um temperamento forte e, no fundo, sua parte mais vulnerável não queria ser vista por ninguém.Se Bruno tivesse uma posição mais próxima dela, talvez não escolhesse deixá-la sozinha nesse momento.Mas atravessar limites sem um relacionamento adequado poderia prejudicar a boa impressão.Ele tinha paciência.Lá fora, a noite estava escura.Bruno encostou-se preguiçosamente no capô do carro, de costas para a janela, com um pequeno ponto vermelho brilhando entre os dedos.Desde a noite em que descobriu que Juliana era a noiva de seu sobrinho, ele se trancou no quarto e fumou a noite
Sempre que mencionavam Juliana, Bruno sentia uma necessidade inexplicável de continuar ouvindo.Fábio resmungou baixinho, afastando-se para um canto da arquibancada e protegendo os fones de ouvido.— Sua prima Helena disse que Juliana está grávida! E o filho é do Gustavo!Uma frase fez o coração de Bruno afundar instantaneamente.A expressão despreocupada desapareceu instantaneamente, dando lugar a uma escuridão profunda e ameaçadora.— O que você disse?Ele verificou novamente, com a voz rouca segurando o celular com tanta força que os tendões de sua mão ficaram visíveis.Fábio encolheu os ombros, sentindo um arrepio na espinha. Já se arrependera de ter falado demais.Meia hora atrás. Ele havia encontrado Helena, que também estava lá para assistir às corridas. Ela claramente era do tipo extrovertido, aproveitou a oportunidade de ser prima de Bruno para puxar uma conversa descontraída.De repente, o assunto acabou recaindo sobre Juliana.Foi assim que Fábio acabou ouvindo um dos mai
Embora Juliana tivesse dito isso, o que eles faziam depois era da conta deles.Três horas depois...O jipe estacionou do outro lado da rua, bem em frente ao clube-alvo.A área praticamente poderia ser chamada de um corredor de casas noturnas, frequentado por pessoas da alta sociedade, sempre impecáveis e elegantes.E, justamente por isso, a sujeira escondida sob aquela fachada de sofisticação se tornava ainda mais evidente e repulsiva.De repente, o celular de Juliana tocou.Sob o olhar atento dos outros dentro do carro, ela atendeu, reunindo toda a coragem que conseguiu.— Sr. Bruno.— Onde você está? Estou em frente ao Império Urbano.Juliana ficou surpresa.Não esperava que Bruno estivesse ali também.Talvez... Ele tivesse acabado de chegar.Por um momento, seu coração se encheu de sentimentos conflitantes. Tentou reprimir essa estranha emoção, e com a voz controlada, disse:— Vou até você.Juliana desceu do carro, olhou ao redor e logo avistou um Maybach estacionado ao longe.A jan
Num instante, o corpo de Juliana ficou rígido.No segundo seguinte, Bruno se inclinou em direção ao seu ouvido, e o calor de sua respiração lhe pareceu estranhamente desconhecido.— Tem câmeras.Duas palavras ditas com leveza. Juliana fez um esforço para manter a calma, sem demonstrar qualquer fraqueza.Ela apontou para a garota no final da fila.As não escolhidas começaram a sair, uma após a outra. Quando a porta se fechou, Bruno puxou Juliana para sentar-se ao seu lado no sofá.A luz do camarote era fraca, e no ar pairava um suave aroma de sândalo.Homem elegante, mulher bonita, a proximidade entre eles era íntima e sugestiva.A grande mão de Bruno, com dedos longos e bem definidos, ainda envolvia firmemente sua fina cintura.Juliana sentiu um calor estranho subir pelo corpo.Principalmente na cintura, onde o toque ardente dele parecia incandescente.Ela tentou ao máximo ignorar a sensação e desviou o olhar para a garota à sua frente.— Quantos anos você tem?Lorena abaixou a cabeça.
O estrondo da porta sendo violentamente chutada ecoou pelo ambiente. Lorena agarrou o braço de Juliana, engolindo em seco, tomada pelo medo.— Digam que fui eu quem quebrou tudo… Eles não vão fazer nada com vocês...Juliana segurou sua mão, quebrando sua ingenuidade.— Você realmente acha que a pessoa que te levaria pode te proteger?Lorena ficou surpresa.A situação atual não permitia que falassem mais nada.Juliana rapidamente encontrou um armário grande o suficiente para esconder alguém e empurrou Lorena para dentro.— Fique aí dentro. Não saia.Fechando a porta do armário, Juliana se virou e se posicionou ao lado de Bruno.— Você não precisa estar aqui. — Ele franziu o cenho.— Sr. Bruno, não me subestime.Juliana não era ingênua. Desde o momento em que entrou naquele lugar, sentiu um olhar pesado sobre ela.Pegajoso. Repugnante. Talvez, desde o início, já tivessem percebido que estavam disfarçados.Os sons do lado de fora ficaram mais intensos, vozes misturadas ao barulho ensurd
Juliana olhou para Gustavo com a mesma expressão de quem observa um idiota.— Gustavo, você está maluco?Eles já não tinham nenhum tipo de relação, e ele ainda tinha a audácia de mandá-la acompanhá-lo até o hospital? O que deu coragem para ele fazer isso?Juliana riu com raiva, seus olhos brilhando com um sarcasmo que fez Gustavo sentir uma dor aguda no peito.Ele apertou as mãos com força, seus olhos estreitando-se rapidamente, já tomados pela raiva.— Juliana!Ele estava apenas agindo sem pensar, acabara de ser dominado pelo instinto de proteger ela, sem nem perceber.Lembrou-se dos tempos de escola...Quando Juliana era intimidada, era ele quem sempre a defendia.Com sua força, ele nunca deveria ter se machucado, mas, naquela época, para chamar a atenção de Juliana, ele até fingia se ferir de propósito em lugares visíveis.Agora, a Juliana do presente, tão indiferente quanto a do passado, fazia com que ele se sentisse como se tivesse um espinho na garganta, uma sensação insuportáve
Ela afirmou com convicção que a mãe de Lorena não havia se divorciado e ainda se agarrava desesperadamente a um lar em ruínas.E Lorena era o único pilar que sustentava aquela família.— Juliana, eu já tenho vinte e dois anos. Só pintei o cabelo, e sabe o que ela me disse? Me chamou de raposa sedutora... Quatro horas depois.Juliana e os outros chegaram à delegacia de polícia da Cidade A.Assim que desceu do carro, uma mulher veio correndo e, sem hesitar, deu um tapa estalado no rosto de Lorena.— Então você ainda sabe voltar pra casa?! Por que não morreu junto com aquele seu pai desgraçado?!Com o peito arfando de raiva, ela despejou insultos cruéis sem a menor consideração.A cena fez todos ao redor ficarem em silêncio absoluto.Juliana franziu a testa e deu um passo à frente, protegendo Lorena atrás de si.Lorena levou a mão ao rosto onde fora atingida. Seu cabelo curto e preto caiu sobre os olhos, escondendo qualquer traço de emoção.— Eu te sustento, te dou comida, te visto, para