O apartamento estava uma bagunça de caixas abertas, roupas espalhadas e móveis desalinhados. Sentei-me no sofá com uma taça de vinho na mão, girando o líquido escuro no vidro enquanto tentava ignorar o nervosismo que latejava dentro de mim. O silêncio entre mim e Teri era preenchido apenas pelo som suave de uma música antiga que tocava da sua caixa de som portátil.Ela estava sentada no chão, de pernas cruzadas, o celular nas mãos, rolando a tela de cima para baixo, perdida em pensamentos.— Ele me mandou mensagem.Levantei os olhos, observando-a hesitar antes de me estender o celular. Peguei o aparelho e encarei a tela. Era um número sem identificação, mas eu não precisava perguntar quem era."Voltei para a cidade. Quero te ver."— Aquele cliente especial? — perguntei, mesmo já sabendo a resposta.— O próprio.Teri jogou o celular ao lado e pegou a taça de vinho, tomando um gole longo, como se tentasse engolir mais do que apenas a bebida.Eu a observei atentamente por alguns segundos
O ronco do motor era o único som dentro do carro enquanto a estrada se estendia à nossa frente. A cidade havia ficado para trás há algum tempo, e agora tudo que víamos eram campos, algumas casinhas isoladas e a longa faixa de asfalto cortando a paisagem.Eu estava no banco do passageiro, observando a paisagem passar pela janela, perdida em pensamentos. Ainda não sabia direito como tinha me colocado naquela situação. A Sofia deu a sugestão do acampamento e na hora pareceu algo com o qual eu pudesse lidar, mas eu realmente não conseguia me imaginar fazendo xixi no mato ou mesmo dormindo dentro de uma barraca. Ainda assim, ali estava eu, indo para um acampamento com Nicolas.Talvez parte disso fosse a necessidade de afastar aquela sensação ruim que ficou depois de ver a discussão de Paulo com o irmão na recepção do prédio. Talvez fosse o fato de que, por mais que minha razão dissesse para eu manter distância e focar apenas na missão que eu tinha, meu coração teimava em se envolver mais
O lago à nossa frente refletia o céu azul, pontilhado por algumas nuvens que se movimentavam lentamente. O som da água batendo suavemente nas margens se misturava ao canto dos pássaros e ao farfalhar das folhas balançadas pelo vento. O ar estava fresco, carregado do cheiro de terra úmida e vegetação selvagem.Dentro da água, eu sentia cada músculo do meu corpo relaxar. Era uma sensação libertadora, como se ali, naquele lugar isolado, os problemas do mundo real simplesmente não existissem.Nicolas estava a poucos metros de mim, encostado em uma pedra submersa. A água escorria pelo seu corpo, contornando cada músculo definido do seu peito e dos seus braços. Seus olhos estavam fixos em mim, acompanhando cada movimento que eu fazia, e mesmo sem dizer uma palavra, eu sentia a intensidade daquele olhar queimando minha pele.— Se continuar me olhando assim, vou começar a achar que tem algo de errado comigo. — Provoquei, espremendo um pouco da água dos cabelos.Nicolas riu baixinho, mas não d
— Eu sei exatamente o que você tem em mente. — Brinquei, puxando um baralho da mochila.Nicolas arqueou uma sobrancelha, a sombra de um sorriso brincando nos lábios.— Ah, sabe?— Sei. — Joguei o baralho sobre o colchão inflável. — Vamos jogar Truco ou Paciência?O silêncio foi seguido por uma risada baixa e rouca.— Você tá de brincadeira.— O que mais a gente faria no meio do nada, no meio da chuva?Ele se inclinou para frente, os olhos me percorrendo devagar, como se estivesse memorizando cada detalhe. O biquíni molhado ainda colava ao meu corpo depois da correria para a barraca, e a forma como ele me olhava fazia meu estômago se revirar em antecipação.— Bom… eu até aceitaria, mas só se for uma versão stripper.Mordi o lábio, fingindo ponderar.
~NICOLAS~O sol filtrava-se entre as folhas altas das árvores, criando padrões dourados no chão de terra batida. A brisa fresca da manhã ainda carregava o cheiro da chuva da noite anterior, e o mundo ao nosso redor parecia novo, mais vivo. Mas nada parecia mais vivo do que a mulher ao meu lado.Ayla se espreguiçou ao sair da barraca, vestindo minha camisa por cima do biquíni. Seus cabelos estavam bagunçados, e o rosto ainda trazia os vestígios do sono, mas nunca a vi tão bonita quanto agora, despenteada, com as marcas da noite passada ainda visíveis na pele.— Meu corpo inteiro dói… — murmurou.Minha risada foi baixa, puxando-a contra o meu peito para matar as saudades que eu já sentia dela.— Isso quer dizer que eu fiz um bom trabalho.Ela ergueu a cabeça apenas para me dar um tapa fraco no ombro antes de se esti
~AYLA~O apartamento estava um caos de roupas espalhadas sobre a cama e sapatos descartados pelo chão enquanto eu tentava decidir o que vestir para a exposição. Minhas mãos apertavam um vestido preto simples, mas elegante, contra o corpo enquanto me olhava no espelho, ponderando se aquilo era o suficiente para uma noite que, de alguma forma, parecia maior do que eu esperava.Atrás de mim, Teri deslizava um batom vermelho nos lábios, sentada na beira da cama, observando minha indecisão com um sorriso de canto.— Isso é só uma exposição ou você está se arrumando para um casamento? — ela provocou, cruzando as pernas e me analisando com aquele olhar afiado que sempre lia além do que eu dizia.— Cala a boca — murmurei, revirando os olhos, mas sentindo meu rosto esquentar.Ela riu, mas sua atenção voltou par
~AYLA~O casarão era simplesmente deslumbrante.As colunas imponentes e as enormes janelas de vidro refletiam as luzes da noite, dando ao lugar um ar clássico e sofisticado. Dentro, a arquitetura antiga misturava-se a uma iluminação estratégica, destacando cada obra exposta sem perder o charme rústico do ambiente. As paredes altas estavam repletas das fotografias de Nicolas, algumas monocromáticas, outras em tons vibrantes, mas todas carregadas de uma sensibilidade artística inegável.Havia um burburinho de vozes por toda parte. Pessoas elegantes caminhavam com taças de champanhe nas mãos, observando cada imagem com atenção e comentando sobre a genialidade do artista. Repórteres circulavam, prontos para captar cada detalhe da noite, e fotógrafos registravam o evento com flashes incessantes.Mas nada disso me chamou tanto a atenç&at
~AYLA~A escuridão ainda pairava sobre mim quando meus sentidos começaram a despertar, como se eu emergisse lentamente de um oceano profundo. Algo frio e metálico pressionava meus dedos, e uma leve dor pulsava em meu braço esquerdo. Meu corpo estava pesado, rígido, como se estivesse acorrentado a uma realidade que eu não reconhecia. O som de um monitor cardíaco preenchia o silêncio, cada bip uma âncora, forçando-me a enfrentar o que quer que estivesse além da névoa.Luz branca. Brilhante demais. Tentei abrir os olhos, mas a claridade me atingiu como uma lâmina, me obrigando a fechá-los novamente. As vozes ao meu redor eram abafadas, distantes, como se viessem debaixo d'água.Minhas mãos formigavam levemente, e o frio do lençol contra minha pele fazia tudo parecer ainda mais estranho, mais real. Passos apressados ecoavam ao redor, mesclando-se ao som baixo de vozes. Cada detalhe do ambiente parecia gritar para mim que algo terrível havia acontecido, mas minha mente ainda estava presa n