O silêncio que seguiu a declaração da figura era esmagador. Daniel e Clara permaneciam imóveis, seus corações batendo com força no peito. A figura à sua frente era indistinta, envolta em um brilho que desafiava qualquer definição, como se fosse composta de pura energia. Seus contornos flutuavam entre formas humanas e alienígenas, mudando constantemente, mas os olhos, ou o que pareciam ser olhos, permaneciam fixos neles, brilhando com uma inteligência ancestral.
— Vocês... nos esperavam? — Clara conseguiu balbuciar, sua voz tremendo. — Como isso é possível? A figura inclinou-se levemente em sua direção, e a sensação de ser observada aumentou, como se milhares de mentes estivessem focadas neles ao mesmo tempo. — Vocês dois carregam a marca do buscador — disse a figura, suas palavras ecoando não só no ar, mas nas profundezas da mente de Daniel e Clara. — Desde o momento em que olharam para o horizonte de eventos, desde que decifraram os sinais... estavam destinados a chegar aqui. Não foi um erro, nem acaso. Vocês foram escolhidos. A respiração de Daniel acelerou. Sua mente girava em torno daquelas palavras, tentando encontrar sentido. Eles haviam sido "escolhidos"? Por quem? E para quê? — Quem é você? — perguntou ele, sua voz cortando o silêncio. — E o que quer de nós? A figura pairou por um instante, como se ponderasse a resposta. Então, a luz ao redor dela pulsou mais forte. — Eu sou o Guardião. Uma entidade que existe entre os mundos, entre os universos. Meu dever é vigiar as portas que ligam as realidades, garantir que os fluxos de energia entre elas permaneçam em equilíbrio. Mas algo mudou. O tecido entre os universos está enfraquecendo. Um colapso está se aproximando, e apenas aqueles que possuem o conhecimento necessário podem impedir isso. Clara trocou um olhar com Daniel, sua expressão de puro terror. O conceito de "portas entre realidades" já era assustador por si só, mas a ideia de um colapso interuniversal — uma catástrofe de proporções inimagináveis — era aterradora. — E como nós podemos ajudar? — Daniel perguntou, seu cérebro em modo científico, tentando encontrar lógica em meio ao caos. — Somos apenas dois cientistas. Não temos o poder de... de consertar o tecido do universo. A figura se aproximou mais, sua forma luminosa quase tocando o solo diante deles. — Vocês subestimam seu papel. — Sua voz reverberou com mais intensidade. — Sua espécie foi uma das primeiras a decifrar o código do buraco negro, a entender o que realmente são: não apenas zonas de destruição, mas portais, portas para outros mundos. Vocês já têm as chaves, mas não compreendem o mecanismo. Daniel piscou, o coração disparado. "As chaves"? Ele se lembrou dos sinais, da pulsação rítmica, das flutuações que haviam estudado. E se... tudo isso fosse parte de uma linguagem, uma fórmula antiga que eles não tinham conseguido decifrar por completo? — O que precisamos fazer? — Clara perguntou, agora um pouco mais firme. Havia um brilho de determinação em seus olhos. Ela não sabia ao certo como, mas se havia uma maneira de ajudar a impedir aquele colapso, ela estava disposta a tentar. O Guardião estendeu uma mão, ou algo parecido com uma mão, para frente. Uma pequena esfera translúcida emergiu de sua forma, flutuando na direção deles. Dentro da esfera, Daniel viu algo familiar: as mesmas flutuações de energia que haviam captado em seu laboratório, as mesmas pulsações. — Este é o ponto de convergência — disse o Guardião, a luz ao redor dele oscilando como uma tempestade silenciosa. — Vocês devem encontrar a origem dessas flutuações em seu universo e estabilizá-las. Só assim poderão fechar a porta que está se abrindo entre as realidades. Se não fizerem isso, as barreiras entre os universos desmoronarão, e o caos absoluto tomará conta de todos os mundos. — Mas como...? — Daniel começou, mas antes que pudesse terminar, a esfera se expandiu em um clarão cegante. De repente, eles não estavam mais na torre. O som grave, a figura, o céu púrpura, tudo desaparecera. Daniel e Clara agora estavam de volta ao laboratório, caídos no chão entre os equipamentos que haviam sido desligados após o experimento. A sensação de que haviam viajado para um outro universo ainda era intensa, como um eco ressoando em suas mentes. Clara levantou-se primeiro, seus olhos vasculhando o lugar. — Estamos de volta — ela murmurou, ainda um pouco atordoada. — Mas... foi real? Tudo aquilo? Daniel assentiu, ainda respirando com dificuldade. O brilho da esfera, a presença do Guardião, tudo aquilo parecia uma ilusão, mas ele sabia que era real. Olhou para os monitores, e lá estavam elas — as flutuações, as mesmas que haviam captado antes de sua jornada. Só que desta vez, algo era diferente. Os padrões estavam mais fortes, mais definidos, como se a "chave" estivesse ali, esperando para ser usada. — Nós temos que encontrar a origem dessas flutuações — disse Daniel, finalmente compreendendo. — Se o Guardião estava certo, isso pode ser a nossa única chance de evitar o colapso. Clara respirou fundo e assentiu. A relutância em seus olhos ainda estava presente, mas havia algo mais agora: uma nova determinação. — Vamos fazer isso juntos. — Ela olhou para Daniel com firmeza. — Mas precisamos ser rápidos. Se as barreiras entre os universos estão realmente se desfazendo... Ela não precisou terminar a frase. Ambos sabiam o que estava em jogo. O colapso de todas as realidades, a destruição completa do que conheciam. Sem mais palavras, os dois começaram a trabalhar. O tempo era curto, e a missão era clara: encontrar a origem das flutuações, estabilizar as barreiras e impedir que o caos se espalhasse pelos universos. Mas eles sabiam que o Guardião não era o único observador. Algo, ou alguém, mais sinistro os vigiava do outro lado.O laboratório estava silencioso, exceto pelo som incessante das teclas enquanto Daniel e Clara digitavam freneticamente, analisando os dados que haviam recebido após seu retorno. As flutuações de energia que eles captaram antes e depois da jornada para o universo paralelo agora faziam sentido de uma maneira que nunca imaginaram. Era como se cada pulso, cada variação, fosse parte de uma linguagem codificada, uma mensagem enviada através de dimensões.— Está ficando mais forte — disse Clara, seus olhos fixos na tela. — As flutuações estão aumentando, como se algo estivesse pressionando essa barreira entre os universos.Daniel assentiu, concentrado. Ele podia sentir a tensão no ar, o tempo correndo contra eles. Embora estivessem de volta à Terra, ele não conseguia afastar a sensação de que ainda estavam sendo observados, como se a presença que sentiram na torre tivesse atravessado junto com eles.— Temos que localizar a fonte dessas flutuações — ele disse, com a voz firme. — Não podemos
O vento gelado da Sibéria assobiava em torno de Daniel e Clara enquanto eles trabalhavam freneticamente. Cada segundo parecia uma eternidade, enquanto o colapso iminente entre os universos se aproximava. Os detectores estavam em alerta máximo, e o campo de energia ao redor deles oscilava violentamente, quase como se a própria realidade estivesse sendo rasgada.— A instabilidade está piorando! — gritou Clara, ajustando os parâmetros do estabilizador que haviam trazido. — Se não conseguirmos desacelerar essas flutuações agora, não vamos ter chance de controlar o colapso!Daniel, suando sob o frio intenso, estava tentando ajustar o fluxo de energia para estabilizar a barreira. Mas algo parecia errado. A sombra que os confrontara antes havia falado como se o caos fosse inevitável, como se houvesse algo além do controle deles. Ele olhou para Clara, seus olhos carregando a dúvida que pairava sobre sua mente.— E se não for suficiente? — Daniel murmurou, mais para si mesmo do que para Clara.
O silêncio após o tumulto era quase ensurdecedor. O frio cortante da Sibéria, por um breve momento, pareceu perder a intensidade. Daniel e Clara permaneciam imóveis, encarando a fenda contida, enquanto tentavam recuperar o fôlego. O peso da última hora ainda os pressionava.Daniel finalmente quebrou o silêncio.— Precisamos encontrar o Guardião. Ele é a nossa única chance de selar isso de vez.Clara assentiu, mas o cansaço e a incerteza estavam claros no rosto dela. O Guardião, a enigmática figura que lhes dera pistas fragmentadas antes, parecia estar em todos os lugares e lugar nenhum ao mesmo tempo. Ninguém sabia ao certo se ele era um aliado ou apenas uma entidade indiferente, observando o caos se desenrolar.— Mas como? — Clara perguntou, seus olhos fixos em Daniel. — Ele nos encontrou da última vez. Como vamos achá-lo agora?Daniel hesitou. A verdade é que ele não sabia a resposta. Mas o pouco que tinham aprendido sobre o Guardião sugeria que ele poderia estar mais perto do que i
Clara viu Daniel dar o passo final em direção à fenda, e seu coração parecia parar. O caos do outro lado pulsava, como se a própria escuridão o aguardasse, ansiosa para envolvê-lo. Ela gritou seu nome, mas o som foi abafado pela energia vibrante ao redor deles. O Guardião observava em silêncio, como um espectador distante e implacável do destino que se desenrolava.O tempo parecia desacelerar. Clara sentiu as lágrimas escorrerem pelo rosto, enquanto as mãos de Daniel tremiam levemente, a poucos centímetros da ruptura. O brilho pulsante da fenda lançava sombras distorcidas sobre o rosto dele, e, por um momento, ele olhou para trás, seus olhos encontrando os de Clara.— Não... — ela sussurrou, incapaz de aceitar o que estava prestes a acontecer.Mas o destino estava selado.Assim que a ponta dos dedos de Daniel tocou a energia da fenda, o mundo ao redor deles explodiu em uma onda de luz e som. Clara foi lançada ao chão, o impacto da energia a fazendo perder o fôlego. A fenda brilhava co
A noite na Sibéria caía silenciosa e mortal, enquanto Clara permanecia estática no mesmo lugar onde a fenda havia sido selada. O frio era implacável, mas ela mal o sentia. Sua mente estava em um redemoinho de pensamentos, dilacerada pelo sacrifício de Daniel. A ruptura havia desaparecido, mas o vazio que ele deixara era profundo demais para ser ignorado.Com os olhos fixos no horizonte, Clara lutava para entender o que viria a seguir. O Guardião havia partido, e com ele as respostas que ela tanto buscava. O caos parecia contido, mas a presença sombria e inquietante de tudo o que havia acontecido ainda pairava no ar. E agora, ela estava sozinha.Porém, conforme o vento uivava ao redor, algo começou a mudar. Primeiro, foi uma leve sensação de calor, uma presença que parecia contradizer o frio cortante. Depois, veio o sussurro — suave, quase inaudível, mas inconfundível.— Clara...Ela se virou abruptamente, seu coração disparando. A voz... era familiar demais para ser ignorada.— Daniel
O caos ao redor de Clara e Daniel começou a se contrair, como se estivesse sendo pressionado por forças invisíveis. A escuridão líquida pulsava, cada vez mais densa. Clara sentia a opressão crescente, mas, ao mesmo tempo, a determinação dentro dela não vacilava.— Precisamos encontrar o Guardião novamente — Clara disse, sua voz cortando o silêncio. — Ele sabe mais do que está dizendo. Há uma saída, Daniel, eu sei disso.Daniel assentiu lentamente, mas sua expressão ainda estava sombria. Ele não era mais o mesmo. O caos havia começado a corroê-lo, transformando-o de maneiras que Clara não conseguia entender completamente. Mesmo assim, algo dentro dele parecia resistir.— O Guardião não dá respostas fáceis — Daniel murmurou. — Ele joga com o equilíbrio, não com nossas esperanças. Ele nunca quis que nós vencessemos, apenas que retardássemos o inevitável.Clara balançou a cabeça. Ela se recusava a aceitar a ideia de que tudo o que fizeram até ali fosse em vão.— E se o caos não for o inev
Quando a luz se dissipou, Clara e Daniel se encontraram em um lugar que desafiava qualquer lógica. O chão não era chão, o céu não era céu. Tudo ao redor era uma mistura de formas em constante transformação: montanhas que surgiam e desapareciam, rios de luz e sombra que se entrelaçavam como serpentes, e criaturas sem rosto que flutuavam, observando-os silenciosamente.O caos pulsava ao redor deles como um organismo vivo, respirando, esperando, consciente de sua presença. Clara agarrou a mão de Daniel com força, seus olhos vasculhando aquele mundo imprevisível.— Isso é... — ela começou, mas não encontrou as palavras certas para descrever o que via.— O centro do caos — Daniel completou, sua voz baixa e pesada. — É daqui que tudo emana. E é daqui que nós podemos tentar controlá-lo.Os dois sabiam que não havia tempo a perder. Cada segundo ali era um risco, pois o caos tentaria corrompê-los, assim como havia feito com Daniel antes. Eles não poderiam perder o foco.— Temos que encontrar o
O caos rugia ao redor de Daniel e Clara, enquanto a entidade colossal emergia do núcleo em sua forma plena. Ela era pura desordem, uma força de destruição e renascimento que desafiava qualquer tentativa de controle. Cada passo que ela dava distorcia o espaço e o tempo, curvando a realidade à sua volta.Clara sentia o peso da presença daquela entidade como se a gravidade ao redor dela tivesse se multiplicado. Sua mente lutava para se manter centrada, para não ser engolida pelo pavor que irradiava daquela forma indefinida.— Não podemos lutar contra isso! — ela gritou, olhando para Daniel, cuja expressão estava rígida, determinada.Daniel apertou os punhos, seus olhos fixos na entidade que se aproximava. Ele sabia que ela estava certa. Não podiam lutar contra o caos com força bruta. Mas havia outro caminho — algo que o Guardião mencionara de forma sutil, algo que ele só agora começava a entender.— Não precisamos lutar — Daniel disse, seus olhos se iluminando com uma nova compreensão. —