Capítulo 4: O Guardião

O silêncio que seguiu a declaração da figura era esmagador. Daniel e Clara permaneciam imóveis, seus corações batendo com força no peito. A figura à sua frente era indistinta, envolta em um brilho que desafiava qualquer definição, como se fosse composta de pura energia. Seus contornos flutuavam entre formas humanas e alienígenas, mudando constantemente, mas os olhos, ou o que pareciam ser olhos, permaneciam fixos neles, brilhando com uma inteligência ancestral.

— Vocês... nos esperavam? — Clara conseguiu balbuciar, sua voz tremendo. — Como isso é possível?

A figura inclinou-se levemente em sua direção, e a sensação de ser observada aumentou, como se milhares de mentes estivessem focadas neles ao mesmo tempo.

— Vocês dois carregam a marca do buscador — disse a figura, suas palavras ecoando não só no ar, mas nas profundezas da mente de Daniel e Clara. — Desde o momento em que olharam para o horizonte de eventos, desde que decifraram os sinais... estavam destinados a chegar aqui. Não foi um erro, nem acaso. Vocês foram escolhidos.

A respiração de Daniel acelerou. Sua mente girava em torno daquelas palavras, tentando encontrar sentido. Eles haviam sido "escolhidos"? Por quem? E para quê?

— Quem é você? — perguntou ele, sua voz cortando o silêncio. — E o que quer de nós?

A figura pairou por um instante, como se ponderasse a resposta. Então, a luz ao redor dela pulsou mais forte.

— Eu sou o Guardião. Uma entidade que existe entre os mundos, entre os universos. Meu dever é vigiar as portas que ligam as realidades, garantir que os fluxos de energia entre elas permaneçam em equilíbrio. Mas algo mudou. O tecido entre os universos está enfraquecendo. Um colapso está se aproximando, e apenas aqueles que possuem o conhecimento necessário podem impedir isso.

Clara trocou um olhar com Daniel, sua expressão de puro terror. O conceito de "portas entre realidades" já era assustador por si só, mas a ideia de um colapso interuniversal — uma catástrofe de proporções inimagináveis — era aterradora.

— E como nós podemos ajudar? — Daniel perguntou, seu cérebro em modo científico, tentando encontrar lógica em meio ao caos. — Somos apenas dois cientistas. Não temos o poder de... de consertar o tecido do universo.

A figura se aproximou mais, sua forma luminosa quase tocando o solo diante deles.

— Vocês subestimam seu papel. — Sua voz reverberou com mais intensidade. — Sua espécie foi uma das primeiras a decifrar o código do buraco negro, a entender o que realmente são: não apenas zonas de destruição, mas portais, portas para outros mundos. Vocês já têm as chaves, mas não compreendem o mecanismo.

Daniel piscou, o coração disparado. "As chaves"? Ele se lembrou dos sinais, da pulsação rítmica, das flutuações que haviam estudado. E se... tudo isso fosse parte de uma linguagem, uma fórmula antiga que eles não tinham conseguido decifrar por completo?

— O que precisamos fazer? — Clara perguntou, agora um pouco mais firme. Havia um brilho de determinação em seus olhos. Ela não sabia ao certo como, mas se havia uma maneira de ajudar a impedir aquele colapso, ela estava disposta a tentar.

O Guardião estendeu uma mão, ou algo parecido com uma mão, para frente. Uma pequena esfera translúcida emergiu de sua forma, flutuando na direção deles. Dentro da esfera, Daniel viu algo familiar: as mesmas flutuações de energia que haviam captado em seu laboratório, as mesmas pulsações.

— Este é o ponto de convergência — disse o Guardião, a luz ao redor dele oscilando como uma tempestade silenciosa. — Vocês devem encontrar a origem dessas flutuações em seu universo e estabilizá-las. Só assim poderão fechar a porta que está se abrindo entre as realidades. Se não fizerem isso, as barreiras entre os universos desmoronarão, e o caos absoluto tomará conta de todos os mundos.

— Mas como...? — Daniel começou, mas antes que pudesse terminar, a esfera se expandiu em um clarão cegante.

De repente, eles não estavam mais na torre. O som grave, a figura, o céu púrpura, tudo desaparecera. Daniel e Clara agora estavam de volta ao laboratório, caídos no chão entre os equipamentos que haviam sido desligados após o experimento. A sensação de que haviam viajado para um outro universo ainda era intensa, como um eco ressoando em suas mentes.

Clara levantou-se primeiro, seus olhos vasculhando o lugar.

— Estamos de volta — ela murmurou, ainda um pouco atordoada. — Mas... foi real? Tudo aquilo?

Daniel assentiu, ainda respirando com dificuldade. O brilho da esfera, a presença do Guardião, tudo aquilo parecia uma ilusão, mas ele sabia que era real. Olhou para os monitores, e lá estavam elas — as flutuações, as mesmas que haviam captado antes de sua jornada. Só que desta vez, algo era diferente. Os padrões estavam mais fortes, mais definidos, como se a "chave" estivesse ali, esperando para ser usada.

— Nós temos que encontrar a origem dessas flutuações — disse Daniel, finalmente compreendendo. — Se o Guardião estava certo, isso pode ser a nossa única chance de evitar o colapso.

Clara respirou fundo e assentiu. A relutância em seus olhos ainda estava presente, mas havia algo mais agora: uma nova determinação.

— Vamos fazer isso juntos. — Ela olhou para Daniel com firmeza. — Mas precisamos ser rápidos. Se as barreiras entre os universos estão realmente se desfazendo...

Ela não precisou terminar a frase. Ambos sabiam o que estava em jogo. O colapso de todas as realidades, a destruição completa do que conheciam.

Sem mais palavras, os dois começaram a trabalhar. O tempo era curto, e a missão era clara: encontrar a origem das flutuações, estabilizar as barreiras e impedir que o caos se espalhasse pelos universos.

Mas eles sabiam que o Guardião não era o único observador. Algo, ou alguém, mais sinistro os vigiava do outro lado.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo