O laboratório estava silencioso, exceto pelo som incessante das teclas enquanto Daniel e Clara digitavam freneticamente, analisando os dados que haviam recebido após seu retorno. As flutuações de energia que eles captaram antes e depois da jornada para o universo paralelo agora faziam sentido de uma maneira que nunca imaginaram. Era como se cada pulso, cada variação, fosse parte de uma linguagem codificada, uma mensagem enviada através de dimensões.
— Está ficando mais forte — disse Clara, seus olhos fixos na tela. — As flutuações estão aumentando, como se algo estivesse pressionando essa barreira entre os universos. Daniel assentiu, concentrado. Ele podia sentir a tensão no ar, o tempo correndo contra eles. Embora estivessem de volta à Terra, ele não conseguia afastar a sensação de que ainda estavam sendo observados, como se a presença que sentiram na torre tivesse atravessado junto com eles. — Temos que localizar a fonte dessas flutuações — ele disse, com a voz firme. — Não podemos estabilizar nada sem saber de onde está vindo. O Guardião falou de um ponto de convergência... isso deve significar um lugar onde a barreira entre os universos é mais fraca. — E você acha que essa "barreira" é aqui na Terra? — Clara perguntou, inclinando-se para mais perto dos monitores. — Como podemos rastrear algo assim? Daniel ficou em silêncio por um momento, processando. Então, uma ideia surgiu. Ele se levantou abruptamente e começou a vasculhar suas anotações antigas, folhas e mais folhas de equações e gráficos de energia que ele havia arquivado. Finalmente, ele encontrou o que procurava. — Lembra-se daquele experimento na Sibéria? — ele perguntou, os olhos brilhando. — Aquele evento de anomalia gravitacional que não pudemos explicar. As leituras de lá... eram semelhantes a essas flutuações. E se aquele lugar for um ponto de convergência? Clara arregalou os olhos. Ela se lembrava bem do incidente. Na época, não conseguiram entender completamente o que causara a distorção na gravidade, mas agora parecia claro que poderia ter sido uma manifestação da fraqueza na barreira entre os universos. — Precisamos ir lá — disse ela, resoluta. — Se o colapso está começando, pode ser nosso único ponto de partida. Daniel concordou, já mentalmente planejando a viagem. Eles sabiam que não tinham muito tempo. Se as flutuações continuassem a aumentar, o caos poderia começar a se infiltrar na Terra, e as consequências seriam catastróficas. Dois dias depois, Daniel e Clara aterrissaram na Sibéria, em uma região remota e fria. O vento cortante e o céu acinzentado tornavam o lugar inóspito, mas o que os atraía não era a paisagem, mas o que estava escondido abaixo da superfície. Carregando equipamentos científicos e detectores de energia, eles se dirigiram ao ponto exato onde, anos atrás, uma anomalia inexplicável havia sido detectada. O solo ainda parecia estranho, como se houvesse uma leve ondulação na realidade ao redor deles. — Está aqui — disse Daniel, olhando para o detector. — A energia está se acumulando. As flutuações são mais intensas exatamente neste ponto. Clara posicionou um scanner no chão e começou a medir a intensidade do campo. As leituras eram alarmantes. O gráfico mostrava um padrão crescente de instabilidade, como se o espaço estivesse prestes a se rasgar. — Isso não vai se sustentar por muito tempo — ela disse, preocupada. — Se não fizermos algo rápido, o colapso pode começar aqui. Daniel estava prestes a sugerir uma solução quando, de repente, o chão sob eles tremeu. Um zumbido baixo percorreu o ar, e as flutuações energéticas começaram a pulsar violentamente. Ele sentiu um arrepio na espinha. — Daniel… você está sentindo? — Clara sussurrou, olhando ao redor. O ar ao redor deles parecia distorcido, como se estivessem vendo o mundo através de uma lente quebrada. Uma sombra densa e silenciosa começou a se formar no ar, tomando forma lentamente, até que uma figura familiar surgiu da distorção. Não era o Guardião. A forma que apareceu à sua frente era escura, envolta em sombras profundas, com olhos que brilhavam em um tom avermelhado. Diferente da presença quase serena do Guardião, essa entidade exalava uma aura de ameaça, como se fosse feita do próprio caos. — Vocês não deviam estar aqui — disse a figura, sua voz como um eco distorcido que causava calafrios. — Vocês cruzaram para onde não foram chamados. Clara deu um passo para trás, o medo evidente em seu rosto. Daniel, por outro lado, fixou seu olhar na figura, tentando manter a calma. — Quem é você? — perguntou ele, sua voz tensa. — O Guardião nos mandou. Estamos aqui para impedir o colapso. A figura riu, um som baixo e perturbador, que parecia reverberar dentro deles. — O Guardião… sempre tentando manter o equilíbrio. Mas o equilíbrio está prestes a ser destruído, e nada pode impedi-lo. Vocês acham que têm poder sobre os universos? — A sombra se aproximou mais. — Vocês são apenas peças. O caos é inevitável. Daniel sentiu um frio na espinha. As palavras da figura reverberavam em sua mente. Algo sobre a forma como falava, como se soubesse mais do que eles jamais poderiam compreender, o enchia de pavor. — E o que você quer? — Clara perguntou, tentando manter a voz firme, embora sua mão tremesse. A sombra parou, os olhos vermelhos brilhando com intensidade. — Quero o colapso. Quero que os universos se misturem, que as realidades se quebrem. Quero o caos total. E vocês, assim como todos os outros, não podem fazer nada para impedir. O chão tremeu novamente, com mais força desta vez, e Daniel olhou para os detectores. As flutuações estavam fora de controle, crescendo em intensidade. O colapso estava começando. — Não vamos deixar isso acontecer — disse Daniel, decidido, pegando uma das ferramentas que traziam para estabilizar as energias. — Se podemos fechar a porta, vamos fazer isso. A sombra riu mais uma vez, mas dessa vez houve uma mudança em seu tom, como se estivesse desafiando-os. — Tentem, se puderem. Mas saibam que, a partir do momento em que cruzaram para aquele outro lado, já estavam destinados a falhar. Com um último tremor, a figura se desfez no ar, deixando para trás apenas o eco de sua presença. Daniel e Clara estavam sozinhos novamente, mas o perigo era claro. O tempo estava se esgotando. — Temos que agir agora — Clara disse, os olhos brilhando de determinação. Daniel assentiu. Sabia que o caos estava à espreita, mas se havia uma chance de salvar os universos, eles teriam que enfrentá-lo de frente. E a batalha para impedir o colapso começava naquele exato momento.O vento gelado da Sibéria assobiava em torno de Daniel e Clara enquanto eles trabalhavam freneticamente. Cada segundo parecia uma eternidade, enquanto o colapso iminente entre os universos se aproximava. Os detectores estavam em alerta máximo, e o campo de energia ao redor deles oscilava violentamente, quase como se a própria realidade estivesse sendo rasgada.— A instabilidade está piorando! — gritou Clara, ajustando os parâmetros do estabilizador que haviam trazido. — Se não conseguirmos desacelerar essas flutuações agora, não vamos ter chance de controlar o colapso!Daniel, suando sob o frio intenso, estava tentando ajustar o fluxo de energia para estabilizar a barreira. Mas algo parecia errado. A sombra que os confrontara antes havia falado como se o caos fosse inevitável, como se houvesse algo além do controle deles. Ele olhou para Clara, seus olhos carregando a dúvida que pairava sobre sua mente.— E se não for suficiente? — Daniel murmurou, mais para si mesmo do que para Clara.
O silêncio após o tumulto era quase ensurdecedor. O frio cortante da Sibéria, por um breve momento, pareceu perder a intensidade. Daniel e Clara permaneciam imóveis, encarando a fenda contida, enquanto tentavam recuperar o fôlego. O peso da última hora ainda os pressionava.Daniel finalmente quebrou o silêncio.— Precisamos encontrar o Guardião. Ele é a nossa única chance de selar isso de vez.Clara assentiu, mas o cansaço e a incerteza estavam claros no rosto dela. O Guardião, a enigmática figura que lhes dera pistas fragmentadas antes, parecia estar em todos os lugares e lugar nenhum ao mesmo tempo. Ninguém sabia ao certo se ele era um aliado ou apenas uma entidade indiferente, observando o caos se desenrolar.— Mas como? — Clara perguntou, seus olhos fixos em Daniel. — Ele nos encontrou da última vez. Como vamos achá-lo agora?Daniel hesitou. A verdade é que ele não sabia a resposta. Mas o pouco que tinham aprendido sobre o Guardião sugeria que ele poderia estar mais perto do que i
Clara viu Daniel dar o passo final em direção à fenda, e seu coração parecia parar. O caos do outro lado pulsava, como se a própria escuridão o aguardasse, ansiosa para envolvê-lo. Ela gritou seu nome, mas o som foi abafado pela energia vibrante ao redor deles. O Guardião observava em silêncio, como um espectador distante e implacável do destino que se desenrolava.O tempo parecia desacelerar. Clara sentiu as lágrimas escorrerem pelo rosto, enquanto as mãos de Daniel tremiam levemente, a poucos centímetros da ruptura. O brilho pulsante da fenda lançava sombras distorcidas sobre o rosto dele, e, por um momento, ele olhou para trás, seus olhos encontrando os de Clara.— Não... — ela sussurrou, incapaz de aceitar o que estava prestes a acontecer.Mas o destino estava selado.Assim que a ponta dos dedos de Daniel tocou a energia da fenda, o mundo ao redor deles explodiu em uma onda de luz e som. Clara foi lançada ao chão, o impacto da energia a fazendo perder o fôlego. A fenda brilhava co
A noite na Sibéria caía silenciosa e mortal, enquanto Clara permanecia estática no mesmo lugar onde a fenda havia sido selada. O frio era implacável, mas ela mal o sentia. Sua mente estava em um redemoinho de pensamentos, dilacerada pelo sacrifício de Daniel. A ruptura havia desaparecido, mas o vazio que ele deixara era profundo demais para ser ignorado.Com os olhos fixos no horizonte, Clara lutava para entender o que viria a seguir. O Guardião havia partido, e com ele as respostas que ela tanto buscava. O caos parecia contido, mas a presença sombria e inquietante de tudo o que havia acontecido ainda pairava no ar. E agora, ela estava sozinha.Porém, conforme o vento uivava ao redor, algo começou a mudar. Primeiro, foi uma leve sensação de calor, uma presença que parecia contradizer o frio cortante. Depois, veio o sussurro — suave, quase inaudível, mas inconfundível.— Clara...Ela se virou abruptamente, seu coração disparando. A voz... era familiar demais para ser ignorada.— Daniel
O caos ao redor de Clara e Daniel começou a se contrair, como se estivesse sendo pressionado por forças invisíveis. A escuridão líquida pulsava, cada vez mais densa. Clara sentia a opressão crescente, mas, ao mesmo tempo, a determinação dentro dela não vacilava.— Precisamos encontrar o Guardião novamente — Clara disse, sua voz cortando o silêncio. — Ele sabe mais do que está dizendo. Há uma saída, Daniel, eu sei disso.Daniel assentiu lentamente, mas sua expressão ainda estava sombria. Ele não era mais o mesmo. O caos havia começado a corroê-lo, transformando-o de maneiras que Clara não conseguia entender completamente. Mesmo assim, algo dentro dele parecia resistir.— O Guardião não dá respostas fáceis — Daniel murmurou. — Ele joga com o equilíbrio, não com nossas esperanças. Ele nunca quis que nós vencessemos, apenas que retardássemos o inevitável.Clara balançou a cabeça. Ela se recusava a aceitar a ideia de que tudo o que fizeram até ali fosse em vão.— E se o caos não for o inev
Quando a luz se dissipou, Clara e Daniel se encontraram em um lugar que desafiava qualquer lógica. O chão não era chão, o céu não era céu. Tudo ao redor era uma mistura de formas em constante transformação: montanhas que surgiam e desapareciam, rios de luz e sombra que se entrelaçavam como serpentes, e criaturas sem rosto que flutuavam, observando-os silenciosamente.O caos pulsava ao redor deles como um organismo vivo, respirando, esperando, consciente de sua presença. Clara agarrou a mão de Daniel com força, seus olhos vasculhando aquele mundo imprevisível.— Isso é... — ela começou, mas não encontrou as palavras certas para descrever o que via.— O centro do caos — Daniel completou, sua voz baixa e pesada. — É daqui que tudo emana. E é daqui que nós podemos tentar controlá-lo.Os dois sabiam que não havia tempo a perder. Cada segundo ali era um risco, pois o caos tentaria corrompê-los, assim como havia feito com Daniel antes. Eles não poderiam perder o foco.— Temos que encontrar o
O caos rugia ao redor de Daniel e Clara, enquanto a entidade colossal emergia do núcleo em sua forma plena. Ela era pura desordem, uma força de destruição e renascimento que desafiava qualquer tentativa de controle. Cada passo que ela dava distorcia o espaço e o tempo, curvando a realidade à sua volta.Clara sentia o peso da presença daquela entidade como se a gravidade ao redor dela tivesse se multiplicado. Sua mente lutava para se manter centrada, para não ser engolida pelo pavor que irradiava daquela forma indefinida.— Não podemos lutar contra isso! — ela gritou, olhando para Daniel, cuja expressão estava rígida, determinada.Daniel apertou os punhos, seus olhos fixos na entidade que se aproximava. Ele sabia que ela estava certa. Não podiam lutar contra o caos com força bruta. Mas havia outro caminho — algo que o Guardião mencionara de forma sutil, algo que ele só agora começava a entender.— Não precisamos lutar — Daniel disse, seus olhos se iluminando com uma nova compreensão. —
Os dias após a grande ruptura passaram como um borrão para Clara. O mundo estava quieto, estável, como se o caos nunca tivesse ameaçado sua existência. Mas dentro dela, tudo parecia diferente. A ausência de Daniel era uma dor persistente, uma sombra que a acompanhava aonde quer que fosse.Ela retornara à base de operações, onde os outros cientistas e agentes que haviam sobrevivido tentavam entender o que acontecera. Ninguém, além de Clara, sabia o sacrifício que Daniel havia feito. Eles só viam os resultados: a barreira entre os universos havia sido estabilizada, o colapso evitado. Mas Clara carregava a memória daquele momento solitário em seu coração, onde a escolha final de Daniel havia sido feita.— Clara, está tudo bem? — uma voz suave interrompeu seus pensamentos.Era Sara, uma jovem cientista que havia trabalhado com eles em missões anteriores. Ela olhou para Clara com preocupação, como todos faziam desde seu retorno.— Sim — Clara respondeu automaticamente, embora a verdade fos