O ar dentro do grande salão estava denso. As tochas iluminavam os rostos tensos dos anciões e guerreiros da alcateia, enquanto Eyla sentia o peso de todos os olhares sobre si. Sentada ao lado de Adrian, seu coração batia em um ritmo frenético, uma mistura de medo e raiva crescendo em seu peito.Valesa permanecia imóvel diante deles, seus olhos antigos carregados de sabedoria e mistério. Sua presença era quase etérea, como se estivesse em contato constante com forças que transcendiam aquele mundo.— O tempo se encurta — disse a xamã, sua voz ressoando pelo salão. — Os demônios estão se movendo.A tensão aumentou instantaneamente, murmúrios irrompendo entre os lobos. Adrian rosnou baixo, seu tom carregado de possessividade e proteção.— Ninguém vai levá-la. Eu já deixei isso claro.Valesa o encarou com paciência infinita.— Eu nunca disse que você permitiria. Mas o destino é teimoso, Alfa. E os que estão lá fora não precisam da sua permissão para agir.Eyla apertou as mãos contra os jo
A magia antiga estava no ar. As chamas das tochas tremulavam no grande salão, como se soubessem que algo grandioso e terrível estava para acontecer. No centro, sobre um círculo gravado com runas ancestrais, Eyla se ajoelhava. Seu corpo já tremia, e a sensação de estar à beira de um abismo desconhecido a deixava sem fôlego.Valesa caminhava ao redor dela, os cânticos em uma língua antiga preenchendo o espaço. As palavras ressoavam na mente de Eyla, criando ecos que reverberavam em seu próprio ser. O ritual havia começado.Adrian estava ao lado, cada músculo de seu corpo retesado. Seus olhos verdes brilhavam com uma intensidade sobrenatural, sua respiração pesada. Ele sabia o que estava por vir. Sabia que a transformação não seria só uma mudança física para Eyla, mas sim um renascimento. E toda a dor que viria com isso era inevitável.Em meio à tensão, sua mente buscava a presença de Tor. “Atualizações, agora. Continuam vindo?”, perguntou em um tom mental urgente. A resposta veio rápi
A luz fria do teto vibrava levemente, zumbindo como um lembrete incômodo de que a vida de Eyla estava presa a repetições. Mais um dia, mais uma reunião onde rostos vazios disfarçavam ambição e falsidade por trás de sorrisos plásticos. Sentada na ponta da mesa de vidro, ela observava os colegas — cada um envolto por uma névoa energética densa, cinza, sufocante.Seu dom, uma maldição silenciosa, a impedia de se desligar. Enquanto os outros balbuciavam sobre metas e estratégias, ela via o que ninguém mais via: inveja, frustração, desejo de poder. Tudo embrulhado em ternos caros e discursos reciclados. Eyla cruzou os braços e afundou na cadeira, disfarçando o desdém com uma expressão neutra. Mas por dentro, ela gritava.A sensação de estar fora do lugar, de ser uma peça errada em um quebra-cabeça burocrático, era constante. No corredor, a copa fervilhava de vozes agudas. Fofocas voavam como mosquitos em noite abafada. A secretária do chefe quase se desmanchava em desespero, tentando d
Adrian era uma presença que não passava despercebida. Alto, imponente, com olhos de um verde cortante que pareciam atravessar pele, carne e mentira. Ele era o alfa da Alcateia Sombra Azul — um nome que carregava respeito, medo e reverência no submundo sobrenatural. Sob sua liderança, os lobos prosperaram. Estratégico, impiedoso quando necessário, Adrian mantinha sua alcateia no topo com pulso firme, inteligência afiada e instintos que nunca o traíam. A política no mundo sobrenatural era tão brutal quanto as batalhas físicas. Adrian sabia jogar esse jogo como ninguém. Naquela noite, ele estava ali por obrigação. Um evento humano, repleto de taças reluzentes, risadas fingidas e perfumes fortes demais. Mas alianças precisavam ser feitas. A expansão territorial exigia diplomacia — mesmo com aqueles que não tinham a menor noção do que rastejava sob a superfície do véu dos mundos. Adrian mantinha-se à margem do salão, apoiado casualmente contra uma coluna, como uma sombra elegante. Os o
Eyla estava no banheiro, encarando o próprio reflexo como se esperasse uma resposta. A maquiagem perfeita escondia bem as olheiras, mas não mascarava o vazio nos olhos. O batom vermelho que ela acabara de retocar parecia uma armadura — um lembrete de que, apesar de tudo, ela ainda podia fingir.Ela suspirou, afundando os ombros. Como havia deixado as coisas chegarem até aqui? Aquele jantar, aquela festa, aquele homem… tudo parecia um teatro em que ela era a única que sabia que o roteiro era uma mentira. “Noiva”, ele dissera. Com aquela voz cheia de posse, como se estivesse selando um contrato em público, sem ao menos consultá-la.— Ele só pode estar louco… — murmurou para si mesma, franzindo o cenho.Quando saiu do banheiro, o ambiente parecia ainda mais sufocante. As luzes do salão eram fortes demais, as risadas altas demais, as taças tilintando pareciam uma provocação. E então ela o viu. Justin. Vindo em sua direção como uma tempestade, o maxilar travado, os olhos faiscando de raiva
A fúria de Adrian era como um trovão silencioso, ressoando dentro dele. Seu lobo rosnava, inquieto, exigindo ação. Aquela mulher… ela não era nada para ele, e ainda assim, o cheiro de medo misturado à indignação que emanava dela atiçava seus instintos mais primitivos.Justin segurava o pulso dela com força, e Adrian não precisava de mais nada para agir.Com um olhar, deu um comando mental para Tor. Seu Beta entendeu imediatamente. Movendo-se com precisão, ele esbarrou propositalmente em um garçom, derrubando algumas taças. O vidro estilhaçou no chão, e a confusão momentânea atraiu olhares e comentários.No instante seguinte, Adrian avançou.Seus passos eram controlados, predatórios. Ele não precisava erguer a voz para impor respeito. Sua presença já bastava. O ar parecia ficar mais pesado quando ele se colocou ao lado dos dois, os olhos verde-intensos brilhando sob as luzes suaves do salão.Justin ainda não havia percebido sua aproximação.— Cara, você não percebe que estamos no meio
O coração de Eyla martelava em seu peito enquanto seus passos se aceleravam pelo asfalto frio da noite. O som de sapatos ecoando atrás dela confirmava o que já sabia: não era sua imaginação. Alguém a seguia.O ar fresco da noite parecia insuficiente para acalmá-la. Ela apertou a bolsa contra o corpo, o olhar fixo na calçada à sua frente. Virar-se e encarar quem quer que fosse parecia uma péssima ideia. Em vez disso, tentou aumentar o ritmo, forçando suas pernas a se moverem mais rápido.Mas os passos atrás dela também aceleraram.A adrenalina percorreu suas veias. Seu dom lhe dizia que a energia daquela presença não era comum. Era intensa, imponente, quase... selvagem.Eyla virou a esquina abruptamente, entrando em um beco iluminado apenas por uma única lâmpada pública piscando. Uma decisão irracional, talvez, mas precisava de um segundo para pensar. Encostou-se contra a parede de tijolos, prendendo a respiração.Silêncio.Por um instante, acreditou que tivesse despistado seu persegui
Capítulo 6: Ecos do DestinoO toque ainda queimava em suas peles, uma corrente invisível que os conectava de forma inegável. Eyla puxou a mão de volta, tentando disfarçar o impacto daquele simples gesto. Seu coração martelava no peito, como se tentasse avisá-la de que algo extraordinário havia acontecido.Adrian, por outro lado, manteve-se imóvel por um instante. Seu lobo rugia dentro dele, inquieto, impaciente, dizendo em sua mente para marcá-la ali mesmo. Ele jamais deveria ter permitido esse contato, mas agora era tarde demais. O vínculo já estava lá, pulsando entre os dois como um segredo ancestral.O silêncio entre eles se tornou pesado. Precisavam sair dali. Precisavam de um lugar onde pudessem, ao menos, fingir que nada disso era real. Adrian tomou a iniciativa.— Vamos tomar um café? — sua voz saiu mais rouca do que pretendia, como se estivesse lutando contra algo dentro de si, sabendo dentro dele que queria algo mais que um café, já sentia sua excitação crescer, e o cheiro de