Adrian era uma presença que não passava despercebida. Alto, imponente, com olhos de um verde cortante que pareciam atravessar pele, carne e mentira. Ele era o alfa da Alcateia Sombra Azul — um nome que carregava respeito, medo e reverência no submundo sobrenatural.
Sob sua liderança, os lobos prosperaram. Estratégico, impiedoso quando necessário, Adrian mantinha sua alcateia no topo com pulso firme, inteligência afiada e instintos que nunca o traíam. A política no mundo sobrenatural era tão brutal quanto as batalhas físicas. Adrian sabia jogar esse jogo como ninguém. Naquela noite, ele estava ali por obrigação. Um evento humano, repleto de taças reluzentes, risadas fingidas e perfumes fortes demais. Mas alianças precisavam ser feitas. A expansão territorial exigia diplomacia — mesmo com aqueles que não tinham a menor noção do que rastejava sob a superfície do véu dos mundos. Adrian mantinha-se à margem do salão, apoiado casualmente contra uma coluna, como uma sombra elegante. Os olhos atentos varriam o ambiente, absorvendo cada movimento, cada intenção oculta. O jogo político entre os sobrenaturais era cruel, mas o dos humanos… era quase entediante, observou seu Beta, Tor, se aproximar daquele homem odioso, Justin. Mas negócios eram negócios, e Adrian sabia que alianças estratégicas eram necessárias, ainda que não gostasse das peças envolvidas. Ele permaneceu no seu lugar, observando tudo com olhos atentos e calculistas, sem demonstrar nenhuma emoção. Até que ele a viu. Veio como uma brisa em sua pele. Uma vibração. Um aroma que cortou o ar carregado do salão. Seu corpo enrijeceu, os sentidos afiados como garras. Ele virou a cabeça de lado — uma mulher que se movia com uma delicadeza involuntária, quase distraída, mas com uma presença que dominava o ambiente sutilmente. Linda. Ela não o viu. Ainda. Mas ele a sentiu como se o próprio universo tivesse prendido a respiração. Havia um vazio nos olhos dela. Um silêncio. Um peso que não era somente cansaço — era solidão. Mas havia também algo mais... uma centelha, um grito contido, uma força reprimida. Quando o cheiro dela chegou a ele, algo despertou. O lobo dentro de Adrian ergueu-se, curioso e inquieto. O perfume dela era como o calor do verão, ou algo como sol em uma tarde refrescante — envolvente, provocante, e inesperadamente familiar. Então, ele o viu. O humano. Justin. Adrian sentiu o estômago revirar. O modo como aquele homem a tratava era quase ofensivo. Como se ela fosse um acessório de luxo, algo para mostrar e descartar depois. Quando Justin a apresentou como “minha noiva”, o lobo em seu peito rosnou baixo, ameaçador. Noiva? A expressão dela dizia o contrário — surpresa, desconforto, um insulto travestido de status. E então, ela fugiu. Gentilmente, educadamente… mas fugiu. Adrian não moveu um músculo. Seguiu-a com os olhos somente, silencioso como uma fera em observação. Ele viu quando ela parou junto à mesa, pegou uma taça de espumante e bebeu de uma vez só, como se o líquido pudesse dissolver a inquietação que tremia dentro dela. A energia ao redor dela oscilava. Algo dentro dela se agitava, chamava. E ele sentia o chamado como se fosse dele também. Recostado na sombra, Adrian permaneceu imóvel. Mas por dentro, algo rugia. Uma força antiga, indomável, que reconhecia nela um eco. Não era uma humana qualquer. Isso, ele sabia. Sentia na pele, no sangue, nos ossos. Durante anos, Adrian lutou contra o destino, contra a ideia de que existia algo — ou alguém — que pudesse abalar sua convicção. Mas ali estava ela. Inesperada. Misteriosa. Inquieta. E naquele instante, ele teve certeza de algo perigoso. O véu entre os mundos estava começando a estremecer. E essa humana… era a rachadura por onde a mudança entraria. — Você sentiu isso também? — Adrian questionou em pensamento, ainda fixando os olhos nela. — Como não sentir? — seu lobo respondeu, sua voz grave e selvagem ecoando em sua mente. — Ela é… diferente. Como um uivo na noite errada. E ainda assim, é como se fosse... nossa? Adrian cerrou os olhos por um segundo, desviando o olhar para evitar se perder completamente. — Mas é humana, muito frágil. Isso é o que ela é. Não podemos nos permitir fraquezas, ainda mais com a profecia em decreto. — Fraqueza? — Seu lobo rosnou. — Fraqueza é ignorar o chamado. Ela nos sentiu, tenho certeza. Adrian inspirou fundo, o cheiro dela ainda impregnado em seus sentidos. — Isso não faz sentido. Humanos não deveriam nos afetar assim. — Então olhe novamente. Olhe bem. E me diga… você já sentiu algo assim antes? O silêncio que veio depois foi ensurdecedor. Porque, no fundo, Adrian sabia a resposta. E o lobo também sabia. — Está começando. — murmurou seu lobo, mais calmo agora, quase reverente. — E não tem como parar, eu não quero.Eyla estava no banheiro, encarando o próprio reflexo como se esperasse uma resposta. A maquiagem perfeita escondia bem as olheiras, mas não mascarava o vazio nos olhos. O batom vermelho que ela acabara de retocar parecia uma armadura — um lembrete de que, apesar de tudo, ela ainda podia fingir.Ela suspirou, afundando os ombros. Como havia deixado as coisas chegarem até aqui? Aquele jantar, aquela festa, aquele homem… tudo parecia um teatro em que ela era a única que sabia que o roteiro era uma mentira. “Noiva”, ele dissera. Com aquela voz cheia de posse, como se estivesse selando um contrato em público, sem ao menos consultá-la.— Ele só pode estar louco… — murmurou para si mesma, franzindo o cenho.Quando saiu do banheiro, o ambiente parecia ainda mais sufocante. As luzes do salão eram fortes demais, as risadas altas demais, as taças tilintando pareciam uma provocação. E então ela o viu. Justin. Vindo em sua direção como uma tempestade, o maxilar travado, os olhos faiscando de raiva
A fúria de Adrian era como um trovão silencioso, ressoando dentro dele. Seu lobo rosnava, inquieto, exigindo ação. Aquela mulher… ela não era nada para ele, e ainda assim, o cheiro de medo misturado à indignação que emanava dela atiçava seus instintos mais primitivos.Justin segurava o pulso dela com força, e Adrian não precisava de mais nada para agir.Com um olhar, deu um comando mental para Tor. Seu Beta entendeu imediatamente. Movendo-se com precisão, ele esbarrou propositalmente em um garçom, derrubando algumas taças. O vidro estilhaçou no chão, e a confusão momentânea atraiu olhares e comentários.No instante seguinte, Adrian avançou.Seus passos eram controlados, predatórios. Ele não precisava erguer a voz para impor respeito. Sua presença já bastava. O ar parecia ficar mais pesado quando ele se colocou ao lado dos dois, os olhos verde-intensos brilhando sob as luzes suaves do salão.Justin ainda não havia percebido sua aproximação.— Cara, você não percebe que estamos no meio
O coração de Eyla martelava em seu peito enquanto seus passos se aceleravam pelo asfalto frio da noite. O som de sapatos ecoando atrás dela confirmava o que já sabia: não era sua imaginação. Alguém a seguia.O ar fresco da noite parecia insuficiente para acalmá-la. Ela apertou a bolsa contra o corpo, o olhar fixo na calçada à sua frente. Virar-se e encarar quem quer que fosse parecia uma péssima ideia. Em vez disso, tentou aumentar o ritmo, forçando suas pernas a se moverem mais rápido.Mas os passos atrás dela também aceleraram.A adrenalina percorreu suas veias. Seu dom lhe dizia que a energia daquela presença não era comum. Era intensa, imponente, quase... selvagem.Eyla virou a esquina abruptamente, entrando em um beco iluminado apenas por uma única lâmpada pública piscando. Uma decisão irracional, talvez, mas precisava de um segundo para pensar. Encostou-se contra a parede de tijolos, prendendo a respiração.Silêncio.Por um instante, acreditou que tivesse despistado seu persegui
Capítulo 6: Ecos do DestinoO toque ainda queimava em suas peles, uma corrente invisível que os conectava de forma inegável. Eyla puxou a mão de volta, tentando disfarçar o impacto daquele simples gesto. Seu coração martelava no peito, como se tentasse avisá-la de que algo extraordinário havia acontecido.Adrian, por outro lado, manteve-se imóvel por um instante. Seu lobo rugia dentro dele, inquieto, impaciente, dizendo em sua mente para marcá-la ali mesmo. Ele jamais deveria ter permitido esse contato, mas agora era tarde demais. O vínculo já estava lá, pulsando entre os dois como um segredo ancestral.O silêncio entre eles se tornou pesado. Precisavam sair dali. Precisavam de um lugar onde pudessem, ao menos, fingir que nada disso era real. Adrian tomou a iniciativa.— Vamos tomar um café? — sua voz saiu mais rouca do que pretendia, como se estivesse lutando contra algo dentro de si, sabendo dentro dele que queria algo mais que um café, já sentia sua excitação crescer, e o cheiro de
O caminho até o apartamento de Eyla foi silencioso, mas o ar entre eles parecia eletrizado. A caminhada foi com uma calma calculada, enquanto Eyla tentava ignorar o calor que crescia dentro dela. Sua mente teimava em voltar para o olhar intenso dele, para a forma como sua presença era quase esmagadora.Quando chegaram, Eyla hesitou em sua porta. Sentia que, se cruzasse aquela porta, algo mudaria para sempre. Olhou para Adrian, e ele sustentou seu olhar com aquela intensidade avassaladora.— Quer subir? — ela perguntou, sem realmente pensar nas consequências.Adrian não respondeu de imediato. Apenas a estudou por um momento, e então assentiu. Eyla sentiu um arrepio percorrer sua espinha quando ele a seguiu até o apartamento. O silêncio entre eles agora era pesado, denso, carregado de algo novo e inexplorado.Assim que entraram, Eyla largou a bolsa no balcão e se virou para ele. O ar parecia rarefeito. Adrian estava parado ali, observando-a com um olhar que fazia seu coração martelar no
O sol começava a despontar no horizonte quando Adrian abriu os olhos. A luz suave atravessava as cortinas do apartamento de Eyla, projetando sombras delicadas nas paredes. Ele permaneceu deitado por alguns instantes, sentindo o calor do corpo dela junto ao seu. A noite passada fora intensa, e agora a realidade voltava a pressioná-lo com força.Eyla dormia profundamente ao seu lado, os cabelos espalhados pelo travesseiro, os lábios entreabertos em uma expressão de vulnerabilidade. Algo dentro dele se revirou ao observá-la. Ele não deveria estar ali. Não deveria ter permitido que aquilo acontecesse. Mas era tarde demais. O elo estava criado, mesmo que incompleto.O som insistente do celular vibrando na mesa de cabeceira quebrou o momento. Adrian esticou o braço e pegou o aparelho, vendo o nome de Tor na tela. Seu beta estava preocupado.— Adrian, onde diabos você está? — a voz de Tor veio rápida e carregada de urgência. — Você sumiu a noite inteira! Há movimentação estranha na alcateia,
A viagem de volta foi envolta em um silêncio pesado. Adrian mantinha os olhos fixos na estrada, enquanto Tor dirigia com uma expressão carregada. O beta respeitava o silêncio do alfa, mas sua preocupação era palpável. Conhecia Adrian há anos e sabia que algo estava diferente.— Vão te questionar — Tor quebrou finalmente o silêncio, seus olhos ainda na estrada. — Sua ausência gerou burburinho. Alguns estão desconfiados.Adrian apenas assentiu, sem desviar o olhar da paisagem que passava rapidamente. Ele sabia que sua posição exigia presença, força e decisão. E também que sua ligação com Eyla não passaria despercebida por muito tempo.Ao chegarem aos limites da propriedade da alcateia Sombra Azul, os guardas postados nos portões endureceram suas posturas ao avistar o alfa. Havia uma mistura de respeito e receio em seus olhares. Adrian não era somente temido; era uma lenda entre os seus.Assim que desceu do veículo, sentiu a energia carregada no ar. Os lobos estavam inquietos. Sabia que
O silêncio do apartamento de Eyla era quase ensurdecedor. A penumbra da manhã invadia o espaço através das cortinas semiabertas, projetando sombras suaves pelas paredes. Ela estava deitada, encarando o teto, imersa em um torpor estranho, como se seu corpo tivesse esquecido como se mover. O calor do corpo de Adrian ainda parecia impregnado em sua pele, mas ele não estava mais ali. Só o vazio restava.Ela fechou os olhos e inspirou fundo, tentando afastar o peso em seu peito. Mas a dor era real, quase física. Um aperto desconfortável, como se algo tivesse sido arrancado dela. “Por que dói tanto?”, sussurrou para si mesma. Nunca se permitira sentir tanto por alguém. Jamais deixara um homem atravessar suas barreiras internas, ocupar seus pensamentos de maneira tão completa. Mas Adrian... ele era diferente. Desde o primeiro olhar, desde aquele instante carregado de energia, algo dentro dela havia despertado. Algo antigo, quase instintivo. Como se sua alma o reconhecesse, mesmo sem entender