Eyla sentia o coração martelar contra o peito, cada batida ecoando como um tambor de guerra dentro dela. Sua mente se recusava a aceitar o que via. Aquele brilho translúcido ao redor deles, aquele ar que parecia vibrar com uma energia desconhecida... aquilo não era normal. Nada daquilo era normal.— O que está acontecendo? — sua voz saiu entrecortada, quase um sussurro de desespero.Adrian a observava atentamente. Sua expressão era sombria, mas havia um resquício de algo mais profundo em seus olhos dourados. Algo que a fazia tremer não só de medo, mas de algo que ela não queria admitir.— Vou te contar a verdade — ele disse, sua voz grave cortando o silêncio e cautelosa. — Mas você precisa se acalmar.— Me acalmar? — Eyla riu, um som curto e amargo. — Tem alguma coisa errada comigo? Porque estou vendo coisas, Adrian! Eu vi... Você me deu alguma coisa ou algo assim?Ela parou, sua mente tropeçando nas palavras. Não eram coisas. Eram lobos. Lobos gigantes. Olhos brilhantes. Presas afiad
O ar ao redor deles parecia vibrar, carregado com a intensidade do que havia sido dito. O coração de Eyla ainda martelava no peito, e seus pensamentos corriam desenfreados, tentando encontrar uma saída lógica para aquilo tudo. Mas não havia lógica. Aquela era verdades impossíveis.Ela apertou os braços ao redor do próprio corpo, como se pudesse se proteger das palavras de Adrian.— Reivindicar? O que isso significa? — sua voz saiu trêmula, mas firme.Adrian a olhou com um peso nos olhos verdes e brilhando em dourados, algo que fazia sua pele formigar. Ele estava tenso, o maxilar travado, e parecia escolher bem as palavras antes de respondê-la.— Significa que, se eu marcar você, se o vínculo entre nós se completar, nossas almas vão se completar e unir... o véu cairá. O mundo mudará para sempre.Eyla piscou, tentando processar a gravidade daquilo. Sentiu o peso do destino ser depositado em seus ombros, sem que ela tivesse escolha. Seu peito subia e descia rapidamente, a respiração desc
Eyla sentiu seu corpo enrijecer ao ouvir as palavras de Adrian. Sua ida para a alcateia dele. Deixar sua vida para trás. Num lugar rodeada por lobos humanos. Por um mundo que, até poucos dias atrás, ela sequer sabia que existia.Seu coração disparou.— O quê? — Sua voz saiu esganiçada, o olhar arregalado preso ao dele. — Eu mal estou lidando com essa história de lobisomens e profecias e agora você quer que eu me mude? Para viver cercada por lobos?Ela deu um passo para trás, tentando processar a avalanche de informação. O pensamento de acordar todos os dias em um lugar dominado por seres sobrenaturais a deixava atordoada. Que outras criaturas existiam por aí? Vampiros? Demônios? Bruxas?Ela prendeu a respiração.— Meu Deus… O que mais existe nesse mundo? Vou abrir uma porta e dar de cara com um vampiro tomando um drink de sangue? — Ela passou as mãos pelos cabelos, rindo sem humor. — Eu não posso simplesmente largar tudo assim!Adrian permaneceu em silêncio por um instante, observando
O quarto estava mergulhado em uma penumbra confortável. O calor dos corpos ainda pairava no ar, e o som da respiração de Eyla, tranquila e ritmada, fazia um contraste com o turbilhão de pensamentos na mente de Adrian. Ele a observava, a pele macia iluminada pela luz fraca da lua que se infiltrava pela janela.Ele passou a mão pelos cabelos, exalando um suspiro contido. Ela estava ali, vulnerável, entregue, e tudo dentro dele gritava para protegê-la. Seu lobo interior rugia em inquietação, dividindo-se entre o instinto de envolvê-la com o corpo e alma, e o receio de que não soubesse protegê-la do que viria.— Como vamos mantê-la segura? — perguntou-se em silêncio, não esperando resposta, mas ouvindo o eco de seu lobo pulsando no fundo de sua mente.— "Ela é nossa", seu lobo respondeu, seu tom uma mistura de reverência e desejo. — "Agora que a temos, jamais deixaremos que a toquem."Adrian assentiu, sentindo uma satisfação primal percorrer seu corpo. Ter Eyla ao seu lado completava algo
A luz fria do teto vibrava levemente, zumbindo como um lembrete incômodo de que a vida de Eyla estava presa a repetições. Mais um dia, mais uma reunião onde rostos vazios disfarçavam ambição e falsidade por trás de sorrisos plásticos. Sentada na ponta da mesa de vidro, ela observava os colegas — cada um envolto por uma névoa energética densa, cinza, sufocante.Seu dom, uma maldição silenciosa, a impedia de se desligar. Enquanto os outros balbuciavam sobre metas e estratégias, ela via o que ninguém mais via: inveja, frustração, desejo de poder. Tudo embrulhado em ternos caros e discursos reciclados. Eyla cruzou os braços e afundou na cadeira, disfarçando o desdém com uma expressão neutra. Mas por dentro, ela gritava.A sensação de estar fora do lugar, de ser uma peça errada em um quebra-cabeça burocrático, era constante. No corredor, a copa fervilhava de vozes agudas. Fofocas voavam como mosquitos em noite abafada. A secretária do chefe quase se desmanchava em desespero, tentando d
Adrian era uma presença que não passava despercebida. Alto, imponente, com olhos de um verde cortante que pareciam atravessar pele, carne e mentira. Ele era o alfa da Alcateia Sombra Azul — um nome que carregava respeito, medo e reverência no submundo sobrenatural. Sob sua liderança, os lobos prosperaram. Estratégico, impiedoso quando necessário, Adrian mantinha sua alcateia no topo com pulso firme, inteligência afiada e instintos que nunca o traíam. A política no mundo sobrenatural era tão brutal quanto as batalhas físicas. Adrian sabia jogar esse jogo como ninguém. Naquela noite, ele estava ali por obrigação. Um evento humano, repleto de taças reluzentes, risadas fingidas e perfumes fortes demais. Mas alianças precisavam ser feitas. A expansão territorial exigia diplomacia — mesmo com aqueles que não tinham a menor noção do que rastejava sob a superfície do véu dos mundos. Adrian mantinha-se à margem do salão, apoiado casualmente contra uma coluna, como uma sombra elegante. Os o
Eyla estava no banheiro, encarando o próprio reflexo como se esperasse uma resposta. A maquiagem perfeita escondia bem as olheiras, mas não mascarava o vazio nos olhos. O batom vermelho que ela acabara de retocar parecia uma armadura — um lembrete de que, apesar de tudo, ela ainda podia fingir.Ela suspirou, afundando os ombros. Como havia deixado as coisas chegarem até aqui? Aquele jantar, aquela festa, aquele homem… tudo parecia um teatro em que ela era a única que sabia que o roteiro era uma mentira. “Noiva”, ele dissera. Com aquela voz cheia de posse, como se estivesse selando um contrato em público, sem ao menos consultá-la.— Ele só pode estar louco… — murmurou para si mesma, franzindo o cenho.Quando saiu do banheiro, o ambiente parecia ainda mais sufocante. As luzes do salão eram fortes demais, as risadas altas demais, as taças tilintando pareciam uma provocação. E então ela o viu. Justin. Vindo em sua direção como uma tempestade, o maxilar travado, os olhos faiscando de raiva
A fúria de Adrian era como um trovão silencioso, ressoando dentro dele. Seu lobo rosnava, inquieto, exigindo ação. Aquela mulher… ela não era nada para ele, e ainda assim, o cheiro de medo misturado à indignação que emanava dela atiçava seus instintos mais primitivos.Justin segurava o pulso dela com força, e Adrian não precisava de mais nada para agir.Com um olhar, deu um comando mental para Tor. Seu Beta entendeu imediatamente. Movendo-se com precisão, ele esbarrou propositalmente em um garçom, derrubando algumas taças. O vidro estilhaçou no chão, e a confusão momentânea atraiu olhares e comentários.No instante seguinte, Adrian avançou.Seus passos eram controlados, predatórios. Ele não precisava erguer a voz para impor respeito. Sua presença já bastava. O ar parecia ficar mais pesado quando ele se colocou ao lado dos dois, os olhos verde-intensos brilhando sob as luzes suaves do salão.Justin ainda não havia percebido sua aproximação.— Cara, você não percebe que estamos no meio