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Capítulo 3: O Desconforto Cresce

Eyla estava no banheiro, encarando o próprio reflexo como se esperasse uma resposta. A maquiagem perfeita escondia bem as olheiras, mas não mascarava o vazio nos olhos. O batom vermelho que ela acabara de retocar parecia uma armadura — um lembrete de que, apesar de tudo, ela ainda podia fingir.

Ela suspirou, afundando os ombros. Como havia deixado as coisas chegarem até aqui? Aquele jantar, aquela festa, aquele homem… tudo parecia um teatro em que ela era a única que sabia que o roteiro era uma mentira. “Noiva”, ele dissera. Com aquela voz cheia de posse, como se estivesse selando um contrato em público, sem ao menos consultá-la.

— Ele só pode estar louco… — murmurou para si mesma, franzindo o cenho.

Quando saiu do banheiro, o ambiente parecia ainda mais sufocante. As luzes do salão eram fortes demais, as risadas altas demais, as taças tilintando pareciam uma provocação. E então ela o viu. Justin. Vindo em sua direção como uma tempestade, o maxilar travado, os olhos faiscando de raiva.

— Por que me deixou lá? Sozinho, feito um idiota? Todo mundo rindo, fazendo piadinha. Que merda foi aquela, Eyla?!

Ela parou, cruzando os braços com calma, mas por dentro, o coração tamborilava. Não era medo. Era irritação. Cansaço. E algo novo... um pressentimento, talvez?

— Acho que fiquei em choque por você pensar que eu iria me casar com você. — Ela disse, sem filtrar, a voz saindo firme, com um veneno doce de desdém. Talvez o espumante estivesse ajudando. Talvez fosse só a gota d’água.

Justin arregalou os olhos, o rosto corando até a raiz dos cabelos. Por um segundo, ele parecia incrédulo. No outro, virou uma caricatura de fúria contida.

— Como é que é? — ele sibilou, como uma serpente prestes a atacar. Antes que ela pudesse se afastar, ele agarrou seu pulso com força. — Você não sabe o que está dizendo.

O aperto era firme, grosseiro. O tipo de gesto que dizia mais que mil palavras. Eyla tentou puxar o braço, contornar a situação discretamente, mas Justin apertou mais. Um ponto entre o desconforto e a dor se instalou, e a máscara de elegância que ela vestia começou a rachar.

— Me solta. — Ela rosnou, a voz baixa, cortante.

— Não aqui. Não agora. Você vai me ouvir. — Justin tentou sussurrar, mas seu tom era ameaçador, ácido.

Nesse instante, algo mudou.

Não foi apenas a raiva dela que cresceu. Foi… outra coisa.

Um arrepio percorreu sua espinha. A sensação de que não estavam sozinhos. Que alguém, ou algo, os observava. Ela olhou ao redor, procurando instintivamente uma fonte para aquele incômodo. Não era paranoia. Era mais… primitivo. Como um lobo que percebe a presença de outro predador na mata.

Justin continuava falando, cuspindo palavras feridas, enquanto Eyla já não ouvia. A energia ao redor dela parecia se comprimir, como se o ar estivesse sendo dominado por uma presença invisível. Ela sentiu a pele formigar.

Do outro lado do salão, parcialmente oculto entre as colunas e sombras, Adrian observava.

Seus olhos verde-intensos estavam fixos nela. No modo como seus ombros estavam rígidos. No modo como tentava esconder o desconforto, o medo, a indignação. Ele viu quando Justin segurou o pulso dela. Viu a expressão dela se contorcer.

E algo dentro dele se partiu.

Ele não queria se envolver.

Mas agora, já era tarde demais.

O lobo dentro de Adrian — selvagem, possessivo, protetor — rugia, exigindo ação. A tensão em seu maxilar denunciava o esforço que fazia para permanecer ali, imóvel. Ele podia ouvir cada palavra, cada batida acelerada do coração de Eyla.

Ela ainda não sabia. Ainda não entendia. Mas aquele momento, aquele olhar trocado mesmo sem se verem… era o início.

De longe, Adrian deu um passo. Pequeno. Quase imperceptível. Mas, se olhassem com atenção, perceberiam o brilho sobrenatural em seus olhos, como brasas verdes prestes a incendiar.

Eyla, por sua vez, conseguiu finalmente soltar o braço. Deu dois passos para trás, erguendo o queixo, tentando manter a dignidade.

— Se você me encostar de novo, Justin, eu juro que vai se arrepender. — A voz dela agora era um sussurro cortante, carregado de um poder que nem ela sabia possuir.

Justin riu. Um riso nervoso, seco.

— Tá ficando maluca? Desde quando você fala assim comigo?

Ela encarou o homem à sua frente e, pela primeira vez, viu com clareza. Não havia amor. Não havia respeito. Só conveniência e controle.

— Desde agora.

E virou as costas, andando com passos firmes rumo à saída. Cada passada era uma libertação. Cada passo, uma quebra de corrente.

Justin, atônito, ficou parado por alguns segundos. Depois, bufou e pegou uma nova taça de espumante, fingindo que nada havia acontecido.

Mas Adrian... Adrian não tirou os olhos dela.

Quando ela passou perto da coluna onde ele estava, seus olhos se cruzaram por um instante. Um instante suficiente para incendiar o ar entre eles.

Eyla parou, o coração descompassado. Não sabia por quê, mas aquele homem ali, com aura sombria e olhar de floresta em chamas, a fazia sentir tudo o que havia tentado esquecer: o desejo de algo mais, o arrepio da verdade, o presságio de um destino que não podia mais evitar.

Adrian não disse uma palavra.

Mas ela ouviu, como se ele tivesse sussurrado direto em sua alma:

"Agora começa."

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