A noite era fria e cruel. O vento cortava como lâminas afiadas contra a pele de Vark, mas o frio não vinha somente do clima. Ele sabia que seu exílio era uma sentença pior que a morte. Sem alcateia, um lobo sem matilha, condenado a vagar sem rumo e sem honra, um renegado.Ele se arrastava pela floresta, ferido da surra dos guerreiros e faminto. O peso da humilhação ainda queimava em seu peito. Sua mente fervilhava de ódio por Adrian, por Eyla, por todos que o haviam traído. Mas acima de tudo, ele odiava a si por falhar.Seus passos eram pesados, seu corpo clamava por descanso, mas ele não se permitiria fraquejar. Precisava encontrar um novo caminho, um novo aliado...Foi quando a escuridão se tornou ainda mais densa.Uma presença maligna pairou sobre ele, como se a noite ganhasse olhos. Uma neblina negra surgiu ao seu redor, impedindo-o de ver além de alguns metros. O cheiro de enxofre invadiu suas narinas, e o ar tornou-se pesado.— Um renegado é apenas um cachorro perdido.A voz sib
Mesmo no quarto que Adrian havia lhe dado, um espaço mais afastado da tensão do grande salão, Eyla sentia o peso das expectativas sobre seus ombros. As velas projetavam sombras dançantes nas paredes de pedra, e o fogo na lareira crepitava suavemente, mas nem mesmo o calor era suficiente para dissipar o frio em sua pele.Adrian estava de costas para ela, encostado na janela aberta, seu olhar perdido na vastidão da floresta. Ele tamborilava os dedos no parapeito de madeira, um sinal de inquietação que ela já aprendera a reconhecer.— O que você está pensando? — Eyla quebrou o silêncio, sua voz baixa, mas firme.Ele virou-se para ela, os olhos verdes brilhando sob a luz do fogo. Por um momento, Adrian não disse nada, apenas a observou, como se procurasse algo dentro dela, alguma resposta que ele temia escutar em voz alta.— Que queria poder tomar essa decisão por você — admitiu por fim, sua voz rouca. — Mas não posso. E isso me mata.Eyla engoliu em seco. Sabia que não era uma escolha si
Longe dali, no coração da escuridão, o Príncipe do Escuro caminhava por entre colunas de pedra negra cobertas por runas esquecidas, sua capa arrastando-se pelo chão de ossos calcinados. Diante dele, a horda de demônios se curvava em expectativa.— Chegou a hora — ele bradou, sua voz como trovão abafado nas profundezas. — A humana… ela será minha. Quer o Alfa aceite ou não. Ela será o símbolo do nosso retorno. O mundo vai se curvar diante de nós como deveria ser.Os demônios urraram, batendo pés e mãos contra o chão. Fogo brotou de fissuras ao redor, agitando chamas de fúria e desejo. O Príncipe ergueu os braços, e sua pele escureceu em sombras vivas.— Reúnam nossos aliados! Chame os vampiros renegados, as bruxas exiladas, os espectros famintos! A alcateia Sombra Azul cairá! E a garota... a garota será meu bichinho de estimação, para sempre.Gargalhadas demoníacas preencheram o salão. A guerra havia sido declarada.As árvores do território da alcateia Sombra Azul estremeciam com o ven
A noite estava densa, carregada com um peso invisível que se espalhava pelo ar como uma tempestade prestes a desabar. Adrian segurava a mão de Eyla com firmeza enquanto a guiava pelos corredores de pedra da fortaleza da alcateia. O aviso do sentinela ainda reverberava em sua mente: demônios. E vinham do sul.Eyla sentia seu coração bater em um ritmo frenético. Desde que pisara naquele mundo novo, tudo se tornara uma sucessão de eventos que desafiavam qualquer noção de normalidade. Agora, estavam falando sobre criaturas infernais que se aproximavam, vampiros com canudos já ficou no passado em sua mente, eles estava vindo passo a passo, com garras sedentas e olhos famintos. O eco distante de um grito de guerra sobrenatural parecia vibrar sob seus pés, mesmo que os corredores estivessem silenciosos.Eles pararam diante de uma porta de madeira entalhada com runas antigas. Adrian bateu uma única vez, e a porta se abriu sozinha, como se estivesse esperando por eles. Do outro lado, sentada
O ar dentro do grande salão estava denso. As tochas iluminavam os rostos tensos dos anciões e guerreiros da alcateia, enquanto Eyla sentia o peso de todos os olhares sobre si. Sentada ao lado de Adrian, seu coração batia em um ritmo frenético, uma mistura de medo e raiva crescendo em seu peito.Valesa permanecia imóvel diante deles, seus olhos antigos carregados de sabedoria e mistério. Sua presença era quase etérea, como se estivesse em contato constante com forças que transcendiam aquele mundo.— O tempo se encurta — disse a xamã, sua voz ressoando pelo salão. — Os demônios estão se movendo.A tensão aumentou instantaneamente, murmúrios irrompendo entre os lobos. Adrian rosnou baixo, seu tom carregado de possessividade e proteção.— Ninguém vai levá-la. Eu já deixei isso claro.Valesa o encarou com paciência infinita.— Eu nunca disse que você permitiria. Mas o destino é teimoso, Alfa. E os que estão lá fora não precisam da sua permissão para agir.Eyla apertou as mãos contra os jo
A magia antiga estava no ar. As chamas das tochas tremulavam no grande salão, como se soubessem que algo grandioso e terrível estava para acontecer. No centro, sobre um círculo gravado com runas ancestrais, Eyla se ajoelhava. Seu corpo já tremia, e a sensação de estar à beira de um abismo desconhecido a deixava sem fôlego.Valesa caminhava ao redor dela, os cânticos em uma língua antiga preenchendo o espaço. As palavras ressoavam na mente de Eyla, criando ecos que reverberavam em seu próprio ser. O ritual havia começado.Adrian estava ao lado, cada músculo de seu corpo retesado. Seus olhos verdes brilhavam com uma intensidade sobrenatural, sua respiração pesada. Ele sabia o que estava por vir. Sabia que a transformação não seria só uma mudança física para Eyla, mas sim um renascimento. E toda a dor que viria com isso era inevitável.Em meio à tensão, sua mente buscava a presença de Tor. “Atualizações, agora. Continuam vindo?”, perguntou em um tom mental urgente. A resposta veio rápi
A luz fria do teto vibrava levemente, zumbindo como um lembrete incômodo de que a vida de Eyla estava presa a repetições. Mais um dia, mais uma reunião onde rostos vazios disfarçavam ambição e falsidade por trás de sorrisos plásticos. Sentada na ponta da mesa de vidro, ela observava os colegas — cada um envolto por uma névoa energética densa, cinza, sufocante.Seu dom, uma maldição silenciosa, a impedia de se desligar. Enquanto os outros balbuciavam sobre metas e estratégias, ela via o que ninguém mais via: inveja, frustração, desejo de poder. Tudo embrulhado em ternos caros e discursos reciclados. Eyla cruzou os braços e afundou na cadeira, disfarçando o desdém com uma expressão neutra. Mas por dentro, ela gritava.A sensação de estar fora do lugar, de ser uma peça errada em um quebra-cabeça burocrático, era constante. No corredor, a copa fervilhava de vozes agudas. Fofocas voavam como mosquitos em noite abafada. A secretária do chefe quase se desmanchava em desespero, tentando d
Adrian era uma presença que não passava despercebida. Alto, imponente, com olhos de um verde cortante que pareciam atravessar pele, carne e mentira. Ele era o alfa da Alcateia Sombra Azul — um nome que carregava respeito, medo e reverência no submundo sobrenatural. Sob sua liderança, os lobos prosperaram. Estratégico, impiedoso quando necessário, Adrian mantinha sua alcateia no topo com pulso firme, inteligência afiada e instintos que nunca o traíam. A política no mundo sobrenatural era tão brutal quanto as batalhas físicas. Adrian sabia jogar esse jogo como ninguém. Naquela noite, ele estava ali por obrigação. Um evento humano, repleto de taças reluzentes, risadas fingidas e perfumes fortes demais. Mas alianças precisavam ser feitas. A expansão territorial exigia diplomacia — mesmo com aqueles que não tinham a menor noção do que rastejava sob a superfície do véu dos mundos. Adrian mantinha-se à margem do salão, apoiado casualmente contra uma coluna, como uma sombra elegante. Os o