Descoberta

O vento frio criava uma atmosfera nostálgica quando Max abriu a porta para Sarah e a deixou sozinha na casa de Henry, ela permaneceu parada no corredor ate tomar coragem para seguir em frente. Optou por deixar as suas malas em um canto ate a chegada de seu irmão. Indecisa sobre o que fazer naquela situação se decidiu após alguns minutos, estagnada na entrada, a conhecer o lugar onde ficaria por um ano. Hesitou antes de começar a caminhar pelos cômodos tão frios quanto o vento. Caminhou pela cozinha,a qual encontrava-se impecável apesar de seu tamanho. Algo que ela estranhou em relação as casas no Texas. Aos poucos sua indecisão cedeu lugar a curiosidade. Ela sabia o quão frio Henry era, mas ainda assim estranhara não encontrar nenhuma foto de sua mãe. Passou a mão pelo corrimão antes de subir as escadas, lentamente. Lembrou-se de um filme que assistira quando criança sorrindo consigo mesma ao imaginá-lo chegando naquele momento. Parou no segundo andar, e andou pelo corredor. Abriu as três portas encontrando dois quartos com alguns moveis e um banheiro, todos aparentando não serem usados. Retornou a subir as escadas e poucos degraus depois, encontrou apenas duas portas. Abriu a primeira encontrando um quarto vazio e ao se dirigir para a outra porta, hesitou antes de colocar a mão na maçaneta, entretanto respirou fundo antes de abrir a porta, a qual rangeu levemente. Sarah olhou para dentro surpresa com a decoração. Havia uma cama com lençóis brancos no centro do quarto, em um canto um guarda-roupa e em outro uma poltrona verde, apenas isso.

–Ele vive como se não morasse aqui – percebeu antes de fechar a porta e retornar para a sala. Sentou-se no sofá e aos poucos seus olhos foram se fechando, e sem que percebesse adormeceu sentada no sofá de seu meio irmão em meio a escuridão.

***

Por mais que debatessem sobre o assunto, sempre discordavam sobre algum ponto ocasionando na prolongação da reunião. Tanto Henry quantos os demais diplomatas já encontravam-se cansados físico e emocionalmente.

Henry ergueu de sua cadeira e ao ser observado por todos, deu de ombros ao sorrir friamente.

–Todos já conhecem meu ponto de vista, se quiserem passar a noite discutindo sobre algo inútil podem fazer, mas eu não participarei disto – observou os olhares incrédulos e sorrindo saiu da sala. Levou a mão a sua nuca a medida que caminhava pelo escritório vazio e escuro, sendo iluminado por poucas lâmpadas. Apertou o botão do elevador e assim que as portas se abriram pegou o seu aparelho celular a fim de reler a mensagem que Max havia lhe enviado mais cedo.

A deixei em sua casa como foi pedido. Trouxe consigo apenas duas malas e me pareceu ansiosa por conhecer a cidade” leu em pensamento. Fechou seus olhos por alguns segundos ate o ponto de organizar as suas ideias. Ele sempre se considerou um homem racional e prudente, não seria aquele curto período de tempo de um ano que o mudaria. Determinado saiu do elevador e se dirigiu ate o seu carro, um sedan hyundai Genessis preto, ao entrar ligou o som não demorando para escutar uma melodia suave tocar. Dirigiu pelo caminho mais longo apesar de seu cansaço. Ele estava postergando o quanto podia o seu encontro com Sarah. Quarenta minutos depois desligou o carro após estacionar em frente a sua casa. Abriu a porta lentamente, a trancou e sem perceber tropeçou em duas malas ao caminhar pelo estreito corredor. Praguejou mentalmente contra a sua irmã ao ir em direção ao seu quarto, entretanto se pegou parado no segundo andar. “Apenas para ver onde ela ficou. Isso é puramente para controle” se pegou argumento contra si mesmo ao caminhar em direção as duas portas do andar, as abriu e estranhou estarem vazias. Subiu as escadas com receio dela estar deitada em sua cama, entretanto encontrou tudo como havia deixado. Retirou a gravata lembrando-se ter deixado o paletó dentro do carro, abriu os primeiros botões de sua camisa social ao ir em direção ao seu banheiro privativo, mas logo parou. Recordou-se do motivo dela estar em sua casa e da morte de seu padrasto. E retornou para a sala onde encontrou Sarah adormecida no sofá. Permaneceu parado olhando para ela, a qual mantinha uma expressão suave com os olhos fechados e a respiração constante, ate sem perceber, abaixar-se ficando com os rostos na mesma altura. “Patético” pensou diante de seu comportamento levantando-se em seguida. E antes que pudesse rejeitar a ideia, colocou o seu braço por baixo das pernas dela e outro embaixo de seu pescoço, colocando-a em seu colo. A levou escada acima em direção ao segundo andar, empurrou a primeira porta com o pé e entrou depositando-a na cama já arrumada. A olhou por mais alguns instantes ate dar as costas e ir em direção ao seu quarto.

***

Sarah sentiu uma estranha sensação ao abrir os olhos ainda atordoada e sonolenta. Olhou a sua volta demorando alguns segundos para perceber que não sabia onde estava. Sentou-se na cama recordando do que fizera na noite anterior e logo algo lhe veio a mente, se levantou desajeitada da cama e ao abrir a porta do quarto percebeu estar correta. Ela estava em um dos quartos do segundo andar. Antes que pudesse fechar a porta ou pensar em algo seus olhos se direcionaram para o homem que descia as escadas do terceiro andar. Ele encontrava-se com os cabelos levemente molhados, trajando uma blusa social branca que lhe destacava o corpo e um olhar inexpressivo ao encará-la.

–Bom..bom dia – Sarah murmurou nervosa desconhecendo o motivo – eu.. obrigada por ontem. - Henry nada disse apenas fez um simples gesto com a cabeça e prosseguiu com a descida em direção a cozinha. –Será sempre assim? – Sarah se perguntou após suspirar.

Henry apoiou-se na bancada da cozinha a fim de se controlar. Respirou incontáveis vezes implorando aos céus para que ela permanecesse em seu quarto ate ele sair, pedido este que fora recusado.

–Henry..? – Sarah o chamou proxima a soleira da porta – eu..

–O que deseja? – perguntou ao pegar uma xícara e colocar café, virando-se em seguida.

–Eu.. podemos conversar?

–Diga ..tenho – olhou em seu relógio de pulso e sorriu – exatamente dez minutos para que converse comigo.

–É realmente um cretino arrogante – murmurou ao encará-lo – Como será... morar aqui? Há algo que eu deva saber? Alguma regra? Alguma rotina?

–Pensei que já tivesse entendido – bufou sem paciência – sou um diplomata e por isso vivo viajando. Não há rotina. Saio de casa as 6 e meia da manhã sem horário para retornar. Trabalho aos finais de semana e alguns feriados. Costumo viajar e passar meses fora.

–Certo, sobre as chaves?

–Max lhe enviará uma copia hoje ainda.

–Certo, e o quarto...

–Escolha qualquer um dos dois do segundo andar – a interrompeu sério – se precisar de alguma coisa irá encontrar no armário do corredor. E tente não me atrapalhar enquanto estiver aqui.

–Farei o possível – respondeu com orgulho, que estava longe de sentir, ao observá-lo tão atentamente quanto ele fazia com ela. Encararam-se por longos minutos ate Henry depositar a xícara vazia dentro da pia.

–Uma arrumadeira deve vir hoje. Max irá ligar e avisar-lhe.

–Esse Max..

–É o meu secretario imaginei que já soubesse – falou ao passar por ela sem conseguir evitar de sentir o mesmo aroma de flores. – “Porque ela sempre tem que emanar esse cheiro?” se perguntou.

Sarah continuou em pé no mesmo lugar tentando dissipar os pensamentos tristes que vinham em sua mente.

***

Max sorriu ao ver Henry caminhar em sua direção altivo como sempre seguindo para a sua sala fazendo o discreto sinal que seu secretario já estava acostumado.

–Providencie uma copia da chave de minha casa para..

–Sua irmã – acrescentou com um sorriso na face.

–Sim, isso mesmo – concordou ao fazer uma careta – e ligue para ela avisando o nome, o dia e o horário que a arrumadeira irá.

–Mais alguma coisa?

–Pergunte se precisa de algo e providencie.

–Sim senhor – assentiu antes de virar as costas, mas logo escutou o seu nome – sim?

–Não diga a ninguém sobre ela. Entendeu? – ao vê-lo assentir confuso, o dispensou – O que estou querendo com tudo isso? – indagou-se sozinho em sua sala. Já estava no final da tarde quando fora avisado sobre uma reunião com o diretor do departamento de assuntos exteriores. Levantou-se sem vontade de sua cadeira e seguiu para fora de sua sala sendo interceptado por um secretario substituto.

–Senhor Clark? – o chamou uma voz feminina – sou Alicia, sua secretária para esta tarde. O seu secretario Max me pediu para...

–Eu já sei – a interrompeu sério, a olhou de cima a baixo e assentiu – apenas seja útil por hoje – tornou ao virar-se de costas deixando-a incrédula para trás.

–Ele é pior do que falaram – murmurou ao ir para a sua mesa. A mente de Henry vagava por inúmeras questões ao bater na porta da sala do diretor de relações exteriores. Entrou inexpressivo e ao vê-lo sorriu, teve um mau pressentimento.

–Vi em sua agenda que não possui viagens agendadas para este mês – o diretor disse ao sorrir – acho que vai ter que refazer o seu mês.

–Para onde quer que eu vá? – perguntou friamente ao esquecer-se de Sarah. A sua vida por anos havia sido vazia e solitária.

–Bolivia. – anunciou sorridente – o seu voo será esta semana e...

–Esta querendo me enviar para a Bolívia com poucos dias de antecedência? Primeiro desejo saber o que esta acontecendo lá.

–O tempo esta lhe tornando um carrasco – observou atentamente – Precisamos que traga um homem.

–Preciso dos detalhes para aceitar.

–Muito bem, seu nome é Jules Russeau. Ele é um Francês que buscou abrigo político na Bolívia com o intuito de conseguir informações sigilosas, agora, após cinco anos, ele precisa ser resgatado.

–Alguém descobriu, não foi?

–Sim. Sua vida corre perigo.

–Sou um diplomata e não James Bond.

–Eu sei, mas precisamos que alguém capacitado vá e consiga...

–Tempo – percebeu – querem que eu distrai para que ele seja resgatado.

–Exatamente.

–Esta missão é uma loucura e suicida.

–O M16 irá lhe dar apoio. Não precisa se preocupar com nada.

–Porque esta me enviando? Há muitos inúteis que poderia se livrar com isso – tornou arrogante ao encará-lo – apenas uma coisa me vem a cabeça: ou esta tentando livrar-se de mim ou confia sobremaneira em minhas habilidades.

–Eu confio em você, Henry e é por isso que estou pedindo para que aceite.

Henry o observou por um tempo ate concordar. Para ele aquela viagem significaria a distancia que precisava de Sarah. Pegou a pasta que o diretor lhe estendeu, e saiu sem mais nada dizer. Por mais que soubesse o quanto aquela missão era perigosa, ele precisava afastar-se o máximo que conseguia de sua irmã.

***

Sarah sorriu ao passar a mão pela sua testa suada. Nem ela entendia o motivo de estar fazendo aquilo, entretanto nunca conseguiu manter-se em inércia por muito tempo. Depositou o pano no chão ao escutar o barulho do telefone, ergueu-se do chão e ao pegar o aparelho observou o numero que aparecia.

–Sim – atendeu incerta – Sim, é ela.

Como vai? Sou eu, Max, secretario de Henry Clark.

Como vai?

Bem, estou ligando para avisar que passarei para lhe entregar as chaves da casa e levar a arrumadeira.

Arrumadeira? Não precisa.

Porque? O senhor Clark gosta das coisas bem arrumadas e...

Irei me encarregar disto, pelo período de um ano – tornou misteriosa sem querer entrar em detalhes sobre a sua estadia. – Por favor, não avise a ele.

Tudo bem – concordou confuso dando de ombros em seguida – Então passarei para lhe entregar as chaves.

Estarei esperando – disse antes de desligar e suspirar profundamente. Olhou para si mesma ao questionar-se sobre o que estava fazendo para uma pessoa que nem sequer a considerava. – Sou sua irmã, mas ele me trata como um nada em sua vida. – murmurou ao retornar a limpeza. Retirou a poeira dos moveis, abriu as janelas deixando o ar frio entrar na casa, varreu toda a sala optando por deixar a cozinha por ultimo. Subiu as escadas segurando um balde em uma mão e uma vassoura na outra. Hesitou antes de prosseguir a subir as escadas para o terceiro andar. Ao abrir a porta sentiu-se uma intrusa, sentimento este que a fez hesitar ao iniciar a arrumação. Olhou, cuidadosamente, a sua volta estranhando mais uma vez a organização e simplicidade do quarto dele. Depositou o balde no chão iniciando a limpeza por varrer o quarto, ao abaixar-se para varrer embaixo da cama encontrou uma caixa de madeira, estava prestes a colocá-la de volta no lugar quando sua curiosidade a atingiu. Abriu a caixa sem saber o quanto aquele gesto mudaria a sua vida.

–Mas.. o que é isso tudo? – perguntou-se ao espalhar as fotos que estavam dentro da caixa no chão. Pegou uma a uma ficando sem reação ao perceber que ela estava em todas as fotografias. – Como.. ele conseguiu..? – indagou-se ao encontrar uma foto dela quando tinha dez anos.

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