Peguei a primeira caixa que vi e caminhei até a porta abrindo com um pouco de dificuldade, coloquei a caixa no chão para ver em qual cômodo a colocaria, era apenas algumas louças então seria na cozinha. Algumas horas depois o caminhão já havia partido então eu me encontrava arrumando ao menos o essencial para passar aquele dia já que teria que fazer aquilo tudo sozinha não adiantava me apressar, ainda havia muitas caixas em meu quarto e a cozinha já estava até arrumadinha e isso eu gastando apenas a tarde toda, pura ironia ainda tinham tantas coisas para arrumar em todos os cômodos que se eu parasse para pensar me sentiria desanimada.
O cansaço dominava meu corpo, ainda, sim, pude ouvir a campainha tocando me fazendo dar um suspiro em desgosto, com certeza não era o momento certo para uma visita, arrumei o cabelo e seguir até a porta abrindo e dando de cara com uma mulher baixinha com uma cabeleira cacheada ruiva muito fofa com traços delicados me lançando um sorriso, enquanto segurava uma bandeja cheia de algo que exalava com um cheiro ótimo me lembrando de que estava com fome.
— Olá! Me chamo Flora e essa é Megan, minha filha, vinhemos lhe dar as Boas-vindas a nossa vizinhança! — Disse abrindo espaço e mostrando uma garotinha muito fofa a qual se parecia muito com a mais velha.
— Oi! — Disse a pequena tímida e sorrindo e logo se escondendo atrás de Flora.
— Olá sou a Ayanne, por favor entrem a casa continua uma bagunça, mas ao menos o sofá está livre! — Sorri tímida, abrindo a porta e dando passagem para mãe e filha entrarem.
— Vocês aceitam algo para tomar? Não tenho muitas opções, mas tenho suco de laranja. — Disse indo até à cozinha pegando a jarra na geladeira e três copos, as servir e logo em seguida me sentei enchendo meu copo.
— Lhe trouxemos biscoitos caseiros, espero que goste, Megan me ajudou, disse que você iria amar! — Disse me fazendo sorrir, de fato aquele cheiro me dava a impressão de que realmente iria adorar o que estava por vir, a mulher retirou o plástico fazendo um cheiro maravilhoso serpentear por todo o ambiente me fazendo salivar.
— Nossa, que cheiro delicioso, parece que vou mesmo amar seus biscoitos Megan! — Disse sorrindo para a garotinha que sorriu tímida e com os olhinhos brilhando, estendi meu braço alcançando um biscoito e o saboreando em seguida um gemido de prazer escapou dos meus lábios fazendo Flora soltar uma risadinha.
— Pelo visto você adorou mesmo, viu filha, você tinha razão! — Comentou sorrindo.
— Sim, está maravilhoso! Comeria para sempre se pudesse, ops! Me desculpe! — Cobri a boca quando me peguei falando de boca cheia, esquecendo completamente meus modos, as duas soltaram gargalhadas e logo começaram a mastigar também.
— Mamãe faz ótimos biscoitos se quiser eu trago para você todos os dias! — Megan falou animada.
— Oh não! Eu agradeço, não quero dar trabalho a você Megan! — Falei me sentindo grata, porém seria muito incômodo mesmo eu querendo que isso acontecesse.
— Não tenho trabalho mesmo, eu posso vir para gente conversar também! — Insistiu com grandes olhos de súplica.
— Meu amor Aya deve ser ocupada, você não deve atrapalhá-la. — Flora interviu.
— Não irá incomodar, então faremos assim você vem nos sábados e a gente pode ficar juntas okay?! — Falei, mas não sabia realmente se isso seria possível.
— Certo promessa de mindinho aos sábados a gente brinca juntas! — Disse animada vindo em minha direção e estendendo o seu pequeno mindinho a qual aceitei selando nosso juramento. Flora começou a rir da animação de sua filha enquanto falava o que poderíamos fazer nesse momento de lazer, assim fomos planejando e comendo.
— Você veio de onde Aya? — Flora me perguntou curiosa, após um breve cessar da conversa, mas essa era a parte que não gostava, quando conhecia novas pessoas, falar da minha vida, para mim era como um tabu.
— Bom, eu vim do sul do Vale Skagit. — Não era mentira, mas não queria me aprofundar muito naquela informação.
— Há! Essa cidade é linda, as flores de lá são magníficas! — Disse com um olhar de admiração, como se estivesse contemplando a cena em sua cabeça completamente maravilhada.
— Mas por que você saiu dessa cidade maravilhosa. — Se pronunciou ao despertar de seus devaneios.
Ao fazer tal pergunta uma onda de tristeza me inundou, como se estivesse sendo atingida pelas ondas do oceano, ao lembrar do porquê eu havia saído da minha cidade natal. Lembrar que eu havia sido rejeitada por muitos me deixava com grande remorso aqueles que me diziam amar e me proteger, na hora em que mais precisei me descartou, ser levada para cinco lares diferentes era frustrante mesmo tendo sido entregue para minha antiga família e ter vivido feliz ao lado de Susan e Benny que me deram uma boa referência de família, amor e muitas outras coisas que me foram negados ao longo da minha vida, mesmo seus filhos me odiando ainda, sim, pude ter uma vida feliz ao lado do casal de idosos. Ao perceber minha demora em responder à mulher notei que as duas me olhavam curiosas me apressando a falar.
— Eu consegui um emprego melhor no ramo da faculdade que cursei. — Omiti o verdadeiro motivo pelo qual havia trocado de cidade, não era totalmente mentira, pois eu havia conseguido um estágio com um pintor muito famoso chamado Draven Leblanc, ele era o melhor artista do nosso país ganhando muitas exposições ao longo da sua carreira.
— Oh! Que maravilha! — Disse sorrindo, parecendo entender meu desconforto, ou pelo menos parecia que havia entendido. Conversamos por mais algum tempo até eu perceber que Megan estava com a cabeça apoiada em seu braço enquanto cochilava tranquilamente, demonstrando o quanto não tinha preocupações, e com que facilidade poderia dormir em qualquer lugar.
— Acredito que alguém está sonhando! — Disse brincando com a situação.
— Sim! Oh nossa! Conversamos tanto que nem notei a hora, devo me apressar e colocá-la na cama. — Disse se levantando e pegando a garotinha no colo.
— Sim, conversamos muito, também não percebi o tempo voar, quer alguma ajuda? — Disse me levantando, seguindo para a porta da casa.
— Não, pode ficar tranquila, essa daqui é tão leve! — Deu um sorriso meigo e brincalhão ao mesmo tempo, enquanto abraçava o corpo da filha.
— Eu levo sua bandeja limpa amanhã então! — Sorri amarelo não podia deixar os biscoitos restantes ir embora.
— A! Claro, não tenha pressa, tenha uma boa noite querida! — Sorriu e caminhou até a rua.
— Para vocês também! — Respondi antes que ela se distanciasse.
Assim que ela se foi continuei olhando para o lado de fora contemplando o céu estrelado, mas logo senti novamente o desconforto de mais cedo, me fazendo olhar em volta, quando olhei a casa a minha frente, avistando novamente o vizinho na janela parecia me observar atentamente, não sentia medo ou insegurança, era como se essa não fosse sua intenção, e claro esperava que realmente não fosse um ato de intimidação, o encarei de volta, tentando saber como o meu vizinho se parecia já que a cortina não deixava uma visão muito clara, porém não adiantou já que meu contato foi quebrado, pois, o mesmo se distanciou da janela.
— Nossa, isso foi estranho! — Disse dando de ombros e voltando para dentro de casa.
A casa ainda estava uma bagunça, mas não adiantaria nada me apressar naquela noite, como havia comido os biscoitos não me importei em preparar outra coisa apenas guardei o que havia sobrado na geladeira e segui até meu quarto, pegando um pijama que estava amostra em umas das caixas de roupa e entrando logo em seguida no banheiro me preparando para tomar um banho e deixando o cansaço me dominar, me lembrando que o dia havia sido cansativo, porém muito agradável e feliz, pois agora viveria uma nova vida, então não tinha motivos para reclamar do cansaço.
— Sim Ayanne agora essa será sua nova vida! — Sorri me deitando e finalmente dormindo com os pensamentos tranquilos.
Acordar em uma casa, que você não se sente oprimida, não tem agressões e sem pessoas que te olham como um bicho desagradável, é a melhor sensação do mundo, e hoje é esse dia maravilhoso. O sol batendo em meu rosto, trouxe uma sensação tão gostosa, como se seu calor estivesse me abraçando e me convidando para estar ao seu lado, como um abraço caloroso, o único que podia me lembrar eram os abraços de Susan, seu cheiro de torta de morango e seu perfume com cheiro de lavanda me fazia sentir acolhida.Levantei me sentindo totalmente disposta, como nunca havia sentido antes, mesmo tendo trabalhado muito ontem, e hoje continuando o meu serviço de organizar a casa, não era nem suficiente para me deixar triste. Fui ao banheiro tomar um banho bem gelado, apenas para deixar meu corpo preguiçoso disposto como minha mente estava. Assim que despertei meu corpo, saí usando uma roupa folgada, um short jeans e uma blusa florida em roxo e rosa que ficava bem folgada em mim, seria ótimo para mais um dia
Iria dar meia, volta quando fui surpreendida pela porta sendo aberta, e um homem tão alto se pôs a minha frente que precisei recuar alguns passos e levantar a cabeça um pouco, mas, e apenas duas coisas que me chamaram mais a atenção a primeira coisa que vi foram seus lindos cabelos pareciam tão macios que dava vontade de acariciá-lo, e a segunda foram seus olhos profundos e intensos eram como a noite estrelada, não consegui recuperar o fôlego que havia prendido, seu rosto simétrico continha traços fortes, sobrancelhas grossas e um lábio tão bem desenhado, era lindo totalmente diferente dos homens que conhecia, me perdi em algumas marcas em seu rosto, eram algumas cicatrizes que algum dia o causou problemas, agora não passava de marcas profundas, forçando seu belo rosto parecer rigoroso e irritado, mesmo que não fosse de propósito, notando que se não falasse nada iria tornar aquele primeiro encontro estranho, juntei toda a coragem que encontrei e me aprontei para explicar toda a situaç
Precisei entregar tudo, claro não podia reclamar afinal não tinha nenhum grau de parentesco com eles e muito menos vínculos emocionais, sempre fui um empecilho em suas vidas, por talvez pena, mas claramente apenas para manter a boa reputação que tinham perante os vizinhos e seus parentes fui permitida ficar na casa até que conseguisse um trabalho para assim me mudar, era como dizer aos outros que sai por que quiz, mesmo que minha intenção não fosse ter nada do que meus pais adotivos me deram, pensava em ficar com apenas uma parte do dinheiro para poder me manter enquanto o restante ficariam para eles, sei que não era merecedora de nada daquilo, mas eles não me permitiram ficar com sequer um mísero centavo, por sorte consegui emprego em uma lanchonete, o que me ajudou a encontrar um apartamento perto dos bairros, mas pobres assim o aluguei seria também, mas barato.Fui comprando algumas coisas que precisava, no entanto, o dinheiro não era tão bom e não dava para quase nada, já que além
Hoje será meu primeiro dia no ateliê de Draven Leblanc, estou tão animada, que nem pude pregar os olhos quase a noite toda, era realmente um sonho, poder trabalhar na área que dominava e sem contar que era meu passatempo preferido, levantei antes do despertador, me arrumei com a melhor roupa que podia encontrar em meu pequeno armário, preparei meu café fresquinho e assim que já estava o tomando peguei o celular para chamar o senhor Joseph, já que o mesmo me garantiu que podia ligar e chamá-lo, seria, mas fácil para mim encontrar o ateliê, poderia ser uma loucura, mas nunca havia sequer visitado a cidade não sabia nem onde ficava o mercado se não tivesse perguntado a Ethan— Aló! — Ouvi a voz do senhor Joseph do outro lado.— Oi senhor Joseph, sou Ayanne, o senhor me passou seu número há dois dias. — Expliquei enquanto tomava um gole do meu café.— Ah, sim, claro lembro da senhorita, em que posso ajudar? — Perguntou parecendo um pouco mais alegre.— Bom estou indo trabalhar hoje, mas e
No momento que pus meu corpo completamente naquele espaço me senti maravilhada com a quantidade de obras expostas, era uma mais linda que a outra, havia vários tipos de paisagens, desde praias a uma mata fechada, esculturas de gessos detalhando o corpo humano era incrível, poderia ficar ali horas, apenas admirando e sentindo a sensação de ter entrado naquele quadro e apreciando e sentido o lugar, ali haviam outros quadros com temas de diferente aspecto com formas geométricas, abstratas, linha pura, tom puro, etc. Poderia citar muitas, mas todas elas davam para notar que ele estudou como passá-las para o papel e não apenas jogá-las como se estivesse apenas passando o tempo, fiquei a tanto tempo admirando o esplendor daquilo tudo que nem havia notado que alguém falava atrás de mim.— Pois não?! — Me pronunciei no susto virando para olhar para trás vendo o homem que estava ocupado no telefone falar comigo.— Gostou? — Não soube ao certo decifrar o que seu olhar quis dizer naquele momento
Naquela manhã, acordei no mesmo horário, com o sol batendo em meu rosto, e o aquecendo, infelizmente já havia chegado o dia e eu não estava gostando. Me levantei, respirando fundo e segui para meu banho, me olhei no espelho vendo minha imagem cansada, meus olhos em um verde musgo eram portadores de profundas olheiras, denunciando minha péssima noite de sono, meu cabelo ondulado em um tom de castanho-claro estava terrivelmente embolado, pelas várias horas se mexendo tentando dormir. Entrei embaixo do chuveiro para me livrar daquela imagem de morta e acordar, desembaraçar meus longos fios rebeldes como gostava de chamá-los, tomei um bom banho gelado, sai enrolada na toalha pronta para escolher qualquer roupa, fui até meu armário avistando já um vestido de alça florido em vários tons de azul era rodado e batia na metade da minha coxa, leve e aconchegante.Peguei depositando o mesmo em minha cama, hidratei meu corpo, com um creme de rosas com cerejas, eu amava esse creme, seu cheiro era t
A solidão, para muitos, é sinônimo de vazio, o escuro, de um silêncio mortal, onde não tem nada e nem ninguém. A solidão para muitos é desagradável, é frio, sufocante, mas não em meu caso a solidão para mim, me trouxe conforto, paz aonde para muitos séria tormenta. Mas por que... Penso assim? Quando isso começou? Não tenho resposta, mas sei de algo que é relacionado. O amor seria uma escolha? O amor de mãe deveria ser uma escolha? Se a mãe queria seu filho, o carregou por nove meses e ainda assim o ama, porque a minha escolheu não me amar, e sim me apagar de sua vida, simplesmente me descartando, como lixo a qual poderia ser jogado em uma trituradora e ninguém sentiria minha falta, talvez eu devesse ter raiva, mas não, essas pessoas não teriam qualquer tipo de sentimento meu, nunca daria esse gosto, as marcas em meu corpo... Já me lembram constantemente disso, a cada momento me lembrando que sou um monstro, me lembrando que aqueles que deveriam me amar, simplesmente me transformaram
Comparado ao fiasco que havia sido nosso café da manhã, por incrível que pareça, quando nos vimos no trabalho Draven parecia completamente diferente quando ele me viu foi muito cavalheiro e reconheceu que havia falado muito e só quando ele chegou em casa que ele se tocou que não havíamos conversado direito, pois o mesmo falava tanto que não havia espaço para mim, não vou negar sua atitude me deixou muito feliz e assim ele me prometeu um almoço mais convidativo prometendo que se comportaria direito o que de fato foi bem engraçado quando ele falou isso, e cá estamos sentados em um pequeno restaurante com uma conversa bem mais fluida e agradável.– Mas me diz o que você fazia antes de se mudar para essa pequena cidade? – Perguntou sorrindo.– Ah, era garçonete em uma lanchonete perto da faculdade. – O respondi incomodada com esse assunto.– Compreendo por que você escolheu a faculdade de Snow? – Disse se referindo ao apelido dado carinhosamente pelos alunos.– Eu achei melhor fazer lá, po