Capítulo 4

Theo

Esse foi o dia mais feliz, de meus últimos três anos. Apesar de ter sido totalmente forçada, a proximidade com a Marina me deixou animado. Fazia muito tempo que não tinha uma conversa com ela. E como sentia falta disso. Já estava me preparando para sair, quando a vi conversando com o Lipe. O cara estava jogando charme e sorrindo, acariciou o rosto dela com as pontas dos dedos, fazendo-a rir.

Eu fui andando para a porta e esbarrei nele, por querer mesmo. Se viesse tirar satisfação, que se danasse. Ela era minha, porra! Eu não ia abrir mão e deixar qualquer babaca entrar em meu caminho. O direito de colocar um sorriso em seu rosto, ou fazê-la feliz, era exclusivamente meu.

Fui direto para a próxima aula, mas sentei longe, não estava no humor de aguentar ele dando em cima dela. A aula passou muito rápido, graças a Deus. Porque se eu o visse tocando-a de novo, ia arrebentar a cara dele.

Já era hora do almoço e fui para o refeitório. Encontrei o Cadu e o Enzo com o resto dos caras. Peguei meu almoço, que, diga-se de passagem, parecia uma gororoba e fui me sentar. Já estava comendo e conversando com o pessoal, quando vi de esguelha, a Carol vindo em minha direção. Ela era uma garota bonita, loira, olhos azuis, sorriso fácil, divertida...

Chegou ao meu lado, sorrindo, e sentou colocando a mão no meu braço.

— E aí, Theo, gostando do curso?

Eu sorri, pude perceber que essa garota estava a fim de mim, a gente percebe só pelo jeito de olhar. Porém, felizmente meu coração pertencia à outra: uma ruiva de sangue quente.

— Claro, estou sim. Aqui é bem legal, sempre quis fazer Jornalismo.

— É... Bem, eu queria te fazer uma pergunta — disse envergonhada. — Você gostaria de sair comigo?

Uau, direto ao ponto. Eu olhei pra ela, e respondi o mais gentil possível. Estava acostumado com as garotas dando em cima, mas era estranho o quanto aquilo me incomodava porque meu coração pertencia a outra pessoa. Mesmo que tenha tentado fazer o papel de galinha por tanto tempo.

— Sinto muito, Carol, mas eu gosto de alguém... — Torci a boca, fiquei sem graça. Não a conhecia bem, seria legal me envolver. Afinal, eu estava na seca há algum tempo, mas não faria merda dessa vez.

Ela arregalou os olhos, corando como um tomate.

— Oh sim, tudo bem. Espero que essa menina valha a pena.

— Ela vale sim! — respondi prontamente sem nenhuma dúvida.

— Tudo bem, mas a galera tá combinando de ir a uma boate na sexta. Conhece a Sound?

Acenei e ela continuou:

— Então... Leve seus amigos, vai ser legal.

Assenti e ela levantou, mas antes de ir inclinou-se e me deu um beijo no rosto. Demorou um pouco demais e se afastou, olhando-me nos olhos. Sorriu e foi embora.

Observei-a voltar para a sua mesa. A garota requebrava tanto que parecia deslocar o quadril a qualquer passo. Desviei o olhar e peguei a Marina olhando de cara feia. Sorri, e bati com dois dedos na testa, em continência. Ela fechou mais a cara e virou para o outro lado. Estava com ciúmes. Isso era um bom sinal!

E sempre havia sido uma coisa engraçada, por mais que ela não quisesse demonstrar seus sentimentos, não tinha jeito, eu a conhecia melhor que ninguém. Marina era possessiva, sempre havia sido assim. Virei para frente sorrindo, e o Cadu estava me observando de cara fechada.

— O que foi isso, cara? Dispensar uma gata como a Carol. Ficou louco? — Ele parecia realmente chateado, até mesmo estranhei seu tom. Ao mesmo tempo que estava me questionando, aparentava estar aliviado.

— Meu coração pertence a outra. Não vou cometer o erro de perdê-la de novo.

Ele olhou para a mesa delas, analisou por um segundo e voltou sua atenção para mim.

— É ela, não é? A ruivinha?

Assenti e ele balançou a cabeça em concordância.

— Então, por que você não chega junto?

— É complicado, tivemos muitos problemas nesses últimos três anos. Eu fiz muita merda com ela. Vou ter que ir devagar, acho até que vou rastejar um pouco. — Sorri, como a Marina era esquentadinha era bem capaz isso acontecer.

— Entendi, mas se vale mesmo a pena, não desiste. A pior coisa é desistir, depois ver que o tempo passou e você podia ter tentado mais. — Sua voz vacilou.

Parecia que ele entendia mesmo do assunto. Mas eu não iria abrir mão. Não mesmo! Por mais tempo que levasse, Marina ia ser minha, cedo ou tarde. A porcaria de você perder algo que já teve é que a falta que te faz é quase palpável, dói demais. Dando uma última olhada, eu sorri. Minha vida sem ela, não fazia nenhum sentido. Eu iria me explicar, até rastejar se fosse preciso. Ela que fazia tudo se encaixar.

Esse sentimento sufocava dentro de mim, parecia não conseguir respirar. Queria gritar aos sete ventos que a amava. Mas ela ainda não estava pronta, tinha muita mágoa rolando entre a gente.

Mas um dia eu diria que a amava, e ela corresponderia. Não desistiria até conseguir.

Mantive minha atenção nos caras e suas conversas sem noção. Eu também tinha meus momentos, mas, caramba, como podia um bando de marmanjo só falar merda? O mais engraçado era o Enzo e seu ego gigantesco. O cara se achava o rei da praia. Mas o pior de tudo é que ele realmente se assemelhava a isso. Onde ele estava tinha um bando de meninas à sua volta, parecia um imã.

— Não, é verdade. Foi uma sinuca de bico sair daquela situação. Eu estava lá na casa da garota, com tudo pronto e armado. Daí o pai dela bateu na porta. Porra, brochei na hora. Saí pulando pelo quarto recolhendo minhas roupas e corri pela janela. Nunca mais, velho. Agora levo as minas para um hotelzinho, é bem mais tranquilo.

A mesa inteira riu das peripécias do Enzo. O engraçado eram as expressões e gestos que fazia ao contar suas aventuras. Não que ele fosse um galinha sem noção, segundo ele não se envolvia com garotas comprometidas, porém não ia recusar cada uma disposta a tirar a roupa a qualquer suspiro. Eu só queria ver o dia que ele caísse de quatro por alguém.

Porque, cedo ou tarde, todos caímos.

— Enzo, meu amigo. Quero ver o dia que uma garota te fizer de pano de chão, eu vou rir até as lágrimas — disse Cadu dando tapas nas costas do nosso amigo.

— Ah, brother. Não descarto essa, não sou um cara traumatizado, apenas não achei a garota certa ainda. Enquanto isso, vou me divertindo com as erradas. — Sorriu e piscou para uma morena que o observava da outra mesa.

Inclinei-me e chamei sua atenção de volta, ele já estava babando.

— Você não tem jeito, cara... E você, viu a garota de novo?

— Não, ela me enganou. Disse que não tinha ninguém em casa, e os pais estavam no quarto ao lado. Porra, foi uma merda! Mandou-me várias mensagens, mas não respondi nenhuma.

— E quanto tempo faz isso?

— Ah, foi antes de vir pra faculdade. Ainda bem que saí de lá. Odeio que me enganem.

Assenti e abaixei a cabeça. Ele não estava jogando indireta, mas foi direto onde doía mais.

Eu não era um cara do bem se tinha enganado alguém que me importava. Se ele ficou chateado com a garota que era algo casual, imagina o que minha Marina sentiu ao se ver humilhada publicamente.

Balancei a cabeça, derrotado. Às vezes, eu pensava em desistir. Deixar pra lá. Talvez ela fosse feliz com outra pessoa. Aí meu coração se apertava e eu não conseguia respirar. Desde que eu a vi pela primeira vez foi como um sopro de ar fresco na minha vida cheia de pressões e expectativas a cumprir.

Olhei de relance para a mesa da Marina de novo e ela estava sorrindo com os amigos. Ela era linda e espontânea. Acho que foi uma das coisas que me encantou nela. Sua vida despreocupada e feliz.

Meu pai não deixava que eu e minha irmã nos divertíssemos. Tínhamos que fazer o dever de casa, traçar planos para o futuro, enfim, ser uma criança adulta. Com ela, eu aprendi a ser mais tranquilo e despreocupado. Por isso meu pai odiou tanto nossa proximidade.

Mas eu não a deixava por mais que insistisse.

Marina era a minha felicidade particular.

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