Capítulo 2
Lorena sorriu e não respondeu à pergunta dele.

Em vez disso, se virou e caminhou em direção ao elevador.

Depois de dar alguns passos, parou, girou suavemente sobre os calcanhares e disse, num tom preguiçoso:

— A propósito, tudo o que eu disse sempre será para valer. — Terminando a frase, entrou no elevador sem olhar para trás.

Felipe ficou parado, franzindo a testa, observando ela desaparecer de vista.

Naquele momento.

No jardim dos fundos do Hospital Esperança.

Ao lado de um portão arqueado, em um banco de pedra sob uma grande figueira.

Se sentavam um senhor idoso de cabelos brancos e um homem de aparência nobre e elegante.

— Guilherme, você já tem vinte e oito anos e ainda não tem uma mulher. Estou começando a me envergonhar de você. — Disse o velho com uma voz cheia de energia.

O homem, encostado no banco, ouviu sem alterar a expressão. Suas longas pernas estavam cruzadas, as mãos repousavam sobre os joelhos, exibindo uma postura de nobreza e elegância.

Ele possuía um rosto esculpido por Deus, com traços impecáveis: olhos amendoados, nariz proeminente, lábios finos e uma mandíbula bem definida.

— Você tem algum problema que não pode compartilhar? — Perguntou Sr. Davi cautelosamente.

Davi havia apresentado para o Guilherme, várias damas de boa família, todas bonitas, mas ele não se interessou por nenhuma.

"Será que ele realmente tem algum problema físico?"

Ao ouvir isso, os profundos olhos negros de Guilherme escureceram, as sobrancelhas crisparam levemente e um traço de frustração passou por seu olhar.

— Vovô, vejo que está bem de saúde. Se está tudo certo, vou me despedir. — Disse o homem com uma voz baixa e magnética.

Dizendo isso, se levantou.

Davi resmungou:

— Seu moleque, será que quer envelhecer sozinho?

Guilherme ajeitou o terno que estava um pouco amassado, cada gesto revelando elegância. Ele claramente era um meticuloso, não deixando passar uma única ruga.

No entanto, ele respondeu com um ar de indiferença e preguiça:

— Vovô, eu tenho planos. — Davi ficou com um nó na garganta, querendo dizer algo, mas sem conseguir. — Tudo bem, vovô. Tenho coisas a fazer na empresa. Vou pedir ao Arthur para levá-lo de volta.

Guilherme Santos se sentia impotente diante de seu avô, que frequentemente fingia estar doente para arranjar encontros para ele no hospital.

— Arthur, leve o vovô de volta para a mansão.

Arthur, que estava esperando pacientemente ao lado, respondeu:

— Sim, Sr. Guilherme.

...

Depois de sair do hospital, Lorena não pegou o carro.

Em vez disso, caminhou pela trilha sombreada ao redor do hospital, sem um destino específico em mente.

Hoje, ela recebeu uma ligação de Felipe logo cedo, pedindo que voltasse para a família Amorim, sob o pretexto de tratar novamente do rompimento do noivado.

Enquanto ela não cedesse, Felipe e Melissa sempre seriam um casal de adúlteros escondidos.

Felipe, que tanto mimava sua namorada delicada, certamente tentaria de tudo para que ela cancelasse o noivado, mas Lorena permanecia inabalável.

Melissa acabou tentando se suicidar com comprimidos para dormir, sob o pretexto de dar a ela e ao Felipe uma chance, o que na verdade, era apenas mais uma manobra para atribuir à Lorena a culpa, forçando à família Amorim a pressionar pelo cancelamento do noivado com a família Fernandes.

A família Amorim adorava tanto a Melissa que jamais permitiria que ela sofresse.

Ela teve que admitir que Melissa havia jogado bem suas cartas.

Desde pequena, seja em casa ou na escola, Melissa sempre foi a irmã frágil e compreensiva, enquanto ela, Lorena, era vista como a irmã de coração duro.

O que mais a machucava era que os que mais a feriram foram aqueles que ela mais respeitava: seu pai e seu avô. De incompreensão, passando por decepção, até apatia.

Aos vinte e quatro anos de idade, Lorena já não sentia o calor da família há duas décadas, apenas uma frieza interminável.

Isso a fez entender uma verdade: nunca superestime a natureza humana.

Andando, ela parou à beira de um lago, olhando para as águas escuras e profundas que pareciam refletir seu estado de espírito, um coração outrora fervente agora congelado, preso em um buraco negro sombrio e sem luz.

...

Um carro de luxo se aproximava na direção dela.

Um homem, apoiando a cabeça com uma mão na janela do carro, observava as fileiras de pinheiros passando rapidamente.

Uns duzentos metros à frente, uma silhueta delgada chamou sua atenção, e, quase sem pensar, ele ordenou, com uma voz fria e baixa:

— Pare.

Heitor, que estava dirigindo, pisou no freio.

— Sr. Guilherme, o que houve? — Perguntou Heitor, se virando perplexo.

Mas a única resposta que recebeu foi a visão de Guilherme saindo do carro.

Heitor estava confuso.

Através da janela, ele viu uma figura esguia de pé à beira do lago. Era uma mulher com longos cabelos cacheados negros, vestida de preto, parecendo extremamente magra, de pé reto à margem do lago, como se estivesse prestes a pular.

Então, o Heitor viu com surpresa que o Guilherme caminhava em direção àquela mulher.

"Será que o Sr. Guilherme vai salvar a donzela em perigo?"

Naquele momento, Lorena estava absorta em seus pensamentos, sem perceber a aproximação de alguém por trás.

— Senhorita, se precisar, podemos conversar.

De repente, uma voz masculina desconhecida soou atrás dela, fazendo ela se sobressaltar. Ela se virou rapidamente para ver quem era, mas, ao fazê-lo, pisou em um buraco e perdeu o equilíbrio, caindo de costas em direção ao lago, sem nada ao redor para se segurar. No meio daquela surpresa, ela aceitou seu destino de cair na água.

Lorena exclamou surpresa.

— Cuidado!

Heitor, que acabara de sair do carro, viu a cena aterrorizado.

O corpo da mulher estava caindo no lago, mas o Sr. Guilherme, com reflexos rápidos, agarrou a mão estendida da mulher, puxando ela rapidamente para si, estabilizando os dois.

Ele suspirou aliviado e deu uma leve tapinha no peito.

Ainda bem, ela não caiu.

O leve aroma de âmbar gris e o som das batidas do coração dele ao lado do ouvido deixaram Lorena atordoada.

Havia uma mão forte e firme em sua cintura, sem intenção de soltá-la.

— Senhor, pode me soltar agora. — A voz clara de Lorena soou abafada contra o peito dele.

Guilherme a soltou então. Ela tinha um aroma agradável que ele gostou, ficando distraído por um momento.

Só então Lorena levantou a cabeça e viu claramente o rosto do homem, ficando um pouco surpresa. Ele era muito bonito, exatamente do jeito que ela achava atraente.

Sob suas sobrancelhas marcantes, havia olhos amendoados profundos e cativantes, traços faciais bem definidos, um nariz elegante e lábios finos de um vermelho suave, com ângulos bem definidos, muito bonitos.

Ele usava um terno cinza feito sob medida e, apesar da expressão fria como gelo, exalava uma elegância nobre e uma aura de autoridade.

Comparado com ele, Felipe parecia insignificante.

Ela nunca soube que havia alguém assim em Cidade B.

— Por que estava pensando em algo tão extremo? — O homem perguntou, franzindo a testa ao ver a expressão confusa dela.

Ela era muito bonita e um pouco magra.

Lorena piscou seus olhos amendoados. Ele pensava que ela estava tentando se suicidar?

— Senhor, você entendeu errado. Eu tenho medo da dor. Mesmo que eu quisesse me suicidar, não escolheria essa maneira. Morrer afogada é muito doloroso. — Lorena explicou despreocupadamente.

Guilherme parou por um momento.

Heitor, que acabava de se aproximar, ouviu a conversa.

"Até para se suicidar ela consideraria a melhor maneira? Que refinada!" Pensou ele.

— E se fosse você, qual o método que escolheria? — Guilherme perguntou com um leve sorriso nos lábios.

Lorena respondeu:

— Não pensei nisso.

A questão era que ela ainda tinha muitas coisas para fazer, então, como poderia pensar em suicídio? Mesmo que ela se matasse, ninguém sentiria sua falta. Ela não era Melissa.

O homem não perdeu a expressão de tristeza e autodepreciação que passou pelo rosto dela.

— Da próxima vez, não fique em um lugar tão perigoso. — A voz baixa e magnética do homem soou novamente.

Lorena ouviu e sentiu como se seu coração, congelado por muito tempo, fosse atingido, criando uma pequena fissura. Ela olhou para ele, surpresa, antes de desviar o olhar.

Ele estava se preocupando com ela?

Um estranho que ela nunca tinha visto antes.

— Obrigada por me ajudar, caso contrário, eu poderia ter caído. — Lorena disse suavemente, mas com sinceridade, parecendo um pouco desajeitada.

— Não foi nada. Na verdade, foi minha chegada repentina que a assustou. — O homem tinha uma expressão ligeiramente fria, mas sua voz era surpreendentemente gentil.

Heitor estava ao lado, perplexo.

"Desde quando o Sr. Guilherme fala com tanta gentileza?"

O homem perguntou novamente:

— Precisa que eu a leve para casa?

Lorena balançou a cabeça:

— Não, não precisa. Meu carro está estacionado no hospital.

Os olhos do homem refletiram uma leve melancolia, mas ele sorriu levemente.

— Tudo bem, tome cuidado. Tenho que ir agora.

— Está bem.

...

Lorena ficou parada, observando o carro preto luxuoso partir. Era um carro de edição limitada, e quem podia ter um carro desses era, sem dúvida, muito rico ou poderoso.

Depois de alguns segundos, ela começou a caminhar de volta.
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