Capítulo 6
Quando a porta se abriu.

A primeira coisa que se viu foi uma silhueta de costas, mãos nos bolsos, um corpo alto e esguio em frente à janela panorâmica.

Aquela silhueta emanava uma sensação de opressão e, ao mesmo tempo, uma solidão profunda, despertando uma curiosidade inexplicável nela.

Lorena franziu ligeiramente as sobrancelhas e caminhou para dentro com seus saltos altos.

O atendente, sensato, fechou a porta.

Lorena sempre detestou enrolar. Dois segundos depois de entrar, olhou para aquela figura imponente e disse:

— Senhor, olá, sou a pessoa com quem você está... — Se encontrando.

Ela não terminou de falar. Ao ver o homem se virar, um rosto familiar, mas estranho, a deixou atônita.

— Como? é você?

O homem distinto e bonito do dia anterior à beira do lago.

Guilherme, ao vê-la, também ficou um pouco surpreso.

Hoje, ela estava completamente diferente de ontem. Ontem com um estilo casual e fresco, hoje com um traje profissional, parecia competente e madura, mas sem perder a beleza elegante e intelectual.

Ele levantou ligeiramente as sobrancelhas, os cantos da boca se ergueram, revelando um sorriso gentil.

Seus profundos olhos negros brilharam, dissipando a frieza habitual.

— Olá, quem diria que realmente temos destino. — A voz baixa e agradável do homem soou.

Lorena hesitou por um momento.

Realmente tinham destino.

Ontem, ele pensou erroneamente que ela iria se suicidar pulando no lago e a salvou por engano. Hoje se encontraram novamente, se tornando os parceiros do encontro arranjado.

Mas aquele homem exalava uma aura de nobreza e superioridade por todos os poros. Mesmo que tentasse disfarçar, era evidente o halo natural que possuía.

"Onde foi que a vovó o encontrou?"

Será que ela tinha entrado na sala errada?

Mas ela tinha acabado de verificar o nome da sala do lado de fora, e realmente era "Sala Luar".

Enquanto ela estava perdida em pensamentos por alguns segundos, o homem já tinha dado alguns passos em sua direção, ficando apenas a três passos dela.

Suas feições eram definidas, como uma peça de jade esculpida meticulosamente por Deus, perfeita, sem um único defeito.

— Você está pensando que entrou na sala errada?

Antes que ela pudesse falar, a voz baixa e magnética do homem soou novamente.

Lorena ficou um pouco surpresa.

Ela levantou ligeiramente as pálpebras, seus olhos amendoados tingidos com um sorriso, e uma voz clara soou:

— O senhor, por acaso, é psicólogo?

O homem respondeu calmamente:

— Só aprendi um pouco, superficialmente.

Lorena não deu muita importância.

Logo a voz agradável do homem soou novamente:

— Guilherme.

Lorena ficou um pouco atônita.

O homem acrescentou:

— Meu nome.

Lorena finalmente entendeu que ele estava se apresentando, de uma maneira bem concisa.

Ela sorriu ligeiramente. Nisso eles eram bastante parecidos.

— Lorena.

Ambos disseram apenas seus nomes, sem muitas apresentações, e em uma compreensão mútua, não perguntaram sobre as identidades um do outro.

Depois que se sentaram, alguém entrou para servir a refeição.

Mais uma vez, de forma sincronizada, perguntaram um ao outro:

— Comemos antes de conversar?

Durante toda a refeição, Lorena teve uma nova percepção de Guilherme.

Além de ser bonito, até mesmo comer ele fazia com uma elegância e nobreza ímpares. Seus movimentos eram impecáveis.

Parecia que essa etiqueta de mesa estava gravada em seus ossos desde o nascimento.

Isso fez com que Lorena tivesse que mostrar suas próprias etiquetas básicas, fazendo com que a refeição fosse um pouco desconfortável e sufocante para ela.

Normalmente, ela resolvia uma refeição em dez minutos, mas desta vez, levou uma hora inteira.

Esse jeito de comer devagar e mastigar bem realmente não era para ela.

Mas o homem à sua frente estava desfrutando, com uma expressão calma e meticulosa.

Considerando que ele estava dentro de seus padrões estéticos, ela decidiu suportar.

O homem não percebeu sua estranheza.

— Sr. Guilherme, qual é a sua opinião sobre este encontro arranjado? — Lorena perguntou quando viu que ele já havia terminado de comer e, elegantemente, servia um copo d'água.

A forma respeitosa e um tanto distante como ela se dirigia a ele despertou uma inexplicável irritação em Guilherme.

O homem respondeu com uma pergunta:

— E a Srta. Lorena, o que pensa?

O tom ligeiramente prolongado de sua voz fez Lorena se perder um pouco.

Esse homem, além de ter uma aparência que tentava as pessoas, ainda tinha uma voz cativante.

Ela tossiu levemente para aliviar o constrangimento.

— O Sr. Guilherme costuma acompanhar as tendências nas redes sociais? — Lorena perguntou casualmente, sem responder à pergunta anterior.

Guilherme fixou seus profundos olhos negros nela, como se estivesse tentando decifrá-la. Seus lábios finos se moveram ligeiramente e ele respondeu:

— Sim! — Em seguida, perguntou. — O que isso tem a ver com o nosso encontro arranjado?

Os olhos amendoados de Lorena eram claros e serenos quando ela disse:

— Eu tenho uma reputação terrível.

A voz grave e calma do homem soou:

— Eu prefiro confiar no que vejo com meus próprios olhos.

Lorena ficou surpresa.

Os olhos de Guilherme, como duas pedras de ônix, eram tão intensos que ela teve que desviar o olhar.

— Srta. Lorena, o que acha de nos casarmos?

Lorena, que acabara de desviar o olhar, voltou a encará-lo, surpresa.

Guilherme sorriu levemente:

— Nós dois temos algo a ganhar e, já que nos encontramos, por que não aproveitar a oportunidade? — Ao ver que ela não respondeu, ele continuou. — Após o casamento, podemos seguir nossas vidas sem interferências. Eu sou muito ocupado com meu trabalho e não tenho tempo para me casar, mas meu avô continua me pressionando. Com isso, você e eu poderíamos nos livrar das cobranças familiares. Esses encontros arranjados são uma perda de tempo.

Por fim, Guilherme, com um tom de quem já passou por isso, acrescentou mais um argumento.

Lorena, ao ouvir isso, estreitou os olhos amendoados e encarou o rosto frio e bonito do homem.

Ele estava certo, era realmente uma perda de tempo. Conhecendo a personalidade de sua avó, ela não descansaria até que Lorena estivesse casada.

Embora esse homem não parecesse ser confiável, pelo menos era atraente.

Vendo que ela permanecia em silêncio, o homem não se apressou, demonstrando paciência enquanto aguardava sua resposta, até servindo a ela um copo d'água de maneira cortês.

O silêncio reinou no quarto por um tempo.

Até que a voz clara e fria de Lorena finalmente quebrou o silêncio.

— Está bem, eu aceito, mas com uma condição.

Seus olhos frios encontraram os dele, seus olhos amendoados brilhando com uma emoção indiscernível.

O homem respondeu sem hesitar:

— Está bem, pode impor qualquer condição.

Lorena levantou ligeiramente as sobrancelhas, um pouco desconfiada. Ele estava sendo muito rápido em aceitar?

Condição livre?

Ele confiava tanto nela assim?

Mais uma vez, Guilherme pareceu ler seus pensamentos, explicando de maneira casual:

— Porque é você, então vale a pena.

Assim que ele terminou de falar.

Lorena sentiu seu coração acelerar, batendo mais forte.

Logo, uma onda de calor invadiu seu coração gelado.

Uma pessoa que ela tinha visto apenas duas vezes poderia fazer com que ela se sentisse aquecida; ela de repente achou isso bastante irônico.

Guilherme, mais uma vez, percebeu o desprezo em seus olhos e a observou atentamente com seus olhos profundos e imperturbáveis.

Nove e meia.

Os dois deixaram juntos o Restaurante Glicínia.

Guilherme, cavalheiromente, se ofereceu para levá-la em casa, mas ela recusou prontamente, dizendo que tinha vindo de carro.

Sentado em seu carro luxuoso, ele viu o Mercedes preto desaparecer lentamente na escuridão, seus olhos profundos e frios como o mar, impossíveis de decifrar.

Naquele momento, ele se lembrou da condição que ela havia estabelecido; não esperava que ela pedisse um casamento secreto, o que o surpreendeu.

Ela poderia usar sua posição para se vingar de todos que a prejudicaram, mas disse que não precisava.

Quando ele a viu pela primeira vez à beira do lago, sentiu uma estranha familiaridade e, sendo geralmente indiferente às mulheres, parou o carro.

Naquela ocasião, Guilherme pensou que talvez estivesse louco.

Até que, hoje, ao vê-la novamente, ele percebeu que seu interesse por ela tinha aumentado.

Ao perceber que ela estava envolvida em encontros arranjados e que poderia encontrar outros homens, ele ficou incomodado e propôs aquele contrato de casamento inesperado até para ele mesmo.

Do outro lado.

Quando Lorena voltou para o apartamento no Residencial Jardim do Norte, ela se jogou no sofá, completamente relaxada.

Em pouco tempo, a imagem do rosto bonito de Guilherme passou por sua mente, junto com o pensamento do contrato de casamento insano que havia aceitado.

Como isso poderia acontecer com ela?

Sem conseguir entender e sem querer pensar mais sobre isso, ela arrastou seu corpo cansado para o banheiro.

...

Dois dias depois.

Segunda-feira.

Nove da manhã, no cartório da Cidade B.

Duas figuras com uma altura muito compatível entraram no cartório por uma passagem especial e foram levadas para uma sala VIP.

Dez minutos depois.

Lorena pegou o certificado de casamento em suas mãos, ainda atordoada.

Ela não percebeu o sorriso astuto de satisfação nos lábios finos do homem ao seu lado.

— Parabéns, Sr. Guilherme e Sra. Santos. Que vocês tenham uma vida longa e feliz juntos e muitos filhos.

A funcionária, uma mulher casada, nunca tinha visto um casal tão bonito e harmonioso como esses recém-casados. Ela sorriu para eles e ofereceu suas felicitações.
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