Olhando repetidas vezes as imagens, Karen exultava com a repercussão que aquela notícia teria em Rodrigo.Estava no mesmo nível da esposa dissimulada. Ambas o traíram e tinham as mesmas chances. Karen estava confiante de sair vencedora, pois, após ler e ver as fotos impressas na revista, era perceptível que Sara não lutaria por Rodrigo. Pelo menos uma vantagem teve com a amnésia dela.A porta do elevador a sua frente abriu-se, dando passagem para Rodrigo. Os olhos escuros evitaram mira-la ao passar pela antessala. Ciente seguiria direto para o escritório, Karen se levantou, pegou a revista e barrou o caminho do Montenegro.— Chegou uma correspondência interessante para você, amorzinho! — cantarolou com uma sórdida satisfação.— Deixe na minha sala — informou irritado por ela se colocar entre ele e sua sala.— Não, não, não, Rodrigo — disse com voz manhosa, estendendo a revista. — Tenho de entregar em mãos. Não perderei essa oportunidade por nada no mundo.Rodrigo pegou sem qualquer in
Após ver as fotos publicadas e ler superficialmente a matéria, Júlio entendeu o acesso de fúria do amigo e sócio. Lembrava-se de como Rodrigo ficou devastado depois da traição de Karen. Ele tomou decisões duvidosas por causa dessa raiva, uma delas sendo pedir Sara em casamento. Tudo para manter a postura de senhor de seu destino, mesmo que por dentro estivesse destruído.A vida não era fácil para o Montenegro, toda vez que se erguia orgulhoso, algo vinha lhe dar uma rasteira e lança-lo ao chão.Entrou na sala do sócio e o encontrou em pé, atrás da mesa de mogno do escritório, virado para a janela, a testa e os punhos cerrados apoiados no vidro.— É apenas fofoca — declarou depois de alguns instantes de silêncio. — Sara deve ter uma explicação.— Claro que tem. Elas sempre têm — Rodrigo riu e se voltou para o loiro, os lábios curvados em um sorriso desdenhoso. — A explicação é que insistiu em sair de casa sozinha para encontrar o amante. Enquanto isso, o imbecil aqui — apontou para o p
Marta desviou o olhar, incerta do que dizer. Quando chegou e encontrou o apartamento em completo silêncio, não se preocupou em saber onde Sara estava, principalmente por temer que tivesse visto a publicação na Famous.Exasperado com o mutismo da empregada, Rodrigo segurou o aborrecimento e, sem fazer novos questionamentos, rumou em direção ao quarto principal.Tinha de haver alguma pista de Sara no quarto. Se não tivesse, iria a maldita galeria que ela tanto gostava de visitar.Que os céus o ajudasse! Caso Sara estivesse com o ex-namorado em segredo, mandaria para o espaço os conselhos de Júlio e colocaria o ex dela no devido lugar por intrometer em seu casamento.Entrou na suíte, acendeu a luz e, sem dedicar um segundo olhar as cobertas emboladas sobre a cama, se aproximou da primeira mesinha de cabeceira, do lado esquerdo do leito. Abriu a primeira gaveta em busca de um endereço, anotação, qualquer pista de onde a esposa poderia estar. Nesse momento, com os nervos a flor da pele, pr
Para não atrapalhar o sono de Sara, Rodrigo usou o escritório do apartamento para informar Júlio que se ausentaria por algum tempo, explicando o que se passava com Sara. Não se surpreendeu ao ouvi-lo dizer alegre:— Sem problema cara! Por mim, pode tirar férias. Cuidarei de tudo na sua ausência. Faça o favor de ser extremamente bom para a Sara.Não foi difícil atender ao pedido do loiro, afinal, estava fazendo exatamente isso, pensou ao retornar ao quarto principal.Ao abrir a porta viu Sara tentando levantar sem sucesso. Erguia o tronco um pouco, para logo depois cair pesadamente sobre a cama.— Sara, o médico pediu que descansasse — indicou ao sentar na beira do colchão. — Significa que não deve sair dessa cama— Você é muito mandão, sabia? — Sara resmungou sentindo as pálpebras difíceis de manter abertas. Soltou um respiro fraco antes de dizer com a voz falha: — Preciso de ajuda... Minha roupa está grudando de suor... preciso troca-la, e não consigo.Rodrigo ficou tenso ao fim das
Assim que chegou em casa, Marta se jogou em seu sofá-cama e discou o número de Isabel. Em poucas palavras, informou a loira o que ocorreu no apartamento dos Montenegro.— O que disse? Repete, porque creio ter pirado de vez.— O senhor Montenegro passou o dia todo cuidando da Sara.— Ou essa infeliz tem muita sorte, ou essa doença é um truque.— Não me pareceu um truque — opinou, acrescentando em seguida o motivo de sua opinião. — Ela está muito mal, nem consegue se alimentar sozinha.— Que droga! Rodrigo não fez nada a respeito da matéria? Não brigou e nem tirou satisfação?— Quando ele entrou no apartamento, parecia transtornado e disposto a fazer exatamente isso. Mas deve ter mudado de ideia quando a encontrou doente — supôs.— Você tem que fazer alguma coisa.— Eu? — estranhou, sem entender as intenções de Isabel.— Sim. Conte sobre o primeiro encontro da Sara com o Robson, diga que são amantes e...— Mas eles não são — Marta declarou, interrompendo as maquinações da outra. — Pelo
Preocupada com o comportamento recente de Rodrigo, Karen fez um desvio em seu percurso noturno. No lugar de ir direto para casa após o trabalho, foi em busca de uma solução para seus problemas.Caminhou pelo salão, misturando-se as pessoas no local, atenta ao seu redor e torcendo o nariz para as esculturas dominando o ambiente. Não entendia o que as pessoas viam de belo naquilo.Parou em frente a um grande pássaro, feito de material reciclável, e contorceu a boca em desagrado. Se não estivesse determinada a encontrar Robson Gomes não perderia sua noite naquele lugar.— O que acha?Virou e encarou um homem de cabelo loiro e olhos azulados.— Ah, bem... Diferente.Ele soltou um riso curto.— "Diferente", acompanhado desse seu olhar de repulsa, costuma dizer "odiei" — comentou bem humorado. — O que uma mulher tão atraente faz em uma galeria quando é evidente que não aprecia a arte?— Só porque uma pessoa não gosta de uma escultura em particular, não significa que não aprecie outras artes
Não era novidade ser chamada à sala do redator chefe, normalmente, para deixar seus artigos ou trocar palavras rápidas, mas nunca foi à porta fechada.Com a expectativa de realizar mais um de seus sonhos, Isabel vibrou enquanto acompanhava com o olhar ele trancar a porta e baixar as persianas das divisórias, assegurando a privacidade deles.Depois de detonar sua ex-amiga, teria o redator chefe aos seus pés, comemorou. Conseguia se ver sobre a mesa de mogno, as pernas envolvendo a cintura dele, beijando-o, entre outras coisas que envolviam a ausência de algumas peças de roupa.Para sua surpresa, ao invés de agarra-la, Gabriel passou direto por ela, contornou a mesa e se sentou na poltrona apontando a cadeira a sua frente.— Sente-se. — O ouviu ordenar com seu tom imperioso.Sentou-se, uma sensação incomoda a dominando diante do olhar que o Sampaio lhe endereçava, piorando conforme ouvia o motivo da "reunião particular". Ao fim, sem acreditar no que acabara de ouvir, Isabel se levantou
Sentado sobre o cobertor, Rodrigo tentava se concentrar nas informações na tela do notebook, enviadas mais cedo pelo sócio. Porém, os números e letras pareciam dançar a sua frente e chegavam a perder o foco, tornando-se um emaranhado de informações desconectas. Sinal claro de que, por mais que tentasse, seus pensamentos estavam longe demais. "Ou nem tanto", reconheceu ao olhar para Sara, adormecida ao seu lado.Esticou a mão para afastar uma mecha rebelde de cima da bochecha, aproveitando para acariciar de leve a face serena. Sentiu uma calorosa satisfação quando um sorriso se delineou na boca tentadora.Nunca reparou no quanto ela ficava linda em seu sono. Soltou um engasgo de riso ao se dar conta que nunca se importou em reparar nada a respeito dela, apenas aceitou de bom grado o amor sem limites e em troca deu indiferença. Se tivesse agido de outra forma...Sorriu com sarcasmo — endereçado a si mesmo —, e afastou a mão do rosto dela. Se tivesse feito tudo diferente, seguido pelo ca