Cansado, e com um milhão de dúvidas rondando sua mente, Rodrigo entrou no apartamento disposto a seguir o conselho de Júlio.As luzes estavam apagadas, porém, o televisor da sala encontrava-se ligado, garantindo visibilidade suficiente para que não necessitasse acende-las.Trancou a porta e caminhou devagar para o centro da sala. Viu, sobre a mesinha de centro, uma grande tigela de pipoca, uma garrafa de refrigerante e um copo com vestígios da bebida.Sara estava deitada no sofá, um cobertor a cobrindo até a cintura, a cabeça apoiada em uma almofada, os cabelos bagunçados e os lindos olhos verdes atentos na tela. Não demorou a notar sua presença e sentar, um discreto sorriso se formando em seus lábios.— Boa noite! — ela disse ajeitando os fios sem muito sucesso. — Como foi seu dia de trabalho? — perguntou desistindo de pentear o cabelo com os dedos.Rodrigo largou sua pasta na mesinha e sentou-se ao lado dela.— Bem. Mas seria melhor se tivesse me visitado — respondeu, esticando o br
Girando sua cadeira, Isabel apreciava extasiada a nova edição da revista Famous, cuja capa estampava uma foto do casal Montenegro rasgada ao meio, abaixo da foto a legenda: “Casal Montenegro perto de um eminente divórcio?”. Nas páginas internas mais fotos, essas tão comprometedoras que deixavam claro o motivo da legenda da capa.— Está magnífica — comemorou.Apertou a revista contra o peito e forçou sua cadeira a girar um pouco mais enquanto ria divertida. Era a realização de seu maior desejo, a cartada final contra Sara. Por fim, abalaria a vida dela como a sua foi por causa do ciúme obsessivo da Montenegro.— Quanta felicidade — Gabriel resmungou, sentando na beira de sua mesa. — Não entendo esse prazer em prejudicar os Montenegro. — A fitou atento. — Continua apaixonada por Rodrigo Montenegro por acaso?Isabel bufou irritada. Pelo jeito seus colegas - um bando de fofoqueiros sem o que fazer -, andaram espalhando sua antiga paixão pelo marido da ex-amiga. Quantas vezes teria que rep
Olhando repetidas vezes as imagens, Karen exultava com a repercussão que aquela notícia teria em Rodrigo.Estava no mesmo nível da esposa dissimulada. Ambas o traíram e tinham as mesmas chances. Karen estava confiante de sair vencedora, pois, após ler e ver as fotos impressas na revista, era perceptível que Sara não lutaria por Rodrigo. Pelo menos uma vantagem teve com a amnésia dela.A porta do elevador a sua frente abriu-se, dando passagem para Rodrigo. Os olhos escuros evitaram mira-la ao passar pela antessala. Ciente seguiria direto para o escritório, Karen se levantou, pegou a revista e barrou o caminho do Montenegro.— Chegou uma correspondência interessante para você, amorzinho! — cantarolou com uma sórdida satisfação.— Deixe na minha sala — informou irritado por ela se colocar entre ele e sua sala.— Não, não, não, Rodrigo — disse com voz manhosa, estendendo a revista. — Tenho de entregar em mãos. Não perderei essa oportunidade por nada no mundo.Rodrigo pegou sem qualquer in
Após ver as fotos publicadas e ler superficialmente a matéria, Júlio entendeu o acesso de fúria do amigo e sócio. Lembrava-se de como Rodrigo ficou devastado depois da traição de Karen. Ele tomou decisões duvidosas por causa dessa raiva, uma delas sendo pedir Sara em casamento. Tudo para manter a postura de senhor de seu destino, mesmo que por dentro estivesse destruído.A vida não era fácil para o Montenegro, toda vez que se erguia orgulhoso, algo vinha lhe dar uma rasteira e lança-lo ao chão.Entrou na sala do sócio e o encontrou em pé, atrás da mesa de mogno do escritório, virado para a janela, a testa e os punhos cerrados apoiados no vidro.— É apenas fofoca — declarou depois de alguns instantes de silêncio. — Sara deve ter uma explicação.— Claro que tem. Elas sempre têm — Rodrigo riu e se voltou para o loiro, os lábios curvados em um sorriso desdenhoso. — A explicação é que insistiu em sair de casa sozinha para encontrar o amante. Enquanto isso, o imbecil aqui — apontou para o p
Marta desviou o olhar, incerta do que dizer. Quando chegou e encontrou o apartamento em completo silêncio, não se preocupou em saber onde Sara estava, principalmente por temer que tivesse visto a publicação na Famous.Exasperado com o mutismo da empregada, Rodrigo segurou o aborrecimento e, sem fazer novos questionamentos, rumou em direção ao quarto principal.Tinha de haver alguma pista de Sara no quarto. Se não tivesse, iria a maldita galeria que ela tanto gostava de visitar.Que os céus o ajudasse! Caso Sara estivesse com o ex-namorado em segredo, mandaria para o espaço os conselhos de Júlio e colocaria o ex dela no devido lugar por intrometer em seu casamento.Entrou na suíte, acendeu a luz e, sem dedicar um segundo olhar as cobertas emboladas sobre a cama, se aproximou da primeira mesinha de cabeceira, do lado esquerdo do leito. Abriu a primeira gaveta em busca de um endereço, anotação, qualquer pista de onde a esposa poderia estar. Nesse momento, com os nervos a flor da pele, pr
Para não atrapalhar o sono de Sara, Rodrigo usou o escritório do apartamento para informar Júlio que se ausentaria por algum tempo, explicando o que se passava com Sara. Não se surpreendeu ao ouvi-lo dizer alegre:— Sem problema cara! Por mim, pode tirar férias. Cuidarei de tudo na sua ausência. Faça o favor de ser extremamente bom para a Sara.Não foi difícil atender ao pedido do loiro, afinal, estava fazendo exatamente isso, pensou ao retornar ao quarto principal.Ao abrir a porta viu Sara tentando levantar sem sucesso. Erguia o tronco um pouco, para logo depois cair pesadamente sobre a cama.— Sara, o médico pediu que descansasse — indicou ao sentar na beira do colchão. — Significa que não deve sair dessa cama— Você é muito mandão, sabia? — Sara resmungou sentindo as pálpebras difíceis de manter abertas. Soltou um respiro fraco antes de dizer com a voz falha: — Preciso de ajuda... Minha roupa está grudando de suor... preciso troca-la, e não consigo.Rodrigo ficou tenso ao fim das
Assim que chegou em casa, Marta se jogou em seu sofá-cama e discou o número de Isabel. Em poucas palavras, informou a loira o que ocorreu no apartamento dos Montenegro.— O que disse? Repete, porque creio ter pirado de vez.— O senhor Montenegro passou o dia todo cuidando da Sara.— Ou essa infeliz tem muita sorte, ou essa doença é um truque.— Não me pareceu um truque — opinou, acrescentando em seguida o motivo de sua opinião. — Ela está muito mal, nem consegue se alimentar sozinha.— Que droga! Rodrigo não fez nada a respeito da matéria? Não brigou e nem tirou satisfação?— Quando ele entrou no apartamento, parecia transtornado e disposto a fazer exatamente isso. Mas deve ter mudado de ideia quando a encontrou doente — supôs.— Você tem que fazer alguma coisa.— Eu? — estranhou, sem entender as intenções de Isabel.— Sim. Conte sobre o primeiro encontro da Sara com o Robson, diga que são amantes e...— Mas eles não são — Marta declarou, interrompendo as maquinações da outra. — Pelo
Preocupada com o comportamento recente de Rodrigo, Karen fez um desvio em seu percurso noturno. No lugar de ir direto para casa após o trabalho, foi em busca de uma solução para seus problemas.Caminhou pelo salão, misturando-se as pessoas no local, atenta ao seu redor e torcendo o nariz para as esculturas dominando o ambiente. Não entendia o que as pessoas viam de belo naquilo.Parou em frente a um grande pássaro, feito de material reciclável, e contorceu a boca em desagrado. Se não estivesse determinada a encontrar Robson Gomes não perderia sua noite naquele lugar.— O que acha?Virou e encarou um homem de cabelo loiro e olhos azulados.— Ah, bem... Diferente.Ele soltou um riso curto.— "Diferente", acompanhado desse seu olhar de repulsa, costuma dizer "odiei" — comentou bem humorado. — O que uma mulher tão atraente faz em uma galeria quando é evidente que não aprecia a arte?— Só porque uma pessoa não gosta de uma escultura em particular, não significa que não aprecie outras artes