- Acho que sei quem você está procurando! – Flora sussurrou no meu ouvido – Ele está ali, no grupo que fez uma fogueira bem pobre. – Riu, movendo minha cabeça com suas mãos até que ficasse na direção de Pedro.Sorri, puxando a mão dela:- Vamos até lá.- Claro! – Ela soltou minha mão e pôs o braço sobre meus ombros – É nítido que vocês estão interessados um no outro.- Acha isso?- Vai negar? – ela riu, me olhando enquanto caminhávamos com dificuldade na areia grossa.- Talvez eu só queira saber se ele beija bem. – Tentei não parecer tão interessada.- Talvez ele queira tirar a mesma dúvida. – Ela me empurrou com o próprio corpo, brincando.Assim que nos aproximamos, Pedro me olhou. Como nunca me flagrei que à noite os olhos dele ficavam ainda mais enigmáticos e belos, confundindo-se com a escuridão? Eu conseguia ver o fogo fraco, quase se extinguindo, na íris dele.Pedro estava sentado num tronco de madeira, parecendo que havia sido colocado ali estrategicamente para aquele luau. De
- Cada um coloca o nome neste pedaço de papel e sortearemos os pares. Depois iremos para o beijo quente e gelado. – A garota explicou, pondo os papeizinhos sobre a caixa térmica onde estavam as bebidas, interrompendo a resposta de Pedro.- Vão lá... Participem! Vocês não têm nada a perder. – Flora nos incentivou.Seria sorteio. Se eu não ficasse de par com Pedro o máximo que aconteceria era ter que beijar outro garoto. Creio que o pior seria se fosse Marcos.- Sobra uma menina. Quem sai? – A garota perguntou, me encarando, deixando claro que gostaria que eu saísse.Flora levantou a mão:- Irei só observar.- Ok, será a juíza. – Ela passou um relógio para Flora, certamente para que minha amiga pudesse controlar o tempo.- Funciona da seguinte forma – explicou – faremos o sorteio dos casais para o beijo quente, onde cada participante receberá uma gota de pimenta forte na língua e a nossa amiga que sobrou aqui – apontou para Flora – cronometrará o casal que beijou por mais tempo.- Pimen
Pedro e eu pomos as línguas para fora, ao mesmo tempo, enquanto nos olhávamos. Ela começou pingando o molho de pimenta em mim, certamente com a intenção de me maltratar primeiro. Senti o líquido aos poucos parecendo queimar a minha língua e então Pedro se aproximou rapidamente, tomando meus lábios, apossando-se da minha língua, misturando a substância quente e ardente nas nossas bocas.Involuntariamente passei os braços em volta de seu pescoço e o senti abraçar-me, com nossos corpos colando-se de imediato. Nem sabia se sentia mais a pimenta ou era o beijo dele que me queimava mesmo, não só na boca, mas todo o corpo, chegando até a alma. Segurei sua cabeça, tentando tomar o controle, sendo que o que consegui foi sua língua aprofundar-se ainda mais dentro da minha boca, explorando cada centímetro dela.A sensação que eu tive era de que aquele beijo foi ensaiado por uma vida inteira antes de acontecer daquela forma perfeita. Não era só sua língua que acariciava a minha de forma rítmica,
Clara sentou-se, me encarando com um sorriso:- Então me beije até cansar, Pedro Moratti.Não pensei duas vezes: ajoelhei-me na frente dela e tomei novamente seus lábios, num beijo voraz, enlouquecido, como nunca provei antes. Era como se necessitasse da língua dela junto da minha para sobreviver, como se o ar que ela soltava pelo nariz de forma ofegante fosse a única maneira de meus pulmões não pararem de funcionar. Eu sentia aquela garota em cada centímetro do meu corpo, a cada gota do meu sangue, em cada batida do meu coração, de uma forma que me assustava terrivelmente.Quando a soltei, Clara começou a rir, pondo a mão na frente do rosto:- Eu... Não acredito que fizemos isto!Deitei-me no colchão inflável, com a cabeça no travesseiro que havia ali, certamente de Flora, e puxei Clara, fazendo-a deitar também. Nos viramos de frente um para o outro e ela perguntou:- Isto... Não faz mais parte do nosso namoro falso, não é mesmo?Toquei seus lábios dela com meu dedo indicador, pressi
Realmente eu não sabia o que Clara esperava... Um namoro? Que continuássemos como estavámos, nos beijando, sem compromisso?Afinal, ela sempre deixou tão claro que se casaria com o tal de Patrick, mesmo afirmando que não tinha visto o tal ponto luminoso no ombro dele, ainda assim crendo que ele fosse sua alma gêmea.Me envolver com Clara era fazer parte de um triângulo, sabendo que sempre haveria ele entre nós.E eu não queria somente me afastar de um possível triângulo amoroso, como também não estava disposto a ser traído, usado ou mesmo me comprometer a casar com ela e ser pai da Laís e do Lucas.Percebi que Clara pareceu não ficar muito satisfeita com a minha resposta.- O que você quer, Clara? – Perguntei de forma sincera, a fim de saber se estava disposta a abrir mão de algo, incerto se eu estaria apto a lhe dar o que queria.- Eu quero saber o que aconteceu no seu passado.Sentei-me no colchão, imediatamente:- Como assim?- Se Anastácia pode saber, por que eu não?- O que Anast
Senti uma lágrima idiota brotando do meu olho e limpei-a com agressividade, chegando a sentir certa dor. Por que porra todo mundo me rejeitava ou traía? Qual o meu problema? Ou melhor, qual o problema dos outros?Talvez a porra da questão de caminhos traçados e almas predestinadas fosse mesmo uma mentira.Suspirei e levantei, ainda sentindo o coração batendo forte. Respirei fundo, sentindo o cheiro do ar puro que vinha das árvores gigantescas e que tomavam conta de praticamente todo aquele lugar.A noite continuava linda e estrelada, me fazendo ir em direção à lagoa contemplá-la. Senti um vento fresco vindo da beira, causando-me frio e consequentemente arrepios.Levantei as duas mãos e com os dedos polegares e indicadores fiz um triângulo, colocando a lua dentro dele. Uma lágrima teimosa voltou a cair quando lembrei da lua sobre o ombro esquerdo de Pedro.Ri, ao mesmo tempo que chorava. Por que pensei que ele era diferente dos outros? O fato de o garoto fazer cursos, se dedicar a ajud
Respirei fundo e dei um passo para trás. Virei em direção à lagoa, observando algumas poucas estrelas que pareciam cair nas águas negras. Observei as ondas pequenas que quebravam com o vento nas madeiras do deck e perguntei, sem virar na direção dele:- Você havia dito que teríamos tempo para isso... E agora está me contando. Devo pensar que nosso tempo acabou? – Senti o coração acelerar.Pedro se aproximou e eu não ouvi nenhum passo sequer dele ou mesmo um som emanando de seu corpo, como um suspiro ou respiração acelerada, por exemplo. Mas sabia que ele estava a centímetros de mim, porque meu corpo sentia o dele assim como o calor que emanava de sua pele. E se aquilo não fosse conexão ou uma alma separada no passado, eu realmente não sabia nada sobre almas gêmeas.Antes mesmo que ele tocasse meus ombros nus, senti o calor de suas mãos e meu corpo arrepiou-se completamente.- Pelo contrário, Clara... Eu contei a verdade porque gostaria que o tempo para nós dois começasse a contar a pa
Os pais de Flora foram nos buscar quando chegamos da excursão, no domingo à tarde. No caminho, ela perguntou, rindo:- Quantos pontos Pedro fez no final de semana?- Vejamos... – sorri – me contou um segredo, fugiu de Anastácia, a desmentiu em público...- O desmenti-la em público não lhe daria 10 pontos?- Sim, ele tem 10 pontos por ter tido a coragem de mostrar na frente de todos que ela estava mentindo.- E defendeu sua honra... Afinal, você seria a corna se ele não tivesse contado a verdade.- Isso o deixa com... 12 pontos. – Somei.- Enquanto Patrick... Perde quanto? – Flora perguntou ansiosa.- Patrick continua com seus 97 pontos.- Isso não é muito justo, Clara! – Tentou defender Pedro, demonstrando insatisfação por Patrick se manter bem acima.- Enquanto ele não fizer algo ruim, continua com os 97. – Confirmei.- Não é justo! – Bufou, jogando-se para trás no banco – Mas não pode negar que Pedro está conquistando você.- Não... Não posso mesmo! – admiti – Eu me sinto muito bem