EsterMurat me encara com um olhar indecifrável, tão intenso que meu coração começa a acelerar no peito. Tento controlar minha respiração enquanto faço a pergunta que não consigo evitar:— Por que resolveu isso agora?Ele mantém o silêncio por um instante, como se estivesse escolhendo as palavras, mas então bufa, claramente incomodado. Esse jeito dele de evitar explicações me deixa sempre intrigada.— Por que precisa de uma resposta pra tudo?Estreito os olhos, estudando-o. Não quero espantá-lo com minha curiosidade, afinal, gostei muito da ideia dele ficar. Talvez até mais do que deveria admitir.— Eu só gostaria de entender sua resolução.Seus olhos negros se fixam nos meus, carregados de uma determinação que quase me faz recuar.— Você disse que tem andado muito sozinha. A viagem pode esperar.Minha mente busca lógica, mas tudo em Murat desafia isso. Esse homem deve ser bipolar, penso, mas não consigo evitar o sorriso que surge em meus lábios.— Tudo bem.— Já terminou o café? — ele
EsterEle parece nem ter me ouvido. O jeito que Murat olha meus lábios eu já sei o que está prestes a acontecer. Sem que eu tenha tempo de me afastar e dizer a ele que quero uma conversar, quero entender o que se passa realmente no coração desse homem, ele me beija, de um modo profundo e exigente. Ele beija meu pescoço, me aperta contra seu corpo. Sua mão entra pelo meu vestido, me tocando intimamente, acariciando minhas pernas, me deixando quente e úmida. Ele retira sua mão e gentilmente me traz mais para junto dele, sendo devorada por seus lábios, sua língua quente na minha, dançando sobre ela. Fico mole em seus braços e não contenho meus gemidos quando ele escorrega seus lábios para o meu pescoço.Aos poucos questões sem respostas vão se infiltrando no meu cérebro e começam a me assolar.Temos muito nós eu disse. Ele nem me contestou quando expliquei o motivo da minha partida. Ele não resolveu sua situação. Continua levando sua vida e o pior, ele não faz nada para mudar isso.O que
Murat— Vou pedir para Tereza providenciar um café para nós.Assinto para Ester e me dirijo até a janela do apartamento. Olho para fora, mas não vejo nada. Minha mente está tomada por um turbilhão de pensamentos.O médico nos deu uma boa notícia: Ester está bem. Para mim, isso significa duas coisas: primeiro, estou aliviado que ela tenha se recuperado; segundo, consciente de que, estando bem, ela estará apta para retomar sua vida, viajar para a casa de sua tia, seguir seu caminho… Resumindo, ela vai sair da minha vida.Durante todo esse tempo que a visitei, tentei manter tudo sob controle: a situação, meus sentimentos. A intenção era me acostumar com a presença dela, acreditar que isso teria um efeito diferente em mim.Allah! Como lutei para amenizar as coisas aqui dentro — toco meu peito — para não sentir essa mistura de dor, fascinação e desejo. Para não pensar nela tantas vezes no dia como acontece.Tentei vê-la como uma pessoa que precisava de ajuda e, então, estendi a mão. Mantiv
MuratMas que merda! É isso que provoco nela? Apenas gratidão? A palavra ecoa na minha mente como um soco no estômago. Não quero isso. Não depois de tudo o que passamos, de tudo o que senti.Tereza nos chama para o café, interrompendo meus pensamentos tumultuados. Levanto automaticamente, ajudando Ester com a cadeira. Seu corpo ainda frágil parece tão pequeno e vulnerável que meu peito aperta. É um reflexo cuidar dela, como se fosse a coisa mais natural do mundo.Enquanto me sento na cabeceira, pego o bule e a sirvo. Sei que seu braço ainda não tem força suficiente para erguer algo tão pesado.— Obrigada — ela diz, sua voz baixa e suave.Não respondo. Nem olho para ela. Não consigo. Tenho medo de que, ao encontrar seus olhos, ela leia o turbilhão de emoções que carrego, a avalanche que ameaça me soterrar.Estou apaixonado por ela. Lutei, neguei, tentei sufocar isso por tanto tempo, mas perdi. Perdi feio.Agora, sinto como se um elefante estivesse sentado no meu peito, esmagando meu cor
Minha voz sai mais firme do que eu imaginava, apesar do tumulto em meu peito. Não sei exatamente o que esperava ouvir, mas certamente não era isso. “Desejo” e “quero” são palavras ocas diante do que sinto por ele.Murat solta o ar devagar, como se estivesse tentando se controlar. Seu olhar permanece em mim, como se estivesse determinado a me desafiar, mas também implorando para que eu o entendesse.— E se eu disser que sempre quis conhecer uma mulher como você, mas não sabia definir? — Ele começa, a voz grave e carregada de emoção. — Hoje, essa mulher está na minha frente, de corpo e alma, e eu seria um louco de perdê-la mais uma vez.As palavras dele me atingem como uma avalanche, desarmando todas as minhas defesas. Minha respiração fica mais rápida, e sinto meu coração se apertar. Olho para ele, engolindo em seco.— O que você sente exatamente por mim, Murat? — A pergunta escapa dos meus lábios antes que eu consiga pensar.Ele se inclina ainda mais, tão próximo que posso sentir seu
Emoções profundas? Sou seu passatempo favorito?Eu o olho calada, ainda assimilando tudo isso, o coração agitado no peito. Seus olhos ainda estão fixos no meu rosto.—Na verdade, não importava que eu me fechasse para você, que meu corpo ficasse tenso feito uma vara, minhas mãos presas ao meu corpo me impedindo de te tocar... meu coração já havia se decidido por mim e ele quer você ao meu lado.Eu solto um suspiro com suas falas. Ante essa declaração não consigo ir contra o que sinto.Esse homem me fez uma lavagem cerebral. Só pode ser!—Ainda acha que estou cobrando uma dívida? —Ele me questiona me trazendo junto a ele.—Não... —eu sussurro:—Ficará por que se sente em débito comigo? —Pergunta e me puxa mais para ele.—Não, Murat. Ficarei por realmente gostar de você. Mas ainda acho que sou uma louca por apostar nas suas promessas, que resolverá nossa situação.Murat ofega com minhas palavras, seus olhos são tomados por um algum tipo de emoção, então ele sorri. —Era isso que eu quer
DIAS ATUAISEsterSaio das lembranças e volto para o meu presente...O tempo passou, Murat se revelou um amante maravilhoso e ao mesmo tempo imprevisível. Ele vem para cá quando bem entende, e depois some. Nunca dando satisfação de sua vida, a única coisa que ele me pede é para ter paciência que ele está resolvendo nossa situação. Ele fala como se estivesse fazendo algo. Ainda bem que não usa o tempo futuro, tipo, eu resolverei a nossa situação.Eu me pergunto, que providências ele está tomando? Esperando a presidência e puxando o tapete do primo dele o Tabor?Oito meses se passaram e continuamos na mesma, o que mais me dói em tudo isso é que Murat esconde de todos que está comigo. Minha vida com ele se resume a esse apartamento. Nem sei o que seria de mim se não fosse por essas aulas de piano e as horas que me dedico a estudar e a tocar aqui em casa. Eu não estou me saindo bem por acaso. Todo meu tempo livre, que não é pouco eu e dediquei à esse instrumento maravilhoso.Minhas mãos
Dois dias depois...Ahmed—Murat está nos enrolando, Ayla.—Ahmed, e você não conhece o ditado? “O que se inflama rapidamente extingue-se logo” Deixe-o! Uma hora ele entenderá a necessidade de ter uma família. Você verá, logo ele pede a mão de Hazal em casamento.Eu solto o ar nervoso.—Ayla! Sinto dizer, mas não é o tempo que Murat está levando para ficar noivo com Hazal que está me preocupando. Eu descobri recentemente que ele está mantendo um apartamento. Uma imobiliária ligou para o escritório o procurando e eu atendi me passando por ele. Eles avisaram do aumento do aluguel do contrato que ele fez de um ano.Ayla me olha no meio do quarto sem entender:—Ele alugou um apartamento? Por que ele alugaria um apartamento?—Ayla! Allah! Pense! Nosso filho alugou um apartamento para sua amante. Ele se encontra com ela lá. Por que acha que muitas vezes ele não dorme em casa? Ele dorme lá com ela.Ayla se senta na cama pálida.—Allah! Não! Não pode ser! —Acredite! Murat tem vida dupla. Mi