Murat— Vou pedir para Tereza providenciar um café para nós.Assinto para Ester e me dirijo até a janela do apartamento. Olho para fora, mas não vejo nada. Minha mente está tomada por um turbilhão de pensamentos.O médico nos deu uma boa notícia: Ester está bem. Para mim, isso significa duas coisas: primeiro, estou aliviado que ela tenha se recuperado; segundo, consciente de que, estando bem, ela estará apta para retomar sua vida, viajar para a casa de sua tia, seguir seu caminho… Resumindo, ela vai sair da minha vida.Durante todo esse tempo que a visitei, tentei manter tudo sob controle: a situação, meus sentimentos. A intenção era me acostumar com a presença dela, acreditar que isso teria um efeito diferente em mim.Allah! Como lutei para amenizar as coisas aqui dentro — toco meu peito — para não sentir essa mistura de dor, fascinação e desejo. Para não pensar nela tantas vezes no dia como acontece.Tentei vê-la como uma pessoa que precisava de ajuda e, então, estendi a mão. Mantiv
MuratMas que merda! É isso que provoco nela? Apenas gratidão? A palavra ecoa na minha mente como um soco no estômago. Não quero isso. Não depois de tudo o que passamos, de tudo o que senti.Tereza nos chama para o café, interrompendo meus pensamentos tumultuados. Levanto automaticamente, ajudando Ester com a cadeira. Seu corpo ainda frágil parece tão pequeno e vulnerável que meu peito aperta. É um reflexo cuidar dela, como se fosse a coisa mais natural do mundo.Enquanto me sento na cabeceira, pego o bule e a sirvo. Sei que seu braço ainda não tem força suficiente para erguer algo tão pesado.— Obrigada — ela diz, sua voz baixa e suave.Não respondo. Nem olho para ela. Não consigo. Tenho medo de que, ao encontrar seus olhos, ela leia o turbilhão de emoções que carrego, a avalanche que ameaça me soterrar.Estou apaixonado por ela. Lutei, neguei, tentei sufocar isso por tanto tempo, mas perdi. Perdi feio.Agora, sinto como se um elefante estivesse sentado no meu peito, esmagando meu cor
Minha voz sai mais firme do que eu imaginava, apesar do tumulto em meu peito. Não sei exatamente o que esperava ouvir, mas certamente não era isso. “Desejo” e “quero” são palavras ocas diante do que sinto por ele.Murat solta o ar devagar, como se estivesse tentando se controlar. Seu olhar permanece em mim, como se estivesse determinado a me desafiar, mas também implorando para que eu o entendesse.— E se eu disser que sempre quis conhecer uma mulher como você, mas não sabia definir? — Ele começa, a voz grave e carregada de emoção. — Hoje, essa mulher está na minha frente, de corpo e alma, e eu seria um louco de perdê-la mais uma vez.As palavras dele me atingem como uma avalanche, desarmando todas as minhas defesas. Minha respiração fica mais rápida, e sinto meu coração se apertar. Olho para ele, engolindo em seco.— O que você sente exatamente por mim, Murat? — A pergunta escapa dos meus lábios antes que eu consiga pensar.Ele se inclina ainda mais, tão próximo que posso sentir seu
Emoções profundas? Sou seu passatempo favorito?Eu o olho calada, ainda assimilando tudo isso, o coração agitado no peito. Seus olhos ainda estão fixos no meu rosto.—Na verdade, não importava que eu me fechasse para você, que meu corpo ficasse tenso feito uma vara, minhas mãos presas ao meu corpo me impedindo de te tocar... meu coração já havia se decidido por mim e ele quer você ao meu lado.Eu solto um suspiro com suas falas. Ante essa declaração não consigo ir contra o que sinto.Esse homem me fez uma lavagem cerebral. Só pode ser!—Ainda acha que estou cobrando uma dívida? —Ele me questiona me trazendo junto a ele.—Não... —eu sussurro:—Ficará por que se sente em débito comigo? —Pergunta e me puxa mais para ele.—Não, Murat. Ficarei por realmente gostar de você. Mas ainda acho que sou uma louca por apostar nas suas promessas, que resolverá nossa situação.Murat ofega com minhas palavras, seus olhos são tomados por um algum tipo de emoção, então ele sorri. —Era isso que eu quer
DIAS ATUAISEsterSaio das lembranças e volto para o meu presente...O tempo passou, Murat se revelou um amante maravilhoso e ao mesmo tempo imprevisível. Ele vem para cá quando bem entende, e depois some. Nunca dando satisfação de sua vida, a única coisa que ele me pede é para ter paciência que ele está resolvendo nossa situação. Ele fala como se estivesse fazendo algo. Ainda bem que não usa o tempo futuro, tipo, eu resolverei a nossa situação.Eu me pergunto, que providências ele está tomando? Esperando a presidência e puxando o tapete do primo dele o Tabor?Oito meses se passaram e continuamos na mesma, o que mais me dói em tudo isso é que Murat esconde de todos que está comigo. Minha vida com ele se resume a esse apartamento. Nem sei o que seria de mim se não fosse por essas aulas de piano e as horas que me dedico a estudar e a tocar aqui em casa. Eu não estou me saindo bem por acaso. Todo meu tempo livre, que não é pouco eu e dediquei à esse instrumento maravilhoso.Minhas mãos
Dois dias depois...Ahmed—Murat está nos enrolando, Ayla.—Ahmed, e você não conhece o ditado? “O que se inflama rapidamente extingue-se logo” Deixe-o! Uma hora ele entenderá a necessidade de ter uma família. Você verá, logo ele pede a mão de Hazal em casamento.Eu solto o ar nervoso.—Ayla! Sinto dizer, mas não é o tempo que Murat está levando para ficar noivo com Hazal que está me preocupando. Eu descobri recentemente que ele está mantendo um apartamento. Uma imobiliária ligou para o escritório o procurando e eu atendi me passando por ele. Eles avisaram do aumento do aluguel do contrato que ele fez de um ano.Ayla me olha no meio do quarto sem entender:—Ele alugou um apartamento? Por que ele alugaria um apartamento?—Ayla! Allah! Pense! Nosso filho alugou um apartamento para sua amante. Ele se encontra com ela lá. Por que acha que muitas vezes ele não dorme em casa? Ele dorme lá com ela.Ayla se senta na cama pálida.—Allah! Não! Não pode ser! —Acredite! Murat tem vida dupla. Mi
AhmedNão foi difícil entrar no apartamento que Murat alugou. Foi simples demais. Peguei o carro do meu filho, o Lykan Hypersport, que tem vidros escuros e entrei no condomínio. A porteiro abriu as portas sem pestanejar, pensando ser ele. Esse carro não é comum pelo seu alto preço. Agora estou em frente à porta dessa vagabunda. Toco a campainha e ergo um buquê de rosas vermelhas tapando o olho mágico. Minha respiração está ofegante. Estou louco para ver quem é essa mulher. Deve ser bem bonita essa ordinária para virar a cabeça de Murat a ponto de ele sustentá-la.EsterEu estou na sala de jantar tomando café da manhã. Estou de saída para as aulas de piano, inclusive Rui está me esperando na sala. Sorrio para Tereza pelo elogio que ela fez ao vestido que ganhei de Murat recentemente. Ele é preto com detalhes em branco. Não preciso dizer que é decente. Gola palhaço, marca pouco meu corpo, na altura dos joelhos. Dou o último gole no café e me levanto.—Vou indo. Adorei esse bolo de a
Murat não tomou uma atitude até hoje, ele realmente me dá migalhas, mantendo uma vida dupla, mas o pai dele não pode saber da minha insegurança.Eu o encaro sem falas, me agarrando a momentos que tive com Murat. A imagem feliz quando ele me vê, suas palavras ora carregadas de carinho, ora preocupadas comigo, ora sensuais....Ele não pode estar certo!—Senhor Çelik, eu não retiro sua razão. Murat já deveria ter resolvido nossa situação há muito tempo. Foi bom isso acontecer. Agora ele terá que tomar uma posição e sei que ele optará por mim.Ele avança na minha direção, eu dou um passo para trás com medo de sua expressão furiosa.—Você acha que vou confrontá-lo? Não! Murat não saberá que estive aqui, nem que descobri essa baixaria. Se eu o confrontar, sabe o que irá acontecer? Ele poderá tomar uma decisão errada por despeito, raiva por eu estar me metendo em sua vida. Só que depois ele irá se arrepender e quando isso acontecer será tarde demais, pois as ações que eu vou tomar serão perm