Cheguei ontem à noite de viagem. A exaustão ainda pesa sobre meus ombros, mas não é apenas física. Hoje vou almoçar na casa de Hazal, mantendo a fachada que criamos. Ainda estamos na mesma situação, vivendo essa farsa. Para ela, também é conveniente. Seu pai, assim como o meu, está calmo, sem aquela urgência sufocante de encontrar pretendentes para nós.Hazal me confidenciou recentemente que está interessada em um rapaz da faculdade. Hoje eles são apenas amigos, e ele nem desconfia do sentimento dela. Quando ouvi isso, senti dois sentimentos opostos se agitando no meu coração. O primeiro foi um alívio genuíno, a felicidade de saber que não estou ferindo ninguém com essa encenação. Mas, ao mesmo tempo, uma tristeza inesperada por ela se abateu sobre mim.Será que ela percebe a situação em que está se colocando? Se ela abrir seu coração para ele, precisará estar pronta para enfrentar as consequências. Será como lançar uma pedra em um ninho de vespas. Esses costumes que nos prendem são co
Dois dias depois...Murat surge no meu quarto quando Julia está literalmente me colocando na cama. Eu estremeço ao vê-lo parado ali, lindo, na soleira da porta. —Pode deixar Julia —diz se aproximando. Suas passadas largar o colocam logo ao meu lado. Ele me cobre com o edredom.Calado, passa os olhos pelos meus cabelos molhados. —Não é bom lavar os cabelo à noite. —Hoje...eu passei mal.Ele se senta na cama, seu olhar é preocupado.—O que você sentiu?—Dor. Passei o dia inteiro na cama, agora que me animei para tomar banho. Meu cabelo estava sujo, por isso o lavei. Estava me incomodando.Ele me olha fixamente. —Tudo bem.Eu reparo que ele está apático. Não parece o Murat que conheci.—O que houve com você Murat, você está diferente?—Eu ando cansado, só isso. —Entendo.—Desculpe-me pela forma que eu saí daqui outro dia — ele diz olhando para os meus lábios como que enfeitiçado por eles. —Tudo bem.Seus olhos sobem e encontram-se com os meus. Ele parece tenso agora.—Podemos ser a
Há mais de quinze dias que eu não vejo Murat. A ausência dele, embora esperada, deixou um vazio difícil de ignorar. Agora ele está aqui, sentado no cantinho da minha cama, e sua presença parece preencher cada espaço da minha alma. O ar ao meu redor fica mais denso, carregado com a energia que só ele consegue trazer.Ele se inclina ligeiramente para frente, e por um instante, meu coração salta, esperando algo mais íntimo. Mas ele apenas ajeita meu travesseiro, um gesto simples que, vindo dele, carrega uma ternura devastadora. Meu coração dispara, meu peito quase dói com a força das batidas. Ele sempre tem esse efeito em mim: esse turbilhão interno que me deixa sem ar, sem chão, sem defesas. Tento disfarçar, mas sei que falho. Meu olhar o entrega, e o desejo se mistura com uma tensão que me deixa petrificada. A única coisa que me impede de parecer uma estátua é minha respiração, agitada, quase ofegante.Ele percebe. Claro que percebe. Os olhos dele ficam mais escuros, mergulhando nos me
—E Tereza? Ela parece meio mãezona.Eu sorrio com o feeling dele.—Ela é, mas tem o trabalho dela.... Você poderia vir mais vezes me ver. —As palavras saíram de minha boca antes que pudesse contê-las.Ele me olha cuidadoso. Isso que está começando a me irritar nele. Seus gestos são todos programados. Até o beijo que ele me dá ou quando sua mão toca a minha, não tem nada de ameaçador.—Eu verei o que posso fazer.Eu verei o que posso fazer?—Isso, olha sua agenda. Quando não estiver escrito Hazal, aí você vem.Murat sorri e aproxima seu rosto do meu.—Você está com ciúmes?A presença dele me desestabiliza, assim tão perto me faz perder o fôlego. Não consigo falar enquanto Murat me olha, inundando-me com sensações. É difícil respirar, ou pensar em qualquer outra coisa além da masculinidade dele.Sou uma confusão de sentimentos, estou me recuperando de um trauma, mas estou bem o suficiente para me dar conta do quão esse homem me afeta. Quando ele me olha assim, com certeza é uma válvula
EsterMurat me encara com um olhar indecifrável, tão intenso que meu coração começa a acelerar no peito. Tento controlar minha respiração enquanto faço a pergunta que não consigo evitar:— Por que resolveu isso agora?Ele mantém o silêncio por um instante, como se estivesse escolhendo as palavras, mas então bufa, claramente incomodado. Esse jeito dele de evitar explicações me deixa sempre intrigada.— Por que precisa de uma resposta pra tudo?Estreito os olhos, estudando-o. Não quero espantá-lo com minha curiosidade, afinal, gostei muito da ideia dele ficar. Talvez até mais do que deveria admitir.— Eu só gostaria de entender sua resolução.Seus olhos negros se fixam nos meus, carregados de uma determinação que quase me faz recuar.— Você disse que tem andado muito sozinha. A viagem pode esperar.Minha mente busca lógica, mas tudo em Murat desafia isso. Esse homem deve ser bipolar, penso, mas não consigo evitar o sorriso que surge em meus lábios.— Tudo bem.— Já terminou o café? — ele
EsterEle parece nem ter me ouvido. O jeito que Murat olha meus lábios eu já sei o que está prestes a acontecer. Sem que eu tenha tempo de me afastar e dizer a ele que quero uma conversar, quero entender o que se passa realmente no coração desse homem, ele me beija, de um modo profundo e exigente. Ele beija meu pescoço, me aperta contra seu corpo. Sua mão entra pelo meu vestido, me tocando intimamente, acariciando minhas pernas, me deixando quente e úmida. Ele retira sua mão e gentilmente me traz mais para junto dele, sendo devorada por seus lábios, sua língua quente na minha, dançando sobre ela. Fico mole em seus braços e não contenho meus gemidos quando ele escorrega seus lábios para o meu pescoço.Aos poucos questões sem respostas vão se infiltrando no meu cérebro e começam a me assolar.Temos muito nós eu disse. Ele nem me contestou quando expliquei o motivo da minha partida. Ele não resolveu sua situação. Continua levando sua vida e o pior, ele não faz nada para mudar isso.O que
Murat— Vou pedir para Tereza providenciar um café para nós.Assinto para Ester e me dirijo até a janela do apartamento. Olho para fora, mas não vejo nada. Minha mente está tomada por um turbilhão de pensamentos.O médico nos deu uma boa notícia: Ester está bem. Para mim, isso significa duas coisas: primeiro, estou aliviado que ela tenha se recuperado; segundo, consciente de que, estando bem, ela estará apta para retomar sua vida, viajar para a casa de sua tia, seguir seu caminho… Resumindo, ela vai sair da minha vida.Durante todo esse tempo que a visitei, tentei manter tudo sob controle: a situação, meus sentimentos. A intenção era me acostumar com a presença dela, acreditar que isso teria um efeito diferente em mim.Allah! Como lutei para amenizar as coisas aqui dentro — toco meu peito — para não sentir essa mistura de dor, fascinação e desejo. Para não pensar nela tantas vezes no dia como acontece.Tentei vê-la como uma pessoa que precisava de ajuda e, então, estendi a mão. Mantiv
MuratMas que merda! É isso que provoco nela? Apenas gratidão? A palavra ecoa na minha mente como um soco no estômago. Não quero isso. Não depois de tudo o que passamos, de tudo o que senti.Tereza nos chama para o café, interrompendo meus pensamentos tumultuados. Levanto automaticamente, ajudando Ester com a cadeira. Seu corpo ainda frágil parece tão pequeno e vulnerável que meu peito aperta. É um reflexo cuidar dela, como se fosse a coisa mais natural do mundo.Enquanto me sento na cabeceira, pego o bule e a sirvo. Sei que seu braço ainda não tem força suficiente para erguer algo tão pesado.— Obrigada — ela diz, sua voz baixa e suave.Não respondo. Nem olho para ela. Não consigo. Tenho medo de que, ao encontrar seus olhos, ela leia o turbilhão de emoções que carrego, a avalanche que ameaça me soterrar.Estou apaixonado por ela. Lutei, neguei, tentei sufocar isso por tanto tempo, mas perdi. Perdi feio.Agora, sinto como se um elefante estivesse sentado no meu peito, esmagando meu cor