As chamas crepitavam aquecendo-a no calor daquela noite, não que ela precisasse do fogo para se aquecer, mas as labaredas causavam em si um conforto.
Ela sentia o enorme portal enfraquecido, cada vez mais perto de se dissipar, permitindo assim que invasores tenham acesso ao local e todo o poder que o ambiente dispunha. Ela sabia de tudo isso, sabia que era seu dever como herdeira daquelas terras tomar conta do que um dia foi o seu lar. Mas ela não conseguia, não ainda.
Ela só queria fugir para longe, correr daquele mundo e das responsabilidades que ele traria.
Entretanto ela não poderia adiar o seu retorno nem mais um dia, e ela sabia disso. Por isso estava ali, em meio a neve branca, com apenas uma capa a cobrir teu corpo, e apenas uma fogueira a acalentar-te a alma.
O ganido de um único lobo capta sua atenção, um solitário, saindo da Mata fechada e arrastando-se em sua direção, pedindo um consolo, uma companhia, estava ferido, sujo de neve e sangue, esfomeado, sem forças. Assim como ela.
Sua fome, no entanto, não era de comida, suas feridas não eram externas, sua falta de força não se tratava da física.
Como a alfa que era, não conseguiu ignorar seu instinto protetor para com aquele semelhante. O pouco que levava consigo, ela estendeu em direção ao pequeno lobo esfomeado, a carne do servo que a horas atrás havia caçado. O animal abocanhou a carne de bom grado, estranhando um pouco o sabor da carne assada.
Ao findar daquela refeição, o lobo arriou sobre suas quatro patas, debilitado.
Um Athame foi retirado de suas vestes moribundas, sua palma ficou exposta diante a lâmina afiada. O corte foi limpo, doloroso, o sangue vermelho e pastoso não demorou a jorrar, abundante.
Os pingos eram deixados para trás a cada passo mais próximo do lobo. O animal não se moveu, sem forças. O cheiro da magia também havia sido reconhecido, assim como a intenção do ser que se aproximava. A mão que jorrava foi posta sobre as feridas que sangravam, logo a presença desconhecida estava recitando algumas poucas palavras incompreensíveis;
"cum regeneratur"
A cura foi instantânea, devolvendo a vitalidade do animal. A magia posta sobre as feridas do lobo logo estava cobrando seu preço, ao retirar as forças do ser desconhecido. Este, cada vez mais enfraquecido pelas lutas do tempo.
Um carinho sobre a pelagem do lobo e então ela o deixou, pronta para retornar ao ritual de lamentação. Algo no entanto a impediu, o portal crepitou, ele sentia o sutil empurrão de sua magia, a conexão de sua alma com aquelas terras, o lugar estava pronto para recebê-la, cabia apenas a ela decidir se renegaria esse presente.
" Quando você estiver pronta."
Fasta sussurrou em seus ouvidos, dando a ela a força necessária. Com o apoio de sua loba e companheira de vida, ela então decidiu.
Estava na hora de renascer, consertar tudo aquilo que havia sido destruído, ela só se perguntava se ainda existia um lar ali, algo que pudesse ser consertado.
Consertar o que foi quebrado.
Ela precisava, nem que por um instante sentir um pouco de esperança. Sentir que o peito doeria menos, que a culpa não iria consumi-lá.
O primeiro passo para o novo tempo havia sido dado, no momento em que seus pés atravessaram a barreira de suas terras ela sentiu a conexão, da floresta, de cada ser que viveu ou que vive ali, da magia mas profunda e de todo o amor ali depositado.
Ela não queria ser para sempre uma alma solitária.
Mas um passo, suas poucas vestes foram largadas em meio a neve, a relva de fios brancos foi enfeitada por uma coroa de prata em forma de lua crescente, que um dia já foi de sua mãe, emergiu em sua cabeça, assim como o colar do renascimento de seu pai e o seu próprio bracelete com seu nome gravado em runas, Moirai overthrow.
De olhos fechados para sentir toda aquela carga em si depositada, ela ajoelhou-se. Nua sobre o luar ela fez seu rito de passagem.
" Deusas dessa terra
Escutem meu cantar
Broto do silêncio
Para lhes/me encontrar.
Para lhes adorar.
Natureza canta em mim
Sou a filha que escondeu
Entre os galhos retorcidos
que dançam para o astro rei
Lua cheia sangra em mim
Pelas pernas toca o chão
Esse ventre que origina toda a criação."
Os olhos vermelhos se abriram para ver sua casa, as enormes ruínas do que um dia foi a sua morada. Abençoada pelos Deuses, protegida e acolhida, a filha amada retornava para casa depois de séculos distante.
"Então eu acho que tenho que ficar agora"
Moirai não podia mais fugir do seu destino, estava na hora de voltar.
Voltar para casa, onde sempre foi o seu lugar.
25 anos depois.Alcatéia dos Savages.O ataque aconteceu por todos os lados, indefensável. O odor da putrefação, da carne queimada, do sangue, das vísceras. Não devia ter sido um massacre, mas elas vinheram na calada da noite, queimando e destruindo tudo que encontravam no caminho, espalhando o caos, semeando o medo. Nem mesmo o olfato de Fenris e seus sentidos sensoriais, conseguiram impedir a invasão das bruxas em seu bando.Um feitiço muito forte fora usado para confundir os sentidos do poderoso alfa da alcatéia Savage, e todos os seus semelhantes agora lutavam para salvar o pequeno grupo que conseguiu escapar daquela chacina.
De maneira silenciosa e um tanto até graciosa ela rodeava o campo de força que separava suas terras daquele grupo, ali ela tudo via, tudo sabia, nada escapava dos seus olhos astutos e ameaçadores. Em suas quatro patas ela observava o grupo de pessoas que se aproximavam de maneira cabisbaixa, uma comitiva de lobos, humanos, ao qual ela se viu surpresa por ainda estarem vivos naquele mundo, havia também crianças, uma em particular era mestiça, ela podia dizer apenas por sentir o poder que crescia e circulava de maneira feroz em seu sangue, peculiarmente havia uma bruxa entre eles ,supôs então que aquela seria a mãe da criança híbrida que era carregada por uma mulher de longos cabelos vermelhos.A barreira era invisível, ela analisava a situação daquelas pessoas perguntando-se quem eram, de onde vinham, para onde iriam, e principalment
Depois que a transfusão feita por Carmenta em Cassian fora concluída todos seguiram viagem, só que por mais que procurassem, nenhum lugar parecia seguro o suficiente para se estabelecer.Já se aproximavam do meio dia quando encontraram uma cachoeira rodeada por árvores altas em um campo de grama verde e espaçosa; o lugar era surreal, as pétalas das árvores cobriam o chão como um manto de cor, deixando o lugar ainda mais belo.Carmenta, deslumbrada com tudo ao seu redor, não se deu conta do enorme portal ao qual tinham atravessado, ela não havia notado ainda a magia que cercava todo o lugar, ficando tensa logo em seguida pela descoberta, apertando seu pequeno lobo em seu colo.
Já ao cair da noite, Moirai havia terminado de remover toda magia negra do corpo do Wild, Carmenta a observava surpresa, horas em pé usando magia e a mulher nem havia suado. "O quão poderosa essa mulher é?", pensou Carmenta.─ Levem ele para um dos quartos do Castelo, quando ele acordar, aí sim vai precisar tomar uma infusão de ervas. ─ Moirai mandou e prontamente fora atendida, Adriel e Noam que já se encontravam ali ajudaram a levar Cassian até um corredor estreito onde os quartos que sobraram estavam localizados.Ettore observava Moirai dar ordens, sua postura era firme, assim como sua voz toda vez que
— Eles estão aqui em algum lugar, sinto o cheiro e a presença deles mais fortes entre duas direções — dizia o Alfa enquanto se concentrava em falar com seu irmão ou seu pai através da ligação, mas...nada. — Não estamos perto o suficiente para que eu consiga nos comunicar, vamos ter que nos separar.— Sim, mas temos que tomar cuidado, sinto dominância em cada poro ou folha de árvore deste lugar — Deimos falou, seus pelos estavam arrepiados desde o momento em que botou suas patas em tal território.— Sim, eu notei. Nunca ouvi falar de alcateias vizinhas, mas sinto a presença de um Alfa pelas redondezas, e se for realmente aqui, já deve ter nos sentido. Precisamos encontrá-los, eles podem estar em perigo, eu vou em direção a que parece ser uma cachoeira, o ch
CAPITULO ESPECIALQuando eu senti que deveria estar com Deimos naquele momento, nunca poderia adivinhar que a encontraria, ainda mais nas atuais circunstâncias e ainda por cima lutando com meu tio.Quando eu me vi, já estava sobre ela a admirando, e pelos Deuses, como ela é linda.Eu não conseguia parar de admirá - la, Seu longos cabelos brancos que pareciam ser tão macios, seus olhos alaranjados que me olhavam sem piscar, eu sabia que a ligação estava acontecendo e eu não poderia estar mais feliz, mesmo na minha atual situação.Por um momento eu consegui esquecer todos os meus problemas, senti como se
Da sua torre de vigília, Moirai Overthrow observava a cena patética que se desenrolava no pátio de seu castelo. Os Savages se preparavam para velar os seus mortos, para prestar homenagens e rituais sem significado. Ao ver de Moirai um rito de passagem só é válido quando é feito com intenção, aos seus olhos eles não se importavam com aqueles que tinham perdido suas vidas na invasão, pois os que precisavam sobreviver estavam ali, haviam sobrevivido.Ela, no entanto, não impediria que eles seguissem com o ritual, ela deixaria com que as almas daqueles que partiram recebessem a homenagem, pois não importava se o rito era feito de fé ou não, ela não tinha nada a ver com isso.O ritual se iniciou logo ao cair da tarde, uma fogueira foi acesa bem no centro das
Passos dificultosos eram ouvidos na penumbra do grande quarto, o que era antes um lugar cheio de vida tornara-se um ambiente mórbido, frio e vazio.Oysis tinha os ombros caídos e o rosto inchado de tantas lágrimas, o medo por seu filho a consumia todos os dias, desde que estava naquela prisão. Faz quase três dias que estava ali, mas para ela parecia uma eternidade, não era maltratada fisicamente mas não se alimentava direito e nem um banho poderia tomar.O quarto fedia a urina, a sua própria, mesmo com muitos pedidos não foram permitido para si sair e usar o banheiro, em sua atual situação as necessidades fisiológicas eram constantes, mas Oysis era tratada como se não estivesse grávida e pior como se o bebê não estivesse prestes a nascer em poucos dias.