De maneira silenciosa e um tanto até graciosa ela rodeava o campo de força que separava suas terras daquele grupo, ali ela tudo via, tudo sabia, nada escapava dos seus olhos astutos e ameaçadores. Em suas quatro patas ela observava o grupo de pessoas que se aproximavam de maneira cabisbaixa, uma comitiva de lobos, humanos, ao qual ela se viu surpresa por ainda estarem vivos naquele mundo, havia também crianças, uma em particular era mestiça, ela podia dizer apenas por sentir o poder que crescia e circulava de maneira feroz em seu sangue, peculiarmente havia uma bruxa entre eles ,supôs então que aquela seria a mãe da criança híbrida que era carregada por uma mulher de longos cabelos vermelhos.
A barreira era invisível, ela analisava a situação daquelas pessoas perguntando-se quem eram, de onde vinham, para onde iriam, e principalmente, o que havia acontecido para uma alcatéia inteira sair de seus domínios e entrar de maneira tão descuidada e desatenta em terras desconhecidas.
Estariam fugindo, haviam sido atacados? Sem dúvida nenhuma ,essa seria a explicação mais plausível. Por mais que não existissem conflitos com o mundo exterior, já que a barreira impedia os dois mundos de se comunicarem, ainda assim, havia desavenças entre as raças do mundo interior. Ela bem sabia o que esses conflitos poderiam fazer com uma alcateia.
Quem era ela para se envolver nisso, havia por muitos e muitos anos se mantido longe desse tipo de situação, fugindo das pessoas, do contato entre elas, da ligação que poderia ser estabelecida. Ali ela daria as costas e fingiria nunca ter visto aquele grupo de pessoas.
Faltava pouco para que eles atravessassem o linear que dividia as suas terras, a barreira estava ali; eles não poderiam ver e nem atravessar se assim ela não permitisse,e ela estava pronta para fazê-lo, tornaria sólido aquele campo de força e impediria a travessia daquela alcatéia, mas não o fez, o homem de cabelos brancos que era carregado a impediu.
Ela o conhecia, não, não era possível. Como poderia ele estar vivo depois de tanto tempo? Como ela não o encontrou?
Olhando atentamente ela observou seu estado, febril, o cheiro de magia negra impregnando seu corpo chegava ao seu olfato aguçado, por um instante ela se preocupou, por um instante ela inclinou-se sobre as quatro patas e fez menção de ir ao seu socorro, assim como ele fazia consigo quando eram menores e ela se machucava. refreou-se num último instante de lucidez e decidiu não fazer nada, deixou que pisassem em suas terras, e que assim seguissem seu caminho, talvez assim seu coração inquieto e sua alma atormentada tivesse um pouco de paz.
(...)
Estavam há muito tempo caminhando, sem perceber que a muito haviam sido observados. Há algumas horas haviam parado de correr ─ quando confirmaram que não estavam sendo seguidos ─, mas não diminuíram o passo, não poderiam descansar sem antes estarem todos seguros.
Tudo estava em um silêncio completo, Set andava cabisbaixo e extremamente preocupado, enquanto a matilha, estavam apáticos demais, em choque pelo massacre brutal. Estevan, que havia carregado Cassian, o lobo branco, desde a hora que haviam saído das terras Savages, cedeu e o entregou a Adriel, que o sustentava pelo ombro.
─ Ele já devia ter se curado ─ Lira comentou ao lado do marido, Estevan, chamando a atenção de todos.
─ Lira tem razão, já faz horas que estamos caminhando, o Sol já está escaldante e ele continua no mesmo estado ─ disse Estevan, fazendo todos pararem.
Íria Wild, uma loba e a marcada por Cassian, aproximou-se do mesmo com o filho de ambos nos braços, o pequeno Caspian, tocando a sua testa e constatando o quão quente estava.
─ Ele está queimando em febre ─ Ela disse assustada, sentindo seu peito apertar.
Set, que observava tudo meio perdido, recobrou a consciência, estava no comando ali, seu irmão havia confiado em si, não o decepcionaria.
─ Vamos procurar um lugar seguro, as crianças precisam comer e descansar, assim como os humanos e as mulheres grávidas... ─ Parou um instante ao lembrar de Oysis, mas logo continuou ─ Formaremos um círculo de proteção para proteger os pequenos, Carmenta dê uma olhada em Cassian e veja se ele está enfeitiçado.
A mulher de cabelos negros que parecia ter um planeta inteiro em seus olhos entregou o pequeno Caleb ao pai e foi em direção ao companheiro ferido,ela se concentrou em sua magia branca e a canalizou junto ao corpo do lobo. Se assustou com o que viu: magia negra espalhava-se por todo o seu corpo.
─ O que foi, Carmenta? ─ Íria a chamou, sentia-se agoniada, como se estivesse sufocando, sabia que essas sensações vinham de seu amado.
─ Magia negra está se espalhando pelo corpo dele. ─ A mulher que continha duas íris azuis em seus olhos disse com sua face transbordando preocupação.
─ Pode ajudá-lo? ─ Íria perguntou aflita.
─ Com o recurso que temos… não, preciso de ervas e ele precisa estar aquecido. No momento o que posso fazer é tentar injetar minha magia para evitar que a magia negra se espalhe mais, mas precisamos encontrar um local seguro, temo que se não os ajudarmos a tempo ele poderá morrer.
Todos ali prenderam a respiração. Cassian, é sem dúvida no meio deles, um dos lobos mais respeitados e fiéis à matilha, sem contar um ótimo amigo.
Set analisou a situação, os alimentos e a água estavam no fim, logo não teriam o que dar para as crianças, e as mães não poderiam amamentar seus filhos sem estarem devidamente alimentadas. Além da falta de alimento, os cobertores eram necessários, humanos sentiam muito frio ao contrário dos lobos que tinham uma pele extremamente quente.
As mulheres haviam juntado poucas coisas para partir, enquanto os homens lutavam. Não havia tido tempo, o máximo que conseguiram coletar se resumia a frutas, verduras e alguns poucos alimentos não perecíveis. O foco principal foram as roupas para encobrir a nudez de seus marcados e de si próprias ao voltarem a forma humana, além de alimentos para as crianças, juntamente com água.
Alguns pequenos dormiam tranquilamente, sua linhagem Lycan os mantinham aquecidos, assim como Caspian, mas ao contrário dos outros, esse estava bastante acordado; com seus 6 anos, estava nos braços da mãe e encarava o pai que jazia no chão enquanto Carmenta fazia a transfusão.
Já o pequeno Caleb, se mantinha quieto, mas sempre desperto a tudo ao redor com seus olhinhos estranhando todo o lugar. Um dos membros mais jovens da matilha, Noam ajudava sua marcada, Noori ─ está que vinha de uma longa linhagem lycan, mas que por ironia do destino havia nascido humana ─ a se sentar. A humana grávida dos seus 5 meses apresentava cansaço evidente, pois mesmo nas costas de Noam, o trajeto para si em cima de um lobo a deixará desconfortável e com um belo torcicolo.
Lira, uma loba de incríveis olhos verdes, cabelos loiros e marcada por Estevan, com seus poucos meses de gestação e uma das mais dispostas ali, fora a loba que ajudará na organização da fuga, na junção de alimentos e roupas, ela dividia-se entre os cuidados entre as crianças e se negava veemente quando Estevan queria levá-la em suas costas, ela retrucava dizendo que estava bem, deixando seu marido frustrado.
Os homens da matilha e algumas mulheres, entre eles: Set, o sucessor do Alfa; Estefano, o Beta terceiro em comando depois do sucessor do Alfa; Ettore, o antigo Alfa e pai do atual; também havia Estevan um dos lobos mais experientes em batalha; Cilene, a lady da alcateia; Adriel, o estrategista, e uma das mentes mais brilhantes da alcateia.
Todos os nomes citados se reuniam entre si para decidir o futuro dos membros da matilha, não podiam andar por aí vagando como também, em hipótese alguma, poderiam invadir e habitar territórios desconhecidos.
─ Não podemos andar por aí por muito tempo, precisamos nos estabelecer em algum lugar pelo menos até que Fenris e Oysis nos alcançarem ─ disse Stefano, atraindo a atenção de todos para si, inclusive a de Set.
─ Sim, as lobas e seus filhotes estão esgotados, assim como as humanas. Nós aguentamos por mais algum tempo, mas e quantos a elas? ─ indagou Ettore.
Entre os lobos e as lobas, humanos como as marcadas de , assim como Cilene, eram frágeis ao extremo. A lady, devido ao frio, tinha seu nariz avermelhado completamente irritado pelo prelúdio de uma gripe que virá.
─ Vamos procurar um lugar para que elas, pelo menos, possam dormir por algumas horas ─ disse a Lady.
─ Cassian também precisa de cuidados, precisamos de ervas medicinais e água suficiente para que Carmenta possa extrair toda magia negra, só infusões de magia branca não irão funcionar ─ Estefano, o Beta, completou.
Todos reunidos escutavam a sugestão da Lady e de Stefano, era o melhor a se fazer no momento. Todos olharam para Set aguardando ordens.
─ Procuraremos um lugar para descansar, já está de manhã, logo Fenris irá nos rastrear, e ele sim dará o veredito para o destino da matilha. ─ Set pontuou e todos concordaram.
─ Ele já deveria ter nos encontrado, será que aconteceu alguma coisa?
─ Não deveríamos voltar, quer dizer...alguns de nós, para averiguar?
Perguntaram Noam e Adriel com suas faces esbanjando preocupação.
─ A ordem foi clara: que nenhum de nós deveríamos voltar.
─ Sabe que, mesmo se quiséssemos, em hipótese alguma, podemos desobedecê-lo ─ Dessa vez foi o Beta Stefano que se pronunciou.
─ Mas não deixamos de perceber que ele já devia estar aqui. ─ Íria comentou.
─ Ora, e vocês queriam o quê? Oysis com aquele barrigão imenso ─ Gesticulou Lira, fazendo um formato de bola na barriga enquanto vociferava.
─ Sem contar as paradas para esvaziar a bexiga ─ gritou uma das mulheres da alcatéia ao ouvir a amiga escandalosa.
─ E a canseira que dá, principalmente por ser um bebê lobo ─ completou Lira, risonha.
─ E o desconforto de ser carregada, pelos Deuses ─ continuou Noori, enquanto fazia uma careta e segurava as costas, fazendo todos os presentes rirem.
A angústia que os consumia fora amenizando ao sentir o carinho e o amor que os rodeava, mas a preocupação por Oysis estava sempre lá, embora confiassem que seu Alfa a traria de volta.
Por hora eles não se entregaram a dor da perda, deixariam para lamentar os seus quando enfim estivessem seguros, para que assim a morte deles não tenha sido em vão.
─ Todos descansados? ─ ele perguntou ─ Hora de partir e procurar um lugar para acamparem até o Alfa e Oysis voltarem, até lá estaremos seguros. ─ Todos assentiram e seguiram viagem, não estavam felizes, muito longe disso, mas pelo menos estavam todos juntos, ou quase todos.
[...]
Não muito longe dali, Fenris e Deimos corriam seguindo o rastro da matilha, eles haviam ido longe, Fenris tinha que concordar. Em passadas ligeiras, os lobos de pelagem negra levantavam poeira ao passar.
─ Estamos perto, meu Alfa, o cheiro está ficando mais forte ─ avisou Deimos.
─ Sim, já consigo senti-los mais nitidamente ─ O Alfa o avisou ─ Eu não o perguntei, por que voltaste depois de tanto tempo?
Deimos havia migrado há muitos anos depois que sua marcada se foi. Fenris acompanhou a dor de seu tio de perto, eles eram muito apegados, Deimos sempre fora um lobo brincalhão, mas depois da morte de sua amada, seu coração escureceu, vivia sozinho pelos cantos, até que resolveu partir.
─ Falando assim penso até que não está feliz em me ver.
Ele ainda brincava, mas Fenris podia ver a muito que aquele lobo estava vazio, podia sentir através da ligação a dor cravada em suas entranhas, a angústia em cada poro de suas veias e a saudade que chegava a transbordar de tão sufocante. O mesmo vazio que agora preenchia seu ser, pela perda de tantos.
─ Eu só... Não esperava.
Deimos pode ver a preocupação por Oysis, a culpa estampada em sua voz e o medo da reação de todos pelo que aconteceu, conseguia sentir seu sobrinho aflito.
─ Senti que deveria voltar e bem... estou aqui.
Fenris sorriu pequeno, amargo. Sem mais conversas, eles aumentaram a velocidade, mas Fenris sentiu necessidade em dizer.
─ Bem-vindo de volta, você fez muita falta.
E por alguns instantes o peito de Deimos se encheu de calor como há muito tempo não acontecia, mesmo nas atuais circunstâncias ele se sentia em casa. Sentiu então a necessidade de dizer aquilo que seu amado sobrinho precisava ouvir.
─ Fenris, Não foi sua culpa.
Fenris, no entanto, não acreditava nisso.
Depois que a transfusão feita por Carmenta em Cassian fora concluída todos seguiram viagem, só que por mais que procurassem, nenhum lugar parecia seguro o suficiente para se estabelecer.Já se aproximavam do meio dia quando encontraram uma cachoeira rodeada por árvores altas em um campo de grama verde e espaçosa; o lugar era surreal, as pétalas das árvores cobriam o chão como um manto de cor, deixando o lugar ainda mais belo.Carmenta, deslumbrada com tudo ao seu redor, não se deu conta do enorme portal ao qual tinham atravessado, ela não havia notado ainda a magia que cercava todo o lugar, ficando tensa logo em seguida pela descoberta, apertando seu pequeno lobo em seu colo.
Já ao cair da noite, Moirai havia terminado de remover toda magia negra do corpo do Wild, Carmenta a observava surpresa, horas em pé usando magia e a mulher nem havia suado. "O quão poderosa essa mulher é?", pensou Carmenta.─ Levem ele para um dos quartos do Castelo, quando ele acordar, aí sim vai precisar tomar uma infusão de ervas. ─ Moirai mandou e prontamente fora atendida, Adriel e Noam que já se encontravam ali ajudaram a levar Cassian até um corredor estreito onde os quartos que sobraram estavam localizados.Ettore observava Moirai dar ordens, sua postura era firme, assim como sua voz toda vez que
— Eles estão aqui em algum lugar, sinto o cheiro e a presença deles mais fortes entre duas direções — dizia o Alfa enquanto se concentrava em falar com seu irmão ou seu pai através da ligação, mas...nada. — Não estamos perto o suficiente para que eu consiga nos comunicar, vamos ter que nos separar.— Sim, mas temos que tomar cuidado, sinto dominância em cada poro ou folha de árvore deste lugar — Deimos falou, seus pelos estavam arrepiados desde o momento em que botou suas patas em tal território.— Sim, eu notei. Nunca ouvi falar de alcateias vizinhas, mas sinto a presença de um Alfa pelas redondezas, e se for realmente aqui, já deve ter nos sentido. Precisamos encontrá-los, eles podem estar em perigo, eu vou em direção a que parece ser uma cachoeira, o ch
CAPITULO ESPECIALQuando eu senti que deveria estar com Deimos naquele momento, nunca poderia adivinhar que a encontraria, ainda mais nas atuais circunstâncias e ainda por cima lutando com meu tio.Quando eu me vi, já estava sobre ela a admirando, e pelos Deuses, como ela é linda.Eu não conseguia parar de admirá - la, Seu longos cabelos brancos que pareciam ser tão macios, seus olhos alaranjados que me olhavam sem piscar, eu sabia que a ligação estava acontecendo e eu não poderia estar mais feliz, mesmo na minha atual situação.Por um momento eu consegui esquecer todos os meus problemas, senti como se
Da sua torre de vigília, Moirai Overthrow observava a cena patética que se desenrolava no pátio de seu castelo. Os Savages se preparavam para velar os seus mortos, para prestar homenagens e rituais sem significado. Ao ver de Moirai um rito de passagem só é válido quando é feito com intenção, aos seus olhos eles não se importavam com aqueles que tinham perdido suas vidas na invasão, pois os que precisavam sobreviver estavam ali, haviam sobrevivido.Ela, no entanto, não impediria que eles seguissem com o ritual, ela deixaria com que as almas daqueles que partiram recebessem a homenagem, pois não importava se o rito era feito de fé ou não, ela não tinha nada a ver com isso.O ritual se iniciou logo ao cair da tarde, uma fogueira foi acesa bem no centro das
Passos dificultosos eram ouvidos na penumbra do grande quarto, o que era antes um lugar cheio de vida tornara-se um ambiente mórbido, frio e vazio.Oysis tinha os ombros caídos e o rosto inchado de tantas lágrimas, o medo por seu filho a consumia todos os dias, desde que estava naquela prisão. Faz quase três dias que estava ali, mas para ela parecia uma eternidade, não era maltratada fisicamente mas não se alimentava direito e nem um banho poderia tomar.O quarto fedia a urina, a sua própria, mesmo com muitos pedidos não foram permitido para si sair e usar o banheiro, em sua atual situação as necessidades fisiológicas eram constantes, mas Oysis era tratada como se não estivesse grávida e pior como se o bebê não estivesse prestes a nascer em poucos dias.
Sem esperar mais, Fenris seguiu atrás dela em passos rápidos, estava nervoso, extremamente ansioso, nunca havia em momento algum ficado a sós com ela desde que havia chegado.Diminuiu os passos para observar a beleza do lugar, as árvores altas que enfeitavam aquela área, árvores que combinavam tanto com ela, Fenris não achava que as árvores complementam Moirai, não, era Moirai quem complementava aquela floresta.Parou a poucos metros da cachoeira e observou no escondido do meio das árvores, franziu levemente as sobrancelhas ao não vê-la, podia jurar que a tinha visto vim dessa mesma direção.Aproximadamente meia hora depois que ele já estava a ponto de desistir e voltar para onde v
– Então, qual a história desse lugar? – Fenris questionou– Não há muito o que contar além do que já foi dito por mim. – O tom de sua voz mudou de repente e seu olhar ficou distante.Fenris, no entanto, não percebeu a mudança abrupta de humor, completamente ansioso em saber mais sobre ela, ele não se segurou e passou a destilar perguntas sobre ela e tudo que a cercava.– Mas e sua família, as pessoas desse lugar. São terras consideravelmente grandes para apenas dois habitantes, e também...– Acho melhor voltarmos, está ficando tarde. – Ela interrompeu.Não estava, mas ele percebeu t