A ALDEIA
Vista do alto, não representava mais que um simples amontoado de mata, entrecortada por um rio límpido que desemboca no mar. Um local em que a especulação imobiliária nunca se arriscaria a lotear, menos ainda em povoar. As encostas do morro escondiam o pequeno vale e sua beleza. Beleza cuja vista só se fazia perceber para aqueles que, sob a copa das suas frondosas árvores, podiam desfrutá-las e que, lá do alto, os especuladores não conseguiam ver. Mas lá em baixo.
Formada por pessoas simples e humildes, a vila Arnon, assim batizada pelos seus ocupantes em demonstração de carinho e apreço que estes dedicavam ao seu líder e fundador, foi vagarosamente evoluindo e tornando-se uma das colônias mais solidária e próspera de que se podia ter notícias por toda aquela redondeza.
Ali se desenvol
TEMPOS DIFÍCEISA terceira década começou a trazer duras provas para Imaculada e o povoado. A pesca e o pescado, principal atividade e produto dos seus habitantes, teve sua comercialização proibida dada à epidemia de cólera que por ali se instalara. Eram parcos os recursos para se combatê-la e já começava a aparecer as primeiras vítimas na vila.O acesso íngreme do local dificultava a vinda dos sanitaristas do governo, isso quando podiam, transformando a confidente em dedicada enfermeira. Sem descanso ela auxiliava no pouco recurso médico que conseguia, sempre com muito esforço e perspicácia. Não raro, tinha seus escassos momentos de descanso interrompidos pelos chamamentos, cada vez mais frequentes, das pessoas necessitadas.Quis o destino, porém, mesmo sendo a incansável guerreira agraciada pelos b
Passaram-se três longos anos. O país, pela figura do ditador, recebia pressões de outros países para o seu alinhamento. Nessa altura, a guerra ganhava dimensões mundiais e a ela, entre outros, já se engajava os Estados Unidos da América, logo após um bem sucedido ataque nipônico às armadas americanas sediadas em Perl Harbor, no Havaí.Aos poucos as notícias também vinham chegando até a aldeia trazida pelo povo da cidade e pelos pescadores que dela retornavam. Nela, Imaculada há muito vinha atendendo pessoas cujo medo extrapolava-se. Eram mães que temiam por seus filhos numa provável aliança do país em qualquer dos lados. Eram políticos que buscavam orientações para seus futuros manifestos. Eram estrangeiros cujos parentes e amigos encontravam-se nas zonas do conflito e por eles pediam proteção. Eram os simples e humildes seres que vinham simplesmente para orar por aqueles cujas atrocidades sofridas já não mais se co
NOS CAMPOS DE BATALHAS“A cobra vai fumar”! Com estas palavras de ordem as tropas da FEB cumpriam sua missão nos palcos de guerra italianos. No todo, as forças aliadas iam aos poucos superando ás do eixo e a guerra finalmente rumava para o fim. Mas sabia-se que muito sangue ainda se espalharia por todos os seus campos, até que um dia cessasse. A estratégia aliada de desembarque na Normandia, conhecida pelo dia D, libertou a França e começou a mudar o rumo do conflito.Por três anos o mundo vivia sob a égide desse colapso. Cidades inteiras foram devastadas, milhares de pessoas foram mortas nos campos de batalha e nas cidades bombardeadas. Enquanto isso, milhões de civis estavam sendo exterminados em campos de concentração, fato que futuramente seria visto como o maior dos horrores de todos os tempos.
A estrela transportava no seu rastro a cúpula dos sábios da eternidade. Reunidos no convés como em assembléia, sob a batuta do Arcanjo Daniel, mentalizavam aquela silhueta meiga e adormecida. A ela transmitiam as ordens divinas. A pupila, tão meigamente preparada pelo Arcanjo ao longo de três séculos estava prestes a por em continuidade os ensinamentos do mestre. Sua mão a afagava contornando-lhe a face enquanto os outros sábios a circundavam. Mão direita erguida aos céus e a esquerda em direção a Imaculada, transmitiam-lhe as benesses do Todo Poderoso Senhor do Universo. Os primeiros raios de sol a despertaram. Imediatamente lembrou-se do sonho e do meigo companheiro da véspera, passando a procurá-lo por todo o navio. Ela sentia-se leve, muito bem disposta. Parecia até que poderia levitar. Tinha finalmente a oportunidade de agradecer a um irmão e queria fazê-lo. Ela, que tão agradecida era por inúmeras pessoas que ajudava, podia agora agradecer,
Prólogo Existiria uma possível relação entre a bondade e a felicidade? É certo que passamos pelo nosso tempo de vida em busca da felicidade, procurando talvez, um tesouro perdido ou a fonte da eterna 'juventude. Corremos de um lado para outro à procura da chave do enigma, aquela que nos abriria todas as portas para tão sonhada felicidade. Como num passe de mágica ficamos sempre a esperar que tudo se resolva. Contraímos matrimônio para sermos felizes. Depois, nos separamos pelo mesmo motivo. Ainda em busca dessa felicidade, realizamos viagens por longo tempo sonhadas, ou trabalhamos além do normal para possibilitá-la. Uma busca infinda que geralmente dura anos a fio. Todavia, nunca nos damos conta de que a Lua jamais estará ao alcance das nossas mãos. Nem os frutos serão sempre doces e maduros. Tampouco o vinho nos apresentará uma pureza constante. E ent
A festa A canção parabéns a você ecoava em uníssono por todos os arredores do vilarejo. Um coral formado de última hora por dezenas de crianças homenageava uma centenária senhora de cabelos brancos, eterno sorriso nos lábios, portadora de tamanha lucidez que em muitos causava certa inveja benigna e uma imensa aura toda colorida que transmitia bondade e compreensão. Era este o dia e a vez de Imaculada da Silva. Sentada diante do enorme bolo de chocolate, cuidado e caprichosamente preparado pelas mulheres da aldeia, com ume exagerada vela branca no seu centro a representar os longos cem anos de vida, imaginava que este parecia pedir para logo ser devorado e assim o seria, não foss
Aquele domingo de festa começava a mostrar o seu rico entardecer. Voando em formação, bandos de gaivotas se dirigiam ao horizonte em busca da mata para a acolhida noturna. No rio começava a apontar os cardumes de peixes noturnos e o sol ia mudando a cor dourada pela avermelhada, escondendo-se pouco a pouco por trás do mar que se podia ver bem distante. - Preste atenção que ele vai fritar como peixe quando se encostar-se à água. Esta frase era do "seo" Honório falando do pôr do sol ao neto Paulo. Toda tarde de verão o velho lobo do mar reunia o neto e mais algumas crianças para contar histórias. Sentadas ao seu lado ficavam todas a olhar para aquela enorme massa de água azul esverdeada e ouvir os contos do antigo pescador. Hoje ele
CENTO E POUCOS ANOS ATRÁS O final do século XIX envolvia o país em problemas semelhantes e equidistantes ao longo das suas fronteiras. Tanto o Norte, quanto o Sul da nação viviam em lutas pelas terras dominadas pelos latifundiários e em busca da tão sonhada reforma agrária, fato que se alastraria pelo longo dos anos. Diferenciava-se do resto do mundo que passava por transformações políticas, religiosas e industriais em seus continentes evoluídos; pelos problemas de racismo e segregação nestes e também na maioria dos menos evoluídos; pelas revoluções culturais e científicas que começavam a expandir-se pelo planeta, sendo que deste ele também participava e de forma reconhecida, principalmente na Europa, através dos seus intelectuais, artistas e cientistas. Todavia, no seu bojo, limitava-se