Prólogo
Existiria uma possível relação entre a bondade e a felicidade? É certo que passamos pelo nosso tempo de vida em busca da felicidade, procurando talvez, um tesouro perdido ou a fonte da eterna 'juventude. Corremos de um lado para outro à procura da chave do enigma, aquela que nos abriria todas as portas para tão sonhada felicidade. Como num passe de mágica ficamos sempre a esperar que tudo se resolva. Contraímos matrimônio para sermos felizes. Depois, nos separamos pelo mesmo motivo. Ainda em busca dessa felicidade, realizamos viagens por longo tempo sonhadas, ou trabalhamos além do normal para possibilitá-la. Uma busca infinda que geralmente dura anos a fio.
Todavia, nunca nos damos conta de que a Lua jamais estará ao alcance das nossas mãos. Nem os frutos serão sempre doces e maduros. Tampouco o vinho nos apresentará uma pureza constante. E então despencamos. Experimentamos a insatisfação e as lágrimas e não nos lembramos sequer de aliarmos a bondade à vontade e a busca.
Imaculada da Silva, com seu jeito simples e humilde mostra-nos essa outra versão, visando sempre buscar a felicidade através do auxílio e da bondade que nutria pelo seu semelhante. Perceberem os que a felicidade não está na riqueza material, no progresso individual e nem mesmo nas mais duras conquistas. Somente pode-se encontrá-la dentro de nós mesmos, com atos solidários e sociais, participando do progresso de todos. Poucas coisas são necessárias para fazer feliz ao homem sábio, mas nenhuma fortuna seria capaz de consolar ao inconformado.
A necessidade de cada um, entre elas a felicidade, consiste em coisas fáceis e até banais, como ter alguém a amar, algo a fazer, alguma coisa a esperar e multa coisa a dar e a ajudar. Nada mais que a simples bondade. Devemos saber que a única fonte de felicidade é aquela Que está dentro de nós. Também devemos aceitar que esta deva ser repartida. Repartindo o que nos foi doado como a alegria e a bondade, certamente estaremos espalhando fluidos de solidariedade, que seguramente também recairão sobre nós mesmos.
Imaculada vai nos mostrar esse lado da vida tão esquecido por nós. Aí, sem dúvidas poderemos refletir, nos Indagar e, olhando para nós mesmos, com o pensamento no auge da reflexão, simplesmente pedir:
-A sua benção Imaculada da Silva
O autor
A festa A canção parabéns a você ecoava em uníssono por todos os arredores do vilarejo. Um coral formado de última hora por dezenas de crianças homenageava uma centenária senhora de cabelos brancos, eterno sorriso nos lábios, portadora de tamanha lucidez que em muitos causava certa inveja benigna e uma imensa aura toda colorida que transmitia bondade e compreensão. Era este o dia e a vez de Imaculada da Silva. Sentada diante do enorme bolo de chocolate, cuidado e caprichosamente preparado pelas mulheres da aldeia, com ume exagerada vela branca no seu centro a representar os longos cem anos de vida, imaginava que este parecia pedir para logo ser devorado e assim o seria, não foss
Aquele domingo de festa começava a mostrar o seu rico entardecer. Voando em formação, bandos de gaivotas se dirigiam ao horizonte em busca da mata para a acolhida noturna. No rio começava a apontar os cardumes de peixes noturnos e o sol ia mudando a cor dourada pela avermelhada, escondendo-se pouco a pouco por trás do mar que se podia ver bem distante. - Preste atenção que ele vai fritar como peixe quando se encostar-se à água. Esta frase era do "seo" Honório falando do pôr do sol ao neto Paulo. Toda tarde de verão o velho lobo do mar reunia o neto e mais algumas crianças para contar histórias. Sentadas ao seu lado ficavam todas a olhar para aquela enorme massa de água azul esverdeada e ouvir os contos do antigo pescador. Hoje ele
CENTO E POUCOS ANOS ATRÁS O final do século XIX envolvia o país em problemas semelhantes e equidistantes ao longo das suas fronteiras. Tanto o Norte, quanto o Sul da nação viviam em lutas pelas terras dominadas pelos latifundiários e em busca da tão sonhada reforma agrária, fato que se alastraria pelo longo dos anos. Diferenciava-se do resto do mundo que passava por transformações políticas, religiosas e industriais em seus continentes evoluídos; pelos problemas de racismo e segregação nestes e também na maioria dos menos evoluídos; pelas revoluções culturais e científicas que começavam a expandir-se pelo planeta, sendo que deste ele também participava e de forma reconhecida, principalmente na Europa, através dos seus intelectuais, artistas e cientistas. Todavia, no seu bojo, limitava-se
OS RETIRANTESO problema crônico da seca nordestina sempre foi merecedor das atenções governamentais desde o tempo do Império. Dom Pedro I já lhes destinava verbas com o intuito de amenizar o caos da vida dos sertanejos. A tão desejada água, os projetos de irrigação e o desenvolvimento de uma das mais pobres áreas nacionais faziam-se assunto na corte e entre a nobreza. Porém e na verdade, esses fatos estavam longe de sensibilizar a realeza e os nobres. .Eles viam nos problemas nordestinos a chama capaz de iluminar e mostrar a bondade monárquica, mas na verdade, preocupavam-se mesmo era com a enfiteuse e as riquezas que a coroa podia enviar para Portugal. Os condes, barões, príncipes e princesas acabavam, exatamente todos eles, ficando com a maior parte da verba destinada aos lavradores nordestinos.A República sucedeu a Monarqu
Com voz calma, porém emocionada, Norton colocava Liduina a par dos fatos. Narrava com detalhes todos os acontecimentos que ultimamente envolveram seu pai e exemplificava contando tragédias semelhantes com diversas pessoas. Entre elas, falou-lhe de Arnon e do que ele vinha fazendo pelo povo, da sua luta e do seu empenho em reconstruir com fé, trabalho e com bases fortes tudo o que essa gente perdia e com isso sofria. Não deixava de desculpar-se e pedir perdão a cada instante, por aquilo que, na sua mente, não deixava de culpar-se.Lidu, como normalmente era chamada, acolheu-se em seu ser. Ela nunca havia passado por situações ao menos parecidas e não sabia como, quando e por onde agir. Sabia apenas que tinha de decidir-se por alguma coisa, mas não encontrava ânimo que a dirigisse para qualquer tentativa. Com o semblante entristecido, agradecia e eximia Norton da falsa culpa que a ordenanç
Numa tarde quente, Liduina já extenuada pelos afazeres e andanças, armou a rede entre árvores e ali ficou a observar o céu totalmente azul sob o sol escaldante. Olhava o alegre esvoaçar das arribações em busca de água e ouvia o grito solitário do carcará em sua caçada. O sol castigava-lhe a tez que já não suava e a boca seca, igual aos bicos das arribações, reclamava por água, que de tão escassa era toda destinada aos doentes de desidratação, cólera e daqueles vitimados pelos bandos. Tal e qual àquela tarde no pear, ali ficou por longo tempo e a noite conversou com Arnon:- Vamos embora daqui. Vamos para o Sul. - Por que essa idéia mulher? Temos tanto que ajudar e fazer por aqui mesmo. Você tem algum a idéia de como é no Sul?- Meu marido. Aqui tudo está por se acabar. O governo está fazendo uma grand
PRIMEIRO DECÊNIOO cometa Halley cortava os céus da aldeia de Leste a Oeste. Seu brilho intenso refletia nas águas do rio e por ele viam-se os cardumes de lambaris saltitantes expondo o reflexo das suas escamas prateadas e douradas, fazendo-se parecer a um monte de vaga-lumes. Sob aquele céu que nunca tinham visto, em novena as mulheres oravam por Nossa Senhora do Bom Parto e pediam por uma boa hora de Liduina.Consuelo, a parteira, imigrante espanhola de pouco tempo atrás, na sua terra natal havia aprendido esta arte de trazer à luz os pequenos seres, seus compatriotas e agora, toda eufórica por finalmente poder ajudar seus atuais companheiros, cuidava de Lidu. Zelosa, ágil e autoritária naquilo que muito bem entendia, às vezes arrancava boas gargalhadas dos companheiros quando se expressava
A ALDEIAVista do alto, não representava mais que um simples amontoado de mata, entrecortada por um rio límpido que desemboca no mar. Um local em que a especulação imobiliária nunca se arriscaria a lotear, menos ainda em povoar. As encostas do morro escondiam o pequeno vale e sua beleza. Beleza cuja vista só se fazia perceber para aqueles que, sob a copa das suas frondosas árvores, podiam desfrutá-las e que, lá do alto, os especuladores não conseguiam ver. Mas lá em baixo.Formada por pessoas simples e humildes, a vila Arnon, assim batizada pelos seus ocupantes em demonstração de carinho e apreço que estes dedicavam ao seu líder e fundador, foi vagarosamente evoluindo e tornando-se uma das colônias mais solidária e próspera de que se podia ter notícias por toda aquela redondeza.Ali se desenvol