Pelo menos eu havia tentado. Não havia mais nada que eu pudesse fazer naquele momento, então apenas retornei à minha cama e tentei relaxar. Olhei o visor do celular. Não tinha nenhuma mensagem da Isa e nem de Nathan. Suspirei desistente. Levantei-me de sobressalto ao ouvir o toque do celular. Tateei ainda sonolenta pela cama em busca do objeto, ficando em seguida espantada ao notar que já estava quase anoitecendo. – Alô. – Disse ainda com a voz rouca. – Oi, Belle. – Respondeu Isa. – A Lia acordou? – Joguei rapidamente as palavras conforme as maquininhas do meu cérebro começavam a funcionar. – Não. Mas nós já podemos vê-la. Os pais dela estão lá agora. Só podem entrar dois. – Tudo bem. Já estou indo. – Desliguei o celular. A notícia de que Lia havia despertado me trouxe um fio de esperança de que as coisas iriam dar certo, embora ainda não fosse uma afirmação de que ela melhoraria. Olhei meu celular novamente em busca de alguma mensagem. Da mensagem de Nathan. Eu não queria
– Sua filha da... você estava acordada esse tempo todo? – Perguntei incrédula. – Não todo. Só enquanto você estava aí chorando... ah Lia não faz isso... – Caçoou Lia ainda meio fraca. – Idiota! – Bufei. – O que aconteceu? – Ela olhou ao redor tentando compreender onde estava. – Você pulou na frente do carro. De início Lia pareceu confusa, mas logo sua expressão confessou que ela estava se recordando. – Você também se machucou? – Só uns arranhões. Nada demais. Como você está? – Quis saber endireitando-me da cadeira para poder observá-la melhor. – Estou meio dolorida, mas acho que... – Lia parou de falar, erguendo a cabeça desajeitada para olhar melhor sua perna. – que diabos...? – Ah... você meio que quebrou a perna. – Mencionei. – Eu acabei de comprar meu carro. – Sua voz subiu uma oitava. – Daqui a pouco melhora e tudo vai voltar ao normal. – Meu carrinho. – Sua boca fechou-se em um bico infantil, enquanto seus olhos marejados estavam concentrados em sua perna direita.
Segundo os médicos, Lia estava se recuperando bem e em alguns dias pudemos levá-la para casa. Paulo sugeriu que a garota ficasse com eles até que estivesse totalmente recuperada, o que me deixava de certa forma aliviada, pois me apavorava o fato de ter que cuidar de alguém sozinha quando eu nem sabia se estava cuidando bem de mim mesma. Aproveitei esse momento para acompanhá-los e aproveitar o tempo para ficar com minha mãe. Seria bom de todas as formas e, portanto, eu não ficaria longe de Lia. Assim que minha mãe soube o que tinha, entrou em desespero. Ela quase me bateu por não ter contado nada antes. Embora Lia não fosse da mesma família que eu, nós crescemos juntas e minha mãe sempre a viu como se fosse outra filha. Nós duas não tínhamos irmãos, era sempre Belle e Lia para todo canto, até mesmo quando aprontávamos. Saber que uma havia feito algo era o mesmo que afirmar que a outra também fez, então mesmo quando não me pegavam e eu tentava convencer minha mãe de que era injusto m
Ao me aproximar notei um dos carros de Nathan estacionados há poucos metros do prédio e toda força que eu havia adquirido caiu por meus pés e foi direto para o ralo. Nathan havia acabado de sair do prédio. Seu cabelo negro caía por seu rosto distraído antes dele perceber que eu estava ali. – Oi. – Cumprimentei sem jeito enfiando minhas mãos nos bolsos da calça jeans. Pude perceber a surpresa em seu rosto antes dele descobrir de qual lado minha voz vinha. – Oi. – Ele mordeu os lábios ansioso. – Eu acho que não deveria ter vindo aqui. Você sempre pode chutar o saco dele, se desejar. – Mas eu não aguentei não vir. – Ele encostou-se ao carro sinalizando com a cabeça para que eu me juntasse a ele. Depois de hesitar por uns segundos, me aproximei. – Eu não estou pedindo que você aceite isso, ok? Eu prometo que nunca mais vou incomodá-la, se você quiser. – Virei-me para outro ponto para que ele não pudesse ver minha expressão. – A Débora era uma das minhas amigas mais antigas. Nossos pa
Eu costumava achar que quando eu crescesse minha vida seria como nos filmes. Que ao fim, tudo ficaria bem, que eu era uma heroína que venceria no final. Entretanto as coisas não são tão simples assim, e nem sempre o que você quer que aconteça realmente acontece. Eu só não tinha ideia de que eu precisaria me acostumar com isso tão cedo. Tudo estava indo tão bem, quando foi que começou a dar tão errado? Não importava o quanto eu tentasse, algo sempre me puxava para baixo me deixando afundar em um vazio solitário que ninguém mais compreendia. Eu queria gritar, mas não adiantava. Nada mudaria. Nada voltaria a ser como antes e não importa o que eu fizesse e o quanto eu desejasse aquilo, não havia mais nada que eu pudesse fazer. Minhas pernas trêmulas não conseguiam mais suportar o cansaço do meu corpo, era meu limite. Eu estava tão cansada. Eu não aguentava mais. Minha visão agora embaçada pelas lágrimas insistentes que sempre surgiam ali, não me deixava ver claramente tudo o que aconteci
Um mês para o fim.Meus pés doíam à medida que se moviam desajeitados esbarrando por alguns objetos naquele espaço escuro. Correr por tanto tempo estava me deixando tão cansada. Mas por que eu estava correndo? Os pensamentos iam se tornando mais claros conforme eu corria, e por um momento, tive a sensação de que isso já havia acontecido antes. Eu já tinha percorrido esse mesmo caminho, mas para quê? Para onde eu estava indo tão apressada? Memórias iam e vinham me deixando cada vez mais confusa. Não saber o que estava acontecendo era angustiante, mas saber e não lembrar era quase sufocante. Minha respiração tornava-se cada vez mais ofegante conforme eu sentia o cansaço invadir meu corpo e minha pele gélida suar por debaixo da roupa. Olhei ao redor para me certificar de que ninguém estava me seguindo. No entanto, não conseguia ter certeza de nada naquele ambiente escuro. Isso já não tinha acontecido? Parei olhando ao redor novamente. Os pensamentos turvos invadiam minha mente a procu
A estrutura do bar não era uma das melhores. O assoalho de madeira fazia um barulho que comprovava isso na medida em que entrávamos e seguíamos em direção ao balcão. Olhei em volta. O bar não estava muito cheio. Duas garçonetes passavam de um lado para o outro levando bebidas para as poucas pessoas que estavam sentadas em algum canto. Havia um casal bebendo solitário em uma mesa enquanto mais a frente alguns homens jogavam sinuca. Mais ao lado, um grupo de senhores, aparentemente mais velhos, se escorava em um canto enquanto serviam-se de cervejas e petiscos. Devia ter uns cinco ou seis deles, cada um usando uma roupa escura que os deixava com ar de motoqueiros de filmes estadunidenses. Mas eu não havia notado nenhuma moto na entrada. Assim que o barman chegou, pedimos duas caipirinhas e alguns goles depois decidimos ir à mesa de sinuca onde os homens acabavam de sair. – Ahá, eu acabei com você, Belle. Você não cansa de perder, não é mesmo? Vamos deixar isso aqui melhor. – Disse Lia
Abri meus olhos enquanto sentia uma luz forte machucar minha íris. Minha cabeça doía tanto que não conseguia nem raciocinar. Olhei para o lado. Lia roncava deitada no chão com sua cabeça próxima a minha coxa. Levantei-me lentamente, fazendo com que o mundo ao meu redor girasse a ponto de repensar se não era melhor continuar deitada. Olhei em volta. Um vasto espaço de terra nos separava de um posto de gasolina a alguns metros de nós. Fora isso, apenas algumas poucas árvores cobriam o local. Engoli. O ambiente seco deixava minha garganta ressecada. Eu preciso de água. Onde estamos? – Lia. – Hmm? – Lia, acorde. Onde estamos? Lia levantou um pouco desorientada. Pude perceber sua expressão mudar, deixando o desconforto se materializar em uma completa confusão. No entanto, não foi essa parte que chamou minha atenção. – Hãn... Lia... – Não consegui completar a frase, ficando sem reação ao reparar seus novos fios louros caindo por sua testa. Ela vai ficar muito irritada! Não consegui