Ao me aproximar notei um dos carros de Nathan estacionados há poucos metros do prédio e toda força que eu havia adquirido caiu por meus pés e foi direto para o ralo. Nathan havia acabado de sair do prédio. Seu cabelo negro caía por seu rosto distraído antes dele perceber que eu estava ali. – Oi. – Cumprimentei sem jeito enfiando minhas mãos nos bolsos da calça jeans. Pude perceber a surpresa em seu rosto antes dele descobrir de qual lado minha voz vinha. – Oi. – Ele mordeu os lábios ansioso. – Eu acho que não deveria ter vindo aqui. Você sempre pode chutar o saco dele, se desejar. – Mas eu não aguentei não vir. – Ele encostou-se ao carro sinalizando com a cabeça para que eu me juntasse a ele. Depois de hesitar por uns segundos, me aproximei. – Eu não estou pedindo que você aceite isso, ok? Eu prometo que nunca mais vou incomodá-la, se você quiser. – Virei-me para outro ponto para que ele não pudesse ver minha expressão. – A Débora era uma das minhas amigas mais antigas. Nossos pa
Eu costumava achar que quando eu crescesse minha vida seria como nos filmes. Que ao fim, tudo ficaria bem, que eu era uma heroína que venceria no final. Entretanto as coisas não são tão simples assim, e nem sempre o que você quer que aconteça realmente acontece. Eu só não tinha ideia de que eu precisaria me acostumar com isso tão cedo. Tudo estava indo tão bem, quando foi que começou a dar tão errado? Não importava o quanto eu tentasse, algo sempre me puxava para baixo me deixando afundar em um vazio solitário que ninguém mais compreendia. Eu queria gritar, mas não adiantava. Nada mudaria. Nada voltaria a ser como antes e não importa o que eu fizesse e o quanto eu desejasse aquilo, não havia mais nada que eu pudesse fazer. Minhas pernas trêmulas não conseguiam mais suportar o cansaço do meu corpo, era meu limite. Eu estava tão cansada. Eu não aguentava mais. Minha visão agora embaçada pelas lágrimas insistentes que sempre surgiam ali, não me deixava ver claramente tudo o que aconteci
Um mês para o fim.Meus pés doíam à medida que se moviam desajeitados esbarrando por alguns objetos naquele espaço escuro. Correr por tanto tempo estava me deixando tão cansada. Mas por que eu estava correndo? Os pensamentos iam se tornando mais claros conforme eu corria, e por um momento, tive a sensação de que isso já havia acontecido antes. Eu já tinha percorrido esse mesmo caminho, mas para quê? Para onde eu estava indo tão apressada? Memórias iam e vinham me deixando cada vez mais confusa. Não saber o que estava acontecendo era angustiante, mas saber e não lembrar era quase sufocante. Minha respiração tornava-se cada vez mais ofegante conforme eu sentia o cansaço invadir meu corpo e minha pele gélida suar por debaixo da roupa. Olhei ao redor para me certificar de que ninguém estava me seguindo. No entanto, não conseguia ter certeza de nada naquele ambiente escuro. Isso já não tinha acontecido? Parei olhando ao redor novamente. Os pensamentos turvos invadiam minha mente a procu
A estrutura do bar não era uma das melhores. O assoalho de madeira fazia um barulho que comprovava isso na medida em que entrávamos e seguíamos em direção ao balcão. Olhei em volta. O bar não estava muito cheio. Duas garçonetes passavam de um lado para o outro levando bebidas para as poucas pessoas que estavam sentadas em algum canto. Havia um casal bebendo solitário em uma mesa enquanto mais a frente alguns homens jogavam sinuca. Mais ao lado, um grupo de senhores, aparentemente mais velhos, se escorava em um canto enquanto serviam-se de cervejas e petiscos. Devia ter uns cinco ou seis deles, cada um usando uma roupa escura que os deixava com ar de motoqueiros de filmes estadunidenses. Mas eu não havia notado nenhuma moto na entrada. Assim que o barman chegou, pedimos duas caipirinhas e alguns goles depois decidimos ir à mesa de sinuca onde os homens acabavam de sair. – Ahá, eu acabei com você, Belle. Você não cansa de perder, não é mesmo? Vamos deixar isso aqui melhor. – Disse Lia
Abri meus olhos enquanto sentia uma luz forte machucar minha íris. Minha cabeça doía tanto que não conseguia nem raciocinar. Olhei para o lado. Lia roncava deitada no chão com sua cabeça próxima a minha coxa. Levantei-me lentamente, fazendo com que o mundo ao meu redor girasse a ponto de repensar se não era melhor continuar deitada. Olhei em volta. Um vasto espaço de terra nos separava de um posto de gasolina a alguns metros de nós. Fora isso, apenas algumas poucas árvores cobriam o local. Engoli. O ambiente seco deixava minha garganta ressecada. Eu preciso de água. Onde estamos? – Lia. – Hmm? – Lia, acorde. Onde estamos? Lia levantou um pouco desorientada. Pude perceber sua expressão mudar, deixando o desconforto se materializar em uma completa confusão. No entanto, não foi essa parte que chamou minha atenção. – Hãn... Lia... – Não consegui completar a frase, ficando sem reação ao reparar seus novos fios louros caindo por sua testa. Ela vai ficar muito irritada! Não consegui
Nathan estacionou alguns minutos depois em frente a localização que o senhor dois nos informara. Nesse meio tempo descobrimos que na verdade, os dois senhores eram irmãos que moravam em uma pequena casa um pouco atrás do posto. A casa em que nos deixaram antes de sumirmos para Deus sabe lá por qual lugar. Esse tempo não foi muito confortável. Senhor um e dois nos deixaram para fazer alguma coisa dentro da loja e eu e Lia ficamos sozinhas olhando para o horizonte na esperança de que isso trouxesse Nathan mais depressa. Eu não poderia dizer como aquilo estava sendo para ela, mas para mim estava sendo péssimo. Eu nem sei se podia me dar ao luxo de ficar chateada sendo que, em parte, ela tinha razão. No entanto, eu ficava porque tinha a esperança de que no fundo ela não acreditasse realmente naquilo. Me doeu perceber que ela acreditava. Eu sei que nossa conversa recente também a incomodava, e também sei que em algum momento sentaríamos e conversaríamos sobre isso, assim como sempre fa
Eu o disse onde era o local no qual passamos a noite anterior e depois de quase uma hora estacionamos em frente ao bar. Lia decidiu permanecer no carro com seu novo amigo, dessa forma só eu e Nathan adentramos no local. A imagem agora dando lugar a novas lembranças. Diferente de ontem, o bar agora estava vazio. Algumas cadeiras repousavam em cima das mesas enquanto uma das garçonetes de ontem varria o piso de madeira. – Com licença. – A mulher parou de varrer se voltando para mim. – Nós viemos aqui ontem e acho que posso ter deixado nossos pertences aqui. – Ah, oi Princess Britney. Não pensei que a veria tão cedo. Misericórdia! – Não consegui ficar muito tempo sem meu celular. – Sorri para ela. O que não deixava de ser mentira já que um celular hoje é tão valioso quanto algum órgão. – Verdade. Você deu sorte. Eu achei os celulares antes de fecharmos. Se estivesse cheio, com certeza vocês ficariam sem. – Ah meu Deus! – Suspirei aliviada. Já estava apavorada em pensar em atende
Nathan's povÉ complicado pensar que tudo poderia ser facilmente resolvido se eu apenas não tivesse deixado diversas oportunidades passarem diante de mim. Por que eu deveria cobrar do meu pai algo que eu nem ao menos tive coragem de mostrar? Como ele me conheceria se eu nunca fui eu mesmo quando estava perto dele? Não sei se parecia justo com ele. De qualquer modo, também não era justo comigo. Desde criança meu pai sempre foi minha fonte de expiração. Era o que eu deveria me tornar. Era o símbolo do sucesso e uma das vidas mais desejadas da cidade. Graças a ele eu tive a oportunidade de ter tudo o que eu queria. Ter uma boa casa, boas roupas, bons estudos. Não era isso que todo pai desejaria ao seu filho? Minha mãe e meu pai era aquele casal perfeito de todos os filmes. Que estão sempre bem porque nunca nos chega aos olhos àqueles detalhes que não é interessante ser mostrado. Eu tinha treze anos quando tive meu primeiro relacionamento com uma garota. Ela era linda, vinha de boa fam