– Um, dois, três. Lá vou eu. Assim que terminei de contar, saí correndo prestando atenção em cada movimento ao meu redor. Sabia onde encontrar Arthur porque ele sempre se escondia atrás do carro do senhor do doce, mas Alana era mais difícil, ela era muito esperta. Fui em direção ao carro do doce, ao mesmo tempo em que examinava atentamente todos os lugares possíveis, até os mais incomuns, como o bueiro. Eu precisava ganhar daquela garota um dia. – Te peguei! – Disse ao saltar por trás do carro. – Ué. No mesmo instante os dois saltaram de cima da árvore, e correram em direção à parede em que eu havia contado. – Há, há você é uma bobona! – Caçoou Alana triunfante. – Sabia que você iria para o carro. – Continuou Arthur rindo, me deixando irritada. – Bobos! – Bufei. – Olha lá. – Comentou a garota ao apontar para um carro estacionando ao lado da minha casa. – Acho que os novos vizinhos chegaram. Nesse momento um casal desceu do transporte acompanhado de uma garota pequena. Ela and
O cheiro de hospital me dava enjoo e levava minha mente aos dias que antecederam a morte do meu pai. Eu ficava sentada todos os dias a seu lado naquele quarto triste sem saber se tudo ficaria bem no final. Não ficou bem. O câncer foi consumindo seus órgãos diariamente até que ele não suportou mais. Aqueles foram meus últimos dias aqui. Nunca mais tive coragem de entrar nesse local e rezava para que nunca mais precisasse passar por essa situação. Mas eu estava ali novamente, sentada naquela cadeira, com aquela angústia no peito ao saber que minha melhor amiga poderia me deixar também. De uma forma imprudente eu segui pela rua sem nem ao menos notar o que estava fazendo. A raiva me consumiu a tal ponto de não controlar meus próprios atos e estar parada na rua enquanto um carro vinha em minha direção. Esse descontrole havia machucado Lia. Eu havia machucado Lia. Ela tentou me salvar e isso pode matá-la. Eu nunca poderia me perdoar se algo acontecesse com ela. Ele era minha melhor amig
– Oi. – A voz de Nathan me trouxe de volta a realidade. – Trouxe isso para você. – Ele estendeu um sanduiche em minha direção. – Você deve estar com fome. Eu queria que ele enfiasse aquele sanduiche em outro lugar. No entanto, a última vez que eu havia comido tinha sido na festa e meu estômago não tinha um pingo de amor próprio. – Obrigada. – Disse ao pegar o alimento e retirar o plástico que o embrulhava. – Tem alguma notícia da Lia? – Quis saber Isa. – Ainda não. Cadê os pais dela? – Perguntei ao olhar em volta e perceber que os dois já não estavam mais sentados na cadeira a minha frente. – Eles foram para casa descansar um pouco. Você deveria ir também. Eu vou estar aqui, eu te ligo qualquer coisa. Eu queria dizer que não, mas eu estava cansada e com dor o suficiente para não insistir. – Você quer que eu te leve? – Ofereceu Nathan. – Não precisa. – Levantei-me seguindo para a saída. Tudo o que eu queria era deitar na minha cama e dormir o necessário para voltar ao hospita
Pelo menos eu havia tentado. Não havia mais nada que eu pudesse fazer naquele momento, então apenas retornei à minha cama e tentei relaxar. Olhei o visor do celular. Não tinha nenhuma mensagem da Isa e nem de Nathan. Suspirei desistente. Levantei-me de sobressalto ao ouvir o toque do celular. Tateei ainda sonolenta pela cama em busca do objeto, ficando em seguida espantada ao notar que já estava quase anoitecendo. – Alô. – Disse ainda com a voz rouca. – Oi, Belle. – Respondeu Isa. – A Lia acordou? – Joguei rapidamente as palavras conforme as maquininhas do meu cérebro começavam a funcionar. – Não. Mas nós já podemos vê-la. Os pais dela estão lá agora. Só podem entrar dois. – Tudo bem. Já estou indo. – Desliguei o celular. A notícia de que Lia havia despertado me trouxe um fio de esperança de que as coisas iriam dar certo, embora ainda não fosse uma afirmação de que ela melhoraria. Olhei meu celular novamente em busca de alguma mensagem. Da mensagem de Nathan. Eu não queria
– Sua filha da... você estava acordada esse tempo todo? – Perguntei incrédula. – Não todo. Só enquanto você estava aí chorando... ah Lia não faz isso... – Caçoou Lia ainda meio fraca. – Idiota! – Bufei. – O que aconteceu? – Ela olhou ao redor tentando compreender onde estava. – Você pulou na frente do carro. De início Lia pareceu confusa, mas logo sua expressão confessou que ela estava se recordando. – Você também se machucou? – Só uns arranhões. Nada demais. Como você está? – Quis saber endireitando-me da cadeira para poder observá-la melhor. – Estou meio dolorida, mas acho que... – Lia parou de falar, erguendo a cabeça desajeitada para olhar melhor sua perna. – que diabos...? – Ah... você meio que quebrou a perna. – Mencionei. – Eu acabei de comprar meu carro. – Sua voz subiu uma oitava. – Daqui a pouco melhora e tudo vai voltar ao normal. – Meu carrinho. – Sua boca fechou-se em um bico infantil, enquanto seus olhos marejados estavam concentrados em sua perna direita.
Segundo os médicos, Lia estava se recuperando bem e em alguns dias pudemos levá-la para casa. Paulo sugeriu que a garota ficasse com eles até que estivesse totalmente recuperada, o que me deixava de certa forma aliviada, pois me apavorava o fato de ter que cuidar de alguém sozinha quando eu nem sabia se estava cuidando bem de mim mesma. Aproveitei esse momento para acompanhá-los e aproveitar o tempo para ficar com minha mãe. Seria bom de todas as formas e, portanto, eu não ficaria longe de Lia. Assim que minha mãe soube o que tinha, entrou em desespero. Ela quase me bateu por não ter contado nada antes. Embora Lia não fosse da mesma família que eu, nós crescemos juntas e minha mãe sempre a viu como se fosse outra filha. Nós duas não tínhamos irmãos, era sempre Belle e Lia para todo canto, até mesmo quando aprontávamos. Saber que uma havia feito algo era o mesmo que afirmar que a outra também fez, então mesmo quando não me pegavam e eu tentava convencer minha mãe de que era injusto m
Ao me aproximar notei um dos carros de Nathan estacionados há poucos metros do prédio e toda força que eu havia adquirido caiu por meus pés e foi direto para o ralo. Nathan havia acabado de sair do prédio. Seu cabelo negro caía por seu rosto distraído antes dele perceber que eu estava ali. – Oi. – Cumprimentei sem jeito enfiando minhas mãos nos bolsos da calça jeans. Pude perceber a surpresa em seu rosto antes dele descobrir de qual lado minha voz vinha. – Oi. – Ele mordeu os lábios ansioso. – Eu acho que não deveria ter vindo aqui. Você sempre pode chutar o saco dele, se desejar. – Mas eu não aguentei não vir. – Ele encostou-se ao carro sinalizando com a cabeça para que eu me juntasse a ele. Depois de hesitar por uns segundos, me aproximei. – Eu não estou pedindo que você aceite isso, ok? Eu prometo que nunca mais vou incomodá-la, se você quiser. – Virei-me para outro ponto para que ele não pudesse ver minha expressão. – A Débora era uma das minhas amigas mais antigas. Nossos pa
Eu costumava achar que quando eu crescesse minha vida seria como nos filmes. Que ao fim, tudo ficaria bem, que eu era uma heroína que venceria no final. Entretanto as coisas não são tão simples assim, e nem sempre o que você quer que aconteça realmente acontece. Eu só não tinha ideia de que eu precisaria me acostumar com isso tão cedo. Tudo estava indo tão bem, quando foi que começou a dar tão errado? Não importava o quanto eu tentasse, algo sempre me puxava para baixo me deixando afundar em um vazio solitário que ninguém mais compreendia. Eu queria gritar, mas não adiantava. Nada mudaria. Nada voltaria a ser como antes e não importa o que eu fizesse e o quanto eu desejasse aquilo, não havia mais nada que eu pudesse fazer. Minhas pernas trêmulas não conseguiam mais suportar o cansaço do meu corpo, era meu limite. Eu estava tão cansada. Eu não aguentava mais. Minha visão agora embaçada pelas lágrimas insistentes que sempre surgiam ali, não me deixava ver claramente tudo o que aconteci