– Eu não sabia que você fumava. – Eu não fumo, quer dizer, eu parei. Às vezes eu fumo. O que foi? – Eu não queria ser a pessoa chata, mas minha expressão de desagrado assumiu involuntariamente por meu rosto. – Você está com uma expressão de julgamento. – Não estou julgando, eu só... como você pode consumir essa porcaria? Nathan pareceu surpreso com a forma que eu despejei aquilo. – Você se importa? – Por que eu não deveria? Isso mata. – Os hambúrgueres que você vive comendo também. – Ele deu de ombros, mas sua voz assumiu um tom um pouco mais impaciente. – Tanto faz. Nathan respirou fundo e aproximou mais seu corpo do meu tomando cuidado para não deixar inutilmente o cigarro perto de mim, porém o cheiro estava impregnado nele. – Isso é um problema para você? – Não, quer dizer... – As palavras estavam ficando confusas conforme eu ficava nervosa. – Eu só fiquei surpresa. É que você é todo certinho, eu só não imaginei... Eu não vou mentir, eu odeio essa coisa. – Confessei enoja
Eu costumava achar que quando eu crescesse minha vida seria como nos filmes. Que ao fim, tudo ficaria bem, que eu era uma heroína que venceria no final. Entretanto, as coisas não são tão simples assim, e nem sempre o que você quer que aconteça realmente acontece. Eu só não tinha ideia de que eu precisaria me acostumar com isso tão cedo. Tudo estava indo tão bem. Quando foi que começou a dar tão errado? Não importava o quanto eu tentasse, algo sempre me puxava para baixo me deixando afundar em um vazio solitário que ninguém mais compreendia. Por dentro eu estava gritando, embora meus lábios continuassem imóveis. Nada adiantava. Nada mudaria. Nada voltaria a ser como antes e não importa o quanto eu lutasse ou o quanto eu desejasse aquilo, não havia mais nada que eu pudesse fazer. Minhas pernas trêmulas não conseguiam mais suportar o cansaço do meu corpo, eu havia chegado ao meu limite. Eu estava tão cansada. Eu não aguentava mais. Minha visão agora embaçada pelas lágrimas insistentes q
Sem pressão. Respirei fundo. Peguei meu celular para mandar uma mensagem para Nathan, mas ao abrir sua conversa mudei de ideia. Talvez eu devesse fazer uma surpresa. Com certeza ele não me esperaria encontrar lá, e ao mesmo tempo não sobraria tempo de pensar sobre conhecer seus pais. Parecia mais sensato. Um pouco covarde, talvez, mas quem precisava ter coragem agora? Bufei. Belle que vergonha. Desisti da ideia, logo abrindo na conversa com Nathan novamente. Belle: Hey | Adivinha onde eu vou trabalhar hoje... | – Belle, eu vou a minha casa me arrumar. Encontramo-nos na porta da casa dos Midas às 18 horas, pode ser? – Pode, sim. Apresentável. – Imitei a voz de Sabrina fazendo a mulher rir baixo antes de certificar-se de que Sabrina não poderia nos ouvir. Olhei para a tela novamente esperando alguma resposta, mas Nathan não havia nem visualizado o que eu havia mandado mais cedo, portanto deixei de lado e decidi avisar Thiago. Belle: Adivinha quem não vai olhar minhoca, otário
– O que você está fazendo aqui? – Disse. – Oi para você também, Bass. Eu sou fotógrafa, lembra? Não entrei de penetra ou algo do tipo. – Respondi irritada. Nathan parecia pálido, enquanto olhava nervoso para os lados como se ele não quisesse que soubessem quem eu era. – Vamos sair daqui. – Sugeriu. – O quê? Eu estou trabalhando, eu não posso sair. Qual é o problema? Acalme-se, eu não vou chegar aos seus pais nem nada. – Não é isso, eu... a gente pode só conversar um pouco lá fora? – Pediu quase implorando. – Por favor, é importante. – Nathan, vamos. – Falou uma mulher cujo rosto eu havia visto na internet mais cedo. Ela o puxou para longe de mim me deixando sozinha sem entender o que era tão importante. O que foi que acabou de acontecer aqui? Por que ele reagiu dessa forma? Será que minha roupa não estava boa ou será que ele apenas estava nervoso da mesma forma que eu estava? Ok, eu sou linda. O problema não era a roupa. Mas então qual era? Seja lá o que tenha acontecido, minha
– Um, dois, três. Lá vou eu. Assim que terminei de contar, saí correndo prestando atenção em cada movimento ao meu redor. Sabia onde encontrar Arthur porque ele sempre se escondia atrás do carro do senhor do doce, mas Alana era mais difícil, ela era muito esperta. Fui em direção ao carro do doce, ao mesmo tempo em que examinava atentamente todos os lugares possíveis, até os mais incomuns, como o bueiro. Eu precisava ganhar daquela garota um dia. – Te peguei! – Disse ao saltar por trás do carro. – Ué. No mesmo instante os dois saltaram de cima da árvore, e correram em direção à parede em que eu havia contado. – Há, há você é uma bobona! – Caçoou Alana triunfante. – Sabia que você iria para o carro. – Continuou Arthur rindo, me deixando irritada. – Bobos! – Bufei. – Olha lá. – Comentou a garota ao apontar para um carro estacionando ao lado da minha casa. – Acho que os novos vizinhos chegaram. Nesse momento um casal desceu do transporte acompanhado de uma garota pequena. Ela and
O cheiro de hospital me dava enjoo e levava minha mente aos dias que antecederam a morte do meu pai. Eu ficava sentada todos os dias a seu lado naquele quarto triste sem saber se tudo ficaria bem no final. Não ficou bem. O câncer foi consumindo seus órgãos diariamente até que ele não suportou mais. Aqueles foram meus últimos dias aqui. Nunca mais tive coragem de entrar nesse local e rezava para que nunca mais precisasse passar por essa situação. Mas eu estava ali novamente, sentada naquela cadeira, com aquela angústia no peito ao saber que minha melhor amiga poderia me deixar também. De uma forma imprudente eu segui pela rua sem nem ao menos notar o que estava fazendo. A raiva me consumiu a tal ponto de não controlar meus próprios atos e estar parada na rua enquanto um carro vinha em minha direção. Esse descontrole havia machucado Lia. Eu havia machucado Lia. Ela tentou me salvar e isso pode matá-la. Eu nunca poderia me perdoar se algo acontecesse com ela. Ele era minha melhor amig
– Oi. – A voz de Nathan me trouxe de volta a realidade. – Trouxe isso para você. – Ele estendeu um sanduiche em minha direção. – Você deve estar com fome. Eu queria que ele enfiasse aquele sanduiche em outro lugar. No entanto, a última vez que eu havia comido tinha sido na festa e meu estômago não tinha um pingo de amor próprio. – Obrigada. – Disse ao pegar o alimento e retirar o plástico que o embrulhava. – Tem alguma notícia da Lia? – Quis saber Isa. – Ainda não. Cadê os pais dela? – Perguntei ao olhar em volta e perceber que os dois já não estavam mais sentados na cadeira a minha frente. – Eles foram para casa descansar um pouco. Você deveria ir também. Eu vou estar aqui, eu te ligo qualquer coisa. Eu queria dizer que não, mas eu estava cansada e com dor o suficiente para não insistir. – Você quer que eu te leve? – Ofereceu Nathan. – Não precisa. – Levantei-me seguindo para a saída. Tudo o que eu queria era deitar na minha cama e dormir o necessário para voltar ao hospita
Pelo menos eu havia tentado. Não havia mais nada que eu pudesse fazer naquele momento, então apenas retornei à minha cama e tentei relaxar. Olhei o visor do celular. Não tinha nenhuma mensagem da Isa e nem de Nathan. Suspirei desistente. Levantei-me de sobressalto ao ouvir o toque do celular. Tateei ainda sonolenta pela cama em busca do objeto, ficando em seguida espantada ao notar que já estava quase anoitecendo. – Alô. – Disse ainda com a voz rouca. – Oi, Belle. – Respondeu Isa. – A Lia acordou? – Joguei rapidamente as palavras conforme as maquininhas do meu cérebro começavam a funcionar. – Não. Mas nós já podemos vê-la. Os pais dela estão lá agora. Só podem entrar dois. – Tudo bem. Já estou indo. – Desliguei o celular. A notícia de que Lia havia despertado me trouxe um fio de esperança de que as coisas iriam dar certo, embora ainda não fosse uma afirmação de que ela melhoraria. Olhei meu celular novamente em busca de alguma mensagem. Da mensagem de Nathan. Eu não queria