KURT
— Mas… Como assim a gente vai levar uma ômega do Midnight Pack com a gente? — Finn me perguntou e eu apenas dei de ombro, enquanto esperávamos pelo nosso carro.
— Ela estava sofrendo aqui e eu resolvi que era melhor ela ir conosco.
— Simplesmente assim? — Finn insistiu, entortando a boca para mim. Ele era o meu melhor amigo. Estávamos juntos desde crianças e eu sempre soube que ele seria o meu Beta.
— Sim, simples assim.
Dependendo do meu tom, Finn sabia quando poderia ou não continuar me contestando. Naquele momento, ele sabia que não deveria. Esperamos calados e então, eu ouvi um limpar de garganta.
— Alfa Kurt? — Uma voz incrivelmente doce falou. Não, não era doce do tipo meigo, mas sim do tipo enjoativo. Carla Redley, filha de Idris. Ela era bonita, loira, olhos azuis bem clarinhos e um corpo razoavelmente curvilíneo, mas ela era antipática e falsa. Pra mim, francamente, perdia totalmente a beleza.
— Sim? — Perguntei, mantendo a compostura. Eu não poderia ser grosseiro com a moça a troco de nada, não é mesmo? Ela olhou para trás e fez sinal com a cabeça para alguém atrás da porta dupla da entrada.
A ômega, é claro. Ela estava com um casaco velho jogado sobre as costas, as mãos escondidas dentro dos bolsos do mesmo, os cabelos na frente do rosto e ela mancava. Eu respirei fundo, para manter a calma.
— Ah, certo. Estávamos esperando por ela. Obrigado, Senhorita Redley — Eu falei e sorri com o melhor sorriso que eu conseguia dar naquele momento.
— É um prazer servi-lo, Alfa Kurt — Carla colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, como se estivesse acanhada. Acanhada? Me poupe. Ela era nova, uns dezenove anos, por aí, mas de acanhada ela não tinha nada. Eu podia não ser um macho de muitas festas e nem tão fofoqueiro, mas certas notícias corriam fácil.
— Certo. Obrigado mais uma vez — Eu estendi o braço para a ômega, indicando que esta deveria se aproximar. Ela pareceu titubear, mas o fez. O carro chegou e foi estacionado na nossa frente — Tenha uma boa noite, Senhorita Redley. Dê os cumprimentos ao seu pai.
Era uma ofensa Idris não estar ali, porém, ele havia me informado que estaria resolvendo a situação com Gabriel. Eu não era imbecil e sabia que ele não iria punir o moleque. Na verdade, Idris queria apenas manter distância de mim. Ridiculamente covarde.
Eu entrei no carro, no banco do passageiro, enquanto Finn acomodou a ômega no banco de trás e depois se sentou no banco do motorista.
— Se estiver com sono, pode dormir. A viagem vai ser um pouco demorada. Quando chegarmos ao bando, você vai pro hospital, fazer um check-up, ok? — Eu falei e ela balançou a cabeça, concordando. Ela estava olhando para baixo e eu ainda não tinha ideia de como era o rosto daquela jovem.
Eu não comentei nada, mas achei curioso o fato de que eu não conseguia sentir o cheiro dela. Eu sentia ainda o cheiro de sangue, eu conseguia sentir o cheiro do sabonete barato dela, mas fora isso, nada. Era como se ela estivesse se escondendo. Mas os ômegas não podiam fazer aquilo. Apenas lobos com sangue de alto ranking podiam usar desse artifício. E nem todos.
A viagem foi silenciosa, ao menos, para a ômega. Finn e eu conversamos através do mind link.
Quando o carro finalmente parou, eu percebi que a jovem estava adormecida, com a cabeça encostada na janela. Eu bati de leve no vidro para que ela acordasse, e funcionou. Mas ainda assim, ela não se virou para mim.
— Leve-a para o hospital, Finn.
— Sim, Alfa.
Já era madrugada e eu estava morto. Porém, Finn também devia estar e ele tinha uma fêmea e um filho esperando por ele. Por isso, eu me virei, mudando de ideia.
— Quer saber? Deixa que eu mesmo faço isso. Vá para casa. Audrey deve estar esperando por você.
Finn sorriu para mim, balançou a cabeça, me deu boa noite e se foi.
Eu abri a porta do carro para que a ômega pudesse sair.
— Somos só nós dois, agora — Eu falei e não esperava que ela fosse estremecer como ela o fez — Eu não vou machucar você. Pode ficar tranquila. Agora, vamos pro hospital. Não é tão longe da packhouse.
Ela concordou com a cabeça e andou atrás de mim.
— Qual o seu nome? — Eu perguntei.
— Rosamund — Ainda que carregada de medo, agora que eu podia ouvir melhor, a voz dela era muito bonita. Bem como o nome. Rosamund. Eu gostei.
— Rosamund. Eu sou Alfa Kurt — Ela fez um sinal curto e positivo para mim, ainda olhando para baixo — Você não olha no rosto das pessoas enquanto fala com elas, menina?
— E-eu… Eu posso?
Como assim? Ela estava me perguntando se poderia olhar para mim? Isso era… Isso era absurdo! E um sinal do quão humilhada ela deve ter sido no outro bando.
Eu queria saber melhor o que houve, porém, eu teria que esperar. Seria muito insensível da minha parte fazer um interrogatório com uma criatura que estava no estado dela. Ela ainda mancava.
— Sim, pode.
O fato de ela ainda mancar, combinado com eu não conseguir sentir um lobo nela, provavelmente era sinal de que ela era menor de idade. Mesmo que ômegas amadurecessem um pouco mais tarde, mesmo sem o lobo dela, Rosamund deveria ser capaz de se regenerar com mais rapidez. A coitada estava subnutrida.
Eu não conseguia ter uma ideia do estado real dela, pois ela não olhava para mim e as roupas dela eram muito largas. Ela tinha uma altura mediana para uma loba. Na verdade, ela era um pouco maior do que as ômegas costumavam ser. Levando em consideração que eu tinha dois metros e quinze centímetros de altura, ela devia ter por volta de um e setenta… Ômegas fêmeas normalmente não passavam de um e sessenta.
Entramos no hospital e eu pedi que Rosamund — eu gostava do nome, no entanto, preferiria chamá-la de Rosa. Mas eu não tinha essa intimidade, não é mesmo? — fosse atendida.
— Eu voltarei pela manhã ou depois do almoço para ver como estão as coisas aqui.
— Sim, Alfa Kurt — A enfermeira falou. Débora, se não me engano. Eu acenei com a cabeça e fui para casa.
“— Ela é diferente” — o meu lobo falou. Thorin.
“— Diferente como?”
“— Diferente… Há algo nela que me atrai.”
“— Nem pense nisso, Thorin.”
“— Eu não estou pensando em nada…”— sim, ele estava. Eu conhecia Thorin muito bem. Ele era um depravado. Não que eu também não adorasse me deliciar com uma bela fêmea, mas eu não faria isso com aquela pobre ômega. Ainda mais quando os cabelos dela eram avermelhados. Eu não me deitava com uma ruiva desde… enfim, eu não queria pensar nela.
— “Ótimo”, eu falei e fui direto para o banho. Eu gostava de dormir limpo, sempre.
Pela manhã, eu fui ao meu escritório, lidei com alguns documentos e, pouco antes do almoço, resolvi dar uma passada no hospital.
— Oh, Alfa Kurt! — A médica de cabelos castanhos e sorriso gentil me cumprimentou. A Dra. Hanna Mahler era uma das melhores pessoas que eu já tinha conhecido na vida. Quando eu quase morri, foi ela quem me salvou, apesar de ser uma recém-formada.
Sim, ela era humana, mas vivia conosco. A boa médica me encontrou na floresta, cuidou de mim e resolveu ficar no bando, até porque ela era a companheira predestinada de um dos nossos membros. Isso foi descoberto assim que o Ranger em questão, Nick Mahler, colocou os olhos nela.
— Bom dia, Dra. Como está a paciente? — Ela sabia a quem eu me referia.
— Ela está tendo uma recuperação lenta. Algumas costelas quebradas, ela teve uma luxação no fêmur, tem hematomas pelo corpo e algumas cicatrizes. É bem óbvio que ela vem sofrendo maus tratos há algum tempo.
Fechei o punho ao ter a confirmação do quanto Rosamund vinha sofrendo. Aquilo era uma covardia! Se o Rei não tivesse me pedido para evitar brigas nesses últimos tempos, eu voltaria ao Midnight Pack e faria Idris engolir os dentes. Ele e aquele maldito fedelho!
— Ela está se recuperando lentamente por conta das condições físicas dela, não é?
— Sim — Ela balançou a cabeça, um olhar triste — É uma pena. Ela é tão bonita e meiga. Ah, eu vou prepará-la para a sua chegada, certo?
— Tudo bem — Eu respondi, parando de andar e ficando perto da porta. A Dra. Hanna entrou e eu esperei até que ela colocasse a cabeça para fora e fizesse sinal para que eu entrasse.
Quando ela saiu da frente, eu vi novamente a cortina de cabelos castanho-avermelhados, mas dessa vez, eles estavam limpos e menos bagunçados. Como em câmera lenta, a ômega começou a virar a cabeça em minha direção e eu fui agraciado com aquela visão.
KURTA primeira coisa que eu vi foram aqueles olhos. Aqueles olhos maravilhosos. Eles não eram exatamente castanhos, pois havia um fundo muito avermelhado ali, como os cabelos dela. Apesar de Rosamund estar machucada e maltratada, ainda era possível notar como ela era bonita. O nariz delicado e fino, a boca levemente cheia, o formato oval do rosto. O pescoço dela era fino, claro, afinal ela estava muito magrinha. Descendo mais, os seios dela. Sim, eu sei, isso é horrível, mas eu não consegui evitar de perceber o belo volume que ela tinha ali. Talvez por ser muito magra, tenha dado para ela conseguir esconder tudo aquilo debaixo do casaco folgado. Agora, ela vestia uma camisola do hospital e dava para perceber que ela foi agraciada com um belo par de seios redondos.Não, não fiquei encarando! E eu espero ter sido discreto o suficiente para ela não ter percebido que eu olhei para o busto dela. Senti vergonha de mim mesmo naquele momento.— Olá, Rosamund! — Eu falei, sorrindo, tentando d
KURTEu caminhei até o meu escritório, de onde o cheiro diferente estava vindo. Era feminino, sem sombra de dúvidas. E aquele era o cheiro de uma fêmea de alto ranking.Na porta do escritório, uma mulher loira, alta, estava de costas para mim. Ela percebeu a minha presença, é óbvio e então se virou. Os olhos eram acinzentados.— Alfa Kurt, eu suponho? — Ela perguntou. A forma como ela me olhou e falou indicavam que ela era uma mulher prática e orgulhosa.— Sim. Quem é você? — Não adiantava eu dizer que não era eu, não é mesmo? Além da aura e do cheiro de Alfa, a cicatriz se tornou uma marca registrada, minha. Infelizmente.Ela abaixou a cabeça de maneira educada e respeitosa.— Giselle Starling, filha de Gregório Starling. Sou a herdeira Alfa do Yellow Stone Pack.Ah, a última candidata da lista dada pelo Conselho. Curioso, pois as fêmeas, filhas de Alfas, não saiam por aí zanzando a seu bel prazer, não sem serem muito bem acompanhadas, pelo menos, além da autorização do Alfa. — E a
ROSADesde que o Alfa Kurt me resgatou do Midnight Pack, o lugar onde eu nasci e onde eu mais fui maltratada, eu era extremamente grata a ele.No momento em que nos conhecemos, eu não conseguia sentir nada além de medo. E se ele só quisesse me fazer mal? Porém, percebi que não era nada daquilo. Ou, pelo menos, não ainda. Eu já tinha ouvido falar de alguns Alfas que gostavam de manter ômegas como escravas sexuais e eu preferiria morrer a passar por algo tão degradante! O Alfa Kurt era lindo, mas eu não me submeteria a esse tipo de coisa!Sim, apesar de tudo, eu tinha sonhos de encontrar o meu companheiro predestinado. Eu tinha esperanças de que ele me encontraria e cuidaria de mim. No entanto, como isso poderia acontecer se eu ainda não tinha um lobo?Talvez por eu ter sido rebaixada a ômega ou pelos maus tratos (já ouvi falar que pode acontecer, de más condições físicas e mentais impedirem o lobisomem de ter um lobo e acabar por ser apenas um humano), eu não tinha lobo. Eu já estava
KURTMas que porra! Eu saí do quarto da minha Rosa — Calma aí… De onde isso saiu?! — me sentindo esquisito. Ela me fazia querer ficar perto dela, não só por razões sexuais, mas também… Ela me fazia bem. Eu ficava mais em paz perto dela.“— Ela pode ser a nossa segunda chance…” — Thorin comentou, como quem não queria nada.“— Não, ela não é. Isso de segunda chance é algo raro e depois do que eu passei com uma companheira predestinada, seria muita sacanagem me mandarem outra!”Eu não queria falar sobre esse assunto, por isso, afastei Thorin para o fundo da minha mente. Caso contrário, depois de anos lidando com ele, eu sabia muito bem que aquele lobo ficaria, literalmente, falando na minha cabeça sem parar.Quando cheguei na packhouse, já estava anoitecendo. Eu morava lá, agora. Antes, quando eu ainda era casado, optei por ter uma casa mais afastada, onde eu e a minha companheira poderíamos ter mais privacidade. Ela fez questão disso, na verdade, e eu não me incomodei.Eu fui burro, iss
KURTNão sei se a Dra. percebeu, mas ela se calou e sorriu, misteriosa.Rosa se pôs de pé assim que a porta se abriu. Ela estava linda, radiante! Usando o vestido amarelo que comprei para ela, doce, mas sexy ao mesmo tempo. O vestido era daqueles de mangas levemente bufantes, com um decote em “U”, um cinto de mesma cor na cintura e a saia um pouco rodada. Claro, sapatos baixos, afinal, eu não sabia se ela era acostumada a andar de salto alto.— Alfa Kurt! — Ela me recebeu com um sorriso tão maravilhoso que eu tive vontade de mandá-la ficar paradinha, para que eu pudesse tirar uma foto. Mas, pelo visto, eu teria que eternizar o momento apenas na minha mente.— Pronta? — Eu perguntei e ela anuiu com a cabeça veementemente, quase saltitando.— Sim, sim! — Ela se virou para a Dra. Hanna — Nada pessoal, Doutora. A senhora e todos foram muito legais comigo, mas… Eu quero sair daqui!Nós três rimos e Rosa e eu fomos embora do quarto. Ela não tinha nada com ela, então, não tinha motivo para d
KURTNão!Eu me afastei da porta, passando a mão pelo rosto. Muito perigoso. Muito perigoso. O que eu estava precisando era foder, apenas isso. Achar uma ômega — nenhuma delas nunca negou fogo — e me aliviar. Todos ficariam felizes.“— Menos eu…”— Thorin comentou. Ele nunca mais foi o mesmo depois de Alexandra. Ora ele estava assim, deprimido, ou então, loucamente assassino.“— Não podemos transar com ela, Thorin. Eu não posso oferecer nada além de sexo.”Todos me viam como um filho da puta sem escrúpulos, mas eu não era assim tão ruim. Sim, no campo de batalha, eu não tinha piedade. Quem quer que resolvesse arrumar briga comigo, deveria estar mais do que preparado para levar uma surra. Ou algumas mordidas. Pelo menos para isso a puta da Alexandra serviu: a minha sede por sangue e por conquista me tornaram o maior Alfa do país.Na cozinha, uma linda ômega estava cozinhando. Ela era loira, corpo delgado… Ela sentiu a minha presença e abaixou a cabeça, como todos eles faziam. Eu não exi
KURT — Se você quiser, você pode. Eu não quero ser um incômodo — Eu falei da forma mais gentil possível e ela levantou a sobrancelha, claramente surpresa. Eu olhei para o pai dela — Eu não me importo, desde que ela fique mais confortável. Eu sei que estou ocupando muito espaço nesse sofá.— Ah… Claro. Faça como quiser, querida — Ele disse para Giselle, que sorriu e se levantou, indo para a poltrona ao lado.— Eu acredito que o senhor já saiba o motivo da minha visita, não é mesmo? — Eu perguntei a ele, que limpou uma gotícula de suor da testa com um lenço retirado do bolso dele. Eles dois eram muito parecidos, pai e filha. Não tinha como negar que eram ligados por sangue.— Eu… Eu não me atreveria a imaginar, Alfa Kurt — Ele estava demonstrando respeito e, também, submissão. Ele era mais velho, porém, ele estava se subjugando a mim. Ótimo.— Eu gostaria de pedir a mão da sua filha, Giselle, em casamento.Após ter firmado o acordo com o Alfa Gregório, eu voltei para o meu bando. Ele q
KURTRosa estava na cama, lendo. Tão linda, os cabelos cascateando pelos ombros dela. Ela estava usando uma das roupas que eu havia separado pra ela. Um vestido leve, pêssego. Era até mais perfeito do que eu achei que seria, nela. Os pés de Rosa eram delicados e bem-feitos.Puta merda! Estava ficando mais complicado a cada momento. Eu não podia olhar para aquela fêmea sem querer atacá-la! Tudo nela me fazia desejar estar colado a ela, e eu comecei a me perguntar se Thorin não estaria certo. Ela não tinha lobo, ainda. Sendo assim, se fôssemos mesmo predestinados, não poderíamos sentir a ligação, ainda. Mas… E se no dia seguinte ela despertasse? Eu estaria mais do que fodido.Resolvi limpar a garganta para chamar a atenção dela. Normalmente, qualquer fêmea perceberia que eu estava presente, afinal, qualquer Alfa exala um cheiro característico. Mas Rosa... Talvez ela estivesse muito concentrada no livro dela. É, devia estar, pois não me ouviu…Eu entrei no quarto e comecei a me aproximar.