Depois que arrumamos tudo, inclusive meus cosméticos do banheiro, descemos as três com algumas bolsas pequenas nas mãos. Januária pediu aos seguranças para descer minhas malas. As criadas me acompanharam até o jardim. Eu entrei no carro depois de abraçá-las emocionada. Foi muito triste a minha partida. Foram pouco mais de três meses morando ali e eu já me sentia de fato bem acolhida. Eu não queria voltar para casa. Dois seguranças me acompanharam no carro preto, blindado que me levou até a mansão dos Fontes. Minha mãe já me esperava no jardim. Ela me abraçou tão forte, tão desesperada! — Minha filha! — Ela estava muito emocionada. — Me desculpe, mãe. Eu sei que esperou por anos que eu fizesse esse casamento e eu estraguei tudo! Ela sorriu com tristeza e colocou a mão no meu ventre. — Como está o meu neto? Eu vou te ajudar a cuidar dele! Ela conseguiu me fazer relaxar um pouco. — Onde está o meu pai?— eu quis saber, esticando o pe
Romeu levantou-se da mesa, alterado também. — Ela quis, eu não a obriguei! Pare de me tratar como se eu tivesse sido injusto com ela! Eu fui enganado e humilhado outra vez! Arthur se calou. Ele sabia que o pai agora se referia a sua falecida mãe. — Até quando vou deixar que me façam de idiota? Chega de ser cego, Arthur! — Eu lhe perdoaria — Arthur disse isso e virou-se na direção da porta. — Arthur!— Romeu o chamou. Ele virou-se lentamente. — Volte para casa, filho. Arthur encheu o pulmão de ar. — Nem pensar. Estou muito bem no meu apartamento. Posso ver o mar todos os dias quando chego em casa. Romeu ficou desolado. A voz parecia cansada. — O que quer que eu faça para me perdoar? Nunca devia tê-lo mandado embora de casa. Eu fiz tudo errado! Arthur voltou-se e caminhou até a mesa do pai. — Perdoe a Juliette. Romeu ergueu os olhos surpresos. — Não pode me pedir isso! — Perdoe ela, pai! Não a deixe nas mãos do dou
Meu pai se assustou. — Está bem. Vou levá-la numa clínica de confiança! Agora me deixe sozinho e vá preparar a sua filha! Depois que a minha mãe saiu, meu pai fez um telefonema para um amigo, dono de uma clínica, e lhe contou o que aconteceu. — Espancou a sua filha, Jaime! — Uma discussão normal de pai e filha! Foi só um tapa no rosto, ela mereceu! O homem suspirou do outro lado da linha. — Está bem. Vou mandar suspender o atendinənento ao públicos agora de manhã, mas saiba que isso vai lhe custar caro! Caro era uma palavra que o meu pai conhecia bem. E foi assim, fomos a tal clínica. Entramos pelo acesso de funcionários, discretamente. Eu tinha todos os especialistas à minha disposição e fui muito bem atendida. Fui levada direto à sala de ultrassonografia. Minha mãe e Lourença entraram junto comigo. — Nossa, esse garoto está grandão!— o médico disse simpático. — Ele está vivo, doutor?— eu quis saber, emocionada. O
Arthur concordou com Romeu, assentindo com a cabeça, pois ele enxergava de longe a maldade do coração do sócio do pai. — Vai mandar buscá-la logo?— ele quis saber. Romeu girou na sua cadeira e olhou cauteloso para o filho, que não escondia a sua ansiedade. — Sim, vou ligar em casa agora e dar à ordem, só vou esperar o Jaime chegar em sua casa. Se bem o conheço, vai pessoalmente despachar a filha. Arthur ficou preocupado. — Não se demore, pai! Eu temo pela Juliette! Romeu olhou fixamente nos olhos do filho. — Prometeu voltar para a casa, lembra? — Irei, claro! Irei hoje mesmo! Estava morrendo de saudade da comida da Januária! Romeu sorriu satisfeito, mas sempre com o olhar atento e sereno. — Saia mais cedo para arrumar suas coisas. Vamos jantar, todos juntos hoje! Arthur ficou sério de repente. — Vai pedir desculpa para ela, não vai pai? — Vai me obrigar a isso também?— Romeu ficou impaciente. — Por favor, pai. Não sabemos o que ela teve que suportar nas
Minha mãe nem se importou com a minha expressão:” inclusive o seu marido”. Para ela, isso era só um detalhe! — Por que acha que pode ser um Martins? Ele estava de máscara, não estava? Eu suspirei nervosa. — Só me lembro que ele tinha uma tatuagem. Todos os Martins a tem. Minha mãe se agachou para esvaziar uma gaveta de baixo. — Tomara que seja o seu marido! — Ou o Arthur! Minha mãe levantou-se trazendo as roupas junto ao corpo. — Queria que fosse ele? Eu fiquei impaciente e saí da frente dela. — Queria que fosse o Romeu, mas nem sei se ele merece ser pai desse filho! — Você o ama, não é?— minha mãe estava atenta. — Isso não importa!— eu respondi jogando a mala sobre o leito. Dona Marlene ficou pensativa e voltou a esvaziar outra gaveta de baixo. Eu a olhei ofegante. Era sempre assim. Falar desse amor me deixava tão desconcertada! Enfim conseguimos arrumar tudo e com a ajuda de dois seguranças, logo tudo estava lá embaixo esperando o carro que Romeu mandou
Depois de um tempo, subimos as três para o meu então novo quarto. Ele ficava no final do corredor, ao lado do quarto do Arthur. O estilo era bem conservador. O papel de parede tinha estampa em flores minúsculas nos tons de bege. A cama grande, em madeira talhada, meu Deus, um sonho! Sabe aquela cama que você vê e quer logo se deitar? Eu olhei para as criadas e sorri. Elas capricharam nas roupas de cama. — Acho que vou dormir muito bem aqui!— Eu disse testando a maciez do colchão. Elas sorriram satisfeitas e foram logo abrir as portas dos armários antigos. Eles eram perfeitos! Cabia muita coisa! Eu trazia muitas roupas, sapatos, jóias, bolsas, muitos cosméticos, um mundo de coisas, mas ali iria se perder! Enquanto as criadas arrumavam minhas coisas no armário, eu fui ao banheiro que por sinal, era muito grande! A bancada parecia um camarim! Tinha umas luzes, umas luminárias na verdade, num estilo mais antigo, mas tudo muito fino! O chuveiro era enorme, maravilhoso! E a ba
Eu saí andando e ele ficou parado, olhando entre as minhas pernas. Arthur chegou por trás dele. — O que houve, pai? Vocês discutiram? Por favor, não comece! Romeu se justificou, sem jeito. — Eu apenas expressei a minha opinião quanto ao seu vestido, eu o acho curto! Arthur olhou para mim, que já quase alcançava os degraus e concluiu: — A mim, parece perfeitamente normal! Ela ficou muito bem nele! Romeu ficou pensativo, me observando. — Eu nunca a deixei usá-lo! Ela o vestiu de propósito para me contrariar! Arthur achou graça. — Deixa de ser machista, senhor Romeu Martins! As mulheres que nos abordam nas reuniões usam vestidos bem mais curtos, e eu garanto que lhe agradam! — Por isso mesmo! Elas são livres, não são casadas, muito menos minhas esposas! Arthur tocou no ombro do pai e o ultrapassou no corredor. — Vamos nos apressar, pai! Juliette tem o direito de usar a roupa que quiser, sendo sua esposa ou não!
Romeu foi até o bar e se serviu de mais uma dose de whisky. Ele não interagia muito na conversa, apenas ficava me olhando intensamente, insistentemente, até eu me sentir sem jeito. Arthur estava tão feliz por estar comigo conversando sem que o pai se sentisse traído e também estava em paz por ter voltado para casa. Ele dizia que era maravilhoso morar de frente para o mar, mas estava claro que se sentiu sozinho no seu apartamento. Num dado momento, eu comecei a bocejar. Os últimos acontecimentos me deixaram exausta. Arthur se prontificou a me acompanhar até o quarto, e Romeu foi até o bar, ele ficou de lá nos acompanhando com o olhar, enquanto subíamos as escadas. Ao chegar na porta do meu quarto, no fim do corredor, Arthur parou. Ele fez um gesto cavalheiro com a mão, me dando passagem. — Fique em paz, Juliette. Estarei sempre aqui no que você precisar, está bem? É só me chamar, e eu virei correndo, garanto-lhe! Eu lhe agradeci com um sorri