Os dias que se seguiram foram tristes. O próprio Romeu estava estranho, sentia um vazio por não voltar para casa com o filho depois do trabalho. Eu percebia meu ventre mais saliente a cada dia. Romeu chegou a dizer que eu estava engordando, depois de fazermos amor, certo dia. Eu comentei com as criadas, com quem eu conversava o dia inteiro. — Ele ainda não percebeu porque além da patroa ser muito magrinha, é sua primeira gestação — Antônia comentou. Eu passei a mão no meu ventre nervosamente. — Eu devo estar com quatro meses! Estou apavorada, tem roupas que já não entram mais! Januária olhou atentamente para mim e questionou: — Sabia que a senhora não parece estar grávida? Devia ir ao médico, é estranho essa menstruação não vir! — Acha que eu posso estar doente?— Eu fiquei preocupada. Antônia pressionou as mãos, ansiosa. — O que você acha, Antônia?— eu a intimei. Ela, ao invés de me responder, olhou para Januária que se precip
— Mas a Juliette não me ama, tio! Pelo contrário, eu tive que tirar o meu filho de casa, antes que eles se envolvessem! O homem assentiu tranquilamente. — Estou sabendo, o seu filho me contou! — Contou! Como? Ele foi na sua casa fazer queixa de mim? — Eu sou a referência de avô que ele conhece! Devia imaginar que isso iria acontecer! Eu vim aqui outras vezes, mas você não estava. Romeu ficou cabisbaixo. — Eu estava tentando dar o herdeiro que ela tanto quer. Acho até que ela já conseguiu, por isso não está mais me querendo! Eduardo Martins olhou para o sobrinho e riu achando graça. — Quem olha do jeito que eu a vi te olhar naquele casamento, não pode estar querendo só isso! Romeu ergueu os olhos para olhar para o tio. — Mas é isso tio! Foi assim com a Salete e parece que será com ela também. — Não faça comparações, meu sobrinho. Deixe a moça se mostrar! Romeu suspirou entristecido. — Ao menos eu descobri que sempre fui o homem por quem a Salete suspirava.
Depois do desjejum, saímos eu e Januária, acompanhadas por três seguranças. Entramos numa clínica particular, num bairro nobre do Rio de Janeiro. Entramos juntas no consultório médico. — Vou examiná-la rapidamente, senhora— O médico disse levantando-se. Eu fui orientada a vestir um jaleco branco atrás de um biombo. Januária acompanhava tudo, como se fosse minha mãe. Eu deitei na maca e o médico me examinou. — E aí doutor?— Januária estava muito ansiosa. O homem sorriu simpático e respondeu tranquilamente: — Ao que tudo indica, ela está grávida de pouco mais de quatro meses. Suas contas batem, mas vamos pedir um ultrassom para saber de quantas semanas exatamente está. — Mas o senhor já tem certeza da gravidez, doutor? O homem olhou para Januária e sorriu simpático. — Pode comemorar, senhora, sua filha está grávida! Januária franziu a testa, apavorada e me olhou preocupada. — Vai dar tudo certo, querida— ela dis
Chegamos em casa e eu subi para o meu quarto, mesmo com Januária insistindo para conversar. Eu parei no meio da escada, falando nervosa: — Eu sei que vocês querem me ajudar, mas eu tenho que falar tudo para o Romeu hoje, não dá mais para protelar! — Mas patroinha, ele vai lhe devolver para o seu pai!— Antônia choramingou. — Eu sei disso!— eu retruquei já me virando. As duas subiram as escadas e foram atrás de mim no meu quarto. Elas invadiram, falando ao mesmo tempo! — Parem, pelo amor de Deus! Vocês não percebem que eu não tenho saída? Eu procurei esse caminho, eu podia não ter me casado! Eu apenas adiei o castigo do meu pai! Antônia já deixava as lágrimas escorrerem pelo seu rosto — Patroinha, por favor, a senhora está se punindo! Quando veio para cá, não sabia que o mesmo havia acontecido com a falecida e que o doutor Romeu iria desconfiar. Ela fez isso e deu certo! Por favor, espere mais um pouco! Eu meneei a cabeça impaciente. Januária veio na
Meu pai sorriu nervoso e começou a falar sem parar: — Então me chamou até aqui para dizer que eu vou ser avô? Conseguiu realmente me enganar. Eu acreditei que estava tendo problemas com a minha filha! — Acontece que esse filho não é meu! Meu pai paralisou boquiaberto, depois se alterou. — O quê! Como pode duvidar da minha filha? Juliette foi bem criada, Romeu! Meu marido tinha o olhar frio e a voz pesada. — Como pode julgar a Salete, quando tinha esse exemplo em casa? — Eu conheço a filha que tenho! — meu pai gritou. — Ela me falou, Jaime! Saiu da boca dela que o filho é de outro! Não entendeu ainda? Sua filha se casou comigo estando já grávida! — Está blefando, Romeu!— a voz do meu pai tremia. Romeu encarou meu pai com os olhos cheios de ódio. — Vocês me enganaram! Me fizeram de idiota! Vou devolvê-la amanhã mesmo! Meu pai se desesperou. — Não! Não pode fazer isso, Romeu! Eu juro que não sabia de nada, eu não o teria deixado se casar! Pelo amor de Deus, nã
Depois que arrumamos tudo, inclusive meus cosméticos do banheiro, descemos as três com algumas bolsas pequenas nas mãos. Januária pediu aos seguranças para descer minhas malas. As criadas me acompanharam até o jardim. Eu entrei no carro depois de abraçá-las emocionada. Foi muito triste a minha partida. Foram pouco mais de três meses morando ali e eu já me sentia de fato bem acolhida. Eu não queria voltar para casa. Dois seguranças me acompanharam no carro preto, blindado que me levou até a mansão dos Fontes. Minha mãe já me esperava no jardim. Ela me abraçou tão forte, tão desesperada! — Minha filha! — Ela estava muito emocionada. — Me desculpe, mãe. Eu sei que esperou por anos que eu fizesse esse casamento e eu estraguei tudo! Ela sorriu com tristeza e colocou a mão no meu ventre. — Como está o meu neto? Eu vou te ajudar a cuidar dele! Ela conseguiu me fazer relaxar um pouco. — Onde está o meu pai?— eu quis saber, esticando o pe
Romeu levantou-se da mesa, alterado também. — Ela quis, eu não a obriguei! Pare de me tratar como se eu tivesse sido injusto com ela! Eu fui enganado e humilhado outra vez! Arthur se calou. Ele sabia que o pai agora se referia a sua falecida mãe. — Até quando vou deixar que me façam de idiota? Chega de ser cego, Arthur! — Eu lhe perdoaria — Arthur disse isso e virou-se na direção da porta. — Arthur!— Romeu o chamou. Ele virou-se lentamente. — Volte para casa, filho. Arthur encheu o pulmão de ar. — Nem pensar. Estou muito bem no meu apartamento. Posso ver o mar todos os dias quando chego em casa. Romeu ficou desolado. A voz parecia cansada. — O que quer que eu faça para me perdoar? Nunca devia tê-lo mandado embora de casa. Eu fiz tudo errado! Arthur voltou-se e caminhou até a mesa do pai. — Perdoe a Juliette. Romeu ergueu os olhos surpresos. — Não pode me pedir isso! — Perdoe ela, pai! Não a deixe nas mãos do dou
Meu pai se assustou. — Está bem. Vou levá-la numa clínica de confiança! Agora me deixe sozinho e vá preparar a sua filha! Depois que a minha mãe saiu, meu pai fez um telefonema para um amigo, dono de uma clínica, e lhe contou o que aconteceu. — Espancou a sua filha, Jaime! — Uma discussão normal de pai e filha! Foi só um tapa no rosto, ela mereceu! O homem suspirou do outro lado da linha. — Está bem. Vou mandar suspender o atendinənento ao públicos agora de manhã, mas saiba que isso vai lhe custar caro! Caro era uma palavra que o meu pai conhecia bem. E foi assim, fomos a tal clínica. Entramos pelo acesso de funcionários, discretamente. Eu tinha todos os especialistas à minha disposição e fui muito bem atendida. Fui levada direto à sala de ultrassonografia. Minha mãe e Lourença entraram junto comigo. — Nossa, esse garoto está grandão!— o médico disse simpático. — Ele está vivo, doutor?— eu quis saber, emocionada. O