— Três meses, apenas! — O quê!— fiquei chocada. Antônia deu de ombros. — Ela andava doente, e já dormiam em quartos separados há muito tempo. Casamento falido! Eu terminei de tomar o meu chá e subi as escadas. Romeu estava na sacada do quarto, pensativo. Eu fui até lá. — Não devíamos ter viajado em lua de mel, como todos que se casam?— Comentei sem qualquer pretensão. Ele virou-se para mim, sério. — Nosso casamento é apenas uma conveniência, não faz sentido. Nem eu e nem você queria estar nesse relacionamento! Eu suspirei e me sentei ao seu lado. — Eu sei, tudo pelos negócios! Romeu puxou uma cadeira e sentou-se mais próximo de mim.. — Você não se importa com isso? — Não, nem um pouco— Eu menti. — Não vai implicar com as minhas saídas noturnas, vai? Eu suspirei entristecida. — Não, claro que não. Abri mão da minha vida para estar aqui, perpetuando a descendência dos Martins e Fontes, M & F! Romeu me olhou, enquant
Januária se recolheu, deixando Arthur pensativo. Antônia ficou agitada e foi atrás da colega. — Está deixando o rapaz confuso, Januária! Parece até que ele não conhece a mãe!— ela chegou falando na cozinha. Januária foi lavar a louça que havia na pia. — Ele não conhece mesmo, saiu daqui pequeno para estudar fora! — Mas ele chegou a ver o pai nessa sem vergonhice, amiga! — Ele só fez o que ela permitia! Já disse, ela mandava no jogo! Antônia ficou surpresa. Januária virou-se para falar: — A história se repete, Antônia, essa aí vai mandar também! Antônia ficou mais confusa. — Mas a patroa não pediu para você proteger o lugar dela? Januária suspirou resignada. — Eu vejo a patroa nela, amiga, é tudo igual! Antônia franziu a testa. — Está falando até da…— Ela colocou a mão no ventre e parou de falar. — Exatamente! Eu sinto que já está acontecendo!— Januária tinha o olhar perdido. Antônia cobriu a boca com a mão assustada.
Um acordo İnsano entre o meu pai e seu sócio, iria decidir o meu destino. Eu teria que me casar com o único herdeiro do império deles, além de mim, claro! Eu me lembrava pouco desse garoto, que podia ter seus sete anos e eu cinco. Ele sempre foi mimado e chato, e eu também devia ser. Éramos filhos únicos de dois sócios do ramo de joias no Brasil. Esse negócio se estendia até os Estados Unidos, pois tinha um escritório lá, onde o doutor Romeu, era assim que minha mãe se referia a ele, ia muitas vezes. Eu brincava, à beira da piscina ouvindo a mesma conversa de sempre. — Casando Juliette com o filho do doutor Romeu, nossos negócios estarão seguros!— o meu pai me olhava, como se esperasse que eu crescesse muito rápido para seguir com o seu plano insano. Minha mãe, percebendo a minha presença, Inclinou-se para sussurrar: — Jaime, você não devia esperar para saber se os dois vão se gostar? Eles se viram, já faz um tempo! O garoto foi estudar nos Estados Unidos e… Meu pai alterou
Eu tentei poupar a minha mãe e não falei mais daquele assunto com ela durante quatro anos. O que eu sabia era que o meu pai também casou com ela para unir as empresas que eram dos pais deles. Os pioneiros faleceram e a união dos dois deu certo, como se eles fossem donos do mundo! Quando a família do doutor Romeu despontou nos negócios, eles se uniram no mesmo propósito, seriam donos de um império que iria se propagar com a linhagem dos filhos. O ramo de joias proporciona muita riqueza e eles não queriam dividir com mais ninguém. Depois que nasceu o menino, minha mãe ficou grávida só um ano depois e tinha obrigação de ter uma menina. O meu pai chegou a dizer para ela que se não tivesse competência para ter uma menina, que não tivesse aquela criança. Minha mãe respirou aliviada ao saber que cumpriu com a sua parte naquele acordo sujo! Eu me tornei uma adolescente normal, espevitada, alegre, mas só na escola. Em casa, eu era sonsa! Bem bobinha mesmo! Meu pai relaxou. Eu andava só com
No dia seguinte, coloquei meu plano em prática. É, eu tinha um também! Desci as escadas feliz e cantarolando. Meu pai estava tomando o seu desjejum e até largou a xícara sobre o pires, surpreso. Ele me olhou sorrindo. — Bom dia, filha! Diante do olhar satisfeito do meu pai, eu surpreendi: — Bom dia, pai, eu estava pensando, por que eu não posso me casar com o filho do seu sócio já? Por que eu tenho que esperar dois anos? Eu sabia que meu pai só iria autorizar o meu casamento depois que eu fizesse dezoito anos, isso estava no acordo com o doutor Romeu. Ele ajeitou o seu guardanapo, expressando satisfação. — Fico feliz que esteja ansiosa, filha, mas teremos mesmo que esperar dois anos. O seu futuro marido está estudando fora, Romeu não gosta muito de mudanças, ele é rígido com essas coisas! Eu fiquei pensativa. Esse Doutor Romeu devia ser tão mulherengo quanto o meu pai. Também devia ter casado contra a vontade. Lourença servia a mesa e me olhava desconfiada. Ela
Minha mãe saiu com os olhos lacrimejando, e o diretor veio em seguida atrás falando: — Desculpe-me, Marlene, eu preferi falar com você, porque me pediu para não chamar o seu marido, mas isso pode ficar sem controle! Eu senti um ar de intimidade entre eles. Minha mãe devia estar sempre lá me monitorando através dele. Coisas piores estavam por vir. Levei um sermão da minha mãe, mas na mesma semana Tina teve outra ideia mais insana. Ela sempre teve, mas eu nunca compactuava com as suas loucuras. A coisa desandou mesmo depois da última conversa que tive com o meu pai. Eu estava numa revolta só! Tina descobriu uma parte do muro da escola que podíamos pular. Claro que Nina, por ser mais fortinha demorou para ter coragem. Todas nós do outro lado a esperando, e ela quase chorando. — Me esperem, eu vou tentar novamente, por favor me esperem!— ela suplicava. Eu estava impaciente. Os seguranças da escola iriam acabar por nos encontrar. — Vai logo, Nina!— eu quase gritei impaciente.
Tina suspirou longamente e me abraçou. Beijar e em seguida sentir remorso, já fazia parte da minha rotina. Foram tantas festas na casa da Tina! O ano acabou, nos formamos e o meu pai não falou mais de casamento. Eu nem comemorei quando fiz dezoito anos! Tina teve uma ideia audaciosa, que mudaria o meu destino para sempre. Ela estava no meu quarto, junto com Emília e Nina. Depois de terminado o ano letivo, ficamos só nós quatro, um grupo menor. — Um baile! Ficou louca?— eu achei um absurdo. — Um baile de máscara, amiga! Todos da escola vão participar, eu acho, mas vai ter muita gente bonita lá! Vamos rever todo mundo! Depois da formatura, o povo sumiu, vai ser um estouro rever todos aqueles gatos novamente! Eu olhei para as outras e vi um brilho nos olhos delas. — Como eu vou fazer para sair à noite daqui? — Torce para o seu pai sair também. Ele ainda dá as escapulidas dele, não dá? — Tina estava sempre atenta. Eu assenti a
Eu respirava ofegante durante o sermão do padre, até que ficamos de frente um para o outro e veio o sim. Eu respondi emocionada, mas não sabia o que significava o brilho nos olhos dele quando chegou a sua vez. — Pode beijar a noiva!— O padre disse simpático. Romeu segurava as minhas mãos e eu sentia uma inquietação nele. — Claro!— ele disse formalmente. Eu lhe sorri e fechei os olhos, esperando sentir os seus lábios. Ele veio com um leve toque. Eu entreabri os meus lábios sutilmente, a fim de sentir o gosto do beijo dele, mas ele se afastou logo. Eu fiquei sem jeito. Os olhos dele eram penetrantes, de um azul não muito claro. A pele também não era muito alva, por isso parecia mais belo. Meu Deus, que homem lindo era aquele? Os cabelos bem penteados para trás, alguns fios caiam pelo seu rosto quando ele se movimentava. E o padre nos deu a sentença: — Eu vos declaro, marido e mulher! Aquela frase ecoou por alguns segundos e