A pequena ilha, embora afastada de tudo, ainda pertencia a Noriah. O tal hotel não era o que eu esperava. Era simplesmente muito melhor. Pequenos bangalôs, distantes uns dos outros, eram o que o lugar oferecia. O serviço prestado aos hóspedes era 24 horas e todas as refeições eram servidas no bangalô.Retirei meu sapato assim que fomos encaminhados ao lugar onde ficaríamos nos próximos dois dias. Sentir a areia quente e fina sob meus pés era simplesmente maravilhoso.Subimos a pequena escada de madeira gasta pelo tempo e maresia, com cinco degraus e nos deparamos com a varanda perfeita. A área frontal do bangalô era de vidro, com vista para o mar. E dali não se via os demais bangalôs, tampouco hóspedes.- Cada bangalô tem sua área privada de praia. Então não encontrarão ninguém por aqui... A não ser que queiram. – avisou o homem que nos atendeu.- Este lugar é lindo. – falei, sentindo a brisa morna e com cheiro de maresia invadir minhas narinas.- Querem que eu mostre o restante do lo
Esperei tanto por este doador que parecia que era mentira. Aimê continuava no castelo de Alpemburg, esperando. Foi o que os médicos mandaram: aguardar.O pontencial doador ou doadora compatível já havia passado por uma avaliação clínica e laboratorial. Estava bem de saúde e faria novos testes de compatibilidade. Esta parte burocrática poderia durar até 60 dias, possivelmente podendo ocorrer antes, se tudo desse certo.Estava deitada na minha cama, depois de tanto tempo dormindo num flat em frente ao hospital, que Estevan e eu chamávamos de casa provisória, pois sabíamos que não seria para sempre. Eu nunca duvidei que um dia Aimê conseguiria sair daquela situação e venceria a doença maldita que se apossou dela e da nossa família.Antes de sabermos que havia um doador compatível, depois de tanto tempo de espera, Katrina nos contou, um dia antes do casamento de Alexia, que ela havia sido abusada por Alexander, em todo um jogo sórdido que ele armou como vingança contra mim. Sim, meu mundo
Despertei sentindo o peso da perna de Andrew e seu braço por cima de mim. Sim, ele dormiu me segurando, me protegendo. A claridade do sol já entrava pelo quarto e eu não tinha a mínima vontade de sair dali, de junto dele. Sentia sua respiração no meu pescoço e seu corpo quente no meu.E pensar que no dia seguinte deixaríamos aquele paraíso para voltar a Alpemburg e levar nossas vidas mais uma vez afastados. Ele voltaria para o GP e eu para minhas funções enquanto rainha. Certamente nos veríamos mais porque Alpemburg não era tão distante quanto Avalon. Ainda assim, eu sentiria falta dele.- Eu amo você, meu Lobo Mau. – me ouvi dizendo em voz alta enquanto colocava minha mão sobre o braço dele, delicadamente, sem ver seu rosto, ainda de costas.- Amo você, Chapeuzinho.Virei para ele e comecei a rir:- Você não dorme?- Não ao seu lado...- Como vai ser este casamento, então?- Não sei... Talvez um dia eu enjoe de ver você dormindo ou sentí-la junto de mim.- Não quero que enjoe de mim.
Assim que os empregados pegaram nossas malas, eu e Andrew subimos as escadas do castelo de Alpemburg. Ocuparíamos o que agora seria “nosso” quarto. Haviam sido dois dias perfeitos. Pena que acabaram. Mas o bom é que nada era eterno: nem as coisas ruins podiam ser.Subimos as escadas abraçados. Era como se não fôssemos nos separar, nunca mais.A empregada nos levou ao quarto que passaríamos a ocupar. E eu sequer havia escolhido. Certamente minha mãe havia tomado conta de tudo. Ou não... Pois ela estava subindo com meu pai trazendo na mão uma pequena mala de viagem, que costumava levar quando fazia voos rápidos.Nos encontramos todos na porta do meu quarto. E olhar para meus pais, sabendo que eles estavam a par de tudo que tinha acontecido comigo e Alexander me dava muita vergonha.- Como foram de viagem? – meu pai perguntou, tentando parecer normal.Mas eu conseguia sentir a tensão na voz dele.- O que houve? – perguntei.- Precisamos conversar... Agora. – disse minha mãe decidida.- O
Naquela manhã despertei nos braços de Andrew, como costumava acontecer todos os dias. Dentre todas as coisas perfeitas do nosso casamento, dormir agarrada a ele e acordar da mesma forma era o que eu mais gostava.Retirei o braço dele de cima de mim e espreguicei-me demoradamente. Fui até a janela e a abri. Estava chovendo. Chuva fina, mas persistente. E eu precisava me preparar para mais um dia como rainha de Alpemburg. Eu não podia mentir para mim mesma que eu não estava gostando daquela situação de ser rainha, porque eu estava. Ainda assim, eu contava os dias para ser uma pessoa normal novamente, se é que algum dia fui, nascendo uma D’Auvergne Bretonne.O que eu mais sentia falta era de tempo. Tempo para mim, para Andrew, para pilotar, principalmente. Fazia muito tempo que eu não entrava num carro e corria em alta velocidade. E isso ainda estava na lista das coisas que eu mais amava na minha vida. Fazer amor com Andrew estava em primeiro lugar.Senti os braços dele me envolvendo por
- Pai, você precisa ajudá-lo a fugir... – falei.Os dois entraram no quarto e meu pai trancou a porta com a chave.- Alexia, o que houve... Você está... – minha mãe começou a limpar o sangue do meu rosto com sua mão.Os levei até o banheiro. Andrew permanecia no chão, sentado, com as costas escoradas na parede.- Ele precisa fugir... Ele precisa fugir... – eu comecei a andar de um lado para o outro.- Andrew, o que você fez? – meu pai perguntou.- Eu matei ele... Me perdoe, Estevan... Eu o matei. – ele disse em desespero.- E... Aimê? – minha mãe sentou-se no chão, completamente desnorteada, com as mãos trêmulas.- Andy, levante-se daí agora e fuja... Eu não posso ficar sem você, entendeu?Ele me olhou, ainda parecendo em choque. Fui até ele e peguei suas mãos, fazendo-o levantar-se.- Você não vai me deixar novamente, entendeu? Nós vamos ter um filho... Eu vou esconder você.- Alexia, você está louca? Vou chamar um advogado. – meu pai falou.- Não vou aceitar que o prendam pela morte
Fiquei algumas horas sem Andrew. Antes da noite ele foi liberado, aguardando Alexander ter condições de depor. Alegavam que ele havia retirado Alexander do Hospital de Avalon sem permissão dos médicos bem como do próprio Alexander. Como Andrew fez isso: ninguém soube, nem mesmo nós. Levando em conta que ele subornou os guardas na sua primeira estada em Alpemburg para entrar no meu quarto durante a noite, tudo era possível. Olhando as imagens das câmeras, Alexander era só uma vítima. Um porbre coitado retirado de seu leito hospitalar, agredido por “entrar no castelo de Avalon sem permissão”. O que ninguém sabia era tudo que Alexander havia feito. E que ele já estava recuperado, certamente aguardando qualquer deslize para se sair bem novamente. Estava curado do tiro e fingindo estar pior do que realmente era seu estado com os socos de Andrew. Um abusador agressivo, que gostava de violar mulheres indefesas, com um canivete dentro de um hospital enquanto se recuperava de um tiro. E por i
- Estou chamando os advogados. – minha mãe pegou o celular.- Não podem levar meu marido. Como assim o acusam da morte de Alexander? Acabamos de saber que ele escapou, não que estava morto.- Recebemos uma ligação do próprio Alexander, dizendo que estava fugindo de Andrew Chevalier, que o perseguia. Encontramos muito sangue no local, de Alexander Perez. E havia sangue de Andrew Chevalier também.- E o corpo? – terminei.- Não... O corpo não estava no local. Mas a equipe já está investigando tudo neste momento. Não há como ele estar vivo com tudo de sangue que perdeu.- Droga, vocês não podem acusar Andy só por causa disto.- Seu marido tentou matar Alexander Perez algumas semanas atrás, Majestade. Também já havia agredido ele no aeroporto, meses atrás.Ele irá prestar depoimento e depois veremos se será liberado ou não, na delegacia. Como eu disse, havia sangue de Andrew Chevalier com o de Alexander Perez.- Se não há corpo... Não há morto. – falei, confusa. – Andrew, você tem algum co