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ZOE MONDEGO

Sempre encontrei no sexo uma grande virtude consoladora, e nada adoça mais as minhas aflições vindas dos meus problemas do que sentir que uma pessoa amável se interessar por ele.

— Jean-Jacques Rousseau

Estacionei o carro à frente da porta da pequena e bela casa da minha melhor amiga  Louise Davis — que já me esperava na entrada principal com um sorriso zombador, não fiz nem questão de reclamar e adentrei a casa, sentando no seu pequeno sofá cor-de-rosa.

— Eu quero que você mande uma carta para o vice-presidente, dizendo para ele analisar melhor o meu caso, e junto a carta, você mandará um convite de jantar para ele e sua esposa, e também para o restante do pessoal da mesa de congresso para eu apresentar o meu noivo — eu disse e ele pareceu ficar cada vez mais incrédulo.

Mas o que importa ?

— Você realmente não está pedindo algo fácil, Zoey, e de qualquer forma, eu espero não perder o meu tempo e principalmente não estar desperdiçando o tempo do vice-presidente — ele revidou abanando lentamente a cabeça, e depois ponderou um pouco antes de eu responder.

— Dê-me apenas um voto de confiança, Hugo, por favor. — Implorei.

— Você tem 360 horas para arranjar um noivo, Zoe. — e encerrou a ligação.

Eu sinto como se o mundo estivesse prestes a desmoronar a minha frente e eu sou incapaz de fazer alguma coisa para o erguer, e só o fato de ter que lidar com a minha promoção e também o bendito casamento de Kristen, tudo isso me garante que se eu não tomar uma solução para enfrentar tudo isso, tudo que construí quando fugi de Pittsburgh, ruirá, e eu definitivamente não posso permitir isso.

De maneira alguma.

Louise entrega-me uma chávena de chá e senta ao meu lado, pousando assim ao seu lado um copo de café e o computador em seu colo.

— Nunca imaginei que a correta Srta. Mondego fosse tomar uma decisão tão..., qual é a palavra certa para isso? Catastrófica! Tão catastrófica quanto essa. — ela disse rindo e eu me sentei para a fitar furiosamente.

— Me polpa, Louise, de piadas e julgamento já basta a minha própria consciência, está bem? — ralhei mas ela apenas fez um sinal com a mão para que eu me acalmasse.

Ela digitou alguma coisa durante alguns minutos, cujo não procurei dar muita atenção, mas passado alguns minutos, ela me fitou com os olhos brilhantes..

Eu posso não ser a melhor a ter ideias mas definitivamente Louise é bem pior, e o seu olhar azulado carrega uma malícia que às vezes me assusta.

— Eu tenho uma solução, mas antes preciso saber o que pretendes fazer — perguntou para depois beber o líquido escuro e voltar a pousar o copo na mesa de centro.

Suspirei, também bebi da minha bebida e me permiti relaxar um pouco mais enquanto fechava os olhos, esperando alguma ideia surgir da minha cabeça.

— Eu não faço a menor ideia — lamentei, mas ela continuou a insistir.

— Se calhar podes pedir alguém para te ajudar, um amigo, talvez, alguém de confiança e que o pessoal da empresa não conheça, eu até me oferecia mas você sabe, eu gosto mais de homens — disse com um sorrisinho e jogou o cabelo para trás. — Entretanto até é uma boa ideia, depois de saíres com o coração quebrado, já não que confias nos homens e...

— Não! — soltei uma sonora gargalhada e me sentei em seguida ereta no sofá. — De qualquer forma não me apetece envolver ninguém que eu conheça, que por diante, ainda terei que apresentar alguém como meu acompanhante no casamento da Kristen — suspirei de novo e fechei os olhos.

— Então só tens uma única saída, e eu, Louise Davis, tenho uma ótima ideia — disse ela, abri os olhos e ela virou o computador em minha direção.

O ecrã evidenciava o site bem explícito e com letras elegantes.

— Eu não vou contratar um acompanhante de luxo, Louise! — reclamei. — Essa é a pior ideia que você alguma vez já teve — debochei e ela revirou os olhos.

— Tens alguma melhor, senhorita? — quando tentei rebater ela me interrompeu. — Vamos ser bem realistas, não tens muitas opções, aliás, não tens nenhuma opção, o teu emprego está em jogo, você realmente acha que eu estaria te fazendo uma proposta dessas se não tivesse convicta de que funcionaria?

Às vezes me pergunto o quanto Louise pode ser determinada.

— Pelo amor de Deus, você conhece o meu pai e o Hugo, você tem mesmo a certeza de que eles irão acreditar que um prostituto é meu noivo?

Voltou a revirar os olhos.

— Zoe, acompanhantes de luxo não são prostitutos, pelo que percebi, eles são contratados justamente para ser o enfeite da árvore de natal — sorriu como se estivesse dizendo uma coisa que realmente faz sentido e voltou a digitar. — Mas se tiveres alguma sugestão melhor, sou toda ouvidos, e posso sempre te arranjar uma vaga na floricultura.

— Tudo bem, tudo bem, credo, ao menos posso lhe avaliar antes de colocar o pé na cova, certo? Preciso de um cara capaz de conseguir se integrar na classe social alta que é a minha família e principalmente entre os homens da mesa do congresso — pousei a chávena também na mesa de centro e tomei o computador de seu colo.

Passei nas configurações e marquei o contacto telefónico do site no meu celular, ignorando o FAQ.

— Espero que sejam realmente bons, Louise, ou juro que bato em você — eu disse olhando para ela, que apenas deu de ombros com aquele sorrisinho de criança prestes a fazer alguma traquinagem.

— Coloca em alta-voz, quero ouvir tudinho — disse ela, ignorando completamente a minha ameaça.

— Boa noite, Moulin Lounge, o que deseja? — a voz feminina suave da atendente ecoou na linha.

Demorei alguns instantes para retomar do choque, e só respondi quando minha amiga deu uma cutucada em meu ombro.

— Boa noite, pretendo contratar um acompanhante de luxo — eu respondi no automático.

— Temos alguns pacotes que pode acessar no nosso site — Louise acedeu a aba que deu acesso aos benditos pacotes. — Qual é o sexo do parceiro? Tem alguma preferência? Os dados da senhora também se fazem necessários.

— Zoe Mondego, tenho 26 anos e pretendo um parceiro masculino— Olhei para Louis como se estivesse a questionando e ela sussurrou um "loiro" bem devagar.

Havia quatro categorias de pacotes, mas o premium chamou-me a atenção pelo fato de conter viagens e alguns outros fornecimentos pagos pela própria empresa, o que custaria menos para o meu bolso, ou não, neh, já que custa quase ou bem mais do que aquilo que eu pagaria.

— Pode ser loiro, branco, sei lá, o que vocês acharem melhor, o pacote que eu pretendo adquirir é o premium, mas gostaria de fazer uma entrevista com o indivíduo antes de efetuar o pagamento, é possível?

— É possível sim, nossa empresa só quer a satisfação dos nossos clientes, entretanto, o local será determinado pela Moulin Lounge em um local perto da sua escolha, para a proteção dos nossos acompanhantes — respirei de alívio. — Se não gostar da aparência ou personalidade do nosso acompanhante, poderá nos contactar para a escolha de outro.

— Fico feliz pela vossa eficiência.

 Número de celular ou e-mail, dia do encontro?

— Segunda-feira da próxima semana, quanto mais cedo melhor — volto a olhar para Louise que se levantou com as louças para as colocar de novo na cozinha.

— Obrigada pela preferência, a contactaremos brevemente, tenha uma boa noite — e desligou por fim.

Suspirei de novo e Louise riu bastante quando retornou do outro cômodo.

— É sério? "Pode ser loiro, branco, sei lá, o que vocês acham melhor"? Isso é o que dá ficar reclusa no trabalho e não sair para transar, você nem sequer tem um tipo, uma preferência — continuou rindo.

— Louise, por favor, cala a boca — me joguei na cadeira e ouvi a sua gargalhada aumentar cada vez mais, como se já não parecesse impossível.

— Não podes dizer que não fui boa amiga, querida Zoe, e se tudo der certo e você for promovida, vou querer um jantar com direito a um vinho caro — afirmou convicta e voltou a sentar ao meu lado, pegando de novo em seu computador.

— Vamos começar por eu não ser despedida, mas se tudo der certo e eu for promovida, além de um jantar com um direito a um vinho caro, dar-te-ei uma viagem com tudo pago a França — rebati com uma proposta melhor e Louise colocou uma das mãos no peito.

— Oh, querida Zoe, você me faz tão feliz, mas estou ansiosa para ver a cara de indignada de Kristen, eu realmente desejo que aquela puta se arraste aos teus pés.

— Um tanto sádico, não achas? - eu repliquei rindo da desbocada.

— Nada o suficiente para o que ela merece, por que você vai afinal ao casamento? Eu ao menos não iria, inclusive, acho de muito mal gosto os teus pais enviarem um convite para ti, depois de tudo.

— Mal gosto é o nome deles do meio, enfim, não sei, mas eu irei, talvez assim eu prove para eles de uma vez por todas que apesar de terem me abandonado naquele momento, eu me reergui, e no fundo eu sinto saudades dos meus pais, pena que não seja recíproco.

— Queres que eu abra uma garrafa de vinho?

— E é exatamente por isso que você é a minha pessoa preferida

— Eu sempre soube.

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