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O CASTELO DO DUQUE

Duque? Dorothy ficou atônita, não se tratava de um velho babão, era Vincent o duque. Mais uma bola fora para sua coleção.

  Em poucos segundos apareceram uns dez criados em volta do cavalo, um rapazinho a ajudou a descer do cavalo, outro ajudou Vincent.

― Quero apresentar a senhorita Denzel, Dorothy Denzel, ela salvou minha vida e agora é minha convidada e protegida no castelo, senhora Carter providencie um banho quente e comida para minha convidada.

― Sim vossa alteza, fico feliz que retornou com vida.

― Obrigada Sra. Carter, vamos preciso ir para meus aposentos, perdi muito sangue.

Os minutos que vieram foram de total correria entre a criadagem: um levou o cavalo para o estábulo, a senhora Carter que era a governanta organizou as tarefas entre os demais, ela era uma senhora robusta que devia ter por volta de 1,60 e uns sessenta anos mais ou menos, parecia se tratar de uma mulher muito bondosa.

― Venha querida, parece estar exausta. Vou providenciar o café da manhã e umas roupas adequadas. Violet e Christine, acompanhem a senhorita Denzel.

― Eu vou cuidar do duque senhora Carter, ordene outra criada a acompanhar Christine. ― disse Violet.

Todos foram gentis com a forasteira desde que ela chegou, menos Violet que não demonstrou nenhuma simpatia. Se tratava de uma moça de olhos azuis e cabelos castanhos claros, era muito bonita.

Christine era magra e de cabelos lisos, não era tão nova igual a Violet, mas era muito simpática e amável, pareceu ter se simpatizado com Dorothy desde o começo.

― Venha, vamos tirar sua roupa, a água já está boa. ―  disse Christine apontando com o dedo para indicar o local do banho.

Começaram a despi-la, Dorothy sentiu-se estranha devido a situação, a conduziram até uma tina de madeira, foi maravilhosa a sensação de estar submersa naquela água quentinha com seu corpo todo gélido e dolorido, estava desfrutando daquele banho quando elas começaram a esfregá-la.

― Pode deixar, eu me lavo sozinha.

Christine respondeu:

― Fazemos questão senhorita. É nosso serviço.

Estava muito cansada para discutir, então se entregou aquele banho e aos cuidados das criadas. Senhora Carter entrou no quarto e disse:

― Achei um vestido que vai servir na senhorita.

Violet argumentou:

― Mas esse vestido, o duque não vai gostar nada, ele só nos permite lavar e guardar novamente, o senhor vai ficar furioso quando ver essa...

― Basta, são ordens do duque! - disse a senhora Carter, tentando pôr fim nos argumentos de Violet.

― Mas como? Ele jamais concordaria com isso, são os ferimentos... ― insistiu ainda Violet.

― Calada Violet, se não te coloco para limpar os estábulos! - disse a senhora Carter tentando pôr fim na discussão de uma vez por todas.

― Senhora Carter, eu posso usar outro vestido. - disse Dorothy um pouco constrangida.

― Querida, não dê importância para o que Violet fala, ela é boquirrota, mas no fundo é uma boa menina. - disse a senhora Carter usando novamente o tom afetuoso de costume.

Dorothy chegou à conclusão que nunca conseguiria vestir-se sozinha, uma farta camada de panos e uma infinidade de laços.

 Ela que sempre fora discreta com suas roupas, sentiu-se muito bem com aquele vestido, muito embora o julgasse um tanto espalhafatoso para o seu gosto, se tratava de modelo verde água muito lindo, parecia que ela havia saído de uma das páginas dos seus livros de história.

― Minha nossa, como ficou lindo! Parece que o vestido foi feito para a senhorita, como está elegante, pronta para ir a um baile. - disse Christine esboçando um largo sorriso.

― Venha comer, deve estar faminta pobrezinha! Vou ver os outros criados, mas se precisar é só me chamar, senhorita Denzel. Com licença. Bom apetite! - disse a senhora Carter saindo apressada como de costume.

Ela estava tão nervosa que até aquele momento não havia pensado em comer, mas quando viu o café da manhã, foi como se abrisse um buraco em seu estômago, enquanto as meninas foram fazer outras tarefas ela sentou-se para comer um pedaço de pão, um pedaço de bolo, salame, ovos e chá. Nem imaginava como tinha conseguido comer tanto.

Depois de comer deitou-se na cama e começou a observar o quarto, as paredes de pedras, (aquela mobília era muito linda) sua mãe Abigail iria amar estar naquele castelo, sentiu uma tristeza ao lembrar dela, desejou que estivesse com ela ali, era tão lindo ver o sol entrar pela janela do quarto e ver as pedras brilhando. Andando pelos seus pensamentos adormeceu, o que parecia ser minutos, foram na verdade horas, já era noite quando acordou assustada, com a senhora Carter lhe servindo o jantar.

― Senhora Carter, será que posso ver o duque?

― Sim, ele perguntou pela senhorita, vamos eu a levo até seus aposentos, vossa alteza não está nada bem. Faz algumas horas que está dormindo e não acorda.

Dorothy levou um susto ao ver a imagem dele na cama duas criadas fazendo compressa de água fria para baixar a febre, ele estava com uma infecção bem severa, se ele não fizesse uso de antibióticos morreria com certeza.

― Precisa chamar um médico. - disse ela apavorada.

― Já pedimos para um criado trazer um médico, o da cidade faleceu a três meses e ainda não conseguimos um substituto, o médico mais próximo atende a dois dias daqui. Temo que quando chegar já seja tarde.

Dorothy voltou correndo para o quarto em que estava hospedada, sentiu um desespero não podia deixar aquele estranho que tinha acabado de conhecer morrer, mas se ao menos Cassie estivesse ali com ela saberia perfeitamente o que fazer, Cassie! Como não havia pensado nisso antes? Precisava voltar, lembrou-se do seu colar, colocou a mão no peito, foi então que recordou que apareceu naquele lugar quando segurou o colar, ocorreu-lhe a ideia de fazer a mesma coisa, se desse certo era a resposta para suas recentes perguntas.

Começou a pensar em seu apartamento em Cassie, quando abriu os olhos estava no apartamento e tinha duas opções: ficar em casa e fingir que nada disso aconteceu ou voltar lá e não deixar aquele homem morrer.

― Dorothy!  ― Cassie gritou histérica. ―  O que aconteceu que roupa maluca é essa, foi sequestrada por uma caravana de teatro?

― Calma!

― Calma? Você pede calma, por acaso tem ideia do

que passei nas últimas horas te procurando, fui até a delegacia, liguei para todos os hospitais, eu vou lá dentro buscar meu celular e olha que esse apartamento nem é tão grande, quando volto minha melhor amiga que estava vestida apenas de camisola desaparece e agora volta como se tivesse surgido de um dos seus livros de história. ―  Mais ou menos. - disse ela sem saber por onde começar.

― Dorothy, por favor, eu mereço uma explicação, depois que anoitece você não vai nem a esquina com medo, tudo na sua vida é planejado com pelo menos um mês de antecedência para ser colocado em prática, aí você resolve que na noite do seu aniversário vai entrar para um grupo de teatro nerd, sai só de camisola e não pensa nem em ao menos em me deixar um bilhete!

― Posso explicar?

― Não tem explicação, você é a pessoa mais previsível que eu conheço, consigo saber até seus pensamentos, então quando some assim sem dar explicações é porque uma merda muito grande aconteceu.

― A culpa foi sua!

― Tá, essa foi sua primeira loucura, a primeira que fez na sua vida toda e se não fosse pelo fato de eu ter ficado mega preocupada eu até te daria os parabéns, agora eu só não sei qual é a minha parcela de culpa.

― Se não fosse você com esse papinho de ocultismo insistindo no colar maluco da minha mãe nada disso teria acontecido.

― Continuo não entendendo qual a minha culpa nessa loucura toda.

― Esse colar me fez viajar para outra dimensão, para um mundo paralelo, para o passado, sei lá.

― Que droga você usou amiga? Viajou legal, poderia ter começado com uma mais leve.

― Por favor, acredite em mim, eu não estou sob efeito de nenhuma droga, eu estou desesperada, preciso de sua ajuda para salvar a vida de uma pessoa. - disse aos prantos.

― Você está falando sério mesmo? - disse Cassie sem acreditar.

Nas horas que se passaram Dorothy contou a Cassie tudo o que havia acontecido nas últimas horas, então ela fez várias anotações de como administrar antibióticos onde aplicar, como fazer curativos, e deu a Dorothy todo seu estoque de medicação, lá continha antibióticos injetáveis, anti-inflamatórios, pomadas cicatrizantes etc.

― Amiga, eu acho que eu estou mais louca que você, mas se a senhorita certinha diz que existe outro mundo e nesse outro mundo tem um estranho entre a vida e a morte, não posso deixá-lo morrer, leve meu estoque de medicamentos para usar hoje, ainda tem estoque na ONG, depois consigo mais com meu amigo que é representante de laboratório.

― Obrigada por confiar em mim, eu sei que isso parece loucura, nem eu consigo entender. Muito obrigada Cassie! ―  deu um abraço nela.

― Cansei de ter uma amiga certinha, só uma coisa, não se esquece de se livrar das embalagens, dependendo de que lugar é esse você pode ser acusada de bruxaria igual ao seus ancestrais. Você pode ter voltado no passado e sabe melhor do que eu que as pessoas não lidavam bem com o desconhecido. Volte assim que tudo terminar, é perigoso ficar em um lugar que nem sabe onde é.

― Pode deixar, não tenho palavras para te agradecer!

― Não me agradeça só volte, venha cá ex senhorita certinha e me dê um abraço. Agora vá logo para voltar logo.

Dorothy fechou os olhos pensando no castelo quando abriu, ouviu Cassie dizendo:

― Vai logo amiga, ele precisa da medicação o quanto antes.

Fechou novamente e...

― Não sei o que estou fazendo de errado.

― Tente se lembrar da primeira vez que viajou faça exatamente igual.

― Eu segurei a pedra do colar, fechei meus olhos e disse que queria encontrar meu grande amor. Foi assim que eu fiz não tem palavras mágicas, um feitiço e tal.

― Não vimos a senhora entrar no quarto. ― disse a criada tentando disfarçar o susto.

― Desculpa por assustá-las. ―  disse Dorothy, não menos assustada.

Após se recompor ela disse:

― Vocês devem estar cansadas, me deixem a sós com o duque, eu continuo cuidando dele.

― Sim senhorita, ele não para de chamar pelo seu nome, fique com ele, pode ser que não passe dessa noite.

― Não fale assim! ― repreendeu Dorothy.

― Me perdoe senhorita, vamos deixá-la a sós.

Consentiu com a cabeça e pediu para que ninguém entrasse no quarto, não poderia correr o risco de ser pega em flagrante administrando as medicações, terminaria ardendo em uma fogueira acusada por práticas de bruxaria, pegou suas anotações e começou. Precisava primeiro aplicar o antibiótico, e a melhor forma de aplicar segundo Cassie era na região dos glúteos, para Cassie uma situação comum, porém para Dorothy extremamente constrangedora, a situação não era pior graças ao fato de que ele estava dormindo.

― Nossa, ainda bem que está apagado seu monte de músculos porque isso não poderia ficar pior.

No momento em que ela injetou o conteúdo, Vincent contraiu o corpo, isso nas mãos de uma pessoa experiente já dói consideravelmente, imagina nas da inexperiente Dorothy, terminando de aplicar, refez os curativos conforme estava em suas anotações, quando terminou se livrou de todas as embalagens vazias jogando-as na lareira para queimar qualquer evidência de que ela não pertencia àquele mundo.

Enquanto ela fazia tudo isso, tinha a impressão que outra pessoa havia tomado seu corpo e estava tomando aquelas atitudes por ela, essa não era ela, não era impulsiva, destemida, senhora de si, embora ela tivesse naquele momento muito assustada estava na mesma proporção orgulhosa de si mesma. Em toda a sua vida não tinha tomado tantas atitudes como estava tomando em um só dia, essa era a nova Dorothy, para melhorar só faltava mudar o nome, poderia ser Helena ...ela gostava desse nome. Ficou horas divagando em seus pensamentos até que uma voz rouca e preguiçosa a chamou.

― Senhorita Denzel.

― Vossa alteza acordou!

― Se não estou sonhando, sim. Que bom que está aqui comigo.

― A febre cedeu, isso é ótimo, só continuar repousando e logo estará novinho em folha. Deve estar faminto, vou pedir a senhorita Carter que providencie uma canja. Já volto.

O duque queria falar algo, mas ela ficou tão eufórica com sua recuperação que não o deixou falar, nisso já entraram no quarto umas três criadas e um lacaio.

― Senhorita Denzel, não quero parecer indelicado, mas o meu lacaio vai me ajudar com algumas coisas aqui que acho impróprio para uma donzela assistir, então, se as quatro puderem esperar do lado de fora.

Dorothy nem o deixou terminar de falar e disse:

― Duque eu vi seu traseiro e quase outras partes, fiz curativos, o que poderia ser impróprio?

Então o duque respondeu de pronto:

― A senhorita tagarela me ver fazendo xixi.

― Acho que vou me trocar, com licença.

Ela saiu de seus aposentos morrendo de vergonha e pediu para Christine ajudar a colocar uma roupa de dormir. Enquanto se trocava, Violet disse que o duque solicitava a presença de Dorothy em seus aposentos, então Dorothy pediu para Christine guardar seu colar.

Dorothy foi observando como as pessoas se dirigiam ao duque e umas às outras, para compreender as formalidades, e foi tentando imitar as reverências, mas quanto ao duque, não se curvava a ele, apesar de tudo só estava testificando uma vida toda de estudos, era legal ver as coisas que ela havia estudado acontecendo, os costumes, as vestimentas.

Quando entrou no quarto se deparou com uma menina muito linda de cabelos negros, olhos grandes e verdes, ela tinha mais ou menos sete anos.

― Papai, o senhor precisa tomar mais cuidado, fiquei muito preocupada. ― disse a menina com os braços entrelaçados no pescoço de Vincent.

― Olá, meu nome é Emily Alice Baker Chadd, mas todos me chamam de Lily, e a senhorita vai ser a minha nova mãe? Porque meu pai está muito apaixonado pela senhorita. ―  disse Lily.

― Lily, por favor! - Vincent repreendeu a filha.

― É verdade, papai, deixou-a usar o vestido da mamãe, a Christine me contou, pena que a senhorita já se trocou, queria muito ver como ficou. Não se assuste, o papai faz essa cara de mau, mas ele é bonzinho, e eu estou vendo pelos olhos dele que ele acha a senhorita muito bonita. Convida ela para o baile que o conde Vog vai dar, agora o senhor tem companhia agradável, vamos papai! ― disse Lily falando sem parar.

― Senhora Carter, já passou da hora de Lily ir para cama.

― Sim, milorde. Pequena Lily, dê boa noite ao seu pai e à senhorita Denzel. ―  disse a senhora Carter.

― Queria ficar mais um pouco com papai.

― Amanhã querida, hoje seu pai precisa descansar.

― Boa noite papai, boa noite senhorita Denzel. ―  disse Lily contrariada.

Lily despediu-se dando um beijo no seu pai e outro em Dorothy, e foi relutante para seu quarto, dava para ouvir ela cochichando entre risadinhas para senhora Carter “ela é muito bonita, gostei dela, o papai também”.

Em tom sério e muito curioso perguntou ao duque:

― O que aconteceu com sua esposa?

― Ela morreu no parto do nosso terceiro filho, juntamente com a criança quando Lily tinha cinco anos.

― Sinto muito! Mencionou três filhos.

― Meu filho mais velho John hoje teria dezessete anos morreu de pneumonia um ano antes de minha querida Alice e nosso bebê, Lily é tudo que me restou eu a amo mais que a minha própria vida, se ainda não enlouqueci é porque tenho as tagarelices dela. E a senhorita? Me fale sobre sua vida.

― Não tenho muito a dizer, eu nasci nas colônias.

― Interessante, explica o sotaque e a forma estranha de falar.

― Minha mãe me abandonou com cinco dias de nascida, não faço ideia de quem é meu pai, fui criada por uma professora que já morreu, então estou sozinha, na verdade eu tenho uma amiga que mora comigo ela é mais que uma irmã para mim.

― Quando pretende partir, senhorita Denzel?

― Em breve, só quero me certificar da sua recuperação completa.

― Eu estou muito intrigado, como a senhorita foi aparecer no meio da floresta usando apenas combinações? Me responda com sinceridade, alguém te fez mal, a senhora me entende?

― Quer saber se eu fui violentada?

― Sim, virou uma praga por aqui, muitas mulheres estão sendo destruídas por esse crime.

― Acredite, fui parar lá contra minha vontade, literalmente quando abri meus olhos tinha um oficial com uma espada apontada para mim.

― E a senhorita seria capaz de reconhecer a pessoa ou as pessoas que te assaltaram?

― Não! ―  como Dorothy não havia pensado nisso antes? Foi assaltada, aproveitando para mudar de assunto e não se contradizer em nada. ―  E a propósito como conseguiu esses ferimentos?

― Não importa agora senhorita, guerras não são assuntos para mulheres, tenho meus homens altamente treinados que continuarão lutando.

― Se eu quase fui morta por ser confundida com um rebelde, mereço saber.

― Justo senhorita! É isso mesmo, rebeldes, que são contra a coroa, mas por aqui eles têm incomodado muito, cada dia que passa se fortalecem mais, por onde passam causam destruição e morte, passo a maioria de meus dias em guerras, não estava aqui quando minha querida Alice e a criança que ela esperava partiram, estava lutando essa maldita guerra, estes mortos de fomes a cada dia ficam mais fortes e audaciosos, deixei meus homens lutando, e assim que me recuperar vou voltar. Mas enquanto isso preciso resolver o que fazer com a senhorita, já que está perdida por aqui e não tem família. A senhorita veio de tão longe por conta de algum casamento arranjado aqui na Inglaterra?

― Não senhor, não sou comprometida com ninguém.

― Qual a sua idade? Se me permite.

― Fiz vinte cinco anos há dois dias.

― A senhorita é viúva?

― Não!

― E por que com essa idade não se casou ainda? É bonita, tem uma pele sedosa, dentes saudáveis.

Dorothy retrucou em tom de deboche:

― Mas os homens escolhem uma esposa para se casarem da mesma forma que compram um cavalo?

― A senhorita tem um senso de humor peculiar para uma dama, acho que gosto disso. Deve ter tido muitas propostas de casamento.

― Não exatamente.

― Presumo que a senhorita não tenha um dote.

― Presumiu certo.

― É isso que tem dificultado a senhorita de se casar?

― É isso mesmo, só por isso não me casei ainda.

Ela teve uma vontade imensa de começar a rir, porque na verdade não era o tipo de mulher que os homens se jogavam aos seus pés, era magra, tinha poucos seios, era muito tímida, e assim ia uma longa lista de falta de atributos para se casar, o dote era o último deles, só se ela vivesse a mais de duzentos anos atrás, e estranhamente parecia ser esse o caso, então o item dote poderia ir para o início da imensa fila. - Sinto dizer que será difícil arranjar um bom casamento para senhorita, sem uma família influente, títulos, posses e um dote. Mas eu posso te ajudar.

― Sabe, não estou interessada em me casar no momento, tenho outros objetivos antes. Mas, confesso que fiquei curiosa para saber como o senhor pode me ajudar.

― Eu não imagino que outro objetivo uma mulher possa ter, a não ser se casar e ter filhos, a menos que a senhorita queira ir para um convento, do contrário não é nada bom para uma donzela sair por aí sozinha, sem a proteção de um homem, sendo assim devido a sua atual situação eu me proponho a pedir sua mão em casamento, a senhorita ganha um nome, um lar e posses.

― Não!

― Não o quê? Não vai para o convento ou não vai se casar comigo? - Os dois.

― Como não? A senhorita tem ideia de quantas propostas de casamento com moças bem nascidas eu recusei, moças bem mais novas, prendadas e com a saúde perfeita que poderiam me dar muito herdeiros eu recusei desde que fiquei viúvo? A senhorita quer mais o quê?

Dorothy simplesmente se recusava acreditar no que estava ouvindo.

― Eu tenho apenas vinte e cinco anos e minha saúde está impecável, não sei o que o senhor quis insinuar, com moças de saúde perfeitas.

― É que te achei um pouco magra, não sei se me daria muitos filhos.

― O senhor está falando sério?

― Sim, não ousaria brincar com um assunto de tal importância.

― Então deixa-me ver se entendi, o senhor está me propondo casamento, ter um monte de filhos e ainda ficar agradecida por estar me fazendo um favor. Pelo motivo que, segundo o senhor mesmo disse, eu não sou um bom partido. - falou usando um tom sarcástico. -― Muito nobre da sua parte. Á propósito muito obrigada, obrigada mesmo.

― A verdade é que me sinto em dívida com a senhorita por ter salvo minha vida e cuidado dos meus ferimentos.

― Pois, sinta-se liberado da dívida. Para mim o senhor não deve nada, aliás, eu estou recebendo uma ótima estadia, está tudo certo entre a gente, ninguém deve nada para ninguém. Vou embora o mais rápido possível, daqui uns dias nem vai mais se lembrar de mim.

― Peço que a senhorita reconsidere meu pedido.

― Só queria entender como conseguiu casar-se, porque o romantismo está fora de moda por aqui.

― Eu conheci minha falecida esposa no dia do nosso casamento. Ela era uma prima distante.

― Está explicado.

― A senhorita me parece irritada, eu fiz alguma coisa de errado?

― Fez tudo errado. Fique sabendo senhor, que se um dia eu me casar...

― Se um dia se casar! ― Vincent disse em tom irônico.

― Eu vou me casar por amor, e não com um sujeito que eu mal conheço e acha que está me fazendo um favor e me chama de encalhada. E tem mais, para duas pessoas se proporem a passar o resto de suas vidas até que a morte os separe, precisa atender certas expectativas, que ao meu ver, aqui não atende.

― No meu ver a senhorita tendo um homem forte, e uma mulher saudável capaz de lhe dar muitos filhos atendeu todas as expectativas possíveis.

― Não, isso não dá e nunca vai dar certo, jamais me casaria com uma pessoa como o senhor.

Quando ela terminou de falar, Vincent se levantou, segurando o local do corte, como se sentisse dor ainda e veio até a poltrona em que Dorothy estava, e ela se levantou imediatamente, assustada com seu rompante.

― Agora a senhorita está me ofendendo.

― Eu estou te ofendendo, e o senhor o que está fazendo até agora, se não me ofendendo?

― Eu ofereço meu nome para senhorita, e isso é ofensa. O que está a sua altura então?

Vincent estava com o orgulho ferido, pois achava que ela aceitaria de olhos fechados casar-se com ele.

― Disse o homem que tentou me matar!

― Não tentei te matar, eu ameacei!

― Imagina, foi só uma ameaça, é quase uma gentileza!

― A senhorita esqueceu-se que me ameaçou também, com a minha própria espada?

― É diferente, eu te ameacei porque me chamou de prostituta.

― E queria que eu pensasse o que, andando só de combinação?

― E o senhor acha que está muito bem vestido, olha o que está vestindo.

Vincent estava só de camisa, que lhe cobria a metade das coxas.

― Eu estou em meus aposentos, à senhorita que veio aqui.

― Porque me chamou.

Então ele a segurou pelo braço e disse:

― Eu sou o duque aqui, não vou admitir que uma forasteira fale comigo dessa maneira.

― E daí que é o duque? Não te devo obediência. E solta meu braço.

Não dava para dizer ao certo o que estava se passando na cabeça de Dorothy, nunca havia falado assim com ninguém, se virou para sair do quarto dando as costas para o duque em sinal de desdém, ele a puxou para perto dele, e disse com muita raiva.

― Juro que se a senhorita fosse um homem te desafiaria agora para um duelo, sua insolente.

Desprovida do mínimo de bom senso, em vez de baixar o tom, recuar ou sentir medo, olhou bem dentro dos olhos dele e disse:

― Pelas suas cicatrizes deu para notar que é apenas isso que sabe fazer de melhor.

― Se bem me lembro a senhorita reparou em bem mais que cicatrizes quando olhou para meu corpo. Deixa-me refrescar sua memória, alguma coisa sobre eu ser musculoso e bonito, lembra?

― Sim lembro, mas só para o senhor ficar sabendo, eu também acho seu cavalo forte e bonito, e não estou pensando em considerar nem um pedido de casamento vindo da parte dele.

Seus olhos faiscavam de tanta raiva.

― Sabe por que a senhorita não aceitaria um pedido de casamento do meu cavalo? Porque ele não é tolo o suficiente como eu fui para lhe propor casamento.

Dorothy tentou mais uma vez sair, mas ele continuou segurando-a.

― Eu te odeio seu... devia tê-lo deixado morrer.

― Retiro o meu pedido de casamento.

― Não, não retira. Para começo de conversa, eu nem aceitei. Me solta, vai brincar de bater espada com alguém lá fora, já que passou a vida inteira só aprendendo a lutar, e pelo visto aprendeu apenas isso. Eu vou continuar esperando por um homem de verdade. Que saiba conquistar uma mulher.

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