Acima do Tempo
Acima do Tempo
Por: Rubi Staniski
ACIMA DO TEMPO

PREFÁCIO

Toda pessoa anseia por um amor para chamar de seu. O sonho de muitos é encontrar sua alma gêmea, mas e se houvesse uma bússola capaz de nos levar diretamente até essa pessoa? Não seria incrível? Posso dizer que Rubi foi muito feliz na ideia do livro e a narrativa nos faz viajar.

Quando estava fazendo a primeira leitura pré-revisão, passei a noite em claro quando notei, já era sete horas da manhã e eu não tinha parado de ler ainda.

É muito bom quando a leitura é envolvente, quando nos identificamos com os personagens, quando temos a liberdade de sonhar junto com o autor e este é o caso da história do livro Acima do Tempo.

As relações, os conflitos, as causas abordadas, tudo traz um pouco mais de realidade. São pessoas que querem ser amadas, com sonhos, com dúvidas e com problemas, como eu e você.

Tem um pouco da gente em cada personagem, seja ele “bom” ou “mau”. Porque eles têm certa humanidade, às vezes saem do papel para refletir um pouco de quem somos e nos fazer pensar ou repensar. Quem sabe mudar alguns paradigmas, quem sabe reavaliar algumas escolhas, quem sabe escolher reeditar alguma memória ou ideia pré-formada sobre algum assunto. Sim, toda essa reflexão acontece enquanto estamos imersos nessa história.

Foi uma honra participar deste projeto, gratidão por você Rubi, finalmente me levar para a Europa como sonhamos desde a adolescência. Aliás, de uma forma até melhor do que sonhamos, e com muitas aventuras Acima do Tempo.

Grace Tomal

PRÓLOGO

Todas as pessoas nascem com capacidade de amar ou odiar. Para alguém atravessar a linha entre o amor e o ódio, basta simplesmente escolher um lado. Às vezes é possível amar profundamente e odiar ao mesmo tempo, a linha entre os dois sentimentos é muito tênue, praticamente invisível.

Porém, algumas pessoas possuem uma rara ligação: nascem ligadas a outras almas, fenômeno que conhecemos por almas gêmeas.  Às vezes por um erro do universo essas almas nascem em lados extremos do planeta e em algumas vezes nascem em tempos diferentes.

Quem nasce com esse dom especial é capaz de experimentar a plena felicidade que o amor pode proporcionar, ou às vezes quando perde o ser amado, a dor é tão profunda que a alma não suporta a ausência e o corpo sucumbe.

Certamente você conhece ou já ouviu falar de alguém que aparenta ter nascido na época errada, que aprecia as coisas antigas ou futuristas. O mundo está cheio dessas pessoas, insatisfeitas com o que têm a sua volta, sempre estão com os olhos fixos no horizonte, procurando algo no passado ou no futuro: memórias não vivenciadas, saudades de quem ainda não conhecem, querendo encontrar o que não perderam.

Alguns trocam de parceiros constantemente, outros apenas se isolam em seu mundo, pois inconscientemente sabem que sua alma gêmea está muito distante.

Todos esses sintomas, algumas vezes provém da alma que fica procurando por seu amor distante, por isso parece que a pessoa nunca está bem onde está.

É sua alma gêmea chamando.

A MAGIA DO AMOR

Há muito tempo ao sul da Inglaterra em Nortugen, havia uma aldeia de feiticeiros: os Artrévios, que no passado haviam migrado da França fugindo de uma perseguição religiosa.

Eles dominavam o plantio e as curas através das ervas medicinais, sendo um povo muito pacífico. Não empunhavam espadas, eram habilidosos artesãos e construtores, que amavam a arte e sua cultura era passada através das suas cantigas de geração em geração.

Praticavam a caridade, sempre dividiam suas colheitas com as aldeias vizinhas, também fabricavam garrafadas medicinais para as outras aldeias. Amavam as festas: festa da colheita, festa do fim da colheita, festa das luas, do sol...

E durante essas festas, as mulheres dançando eram como auroras boreais. Tudo era motivo para festejar e eles celebravam o amor como ninguém.

A vida era quase perfeita, exceto para o jovem bruxo Mael, que estava destinado a ser o líder daquele povo em breve. Fazia parte da tradição que todo líder fosse casado, porém, mesmo com tantas moças bonitas e aptas a lhe dar herdeiros, ele não sentia interesse de se casar com nenhuma delas. Por conta disso seu pai já estava ficando irritado.

Um dia, Mael estava fazendo suas meditações quando descobriu algo muito especial: a existência das almas gêmeas. Uma ligação tão forte que nem o tempo e o espaço eram capazes de anular o magnetismo entre as duas. Ele descobriu também que existem as almas gêmeas secundárias, aquelas almas gêmeas que se conhecem porque são conhecidas em comum com o casal, que também deixam de estar juntos quando as primeiras não se encontram.

Mael pegou um cristal de quartzo rosa e pediu para o artesão fabricar dois colares com aquele cristal, depois fez um encantamento nos colares. Funcionaria como uma bússola, para que as almas pudessem se encontrar. Através dele Mael viajaria no tempo ou para territórios distantes, onde pudesse encontrar o seu amor verdadeiro.

Ele só conseguiu fazer essa magia, por pertencer à uma linhagem de bruxos muito poderosos e porque durante sua vida toda, ele havia se dedicado aos estudos das artes sobrenaturais. Mesmo assim não foi fácil, pois não era magia negra e nem branca era apenas magia do amor, e essa é a mais difícil de realizar.

Mael conseguiu viajar quase trezentos anos no futuro para encontrar seu amor verdadeiro, ali encontrou Rosemary uma jovem muito linda. No mesmo instante que a viu sabia que era ela, até porque a pedra do colar só tem poder para levar a pessoa ao seu amor verdadeiro e para levar de novo para casa.

Os jovens se amaram desde o primeiro momento que se viram, porém Rosemary não estava preparada para largar totalmente sua vida em Nova York. Sendo assim, ela sempre ia e voltava para as terras de seu amado, até que um dia Mael disse que ela precisava escolher entre o futuro ou ele, e então ela escolheu seu amado. Dentro de seu ventre havia alguém que ajudou muito na decisão. A festa de casamento dos dois foi a mais linda da aldeia. Logo nasceu sua herdeira e eles a chamaram de Eileen Denzel.

Os anos que vieram foram da mais repleta alegria, Eileen era muito linda e esperta estava já aprendendo com o pai a arte da magia, e Rosemary estava sendo ensinada também. Sempre que necessário Rosemary viajava para o futuro para buscar suprimentos.

Certa feita um jovem padre, incumbido pela coroa de varrer a magia da Inglaterra, foi até a aldeia vizinha interrogando os moradores a respeito de qualquer ato de bruxaria. Eles então relataram que no povoado dos Artrévios, nos últimos anos as pessoas não eram mais vítimas das epidemias comuns para época.

Rosemary e a filha tinham viajado para o futuro, na intenção de buscar medicamentos, ela sempre levava Eileen que adorava viajar com a mãe. A menina só conseguiu viajar com a mãe porque tinha um elo muito forte com ela, de outra forma não seria possível a viagem, uma vez que o colar só tem poder de levar o viajante até sua alma gêmea ou fazê-lo retornar para casa. Por isso Eileen sempre viajava com o colar do pai, e se acontecesse algo com a mãe, então ela poderia voltar sozinha para casa.

Quando elas retornaram, encontraram a aldeia destruída pelo fogo. Crianças, mulheres, grávidas, bebês, todos mortos com crueldade. Rosemary avistou seu amado, o haviam matado em sua cama enquanto dormia, ele fora morto por uma lança cravada no peito e depois queimado, ela então se desesperou. Foi quando ela ouviu um gemido do lado de fora, era um aldeão que estava vivo ainda, o homem mesmo muito ferido, contou o que havia acontecido: um jovem padre chamado Jacob, havia levado a destruição para o seu povo. E com as poucas forças que tinha, o homem pediu que ela fugisse antes que aquele diabo vestido de padre retornasse, e pediu também para que ela acabasse com seu sofrimento.  Pedindo que Eileen olhasse para outra direção, Rosemary acabou com o sofrimento do pobre homem enfiando sua adaga no coração dele.

As duas voltaram para Nova York no futuro, Eileen tinha sete anos, elas procuraram viver suas vidas apesar da dor de perder todos aqueles que amavam. Mas Rosemary, só em sua filha encontrava forças para continuar sobrevivendo, o restante não fazia mais sentido. Como ela conseguiria passar seus dias sem o seu Mael?

Um dia na escola, a professora leu o livro do Mágico de Oz para os alunos, Eileen gostou tanto! Ela se achava parecida com Dorothy, por isso pediu à professora se poderia levar o livro para casa. Depois de uma semana, pediu à professora se poderia ficar mais uma semana e assim foi, semana após semana, por três meses, a professora vendo a paixão da aluna pelo livro, pediu-o, fez um bilhete e colocou dentro do livro no final da aula entregando-o para a aluna novamente. Ao chegar em casa, a menina abriu o livro, encontrou o bilhete e pulou de alegria: “Querida Eileen a forma mais segura de viajar é através dos livros, te desejo fantásticas viagens, o Mágico de Oz é seu para continuar viajando sempre que desejar”. Ela tinha esse livro como uma bíblia, todos os dias lia como se fosse a primeira vez.

O livro de fato ajudou Eileen a viajar, e também a suportar toda a dor da saudade e do vazio, pois sua mãe logo foi ao encontro de seu amado. Eileen disse que a mãe morreu de tristeza, que os anos que se seguiram foram de total isolamento, que ela quase não conversava e nunca mais sorriu.

O que acabou pesando foi à culpa de não conseguir abandonar por completo o presente e isso despertou a fúria de alguns, pois as pessoas temem o que não conhecem, por mais que o que elas não conheçam se mostre inofensivo. É a necessidade que o ser humano tem de exercer o controle em tudo, e quando não conseguem, destroem tudo à sua volta.

Nunca mais elas tocaram nos colares, e não falaram mais sobre as viagens no tempo. Rosemary sempre dizia para a filha que ela nunca poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo, que jamais cometesse o mesmo erro, pois, o erro da indecisão, de não conseguir se desapegar de algumas coisas para se apegar às outras, lhe custou seu coração. Eileen guardou essas palavras como a própria vida, mas viver sem a mãe não foi fácil. E na dor de Eileen que mais algumas histórias começaram.

DIÁRIO

Existem algumas coisas em minha vida que sempre desejei fazer, por exemplo: escrever um diário, morar por um ano na Inglaterra, terra dos meus ancestrais, m****r alguém se ferrar, beber até ficar tonta e viver uma louca paixão. Nunca tive coragem o suficiente para fazer nem um dos quatro, minha vida nunca foi interessante ao ponto de eu dispensar papel, tinta e caneta para eternizar meus dias em palavras, mas agora pensando bem, se não me faltasse coragem para beber até ficar tonta, facilmente eu teria mandado alguém se ferrar (o que com certeza eu farei se sair dessa situação maluca em que me encontro enquanto escrevo), compraria uma passagem só de ida para a Inglaterra e ficaria louca o suficiente para viver uma paixão, e com certeza eu teria muito mais o que escrever nas páginas do meu diário.

Se finalmente vou escrever meu primeiro diário, pretendo começar desde o início.  Minha mãe me abandonou com cinco dias após meu nascimento, ela deixou de fazer muito por mim: me ensinar a andar, a comer sozinha... coisas inerentes da vida, porém, por mim ela poderia facilmente ter deixado de me dar um nome, eu já a odeio por vários motivos, não precisava ter me dado mais um.

Fora uma certidão de nascimento, um cobertorzinho rosa, um colar ridículo e um livro do Mágico de Oz escrito na primeira página “Querida Dorothy espero que um dia possa me perdoar. Com amor mamãe.”, ela não me deixou mais nada.

Não sei se odeio meu nome por achá-lo antiquado ou por ser minha mãe quem o escolheu, eu não a conheci, fico pensando o que um bebezinho pode ter feito de tão terrível para ela me abandonar nos braços de uma senhora aposentada, que estava sentada no banco da praça apenas esperando o tempo passar?

Quando eu era criança, gostava de imaginar que minha mãe era uma espiã infiltrada em algum país muito perigoso, mas ela me deu para senhora Abigail. Sempre que eu avistava uma mulher desconhecida na rua, eu sorria para ela e fazia de conta que era a minha mãe que havia voltado só para me ver, por muitos anos, brinquei desse faz de conta, minha mãe não havia me rejeitado; ela só estava me protegendo.

Se por um lado minha mãe biológica foi incapaz de me amar; minha mãe de criação era a melhor pessoa do mundo. A senhora Abigail era viúva, professora de história já aposentada. Ensinou-me desde cedo a amar os livros, me deu uma criação excelente, fez-me amar história. Sinto por ela não ter conseguido ir à minha formatura da graduação em História.

Foi uma mãe extraordinária, mas assim como eu, ela também tinha uma tristeza escondida no olhar, o motivo de sua tristeza eram seus três filhos: Hilary, Ashley e Thomas, que eu só conheci pessoalmente no dia do seu enterro, pois foram fazer a partilha.  Antes eu os via apenas em um porta-retrato em cima do piano, minha mãe amava lembrar de Thomas tocando aquele piano quando criança.

Sempre observava ela ao telefone ligando nos escritórios ou no consultório de seus filhos e suas secretárias sempre davam as mesmas desculpas: “o Dr. Bruce está com um paciente no consultório, não pode atender”, ou “a Dra. Hilary Bruce está no tribunal com um cliente, quando ela retornar, eu passo o recado”, e “a engenheira Ashley Bruce está em uma obra, quando retornar, eu aviso que a senhora queria falar com ela.” Assim foi por muitos anos, quando a senhora Abigail conseguia falar com os filhos, as ligações não passavam de dez segundos, eles sempre com pressa.

Um dia, voamos para Boston para passar o dia de Ação de Graças com Thomas, ele havia viajado e esqueceu que sua mãe passaria o dia com ele. Passamos o dia só nós duas em uma lanchonete do aeroporto, esperando nosso voo de volta para casa. Lembro até hoje de vê-la secando as lágrimas enquanto comia suas batatas fritas.

Minha mãe só conheceu os netos por fotos, as desculpas sempre eram as mesmas: o trabalho, a distância, a família que formaram. Sempre que ela queria viajar para ver um filho eles alegavam reforma, outras visitas... sempre uma desculpa diferente.

Não consegui ficar nem com os livros que ela tanto me ensinou a amar. No dia seguinte ao seu enterro, suas duas filhas e seu filho me colocaram para fora daquela casa apenas com a minha mala de roupas, o livro do Mágico de Oz e o colar de minha mãe biológica. Ao sair, quase fui atropelada por um corretor imobiliário que havia sido solicitado para avaliar a casa.

Era uma casa que representava muito bem a personalidade de minha mãe, o presente se misturando ao passado. A casa era muito linda, eu dizia que era um castelo com detalhes em pedras tons marrons e cinza, na sala tinha um enorme relógio de pêndulo, tudo na casa lembrava a paixão dela pelo passado, o telefone era moderno, mas o modelo antigo, eu amava fazer chamadas.

A parte da casa que eu mais gostava era a varanda, a maioria das noites sentava ao lado dela no balanço, enroladas em uma manta amarela. Ela sempre lia um livro pra mim, nas noites quentes me servia chá gelado com bolo e nas noites geladas leite morno com cookies. A parte da casa que ela mais gostava era a biblioteca, todos que chegavam lá, sem exceções, tinham que fazer um tour obrigatório na sua biblioteca, era a joia da casa. Quando eu parei de contar, tinha oito mil volumes de vários autores e segmentos, a maioria de história, nossa paixão.

Eu só tenho uma amiga a Cassie, nos conhecemos no jardim de infância, ela teve uma infância difícil, sua mãe fazia programa e seu pai vendia drogas, muitas vezes Cassie fugia da casa dela e ia para minha casa com fome e lá ficava por semanas até sua mãe ir buscá-la. Seus pais eram viciados em drogas e alcoólatras, por muitos motivos ela fugia e minha mãe sempre a acolhia, dava banho, comida e uma cama quentinha e confortável para ela dormir. Sua casa era sempre muito suja e bagunçada, era um constante entra e sai de pessoas mal encaradas, às vezes seu pai e sua mãe eram presos e ela ficava dias sozinha. Se não fosse minha mãe, não sei o que teria sido da minha melhor amiga. Ela é a caçula de cinco irmãos, hoje seu pai e seu irmão mais velho estão presos, condenados por tráfico de drogas, quem assumiu os “negócios da família” agora, foi a sua mãe e seus outros três irmãos, dois estão na condicional.

  Não posso esquecer de mencionar sobre a casa na árvore que era dos filhos biológicos da sra. Abigail, seu falecido marido a construiu, passei momentos inesquecíveis com a Cassie, a gente fazia de conta que era uma nave espacial e nós as astronautas, cada dia a missão era em um planeta diferente. Naquela casinha viajamos por várias galáxias, enfrentamos piratas do espaço, defendemos a terra de ameaças alienígenas e enquanto a gente desbravava o universo, a minha mãe ficava horas no pé da árvore chamando, até que ela tinha que subir para nos tirar de lá.

No ensino médio eu vivia com o rosto colado nos livros. Era desajeitada, muito magra, eu não precisava de ajuda nenhuma para tropeçar no meio dos corredores do colégio fazendo voar livros, cadernos e cópias para todos os lados, era capaz de fazer isso muito bem sozinha, mas claro que sempre tinha essa ajuda: quando eu estava passando, alguém colocava o pé e era ridícula a cena. Confesso que os meus anos de ensino médio não foram os anos dourados da minha vida, sempre atravessava os corredores do colégio com uma mensagem grudada em minhas costas. A última estava escrita “ainda sou virgem”, depois dessa mensagem eu não queria mais voltar para o colégio, Cassie quem me convenceu a voltar.

Cassie sempre me defendia, saía atrás dos meninos esbofeteando-os, quase sempre a gente parava na sala do diretor, eu com o ego ferido, os meninos do time do colégio de olho roxo e Cassie com gelo nas mãos, e no final todos para detenção. Ficar depois das aulas estudando, eu nem ligava, se eu fosse para casa não faria diferente, estudar para mim não era castigo.

Nunca fui convidada para nenhum baile. Cassie sempre era, mas ficava me fazendo companhia. Tive uma paixão, que durou do primeiro até o terceiro ano do ensino médio, o Taylor. Todas as vésperas de baile, sonhava que ele vinha me convidar, mas foi quase no final do terceiro ano ele se aproximou de mim, me senti no céu, o capitão do time da escola andando comigo, ele era o mais gato, ele era tudo para mim.

Nos últimos meses do ensino médio eu o ajudei a fazer os trabalhos e ele me convenceu a lhe passar cola nos exames finais. Depois das provas ele me levou para sua casa e foi o dia que perdi minha virgindade. Não quero dar detalhes porque foi horrível, depois disso, nunca mais quis estar intimamente com nenhum homem, Cassie disse que a primeira vez dela também foi horrível, tentativa de me consolar.

Enfim chegou o grande dia, mal podia acreditar que havia sido convidada para o baile de formatura, meu vestido era o mais lindo que eu vi na loja, era azul, minha cor favorita com alguns cristais bordados e algumas flores bem discretas da mesma cor do vestido.

Tudo era perfeito, mas deu seis e meia eu não via nem sinal do Taylor, deu sete horas e nada, sentei-me na escada e comecei a chorar. Foi quando avistei Cassie correndo ao meu encontro, toda descabelada.

- Ai amiga, o Taylor chegou no baile com a Stacy, e todos estavam falando que eles seriam o rei e rainha do baile, não aguentei voei nele, bati, rasguei toda roupa dele e da Stacy. O segurança colocou a gente para fora e eu vim aqui. Quer saber? Deixa esses babacas para lá vamos comemorar a gente, vamos tia Abby? - perguntou Cassie ofegante.

Fomos à lanchonete do Steve a gente sempre ia lá aos sábados, era religioso e dessa vez, ficamos até tarde com minha mãe nos divertimos, rimos e esquecemos o que passou.

Hoje, o Taylor está com trinta quilos a mais não foi para a universidade, e está no seu segundo casamento, a Stacy o traiu com outro amigo do tempo do ensino médio, ele tem quatro filhos e trabalha com o pai fazendo manutenção em piscinas, não foi o futuro promissor que todos imaginavam, afinal.

Assim foi minha infância e adolescência. Até que no primeiro ano da universidade, minha querida mãezinha me deixou, mas antes de morrer havia deixado meus estudos e o quarto no campus da universidade pagos até eu me formar. Seus filhos quando foram pegar o dinheiro da conta poupança ficaram furiosos, até tentaram reaver, porém não conseguiram, o juiz entendeu que eu estava com a minha mãe até o final, era justo que o último desejo dela fosse respeitado.

A verdade é que, se minha mãe de criação era uma mulher de fibra destemida, eu era (e ainda sou) uma pateta. Eu sou o tipo de pessoa que fica à beira de uma piscina com vontade de entrar, mas morrendo de medo da água estar muito gelada, da piscina ser muito funda, etc...

Enquanto outros pulam de cabeça, eu fico horas e horas procurando coragem para entrar, quando eu começo a descer a escadinha ou o sol está se pondo, ou começa a chover. Por esse motivo me convenci que não gosto de piscina e nem vou, só para me poupar desse dilema. E assim eu fiz com as festas, esportes e tudo mais que envolva mais de uma pessoa ou adrenalina.

Minha vida se resume a estudar, estudar e estudar. Além do inglês, eu falo francês e espanhol. E sabe aquelas pessoas que eu não tive coragem para m****r se ferrar? Cassie sempre mandou por mim. O último foi o meu ex-patrão que ficava me assediando, ela ainda o ameaçou dizendo: “Escuta aqui seu porco nojento, você gosta de passar a mão nas suas funcionárias? Pois bem, reza para nunca precisar ir para emergência do Hospital Central, porque eu vou fazer questão de usar a agulha mais calibrosa, te garanto que vou aplicar o conteúdo tão rápido que você vai sair pulando daqui até a fronteira do Canadá”.

Faz um ano que ela não fala com a família, antes de cortar relação sempre era chamada para retirar uma bala, fazer alguma sutura. Cassie é enfermeira, na verdade ela queria ser médica, mas não teve dinheiro para fazer medicina, mas ela é a melhor enfermeira que existe, já foi duas vezes como voluntária trabalhar em países destruído pela guerra civil.

Apesar da vida difícil que teve Cassie é divertida, alegre, bonita e espontânea. Ela sempre está com alguém é do tipo de pessoa que tem medo de relacionamentos, por isso nunca sai mais de três vezes com a mesma pessoa e quando ela leva alguém para o nosso apartamento, eu prolongo as minhas caminhadas diárias porque eu acho constrangedor escutar aqueles sons todos.

Eu e Cassie dividirmos o aluguel era um sonho desde criança, a gente imaginava como seria divertido só nós duas, sem adulto para dizer que horas dormir, só nos esquecemos do fato que a gente seria adulta (eu pelo menos).

Sonhávamos em comer só o que a gente quisesse, combinamos que ficaríamos a noite toda assistindo e só comeríamos sorvete de creme com bolo de chocolate, nossa refeição preferida quando éramos crianças, óbvio que minha mãe só permitia degustar o que para nós era um manjar dos deuses depois de ter comido muita ervilha, purê de batatas e carne com molho. Cassie escondia as ervilhas no bolso para mais tarde se livrar delas, eu tinha medo de ser pega no ato, comia tudo, desenvolvi uma técnica para comer ervilhas, eu não mastigava, às engolia inteiras, eu era sempre a última a ganhar sorvete de creme com bolo de chocolate. Não preciso comentar que eu não posso nem ver ervilhas na minha frente, nem eu nem Cassie, aliás, eu gostaria de saber quem foi que disse que ervilha era para comer, depois disso se tornou a missão das mães: enfiar ervilhas nos filhos.

Faz seis meses que nos mudamos para o apartamento (eu acho, atualmente o tempo é um pouco confuso para mim), ele é bem próximo aos nossos locais de trabalho. Nosso sofá é muito confortável, bege claro, com uma manta verde clara de crochê, na parede atrás do sofá eu decorei com várias molduras, no chão da sala tem um tapete de vários tons de marrom.

A televisão, às vezes é ligada, quando fazemos as nossas sessões de cinema, pois em geral, usamos sempre nossos notebooks para assistir filmes e seriados (eu sou viciada em seriados). Eu e Cassie começamos assistir juntas e quando vamos assistir novamente, eu já estou uma temporada adiantada, ela fica brava, diz que não tem graça assistir comigo.

Meu quarto é cheio de livros e o da Cassie parece uma farmácia, com tantos medicamentos estocados. A casa é repleta de velas aromáticas, pois cada canto que Cassie consegue colocar uma, ela coloca. A cozinha é muito simples, a gente só passa café e faz alguns sanduíches, odiamos cozinhar, sempre pedimos comida chinesa a nossa favorita.

Eu trabalho ou melhor trabalhava, até tarde na lanchonete do San, ia para casa e ficava até altas horas estudando, ia dormir quase com o dia amanhecendo e então, exatamente sete e meia da manhã, Cassie entrava porta adentro cantarolando e me desejando um irradiante bom dia e eu queria morrer. Ela vinha sempre com o café no meu quarto para me contar do seu plantão quantos baleados, quantos esfaqueados, acidentes de carro e o médico gato que ela estava pegando, enquanto eu mal conseguia ficar de olhos abertos.

Cassie tem um sonho, de morar em vários países, colocar tudo o que ela precisa em uma mochila, um tênis e um agasalho confortável e ser cidadã do mundo. Quer conhecer outras culturas, já fez até um roteiro dos albergues pelo mundo, o país que ela mais tem vontade de conhecer é o Brasil, ela se identifica muito com os brasileiros, um povo batalhador, bem humorado. Ela tem um espírito aventureiro.

Meu sonho é diferente, tenho um sonho de um dia encontrar um grande amor e construir uma família e poder ter a mesa cheia em um jantar de Ação de Graças, todo mundo rindo e falando ao mesmo tempo, as crianças correndo em volta da mesa, no meio dessa bagunça toda, aí eu bato com o talher na taça e chamo atenção dos convidados e começo agradecendo pela minha linda família, pelo meu marido que no meu sonho é lindo e tem um ótimo trabalho, pelo meu filho William que chamamos de Will e pelo bebê que eu estou esperando (resolvemos que o sexo será surpresa). No meu sonho, esse jantar acontece em uma casa muito linda branca com detalhes azul Royal, não pode esquecer-se da cerquinha branca e do cachorro chamado Rey, enfim, esse é meu sonho (se bem que está um pouco difícil sonhar agora, esse lugar é horrível).

Mas na verdade a mesa do apartamento que eu divido com a Cassie só tem dois lugares, e normalmente um sempre está vago, pois ela se divide com o trabalho no Hospital Central e o trabalho voluntário em uma ONG que cuida de pessoas que não podem pagar pelos serviços médicos e quase sempre estão em situação irregular no país. Admiro muito seu trabalho, eu por outro lado não posso ver sangue que eu desmaio, prefiro meus livros.

Eu tenho mais um desejo que esqueci de mencionar, queria poder transformar a vida das pessoas, ajudar de certa forma, assim como Cassie que com suas mãos salva vidas e faz a diferença na vida de quem ela conhece, ou como Alexander Fleming que em mil novecentos e vinte e oito chegou à descoberta da penicilina e de suas propriedades antibióticas, eu penso que deveria ter um feriado com seu nome, e grandes monumentos levantados pelo mundo afora em sua homenagem, porque na minha opinião sua descoberta salvou e tem salvado um número incontável de pessoas. Sempre fiquei imaginando como era possível viver tranquilo antes de tal descoberta sabendo que poderia morrer de qualquer infecção, acho que esse deve ser meu lado hipocondríaco escrevendo. Na verdade, eu cansei de passar despercebida pela vida, penso que nascemos para um propósito, gostaria muito de descobrir qual o propósito da minha existência, porém sinto que muitas vezes me falta coragem para ir atrás dos meus sonhos.

Nunca escrevi um diário porque achava que não teria assunto, mas agora em pouco tempo as memórias fluíram. Por que eu estou escrevendo como se alguém fosse ler meu diário? É secreto ninguém vai ler além de eu mesma, deve ser a solidão e o medo que eu estou sentido aqui e agora que me levam a escrever como se fosse para alguém. Aplaca um pouco o vazio que eu estou sentindo, as crianças solitárias tem um amiguinho imaginário e acho que os adultos desesperados adquirem um leitor imaginário, pelo menos eu criei um.

Incrível como só passamos a dar valor para as coisas quando temos a sensação de havê-las perdido, quando imaginamos que nunca mais teremos de novo aqueles momentos, e tudo que nos resta é um leitor imaginário além desse frio que faz aqui.

Veio-me agora às últimas horas que passei com Cassie, era meu aniversário, vinte de janeiro de 2018 estava estudando para minha pós que iria iniciar em alguns dias, era minha folga o San dono da lanchonete me deu o dia  de presente de aniversário, como imaginei que era dia do plantão da Cassie eu coloquei meu pijama azul com estampa de libélulas e meu chinelo de pano rosa, fiz um rabo de cavalo no cabelo, por falar em cabelo e indecisões ao mesmo tempo o meu cabelo tem tudo a ver comigo, não consegue tomar uma decisão se é liso ou cacheado, isso sempre me incomodou até que virei adepta do rabo de cavalo, não sou vaidosa com meus cabelos, nunca pintei, sempre mantive o castanho claro com mechas loiras naturais, poderia usar algum tipo de produtos para alisá-lo, mas aí eu penso e se eu quiser fazer cachos? A verdade que nunca faço nada além de prender, e passar a mão para abaixar os fios de cabelos novos que ficam espetados, e esse é meu penteado do dia a dia, meus olhos seguem o mesmo dilema dos meus cabelos, na dúvida de serem castanhos ou verdes resolveram ser castanho-esverdeado, meus seios poderiam ter ficado nesse mesmo dilema, de quase nada ou fartos, eles poderiam ser médios, mas resolveram ficar com o quase nada mesmo.

Mas voltando ao dia do meu aniversário, eu estava mergulhada em meus estudos, sentada em minha cama com um mar de livros à minha volta, muito concentrada em meu computador quando levei um susto, ouvi Cassie entrar toda sonora e...

(Estou ouvindo vozes, continuo a escrever depois, eu acho…).

ANIVERSÁRIO

― Oi Cassie, tão cedo em casa? ― Dorothy, perguntou enquanto corria até a porta.

― Hoje é dia de comemorar, a Dorothy está ficando mais velha. ― respondeu Cassie cantarolando.

― Você sabe que eu odeio comemorar meu aniversário.

― Tarde demais, eu já pedi pizza e logo está chegando, um colega vai me cobrir no plantão, queria estar com minha melhor amiga, pois ao contrário de você, eu adoro comemorar seu aniversário.

― Notei, todo ano você comemora. ― retrucou Dorothy revirando os olhos.

Quando a pizza chegou, Cassie pegou um copo de suco de abacaxi, levantou-se e começou a brindar:

― Quero brindar à amiga mais rabugenta que não pega ninguém porque não quer, pois ela é linda, a melhor amiga que alguém poderia querer e é uma irmã que eu não tive.

― Obrigada, todo ano você me faz chorar.

Cassie colocou uma velinha em um cupcake e elas cantaram parabéns para Dorothy.

― Faça um pedido, mas cuidado com o que deseja, alguns desejos costumam se realizar de vez em quando. Cansada de ficar sozinha, Dorothy não escutou o conselho, desejando viver uma história de amor daquelas que parece um livro, porque sua vida se resumia a livros.

― Eu sei que você vai dizer que não precisava, mas eu comprei um presente, uma camisola sexy, é meio deprimente te ver vestida com esses pijaminhas de vovó.

― Que linda! Mas vou usar para dormir sozinha, é um desperdício.

― Veste para eu ver como ficou.

― Ah! Que linda! Eu sabia que essa camisola era perfeita, só falta alguém com quem usar. ― disse Cassie toda animada.

A verdade é que faltava alguém na vida de Dorothy.

Algum tempo depois...

― Cassie, olha que estranho o que eu achei hoje por acaso, eu estou estudando sobre a Inglaterra de mais de dois séculos atrás, descobri um lugar muito interessante: o vale da Fraternidade. Os estudiosos estão tentando entender o porquê que nessa região aumentou a perspectiva de vida, o índice de natimorto diminuiu consideravelmente, as pessoas adquiriram hábitos de higiene que não eram comuns para época, assim como programas sociais, um lugar bem intrigante e uma mulher ainda mais intrigante: uma duquesa. Mas então, esse vale tem esse nome porque, durante uma batalha por territórios foi totalmente destruído por um incêndio, ficando apenas um castelo antigo intacto, os sobreviventes voltaram no final da guerra e reconstruíram a cidade das cinzas, e se tornaram um povo habilidosos com armas, fizeram do lugar praticamente uma base militar, assim tiveram paz para plantar, construir, viram a prosperidade chegar muito rápido. Mais tarde, o rei da Inglaterra nomeou seu irmão como o primeiro duque de Vale da Fraternidade. Esse ducado era conhecido por ter os soldados mais valentes.

Cassie interrompeu:

― Amiga, como sempre você ficou empolgada, me mostra a duquesa que você ia me mostrar quando me despejou como uma avalanche de história, amanhã eu já vou ter esquecido tudo mesmo.

― É verdade, eu queria te mostrar essa duquesa, olha que estranho, me deu um arrepio quando vi o retrato dela.

Cassie deu um grito:

― Minha nossa, ela é a sua cara, será que ela é sua tatara avó?

― Impossível, segundo as minhas pesquisas, quando houve aquela caças às bruxas a aldeia de meus ancestrais foi totalmente destruída, os poucos que sobraram vieram fugidos para os EUA, eles vieram de muito longe do vale da Fraternidade,  vieram de Nortugen e na data desse retrato, não existe nem um registro dos meus ancestrais na Inglaterra, na verdade eu não achei nem aqui, é um mistério a vinda deles para os EUA, eu penso que eles trocaram de nome para viajar com medo de serem pegos, pois eram acusados de praticar artes ocultas e qualquer prática de magia estava proibida na Inglaterra. Mas a duquesa do Vale da Fraternidade foi muito importante, pois na época em que misteriosamente ela apareceu na região, havia uma guerra civil, provavelmente para obter o controle do ducado, estavam cobiçando minas de ouro. Aparentemente os rebeldes estavam ganhando, mas o que todos não sabiam era como homens maltrapilhos e famintos conseguiam armas e se sustentar em uma guerra no meio da floresta e contra um poderoso exército da Inglaterra. Foi então, que em um jantar entre os nobres e ricos da Inglaterra que o duque serviu em seu castelo a duquesa revelou ao seu esposo diante de todos os convidados que eram os nobres e ricos, os amigos do duque que financiavam a guerra, todos levantaram-se e pediram a cabeça da duquesa, cujo nascimento era duvidoso. O duque ordenou que a duquesa fosse presa imediatamente na torre do castelo acalentando assim a fúria dos nobres e homens ricos que diziam, “isso que dá casar-se mal, meu bom duque, foi dividir sua cama com essa prostituta das colônias, mas assim que ela for para a forca, vossa alteza poderá escolher qualquer uma de nossas filhas bem nascidas e bem criadas, para ser a próxima duquesa do Vale da Fraternidade”.  Aqui na minha pesquisa mostra que o duque além de sobrinho do rei, era um dos homens mais poderosos e ricos da Inglaterra, e isso deixou os bajuladores da coroa muito bravos, pois o duque não era dado a bajulações, simplesmente foi um súdito fiel a coroa, e lutou as guerras de sua majestade com muita valentia e honra.

― Será que esse tal duque era bonitão? ―  perguntou Cassie. ―  Tanto faz Cassie, ele já morreu há mais de duzentos anos.

― Mas me conte, agora estou curiosa, ele foi injusto com a duquesa, m****r prender e iria condená-la à forca, isso não foi nem um pouco romântico! - disse Cassie.

― Sem contar que ela estava grávida também, na verdade o duque foi pego de surpresa, nem ele imaginava que seus amigos estavam por trás de tanta destruição e morte. Mas isso foi uma jogada de mestre, porque enquanto ele mantinha a duquesa presa, longe de qualquer tentativa de assassinato, ele ainda passava a impressão que confiava em seus “amigos”, mas enquanto isso, aguardava o homem de sua mais alta confiança o major Benningfield, pois a duquesa, depois de ser presa compartilhou o plano dela com o marido.

― Hum, gostei desse nome imagine eu senhora Benningfield! - disse Cassie.

― Cassie, o major Benningfield faz parte daquele grupinho que já morreram há mais de dois séculos.

― Como você é sem graça, continue, porque poucas vezes eu me interessei por história e casamento, na verdade essa foi à única vez, acho até que foi isso que você desejou quando assoprou a velinha, que pelo menos uma vez na vida eu escutasse suas histórias, então aproveita que eu estou disposta a te ouvir, porque eu acho que isso nunca mais vai acontecer. ― brincou Cassie devido ao súbito interesse na pesquisa da amiga.

― Continuando, só restava esperar o major voltar do meio da floresta juntamente com sua tropa que graças ao plano dele e da duquesa interceptaram um comboio carregado de suprimentos, armas e outros, conseguiram destruir o acampamento e levaram cativos seus líderes que por métodos não muitos ortodoxos, entregaram seus patronos, mas nesse meio tempo uma “alma gentil” mandou enviar uma refeição na cela da duquesa, o guarda fez sinal para ela não comer, ela agradeceu deixou de lado, os ratos que comeram a refeição caíram duros minutos depois. Quando o major Benningfield e sua tropa retornaram com os prisioneiros, os nobres confessaram que eram os patrocinadores da rebelião, não demorou muito para a cidade toda se reunir para ver os homens mais ricos da Inglaterra serem enforcados, o duque ficou mais furioso com a tentativa de assassinato à sua amada. E a duquesa recebeu uma carta da majestade real e um colar de pedras preciosas em agradecimento a sua coragem e ao serviço prestado à coroa. A rebelião continuou com menos recursos e militantes, porém continuou. E o pior de tudo, lembra-se daquela aldeia em Nortugen de onde vieram meus ancestrais? Anos antes foi desolada por uma espécie de inquisidor cuja missão era acabar com a bruxaria na Inglaterra, e segundo o que a história conta baseada nas anotações do padre, se tratava do padre Félix. Nessa época da duquesa ele estava ainda varrendo a Inglaterra da bruxaria, ele já havia torturado a duquesa antes dela se casar com o duque e a perseguido outra vez, e não havia desistido de condenar ela a fogueira, nessa época o inquisidor alegou que ela praticava bruxaria, ela e sua amiga que (não fique com ciúmes) era noiva do major Benningfield.

― Odiei a amiga da duquesa, tomara que ela vá para a fogueira! ― disse Cassie com os pensamentos mergulhados na pesquisa.

― Para você ficar com os restos mortais do major Benningfield. Enfim esse é só um resumo da história, quero ver se eu vou amanhã na biblioteca e me aprofundo mais na minha pesquisa, ver se consigo mais detalhes, sinto que tem muito mais por trás.

― Eu achei essa história bem detalhada. ― disse Cassie.

― É só a ponta do iceberg. Mas amanhã eu continuo, foi por acaso que eu comecei a ler um pouco antes de você chegar.

― E você, senhorita Dorothy Denzel no que acredita, acha que é descendente de uma tribo de bruxos? - perguntou Cassie.

― Não, acho que eu sou bem normalzinha... até demais, e não acredito nessas coisas de ocultismo.

― E se aquele colar sinistro que sua mãe biológica te deixou tivesse poderes?

― Que poder Cassie? De fazer filho e sumir no mundo?

― Pega lá vamos tentar invocar alguns poderes! ― pediu Cassie.

― Não!

― Pega, anda. Eu amo aquele colar.

― Está bem, eu vou pegar, aí você brinca de Sabrina sozinha. Está aqui.

― Ele é lindo, no seu lugar não deixava de usar, vai que ajuda deixar a sua aura mais clara! ― disse Cassie.

Isso tudo é crendice, eu só acredito no que é concreto.

― Então, senhorita concreto, coloca esse colar só para eu tirar uma foto.

― Se eu colocar você vai parar de me encher com essa história de ocultismo?

― Prometo, se você deixar eu postar a foto, quem sabe hoje mesmo aparece um pretendente. Quem não é visto não é lembrado!

― Eu odeio redes sociais, não gosto de me expor.

― Só hoje amiga, vamos, assim você desencalha.

― Obrigada pela encalhada, mas você tem razão, uma foto só.

― Cadê meu celular, acho que deixei no quarto, fica parada ali que a iluminação é boa para a foto, só um pouquinho que eu vou buscar meu celular. ― disse Cassie procurando em volta seu celular.

― Bate com o meu.

― Para a senhorita espertinha apagar a foto antes de eu postar? Conheço-te Denzel. Espera aí, me fala uma coisa, o que você desejou de verdade quando apagou a velinha.

― Não posso falar, pode dar azar.

― Falou aquela que não acredita em crendice.

― Tá, você não desiste nunca, mesmo. Vem logo antes que eu desista de tirar foto.

― Sou conhecida por nunca desistir, agora me conta, qual foi o seu desejo?

― Viver um grande amor.

― Eu sabia que lá dentro não tem uma pedra e sim um coração! ― disse Cassie toda empolgada.

― É que depois daquele um nunca mais tive coragem de amar mais ninguém.

― Esquece amiga, ele é um babaca. E isso já faz muitos anos. Cadê a porcaria do meu celular? Certeza que deixei na minha cama, lembrei, acho que deixei no banheiro. Só mais um pouquinho, aguenta aí.

Foi então que não sei se por impulso ou alguma outra coisa, Dorothy pegou na pedra do colar enquanto dizia “eu quero encontrar um grande amor” e fechou seus olhos imaginando como seria seu grande amor.

― Você acha muito piegas eu desejar um grande amor, Cassie?

Quando uma voz masculina esbravejou.

― Quem é Cassie, é mais um dos rebeldes? Você é um deles, cadê seu bando sua prostituta, eu vou matar todos vocês.

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