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Capítulo 2 - Pedofilia

Logo após a destruição de nossas casas pelos invasores e a prisão de nossos pais, pelo menos os que ainda ficaram vivos depois do confronto com a polícia, minha mãe perdeu completamente a noção da realidade e não dizia coisa com coisa. Fomos levados por minha tia que residia noutra parte daquelas propriedades, uma área que não foi incluída nas ações violentas do governo contra famílias indefesas.

As outras mulheres e seus filhos ficaram abandonadas sobre os entulhos que sobrou depois do incêndio que consumiu o pouco do que possuíam, nós, por outro lado, acreditávamos ter alcançado mais sorte do que eles, mas estávamos enganados. Tia Izabel era do tipo ambiciosa e capaz de tudo para alcançar seus objetivos na vida, ir morar com ela foi um terrível erro que tivemos de pagar a altos custos.

 Nossa mãe perdeu a lucidez e passou a viver vegetando, sem se dá conta do que acontecia ao seu redor. Assim, eu e meus três irmãos ficamos à mercê de nossa tia malvada que de imediato teve a ideia absurda de jogá-los no roçado das cinco da manhã às seis da tarde à base de pão e água, se não bastasse os coitados ainda tinham que dormir num barraco velho junto com um bando de animais imundos, tipo bodes e porcos. Fiquei por longo tempo sem me comunicar com eles porque não conseguíamos nos encontrar naquele fim de mundo.

 A propriedade era imensa e ela não me permitia sair de dentro do casarão, o mais estranho de tudo é que a velha gananciosa não me tratava mal, pelo contrário, fazia todos os meus gostos e fui transformada num tipo de princesinha da titia, até um quarto só para mim foi dado. Ali haviam vários empregados e duas gorduchas foram colocados para cuidar de mim, elas me deram banho, limparam minhas unhas que antes eram pretas de sujo e pentearam meus cabelos longos e endurecidos de tanto sebo por pouco terem sido lavados. Ganhei um vestidinho branco, limpo e perfumado, sapatos e meias.

Aquela frescura toda não era somente comigo, existiam outras meninas vivendo a mesma situação por lá, mas eram mantidas noutro pavilhão, separadas da casa grande onde minha tia vivia e me mantinha como uma visita especial. Qualquer outra moleca idiota ficaria feliz da vida ao ser demasiadamente paparicada, mas eu não, pois como minha vó Chica costumava dizer: “Quem nunca comeu mel, quando come se lambuza”. Nunca fui bajulada por meus pais nem qualquer outro parente.

 Percebi logo que alguma coisa estava errada e fiquei previamente em alerta, pronta para qualquer novidade que porventura viesse a acontecer. Me tratou tão bem que comecei a engordar, em poucos meses era uma moleca fofinha de pernas grossas e, imaginem só, criei até bunda. Em contrapartida, meus manos passavam fome e trabalhavam feito burros de cargas naqueles roçados dos infernos, não os enxergava, mas algumas mulheres que preparavam a comida dos boias frias me disseram que se alimentavam mal e penavam feito escravos no cabo da enxada.

 As vezes até eram surrados pelos capatazes. Juro que fiquei revoltada ao saber dessas coisas e jurei que aquela velha dos diabos iria pagar pelo que estava fazendo com eles, não descansaria até poder cumprir minha vingança. Outra que desapareceu e nunca mais tive contato foi mamãe, perguntava a todos quanto podia, mas ninguém sabia dá notícias, ela simplesmente sumiu. Bem, não falavam ou se omitiam por ordem da “senhora do chicote”, como chamavam a desgraçada da tia Isabel.

 Devido sua maldade sem limites. A verdade é que fomos separados, nossa família foi desfeita, completamente destruída e nosso pai permanecia na cadeia, sabe-se lá como, sequer fazia ideia se ainda estava vivo ou teria morrido nas mãos dos policiais. Passaram-se seis meses depois da invasão nas nossas terras e de toda a desgraça que recaiu sobre nós, nem sabíamos ao certo como seria nosso futuro desde então. Um dia de repente fui acordada pelas gorduchas que eram minhas babás mais cedo que de costume.

 Fui informada que por ser uma data especial deveria passar por um tratamento mais adequado ao momento em questão. Me levaram para tomar banho, a água na bacia feita de louça era tão gelada que doía nos ossos, me ensaboaram toda, passaram um liquido estranho no meu cabelo, por nome babosa, que encheu minha cabeça de espuma. Escovaram meus dentes com uma pasta branca e espumenta que ardia para o diabo, depois me enxugaram e fui levada para ver o demônio que mandava em tudo.

Ao ficar diante dela fitei meu olhar de ódio naquele monstro e prometi a mim mesmo um dia matá-la. O ódio que sentia por ter sido separada de minha família e por saber da forma monstruosa como meus irmãos estavam sendo tratados por aquela bruxa ambiciosa, trabalhando feito escravos nas suas terras sem ter direito algum me fez querer queimá-la viva e, se pudesse, faria aquilo ali mesmo sem mais perda de tempo. Me conduziram até a presença da megera que exigiu ficar a sós comigo para, segundo explicou, a gente ter uma conversa bem séria.

A descarada teve a cara de pau em dizer que me manteve naquele cativeiro com o único propósito de negociar minha honra com os coronéis, pois eles ofereciam muito dinheiro para que ela arranjasse menores. Crianças de minha idade que lhes serviam de diversão, com as quais praticavam todo tipo de fantasias sexuais, então compreendi o porquê de existirem tantas meninas no casarão e as razões de todas nós sermos tão bem tratadas por aquele monstro.

Tia Izabel era uma mulher alta, de corpo bem torneado, cintura de violão e olhos azuis, característica típica de uma cearense amarelada, irmã mais nova de papai que optou em nunca se casar. Desde bem cedo caiu na vida e foi para a capital se prostituir, se tornou a vergonha da família e meu avô a amaldiçoou devido a forma de vida que escolheu, enquanto suas outras quatro irmãs se casaram e honraram o nome do pai, dando continuidade a tradição de viver com dignidade.

Papai sempre falava a respeito dela com um tom de aborrecimento na voz, todos ficaram indignados com a maneira como ela conduziu seu destino, ridicularizando o restante de seus familiares diante dos estranhos, pois no sertão era assim, se filha de tal fulano virasse rapariga dava muito o que falar. Porém, o inusitado aconteceu e a pilantra soube conduzir muito bem a beleza que herdou de minha avó, que era linda na juventude, tornando-se uma prostituta de luxo e acompanhante de homens ricos na capital por vários anos.

Isso fez com que acumulasse no banco muito dinheiro e voltasse a sua terra natal depois de vinte anos cheia da grana e esnobando grandeza.  Porém, apesar disso continuou sendo renegada pelos pais e pelo restante dos familiares, o que a deixou amarga de raiva. Comprou uma enorme propriedade distante do nosso vilarejo e montou ali seu puteiro grã-fino, onde muitos de seus antigos clientes vinham de todas as partes se divertir e realizar suas fantasias sexuais com meninas que ela raptava de lugares longínquos com a ajuda de pessoas sem a menor índole e em troca de boas quantias.

Em alguns casos ela aproveitava a situação de algumas famílias tomadas por completa necessidade financeira e praticamente comprava suas filhas ao resolver o problema de seus pais.  Eles que por estarem endividados com a mesma eram obrigados a lhes entregar suas meninas ainda menores para a prostituição até que tivessem condições de devolver o empréstimo, o que era praticamente impossível.

 Visto que o juro sobre o valor devido era incalculável. Agindo de má fé e ocultando-se numa região de pouco ou nenhum acesso pelas autoridades, numa época onde não existiam leis em defesa dos menores, como existem hoje, a cafetina se dava bem no seu rendável negócio de exploração sexual. Pedófilos vinham dos grandes centros urbanos espalhados por todo o país ao prostíbulo satisfazer seus desejos imorais com as pobres coitadas. Eram informados pelas notícias transmitidas boca a boca da parte dos que experimentavam e aprovavam a nova forma de diversão.

 Pois não havia na época internet e as comunicações eram totalmente precárias, poucas vezes se fazia uso do telefone fixo para fazer uma reserva, escolher uma criança ou obter informações sobre o local, como não existiam celulares para uma comunicação mais segura o ideal era mesmo se fazer presente no ambiente pessoalmente. Aos finais de semana chegavam por lá muitos ricaços em seus carrões de luxo e já se falava em construir numa área localizada a certa distância um heliporto para receber clientes mais importantes.

 Que preferissem vir em seus helicópteros de lugares mais distantes, como Rio e São Paulo. Ali se reuniam homens e mulheres de todas as posições sociais, até políticos podiam ser visto entre os clientes daquele antro de prostituição infantil, sem que nada fosse feito no intuito de se punir tal crime. Com esse método imundo de trabalho minha tia se tornou a mais poderosa das cafetinas do sertão nordestino e passou a ditar as regras na região, diziam os mais antigos que ela mandava matar qualquer um que ousasse sequer falar algo contrário ao seu negócio.

 Ou ameaçasse denunciá-la as autoridades. Geraldo, Um dos empregados, certa vez me falou que quatro outros empregados da cretina foram enforcados, dois homens e duas mulheres. Eles haviam se encorajado em libertar algumas das pequenas e enveredaram mata a dentro, ela ordenou seus pistoleiros a ir procura-los e não voltar sem trazê-los de volta vivos ou mortos. Em pouco tempo haviam sido capturados, as meninas retornaram aos aposentos.

 E os quatros por ajudar na fuga das menores foram executados diante dos demais que serviam no lugar, para servir de exemplo. O velho disse que foi obrigado a ver, juntamente com todos os demais, o momento em que os carrascos enforcaram seus quatro amigos numa arvore sem a menor piedade ou misericórdia.  Ele lembrou que viu os olhos das mulheres e dos dois homens esbugalhados para fora depois do enforcamento. Minha nossa, só de imaginar tal coisa fiquei tremendo de medo e comecei a me preparar para o pior. Sem meus pais por perto para cuidar de mim.

 Meus irmãos mais velhos escravizados na senzala sem poder fazer coisa alguma a meu favor, pois eles mesmos estavam indefesos, o que aconteceria comigo àquela altura do campeonato? Certa vez perguntei a megera sobre o paradeiro de minha mãe e ela disse tê-la internada num hospital para tratamento de doenças mentais na capital porque sua cunhada estava passando por um momento delicado de saúde. Acreditei, pois desde que ocorreu a invasão na vila e papai foi preso ela ficou mesmo sem noção da realidade.

 Enquanto esteve no casarão permanecia o tempo todo sentada numa cadeira com o olhar fixo a certa distância, alheia a tudo ao seu redor. Quanto a meu pai a resposta da malvada era sempre a mesma, que não tinha notícias dele. Assim, se passaram longos seis meses sem que eu pudesse ter uma noção de como realmente estavam meus familiares, até que finalmente fui convocada a comparecer diante do monstro e acreditei ter sido para saber de algo referente a eles, mas me enganei, o assunto era outro, tratava-se do preço que eu teria que pagar pelo tempo que estive sendo tratada como princesa no maldito casarão.

— Minha querida sobrinha, como é bom ver que você foi bem cuidada por suas babás aqui na casa grande, prova de que sua tia é uma mulher de bom coração e se preocupa com seu bem, afinal, quem mais poderia ter cuidado melhor de você depois que tanta desgraça caiu de uma só vez sobre sua família, não é?

— Quero saber como estão meus irmãos. E mamãe, onde está?

— Ah, mas que gracinha, parece uma moça, indagando pela família com essa cara zangada! Tenha calma, minha menina, tudo ao seu tempo, primeiro vamos entender as razões pelas quais lhe chamei aqui, estes outros assuntos discutiremos mais tarde. E, para começar, você precisa compreender o seguinte: Eu não sou do tipo “titia boazinha”, que tem o hábito de sair por aí resgatando sobrinhas desvalidas, trazendo-a para casa no propósito de dar amor, carinho e proteção. Pelo contrário, meu anjo, aqui quem come do meu feijão tem que gerar renda e pelas minhas contas você já come desse feijão a mais de seis meses, chegou a hora de pagar por toda a despesa quem vem dando durante todos esses meses. Deu para entender a situação ou vou precisar ser mais clara?

— Não tenho dinheiro para pagar o feijão

— Ah, que gracinha! Não precisa ter dinheiro para pagar nada, sua tolinha, basta fazer tudo o que a tia m****r e pronto, tudo fica certo, entendeu? Só precisa obedecer sem questionar minhas ordens, combinado?

— Tá bom...

— Que lindo, assim que a titia gosta, levem-na para a suíte no andar superior e preparem ela de acordo com o costume, em breve receberemos algumas visitas importantes!

Apesar da pouca idade nunca fui uma moleca tapada, do tipo que era preciso um anjo descer do céu e me explicar que o diabo não chupa mangas, sabia mais ou menos do que tínhamos acabado de tratar. Vó Chica, numa de suas histórias me explicou que existiam pessoas más que faziam imoralidades com as crianças, um dia ela mandou eu ficar nua diante de um velho espelho que possuía pregado na parede, e disse: “Está vendo esse pedaço de carne pregado no seu corpo, menina?

 Tem muita gente malvada por aí que pagam qualquer preço por ele! ” Bem, a princípio fiquei aérea, nada entendi, até que ela explicou em detalhes o assunto.  Falou sobre os pedófilos, pessoas que sentem atração física por meninas e meninos na flor da idade.  E que estão dispostos a pagar valores altos em dinheiro para quem lhes proporcione a oportunidade de abusar uma pobre criança indefesa para saciar suas paixões sexuais malignas. Como disse anteriormente, nós nos tornamos grandes amigas e passamos a conversar sobre variados assuntos.

 Ela uma senhora idosa e eu uma fedelha, mas nossas mentes se cruzaram e parecíamos duas pessoas adultas dialogando, falávamos sobre tudo, e sexo não foi um tema descartado, pois ela dizia que uma mulher deve desde cedo estar preparada para enfrentar as armadilhas da vida. E, como mamãe não me orientava sobre esses pormenores vó Chica o fez, e devo admitir que de maneira bastante eficaz. Entendia que as informações colhidas entre os empregados eram verdadeiras, tia Izabel estava negociando minha virgindade com seus clientes.

 Iria dar minha inocência ao primeiro que estivesse disposto a pagar o valor proposto, de certa forma eu me tornei um tipo de troféu a ser leiloado em questão de horas. Minhas babás me conduziram ao melhor quarto da casa grande, fui jogada numa banheira de louça enorme. Deram-me outro banho e cobriram meu corpo de cremes e caros perfumes franceses, tudo como preparo para receber na cama o futuro hóspede, estava ciente disso, entendia perfeitamente do que se tratava e até já tinha planejado como seria o final daquela palhaçada.

 Sim, porque se estavam pensando que aceitaria deixar um macho trepar em cima de mim e rasgar minha perereca passivamente sem qualquer reação, estavam redondamente enganados. O desgraçado iria jogar dinheiro fora e teria como resultado um chute no saco para aprender a respeitar filha de sertanejo.  Aqueles ricaços de merda viam as mulheres do sertão como pessoas inúteis que só serviam para abrir as pernas.

Servir para tira-gosto e levar desaforos, mas quem ousasse me arrebentar na cama teria uma grande surpresa, pois sairia dali de quatro, com os bagos estourados, e assim aconteceu. Era madrugada, já tinha cochilado e despertado umas dez vezes por está assustada.  E ficado atenta para quando o safado entrasse no quarto, não queria ser pega descuidada para não ser violentada de supetão. Uma festa sem fim acontecia lá embaixo e minhas orelhas estavam atentos para ouvir passos que porventura viessem das escadarias.

A porta permanecia fechada, me escondia debaixo dos lençóis e conservava o olhar fixo na direção da entrada na intenção de ver o exato instante da chegada do pedófilo. O que ocorreu tempos mais tarde, quando já tinha esperanças de terem desistido do atentado contra minha honra. Ouvi passos na escadaria que conduzia ao quarto em que me encontrava tremendo feito vara verde, porém decidida a enfrentar o canalha. Vozes, risos, alguém movimenta a chave na porta e entra no recinto.

 A luz que ainda era um lampião dos que se enchem de gás é aceso e o ambiente se ilumina, pois, apesar do luxo o lugar ainda não possuía energia elétrica, esse era um dos caríssimos projetos da proprietária que não tinha sido concretizado, devido ser caro demais trazer tal modernidade da capital, porém não era uma ideia descartada pela vadia. Me fingi está dormindo, o indivíduo puxou o lençol que me cobria e começou a passar a mão sobre meu corpo, tirou meu vestido e fiquei quase despida, só de calcinha.

De tão pequena meus seios nem tinham se desenvolvido, eram apenas dois pontinhos sem qualquer importância, mas o cretino colocou a boca sobre eles assim mesmo. Deixei o otário pensar que era o dono da situação e bem a vontade ele fez muitas coisas nojentas no meu minúsculo corpo antes de se preparar para a penetração. Fui paciente e continuei fingindo um sono que nunca existiu, esperava o momento certo para agir. Não poderia ser apressada para que o golpe fosse certeiro, na hora e no lugar exato.

 Ele se levanta depois de me despir por completo, tirava a própria roupa para me possuir, mesmo de olhos fechados eu pude num relance ver a cara do monstro e aquela coisa enorme que queria introduzir no meu pequeno sexo, fiquei apavorada, mas me mantive paralisada sobre a cama na mesma posição que o demônio do pedófilo me posicionou. E no exato momento em que ficou bem próximo de mim, ao querer deitar por cima do meu corpo, me enchi de coragem e lasquei um forte chute nos escrotos do canalha e ouvi seus berros.

 Caindo rumo ao piso do quarto segurando seus testículos numa dor insuportável que tirou todas as suas forças. Vó Chica me disse que não importaria o tamanho do adversário, bastaria um chute certeiro nos grãos dele e pronto, cairia por terra e foi exatamente isso que tive em mente ao dar aquele enorme pontapé no porco imundo que tentou me violentar. Pretendia vê-lo agonizante no chão, o que de fato aconteceu. Estava nua e assim mesmo sai porta a fora rumo a cozinha onde sabia existir um armário velho de madeira bem grande, já sem uso, onde poderia me esconder.

Foi uma das mulheres que cuidavam de mim que deu a dica, pois faziam seu trabalho em troca de ganhar sustento com o qual alimentavam os filhos pequenos, mas abominavam tudo o que viam acontecer por ali.  Pois eram mães e muitas delas tinhas filhas na escravidão de onde não conseguiam tirar. E sofriam por saber que elas eram mantidas como prostitutas pela senhora do chicote, que ameaçava a todos de morte por causa do poder que tinha sobre os pobres coitados.

Fiquei dentro do armário o restante da madrugada e parte do dia seguinte, quando fui localizada por um dos machos que serviam de cães de guarda para a megera, e me levaram de volta pro quarto. As mulheres me deram banho e vesti roupas limpas, depois levada novamente a presença da peste, ela se encontrava de costa virada para a entrada da sala, olhando através da janela grande de vidro. Com uma cortina branca, feita em tecido fino, que enfeitava por sobre a parte superior e laterais da mesma.

 Mantinha as duas mãos voltadas para trás e nelas um cinto de couro trançado, o que dava a imediata ideia de que uma grande surra me aguardava. Ela se volta rispidamente e me encara com aqueles olhos brilhantes, capazes de fazer qualquer um mijar nas calças e me dirige a palavra com muito ódio. Deu a impressão de estar vendo sair fumaça de suas narinas, porém não me assustei e tão pouco fiz xixi na calcinha:

— Sua moleca nojenta, como pode fazer tamanha desfeita depois de ter sido tratada com tamanha delicadeza, comendo do bom e do melhor na minha casa? Por acaso achou que iria ser tratada nessa casa como uma princesa de graça, sem ter que depois retribuir algum benefício para mim? Meu bem, aqui ninguém vive sem me dá lucros e o que você fez ontem com um dos meus clientes trouxe um prejuízo enorme para mim, faz ideia do quanto me fez perder, sua fedelha?

Fiquei parada diante da explosão de ira da megera sem nada dizer ou fazer, após ouvir todo tipo de palavrões e maldições que ela poderia ter jogado sobre mim levei uma surra de chicote que tremi e dessa vez não escapei de mijar nas calças. Em seguida fui conduzida novamente aos aposentos na parte superior da casa, minha bundinha que agora já possuía um pouco de carne estava vermelha de tanto apanhar, a desgraçada era esperta e não chicoteou nas costas pernas e braços para evitar deixar marcas. Afim de não estragar a mercadoria, afinal, uma moleca toda manchada perderia muito o valor de mercado.

 Numa conversa com Maria das Dores, uma das babás, fui advertida.  Me disse que a infeliz de minha monstruosa tia pretendia arruma outra noite igual àquela que passou e me entregar nas mãos de um novo pedófilo que havia feito uma oferta bem maior que a primeira para furar minha perereca. Não conseguia entender o porquê de os machos desejarem tanto meu pedaço de carne. Vó Chica havia explicado direitinho essa história de sexo para mim nos tempos em que morou na nossa casa, mas mesmo assim eu ainda não compreendia plenamente o real motivo de tanta loucura por aquilo.

Claro, como uma criança que sequer tinha chegado a puberdade poderia ter a capacidade de sentir em seu corpo os mesmos desejos sexuais de um adulto? Hoje entendo que os pedófilos são pessoas totalmente desequilibradas psicologicamente, incapazes de enxergar a realidade da mesma maneira que as normais, nas suas mentes doentias veem o corpo de uma criança como se fosse de uma mulher adulta. Profissionais da área explicam que suas mentes monstruosas invertem as coisas.

 E ao olhar o corpo de uma mulher com idade apropriada para a prática do sexo não sentem qualquer interesse ou atração pela mesma, já se veem completamente tomados de desejos ao admirar as partes intimas de uma menor de idade.  Ou até mesmo de uma recém-nascida, chegando a cometer enormes barbaridades, como o estrupo. Esses demônios do sexo precisam ser detidos, presos e nunca mais receberem o direito de voltar ao convívio na sociedade.

Entretanto não é isso que geralmente ocorre, a polícia prende tais delinquentes e a justiça manda soltar, como se abuso sexual não fosse crime. O que de fato funciona nestes casos é a punição feita por outros criminosos que não perdoam quem tal ato praticar. Na prisão homens acusados de cometer abusos contra mulheres e crianças são mortos da pior forma possível, se caírem lá dentro e for revelado a eles tal conduta do detento é morte certa. Infelizmente na minha época de infância não existiam tais leis para nossa defesa.

Nem meios modernos como temos agora para fazermos uma denúncia anônima, o jeito era aceitar a opressão dos poderosos ou usar os meios disponíveis para combatê-los. Tia Izabel voltou a preparar tudo para receber o próximo cliente que viria me pegar na cama, dessa vez eu não escaparia. Naquela noite, presa dentro do quarto e completamente nua na cama de casal, depois de ter sido avisada pela cafetina dos infernos que se não desse o que me pedisse o cretino do tarado, ela iria punir meus irmãos com a morte  Me encontrava sem saída e disposta a cumprir suas ordens afim de garantir que nada de ruim aconteceria com meus manos.

 Como havia sido prometido caso fosse boazinha com o pedófilo. O infeliz pagou mil réis pelo meu corpo, com a garantia de usá-lo como bem entendesse, podia morder, lamber, invadir com sua porcaria enorme. Beliscar e até me matar, a bruxa garantia sigilo total, ninguém saberia de nada. Como fiquei sabendo disso? Ora, as babás me contaram. Jurema era mãe de Jade, uma menina linda que como eu nasceu no sertão com a maldita sina de se tornar escrava naquele inferno e depois que tia Izabel iniciou seu tráfico de menores pegou a coitada dos pais.

 Em troca de ajuda-los com emprego e uma casa boa para morar, o pai de Jade trocou ela por estas coisas e a mãe nada pôde fazer ao contrário, nem dinheiro ou poder para combater a miserável. Ou discordar da decisão do marido que achou ser correto amparar a si mesmo do que a pobre garota, que desde os nove anos de idade vivia ali, . Mesmo sem ter contato com as outras meninas do prostíbulo as vezes podia vê-las tomando banho na piscina que ficava nos fundos do casarão, olhando da sacada do quarto onde dormia.

Foi assim que fiquei sabendo como as coisas aconteciam na noite em que éramos entregues nas mãos de nossos futuros donos. Por um bom valor pago eles poderiam fazer o que quisessem com a gente, até matar, menos nos levar embora dali. O que era de mais interessante saber era que a maligna da minha tia concordava em nos vender para tais indivíduos, consentindo a eles o direito de nos tirar a vida, mas não em nos libertar de tão grande escravidão, aos seus olhos não passávamos de um produto descartável que lhe possibilitava ganhar muito dinheiro.

Para mentes perversas como a de Izabel o que realmente importa é o resultado, aquilo que estão dispostos a ganhar nos seus investimentos. O resto que se danem. E eu era apenas a droga de uma moleca através de quem ganharia alguns mil réis, a moeda da época.  Ela queria retorno imediato do seu investimento e para conseguir isso acontecer estava disposta a tudo, até mesmo matar ou morrer, entretanto naquele caso a vítima seria eu mesma caso me negasse a cooperar.

 E junto comigo seriam esmagados todos quanto fizessem parte de minha vida, como mamãe e meus irmãos. Ela passaria por cima de todos como um rolo compressor, sem nenhuma misericórdia.  Até alcançar o que queria e isso incluía ganhar muita grana. Ou eu abria as pernas para os pedófilos e saciava a tara deles como a maligna cafetina havia mandado ou o pior aconteceria, sua tática funcionou como planejado e eu decidi me render às pressões. Aquela noite seria decisiva, um estranho chegaria no meu quarto e me possuiria.

 Faria o que quisesse comigo e nada poderia ser feito para evitar tamanha desgraça.  Não iria adiantar gritar, fazer escândalos, tão pouco pedir socorro ou dá outro chute certeiro nos testículos dom maldito que viria me rasgar toda. Bem, como não tinha mais nada a fazer voltei ao capítulo anterior, fiquei novamente deitada na cama de casal, nua, esperando meu carrasco que não demoraria a chegar para me torturar. Sorte minha se saísse dali com vida, só me restava torcer que mamãe e meus manos ficassem bem, que a megera cumprisse sua promessa de deixá-los viver.  

Outra vez começaram a chegar ao casarão os convidados da cruel cafetina, muita música, bebida, drogas e em seguida a carnificina. Depois da meia noite cada qual escolhia um quarto e sua criança preferida para saciar sua sede de sexo, mas para ser o primeiro na transa com uma virgem como eu teria que ter cacife, ou seja, pagar um valor muito alto, além do comumente cobrado. E alguém resolveu bancar o cachê pela segunda vez, dessa vez eu estava lascada, não tinha saída.

 Afinei os ouvidos e esperei pacientemente que ele adentrasse no calabouço onde me encontrava indefesa e sem a menor chance de escape. Ouvi passos nas escadas, danou-se, era chegada a hora do martírio. A porta se abriu e o monstro entrou, certamente estaria orientado pela maligna sobre os cuidados que deveria tomar comigo na hora H, pois o anterior levou um chute nos grãos e passei a ser vista como uma urtiga brava. Permaneci como da primeira vez, quieta e sem demonstrar qualquer reação contra seus toques nojentos.

Me dá nojo lembrar o aquele infeliz fez no meu corpo, o pior de tudo foi não sentir qualquer prazer a não ser uma dor descomunal ao ser invadida por aquele membro enorme que parecia me partir ao meio, desmaiei e só acordei horas depois. Quando as mulheres me despertaram. Me encontrava toda rasgada, ardia tudo dentro de mim. Trataram meu corpo por vários dias e mesmo assim ainda sentia como se o membro do maldito estuprador permanecia dentro dele, sentia-o invadindo minha pequena vagina e rompendo meu lacre.

 Via em meus pensamentos cheios de pavor a perda dolorosa da minha pureza que me fez gemer num grito abafado pela mão do agressor posta sobre minha boca enquanto sangrava sobre os lençóis daquela cama onde semelhante a mim diversas outras meninas foram violentadas. Minha situação era de dar pena, minhas partes íntimas encontravam-se em carne viva, ainda sangrando e bastante dolorida, nenhum remédio que bebesse ou fosse passado por cima pararia a dor. Mas não estava preocupado comigo mesma.

 Queria apenas saber se Isabel tinha comprido com suas promessas, pois me entreguei ao pedófilo que noites atrás havia me rasgado toda para que eles pudessem ficar bem e protegidos. Porém, de acordo com as informações colhidas através de minhas babás. Ela não cumpriu nem um milésimo do prometido e ainda transferiu meus manos do roçado para trabalhar nos engenhos de cada de açúcar, num trabalho bem mais forçado do que no cabo da enxada.

Quanto minha mãe? Bem, esta não foi internada num hospital para tratamento de doenças mentais, mas num manicômio, local onde os perturbados da mente ficam ainda mais pirados. Ali os doentes são tratados a base de choques elétricos e todo tipo de atrocidades que se possa imaginar, ao invés de cura eles encontram piores complicações na já delicada condição mental e ficam cada vez mais lunáticos. Não existia a menor chance que ela estivesse melhor do que quando foi enviada para lá, se é que já não estivesse morta.

Resumindo, me doei por nada para satisfazer os caprichos malignos de homens imorais e para ajudar uma miserável a ganhar a fortuna que tanto desejou conquistar durante toda sua trajetória como prostituta e como resultado o que restaria para mim era um futuro incerto e cheio de revolta pelo mal que fui obrigado a suporta/r. Isabel não quis mais se comunicar comigo, apesar de meus apelos em tentar lhe falar, passei a ser tratada como as outras meninas que viviam ali antes de mim, elas não tinham acesso a dona da casa.

 Permaneciam trancadas nos seus aposentos e somente saiam ao serem convocadas para atender aos clientes. Diferente dos ambientes da cidade grande no casarão os homens não ficavam nas mesas cercados por prostitutas e sim por menores. Eram de todas as idades, a mais nova era eu, então com onze anos. Meu aniversário se deu exatamente na noite em que fui violentada por um brutamontes imundo. Como não tinha outra forma de sobreviver nem para onde ir, me rendi. Aceitei inerte ao que o destino reservou e virei uma puta mirim.

 Com o passar do tempo, sendo bem alimentada, surgiu em mim uma beleza física que sequer imaginei possuir no meu interior, aquela aparência de antes desapareceu dando lugar a uma jovem alta, esbelta, de olhos amarelados, com cabelos longos e ondulados, com uns pernões e quadris de fazer inveja. Dez anos depois de ter sido levada para aquele antro de prostituição infantil e ser estuprada por um pedófilo pelo menos trinta anos mais velho que eu.

 Me transformei na prostituta mais desejada do lugar. Várias vezes pude contemplar os machos indo aos tapas por minha causa. Um dos clientes que costumeiramente visitavam o casarão ficou apaixonado e vi nele a oportunidade de sair dali, visto que não tinham mais família e nem para onde ir caso decidisse abandonar aquele lugar. Todos os meus outros tios perderam seus bens na mesma época em que nós e dessa maneira não sabia ao certo se tinham conseguido se reestabelecer.

Meus irmãos desapareceram, perdemos o contato depois de terem sido mandados para os canaviais, eu vivi por dez anos no mesmo lugar me prostituindo e sem saber como estava o mundo do outro lado das altas muralhas que nos cercavam. Mas, acreditava que se saísse dali com alguém as chances de dar certo eram maiores. Ricardo se mostrou capaz de tudo por mim. Então lhe contei minha história e perguntei se estaria disposto a me ajudar a fugir e recomeçar uma nova vida na capital, ele topou e começamos a planejar tudo desde aquele momento.

Acontece que ninguém está livre da traição e cair na tolice de contar sobre o plano para uma das colegas de quarto, que por sua vez conta tudo a Izabel e na noite em que eu e Ricardo decidimos escapar do casarão a infeliz mandou seus cães de caça irem atrás de nós com a ordem de nos trazer de volta vivos ou mortos, a perseguição foi acirrada, se deu nas primeiras horas de um dia de domingo, era inverno e chovia bastante. Estávamos embrenhados na floresta montados em dois cavalos puro sangue pertencentes ao pai dele.

 Um grande fazendeiro da região, local para onde pretendíamos ir nos esconder por um tempo até sabermos ao certo o que fazer. Entretanto, eu não tinha muita prática na montaria e fui forçada a cavalgar devagar, o que atrasava em muito a nossa jornada e enquanto isso os perseguidores estavam nos alcançando com cachorros farejadores e em pouco tempo iriam nos alcançar, mas Ricardo era experiente e logo percebeu que estávamos sendo seguidos.

Então teve a ideia de me colocar na mesma montaria em que ele estava, o que nos permitiu ganhar terreno. Mas os pistoleiros de Izabel eram ainda bem mais hábeis no que faziam e jamais saíram em busca de fugitivos sem que os trouxessem de volta, criaram atalhos e acabaram por nos encurralar antes que pudéssemos alcançar a fazenda onde iriamos nos abrigar. Cercados e sem saída fomos obrigados a nos render.

 Ao sermos levados de volta ao casarão sabia que a cafetina não iria aceitar a afronta sem dar o troco. Pois tinha consciência do quanto ela era vingativa. Porém, tinha a esperança que nada de ruim fosse feito contra meu libertador, sendo ele filho de um importante fazendeiro da região ela talvez se sentisse impedida de feri-lo, mas me enganei terrivelmente. Fomos amarrados r levados até a presença de Izabel que se encontrava num local longe do casarão, próximo aos engenhos. E ali deu-se início ao castigo que ela definiu para nós dois.

Fomos os dois amarrados em cadeiras e postos na frente dela, que permanecia em pé com seu chicote preso a uma das mãos, seu olhar era de uma herege decidida a nos punir com o rigor da morte. Depois de nos espancar com aquele rabo do diabo e deixar nossos corpos seriamente retalhados pelas chicotadas recebidas, ela ordenou aos seus subalternos que jogassem gasolina sobre Ricardo que se encontrava quase desmaiado de tanto espancamento e incendiá-lo. Apesar de meus gritos com pedidos de clemencia nada pude fazer para impedir aquela ação macabra.

 Eles o queimaram vivo bem diante de meus olhos e até hoje não consigo apagar aquela cena horrível de minha mente. Depois de tudo me deixaram ali presa a cadeira e sangrando para morrer, permaneci no mesmo lugar por dois dias e duas noites sem comer nem beber, até que para minha surpresa fui resgatada pelos mesmos animais que me espancaram e mataram Ricardo, por ordem da impiedosa cafetina, ela me proporcionou retornar para casa e recomeçar.

Não entendia o porquê de ela não ter mandado me matar como fez com meu amigo, mas respirei aliviada. Se passaram alguns dias após meu retorno ao casarão sem a menor sombra da presença de Isabel — parei de trata-la como tia a muito tempo atrás, quando amadureci e compreendi que não tinha porque tratar com respeito ou como um familiar tal pessoa, capaz das piores barbaridades contra seus próprios parentes —  

Até que fui designada a comparecer no seu gabinete para tratar de assuntos importantes. Adentrei no recinto e deparei com aquela que se intitulava minha protetora, não me foi estranho outra vez contemplar seu olhar maligno fitado no meu ar de puro desprezo, pois apesar do seu poder e da capacidade de ficar impune em suas maldades, não lhe temia.

— Lhe chamei aqui para fazer uma única pergunta: Por acaso está pretendendo morrer?

Porque se esse é o seu desejo posso providenciar agora mesmo para que isso se cumpra! Teve sorte de eu considerar nosso parentesco no momento em que ordenei a execução do seu parceiro de fuga, caso contrário a estas horas já estaria sob sete palmos como ele está

— Interessante, não sabia que havia algum tipo de parentesco entre nós, afinal, quem trataria como escravo e permitiria que lhes fizessem as piores maldades a um membro de sua própria família?

— Não seja ingrata, se não fosse por mim você teria ficado no relento e hoje viveria sabe-se lá por onde como muitos outros daquela época, depois de terem perdido tudo o que possuíam. Admita que fui seu porto seguro, sua única saída e se hoje tornou-se nessa mulher linda e inteligente foi graças a mim!

— Quer que eu agradeça pelas roupas caras, calçados e joias que me deu, titia? Pois saiba que não farei isso, afinal de contas todas estas coisas foram pagas antecipadamente por um alto preço, quando fui forçada a me tornar uma prostituta ainda criança neste antro de prostituição para lhe permitir concretizar suas ambições. Portanto, me poupe de suas ladainhas e não ouse pedir que eu agradeça o que fez por mim nestes dez anos, porque o que de fato me deu foi machos para tirarem minha inocência e usarem como bem queriam meu corpo, coisas das quais sequer pesam na sua consciência.

— Minha querida, não seja dramática, tudo na vida tem um preço, para que não ficasse abandonada na rua, sem eira nem beira, lhe trouxe a esta casa e lhe transformei nessa mulher brilhante, a qual tantos homens desejam. Seja grata pela oportunidade que o destino lhe proporcionou

— Talvez eu não possa dizer, cara a cara, ao destino o que penso dessa rica oportunidade que ele me deu, mas a você eu posso e quero lhe falar apenas uma coisa: Sempre ouvi dizer que existe nos céus um Deus que defende os pobres e oprimidos.

 Porém não esteve presente, quando mais precisei de ajuda. Portanto, não tenho nele fé suficiente para esperar que a justiça divina será feita em meu favor. Mas quero te garantir que um dia vou te fazer pagar por toda a maldade com que tem tratado não somente a mim, mas a todos os pobres diabos dessa terra. Vingarei a morte de Ricardo e ainda te verei apodrecendo na cadeia!

— Muito bem, sonhar não é pecado, pode ter seus delírios o quanto quiser. Porém entenda que estou numa posição alta demais para que pense em vingança contra mim, pois sequer poderá me tocar

— Ninguém está tão alto que um dia não possa cair, e grande será sua queda, ordinária!

— Esbraveje à vontade, minha sobrinha, mas não esqueça disso que vou lhe revelar agora: Deve ter se perguntado as razões que me levaram a poupar sua vida depois do último episódio ocorrido, em que mandei matar aquele idiota que pensou poder tirá-la de mim. Mas, como disse, fiz isso por causa de nosso parentesco, assim como farei melhor ao passar a você tudo o que tenho. Não gerei filhos, sou uma mulher seca por dentro, e sempre me preocupei com o fato de não ter a quem deixar o império que construí. Ao lhe encontrar sobre aquele amontoado de entulhos, chorando e sem ter qualquer amparo.

 Me veio à mente a certeza de que de alguma forma havia encontrado a pessoa certa para herdar meus bens. Então prepare-se, porque em breve será a nova Senhora do Chicote” nesse lado do sertão!

— Há, isso só pode ser brincadeira ou delírio de uma pessoa que perdeu a noção da realidade, quem disse que tenho qualquer interesse em herdar bem algum conquistado em troca das maldades com as quais sempre oprimiu as pobres pessoas que tiveram a infame sorte de cruzar seu caminho? Jamais aceitaria um níquel sequer que viesse de alguém como você!

— Desculpe, minha fofa, mas não estou perguntando qual é sua opinião sobre a decisão que tomei de lhe transformar em minha herdeira, na verdade eu estou é ordenando que assim se faça. E pode ter na certeza que você irá aceitar cumprir essa missão o quanto antes.

 Ou o resultado de sua teimosia resultará em graves consequências, não esqueça nas mãos de quem se encontra o poder de fazer seus amados irmãos e sua mãe louca perecer!

— Maldita, sempre usando de chantagens para conseguir aquilo que quer, mas dessa vez não vai se dar bem nas suas ameaças, pois a muito tempo não tenho notícias de meus irmãos nem de mamãe, sequer sei se ainda vivem, então não cederei a sua tentativa de me chantagear

— Tem toda razão, minha cara sobrinha, de fato não considerei essa hipótese, porém isso é algo que se pode resolver em questão de horas. Hoje mesmo ordenarei que um dos meus empregados a levem até os engenhos próximos aos canaviais para rever seus irmãos e verá com seus próprios olhos que os três ainda vivem e até já se casaram, formaram suas famílias e só não lhe visitam porque eu os proíbo de virem aqui. Depois disso você retornará para cá e daremos continuidade a nossa conversa, agora retire-se, vá trocar essa roupa por uma mais adequada para cavalgar

— Não acredito mais nas suas mentiras, porventura pretende me m****r para ser morta por um de seus jagunços no meio aos canaviais?

— Não seja boba, menina, se lhe quisesse morta não teria poupado sua vida, quando tive maiores razões para executá-la. Agora vá e faça como acabei de lhe ordenar

Aquela tarde ensolarada nunca mais seria esquecida, um dos jagunços me levou até os engenhos e lá pude reencontrar meus manos. Jeronimo, apesar de não ter passado dos trinta anos, já começava a cair o cabelo no centro da cabeça, seria um homem calvo como papai. Todos tinham suas esposas e filhos como Izabel falou, eu já era tia de seis sobrinhos lindos, mas bastante carentes como fomos na nossa infância. Fiquei ali com eles, em suas casas feitas de barro e pedras como era a que nascemos, durante o restante do dia e retornei ao casarão ao anoitecer, não perdi tempo e fui ver a ordinária para dar continuidade a conversa iniciada pela manhã

— E então, agora está mais tranquila depois de confirmar que seus irmãos estão bem?

— Depende do que significa estar bem no seu ponto de vista

— Para mim esse termo significa estarem vivos, minha jovem, porque na verdade aqueles três não possuem a menor serventia para mim, poderia m****r executá-los ainda hoje e nem fariam falta!

— Nem se atreva a tocar num só fio de cabelo deles e daquelas crianças!

— O que você poderia fazer para evitar? Certamente que nada estaria a seu alcance que pudesse impedir minha decisão em dispensar deste mundo aqueles inúteis e suas famílias, porém não serei eu a fazer isso, cabe a você decidir se eles continuam a levar suas vidinhas medíocres naquele lugar ou se serão ceifadas num estalar de dedos.Resolva se aceita ou não ser minha herdeira, estou velha e cansada dessa peleja no casarão, já não tenho paciência nem forças físicas para dar continuidade nesse negócio

— Então essa será sua palavra final, se me negar a assumir o prostíbulo vai mesmo atentar contra a vida de meus deles?

— Acho que não deixei nenhuma dúvida quanto a isso, minha cara

— Reconheço ser extrema a situação na qual me encontro e serem poucas as opções que me restam, entretanto, antes de aceitar sua proposta quero pedir que me permita mais uma coisa...

— Certo, e o que seria?

— Quero rever minha mãe, se é que ela ainda está viva. Me permita ir no hospital psiquiátrico onde ela se encontra na capital

— Farei melhor, mandarei que a tragam aqui para que passem um final de semana juntas no casarão, afinal não há a necessidade de se deslocar daqui até a capital para vê-la se ela pode vir ficar uns dias com você

— Tá certo, estamos de acordo, então

No final da semana seguinte uma ambulância veio da capital, trazendo mamãe para passar um tempo comigo, como prometido. Aproveitei para leva-la até onde se encontravam seus outros filhos para que pudessem vê-la, as noras e os netos conhece-la, e aquele momento foi único para todos nós. Ela se encontrava totalmente alheia a realidade, perdeu a noção do mundo a sua volta depois do choque sofrido durante nosso despejo na vila de forma brutal e a prisão de papai foi o que mais contribuiu para sua demência mental.

Na realidade, o que não sabia era que ela nunca esteve sendo bem tratada num bom hospital na capital como a infeliz de minha tia havia me garantido, isso eu descobriria mais tarde e ficaria ciente da real situação de minha pobre mãe. Passados os dias de visita Izabel mandou que a levassem de volta e me incumbiu de administrar o prostíbulo, o que passei a fazer de imediato. Ao se espalhar entre os clientes o boato sobre a nova administração dobrou o número de visitantes e a clientela aumentou consideravelmente.

 Rendendo alto lucro para os bolsos ambiciosos da cafetina. As vezes ser dona de uma beleza extrema nos trazem incalculáveis resultados, bons ou ruins. Poucas semanas após assumir a direção do casarão dois clientes passaram a insistir na ideia de irem para a cama comigo, apesar de muito explicar que dali em diante não estaria à disposição deles para fazer novos programas, assim mesmo eles insistiam e terminaram estranhando-se entre si. O que era apenas uma discussão verbal e sem gravidade se transformou em violência física.

 Os dois homens se atracaram no meio do salão e o quebra-quebra terminou num tiroteio que culminou na morte de um deles.  Izabel ao ser notificada do ocorrido se fez presente e ordenou que dois jagunços se livrassem do corpo. Como era de praxe naqueles casos, os convidados fingiram nada ter visto, pois como o lugar era clandestino e se tratava de pessoas ilustres de todas as camadas sociais que vinha da capital e de outros Estados para ali se divertirem, preferiam não se arriscar a serem descobertas pelas autoridades.

No período que assumi o prostíbulo muita coisa já havia mudado, a prostituição de menores era uma das coisas que tinha sido extinto, com a modernidade despontando e a tecnologia ao alcance da mão Izabel temeu ser denunciada e passou a ser madame de puteiro com mulheres adultas a continuar sendo aliciadora de menores como fez no passado.  A maioria das prostitutas eram oriundas das antigas crianças que foram sequestradas, compradas e escravizadas ali décadas atrás.

 Um ano depois de concordar em assumir o prostíbulo já tinha realizado atos que merecia aplausos de meus subalternos, fiz uso de uma grande área de terra localizada a uns quinhentos metros de distância de onde estávamos para a construção de várias casas em alvenarias para nossos empregados morarem com suas famílias, foram construídas cerca de cinquenta casas e entregues aos novos donos, inclusive aos meus três irmãos, que saíram dos canaviais e passaram a morar bem mais próximo de mim e com mais dignidade.

Tudo aquilo podia ser feito, mas Izabel era miserável ao ponto de negar melhorias na vida de seus subalternos, então não medi esforços para melhorar suas formas de vida. Aumentei o salário dos trabalhadores e passei a trata-los com mais respeito, claro que a cretina de minha tia rosnava como uma leoa braba por cada centavo gasto, mas se me entregou o poder sobre seus bens deveria aceitar em silencio, ainda mais depois de ter mandado seu advogado lavrar o testamento definitivo que me dava pleno direitos sobre tudo o que possuía.

Mas, eu deveria ter desconfiado de tudo aquilo a mais tempo, da mudança repentina de uma mulher maligna como aquela. Ela não apenas me entregou tudo o que tinha de mãos beijadas como aceitava passivamente minhas decisões, seria apenas pelo fato de ter me colocado como principal herdeira no seu testamento? Não, certamente havia mais coisas por detrás disso e meu erro foi não me importar com minha intuição, que nunca falha, deveria ter investigado.

Durante os meses que assumi seu lugar no puteiro ela só viajava, com a desculpa de está resolvendo a compra de um imóvel na capital para onde pretendia mudar em breve, se dizia interessada em viver seus últimos dias de vida por lá. Vicente, seu amante, que era casado e morava em Fortaleza a muitos anos confirmava sua versão. E isso me fez dar crédito a sua história. Certo dia ela aparece inesperadamente para se despedir e comunicar sua mudança definitiva.

 Disse que tudo ali passaria a ser exclusivamente meu e que não daria mais notícias, todos nós festejamos pela saída da senhora do chicote do sertão e passamos alguns meses em paz, até que uma bomba explodiu e consumiu a boa vida que imaginamos ter conquistado. Como aconteceu anos atrás, quando fomos surpreendidos pelas autoridades no vilarejo e informados sobre a necessidade de abandonar nossas casas mediante uma ordem de despejo expelida pelo governo. Devido o não pagamento dos impostos da terra em que morávamos, fomos surpreendidos por quatro homens à procura de Izabel.

Eles se identificaram como oficiais de justiça, acompanhados de vários policiais, com mandatos nas mãos que lhes davam plenos poderes para revistar toda a casa, confiscar os bens e prender a proprietária do ambiente sob acusação de estar traficando drogas, mantendo mulheres em cárcere privado, aliciamento de menores e ocultação de cadáveres nas imediações da propriedade. Pega de surpresa nada soube dizer ou fazer diante das acusações, de certa forma verdadeiras, com as quais as autoridades se apresentaram.

 Toda a propriedade foi alvo de intensa investigação, haviam peritos por toda parte, desde o início e fim das terras á procura de provas que nos incriminassem. Acontecia que com toda a facilidade de acesso pelos meios de comunicação pessoas com sede de vingança passaram a chantagear Izabel, eram mulheres que haviam sido vítimas da escravidão sexual nos tempos de infância no casarão e que, depois de adultas partiram, mas usaram de astúcia e tiravam proveito da situação.

 Forçando a antiga cafetina a lhes pagar altas quantias em dinheiro para não denunciá-la. Cansada das chantagens a desgraçada passou a batata quente para minhas mãos e caiu fora depois de um tempo. Sem causar desconfianças, se safando das possíveis denúncias e escapando ilesa da prisão, e quem ficou de laranja em tudo aquilo fui eu, que não tinha a menor chance de provar o contrário do que diziam os acusadores, pois de fato tudo era a mais plena verdade.

 Durante décadas ali havia sido um local onde crianças foram mantidas cativas e entregues a pedófilos que vinham de todas as partes realizarem suas fantasias sexuais com meninas e meninas, eu mesma fui vítima daqueles abusos, como negar? Por vários dias os policiais e peritos vasculharam tudo, os clientes presentes na hora da abordagem foram detidos, o cadáver de desovado nas imediações da propriedade também. Foi localizado, eu e as demais mulheres que atuavam como prostitutas também fomos presas, o local fechado, os funcionários dispersos, era o fim!

 A mídia noticiou o ocorrido, falavam sobre ter sido descoberto um antro de prostituição e aliciamento de menores em pleno sertão nordestino, minha cara foi estampada nas primeiras páginas das principais revistas e jornais por todo o país, fui entrevistada, caluniada, considerada uma das mais vis criminosas desta nação, mantida presa, depois julgada e condenada a vários anos de prisão, jogada numa penitenciaria feminina e deixada ali para apodrecer até que por misericórdia a morte me tirasse de tamanho inferno.

Mais uma vez a maliciosa irmã de meu pai agiu astutamente, escapando da merecida punição pelos muitos erros que cometeu, lançando sobre mim, uma inocente, a cobrança por seus inúmeros crimes, pois para a justiça o que realmente conta são as provas concretas e quem foi flagrada com a mão na massa fui eu e não ela. Durante o julgamento tentei como defesa contar ao juiz e seu júri toda a minha história, desde o momento em que fui levada ao casarão que serviu como cativeiro par mim.

 E muitas outras crianças da mesma idade, por vários anos, até aquele instante em que fui presa. Tinha a esperança de que se comovessem com meu sofrimento e fosse liberada, Mas nada adiantou e o resultado foi receber a pena de quinze anos de prisão em regime fechado, sem direito a apelação por parte da defesa, mesmo com o testemunho a meu favor de algumas prostitutas e antigos empregados de Isabel, ela se livrou das acusações e fiquei encarcerada em seu lugar.

 Foi tudo devidamente planejado pela maldita aliciadora de menores e seu amante, que era um homem muito rico e influente, comprou advogados e o juiz para que apesar das evidencias que apontavam para Izabel ela se safasse das acusações e eu fosse o bode expiatório. Dado a sentença fui encaminhada de imediato ao presidio feminino de segurança máxima localizado no Estado da Paraíba. Onde permaneceria por uma grande parte de minha maldita existência. A viagem da capital para o local de detenção se deu ao meio dia de uma sexta feira no primeiro mês de um inverno com fortes chuvas.

 Dessa vez eu não iria poder ficar debruçada sobre a janela observando o cair das gotas de água sobre as plantas do quintal nem sentir o assobiar dos ventos passando por entre meus cabelos. Não poderia seria possível admirar a firmeza da jaqueira nem a beleza da faveira com suas cores coloridas e presas a suas raízes profundas, cujos galhos dançavam no embalar da tempestade. Pelo menos não teria que reviver os dez piores anos da minha vida nem ser rasgada por um pedófilo.

 Tão pouco seria forçada a praticar atos imorais e vergonhosos com os muitos amantes do casarão novamente. Durante todo o trajeto me mantive de olhos fechados e apenas revivia meu passado como se assistisse  a um filme, desde minha infância ao lado de meus pais e irmãos no pacato vilarejo onde nasci até o exato momento em que, algemada pés e mãos, era levada como uma criminosa rumo ao convívio com a escória da sociedade

Quem deveria estar ali, sendo tratada daquela maneira era a verdadeira culpada por tudo de ruim que foi praticado contra aqueles inocentes, mas a vida nem sempre é justa, como dizia vó Chica. As pessoas de bem sempre pagam pelo mal que os injustos praticam, por mais que digam ser as pessoas honestas a parte mais forte, a luz parece perder para a escuridão. Chegamos na casa de detenção e ao se abrirem os portões fomos conduzidos para o interior da prisão, éramos em números de sete pessoas, ao descermos do veículo fomos recebidos de forma hostil pelos guardas.

 Todos de arma em punho, como se de alguma forma pudéssemos ser perigosos ao ponto de lhes causar algum mal. Nos levaram para uma ala nas partes mais baixas do local. Um subterrâneo cheio de celas e nelas muitos prisioneiros que mais pareciam ratos dentro de um enorme e fedido esgoto, sujos, completamente abandonados, suas roupas não passavam de farrapos e tinham seus corpos cobertos de lama. Nós seríamos os próximos na lista dos que seriam esquecidos naquele buraco de onde certamente jamais sairíamos.

 A não ser que acontecesse um milagre do qual ninguém ali mais esperava. Quando tudo na nossa vida começa a dá errado e só os poderosos se saem bem, apesar das maldades que cometem, perdemos a fé e a esperança de dias melhores se desfazem, sem nada dizer os carcereiros nos empurraram estupidamente para dentro das celas. Um em cada uma delas, e passaram a chave. O local era escuro e úmido, ouvia o grunhido dos ratos que corriam de um lado para o outro, vindos dos muitos bueiros existentes naquele buraco.

Uma vez ao dia recebemos uma comida que mais parecia uma gororoba preparada para porcos. Que nos era empurrada por debaixo da larga e forte porta de aço que nos prendia no cárcere e separava do corredor de onde ouvíamos os gritos dos outros detentos. Eles pareciam estar enlouquecidos por terem ficado tanto tempo trancados naquele inferno sem verem a luz do sol e devido a constante sujeira espalhada em torno deles, o lugar era uma verdadeira podridão.  Cheio de lixos e entulhos, além do que fazíamos nossas necessidades fisiológicas num vaso velho imundo.

 Amarelo pela ferrugem de uma água sem nenhum tratamento. Que era conservada num depósito a muitos anos sem limpeza e com toda certeza contaminada de propósito para causar a morte dos prisioneiros, visto que não era projeto da justiça devolvê-los à sociedade. Resumindo, estávamos ferrados, destinados a apodrecer juntamente com o lixo espalhado por cada uma das alas da cadeia.

 E até o momento eu não tinha a menor ideia de como escapar daquele poço onde satanás pendurou as botas. Isolados em nossas celas só ouvíamos o zumbido dos grilos. O grito assombroso dos presos mais antigos e a visita constante da insônia, por ser impossível conseguir dormir num chão frio e lamacento. Com baratas e ratazanas passando por cima de nossas pernas, sem uma cama decente, rede ou pelo menos um papelão seco onde recostar a cabeça, um segundo ali parecia toda uma eternidade. Minha estadia naquele lugar de tormento demorou doze meses.

 Até que me transferiram para uma ala superior, onde aos presos pelo menos era permitido tomar banho. Estava magra, suja, fedendo a esgoto e pude ir ao banheiro me lavar, tive que fazer isso sozinha porque as outras presas não suportavam meu fedor. A ordem para ser retirada da vala imunda foi dada por alguém que eu não conhecia, um protetor anônimo, foi uma das carcereiras quem me alertou disso. Fiquei grata e aliviada pela oportunidade de pagar minha pena de forma mais justa, afinal era inocente das acusações que recaíram sobre meus ombros.

 Mas no fundo me preocupava com o fato de ter que viver em dívida permanente com uma pessoa desconhecida. Bom, mas àquela altura do campeonato deveria ser o menor dos meus problemas, pois apesar de estar na minha primeira condenação não era preciso ser um gênio para saber que o perigo rondava por cada um daqueles corredores. E a morte seria o castigo para uma mulher que, segundo foram informados os demais que ali se encontravam, aliciava menores por dinheiro.

Se alguém pôde corromper os guardas para me tirarem do buraco fedorento em que fui colocada a princípio, como outros não poderiam fazer a mesma coisa para que alguma das presas agisse traiçoeiramente, tirando minha vida? Passei a fazer uso de todas as minhas percepções possíveis para evitar que fosse pega de surpresa, qualquer uma das outras presas que circulavam por perto na hora de ir ao pátio tomar banho de sol, no refeitório e até mesmo no banheiro eram suspeitas. Os dias se passavam sem qualquer problema.

 E isso me deixava mais preocupada, pois, habitando dentro do inferno e não ser vítima das infindáveis traições e armadilhas do diabo era algo impossível. Mas, como era de se esperar, minha saída do poço de fedor em que me encontrava não tinha sido uma atitude de misericórdia por parte de alguém que simpatizava comigo, e sim de quem preferia me ver morta do que simplesmente atrás das grades, o objetivo foi me transferir para uma ala onde ficasse exposta e vulnerável. Para que se tornasse presa fácil nas mãos de possíveis assassinas.

 E de repente durante alguma confusão fosse vítima fatal de alguma daquelas criminosas. Com certeza contratadas para executar minha morte, o que não imaginaram é que por ter me tornado vítima de tantas traições no decorrer da caminhada aprendi a ficar alerta e desconfiada. Sem dúvida não iria ser uma tarefa fácil me pegar de surpresa, mas o que me assustava era imaginar a forma como tentar me apagar, se enquanto dormia, no banho, no refeitório... Bom, não importava, o destino me lançou num labirinto cheio de monstros decididos a me destruir.

 Onde cada um deles correspondiam aos inimigos que me cercavam e planejavam me matar. Precisava encontrar uma forma de me manter viva pelo tempo necessário até encontrar uma maneira de sair dali.  Devia haver uma forma de escapar sem a necessidade de contar com ajudas internas ou externas, e bem rápido...

— Bom dia patroa, dormiu bem? Vim lhe conduzir para tomar seu café da manhã

— Mas que droga, nem no meu próprio quarto tenho sossego? Preciso dormir um pouco mais, por favor se retire dos meus aposentos, Rosilda, mais tarde tomarei meu café

— Nada disso, pessoas de sua idade precisam se alimentar na hora certa, deixe de moleza e vamos logo levantando dessa cama, mulher

— É que estava sem sono ontem a noite e fiquei com meus pensamentos até tarde agora estou com muito sono, me deixe dormir só mais uma horinha, minha filha, depois iremos

— Tá certo, dona Mercedes, mas se o Dr. Gilberto reclamar me defenda diante dele pelo amor de Deus, pois não quero perder meu emprego

— Está bem, farei isso, agora me deixe em paz

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