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Michelle
Michelle era a filha mais nova de Paulo, consequentemente seu xodó, a companheira e confidente de todos os seus segredos mais íntimos, não havia absolutamente nada que um escondesse do outro, tinham uma ligação que transcendia o fato de serem pai e filha, eram amigos, confidentes, companheiros e acima de tudo, parceiros de vida.
Michelle estava cursando a faculdade de medicina, principalmente por causa do pai, que estava pensando em passar o bastão e aproveitar a vida um pouco, descansar depois de mais de trinta anos de serviço, e por mais que amasse o que fazia, simplesmente o foco agora era outro, pois já tinha conquistado tudo o que um homem poderia sonhar, agora estava na hora de desfrutar de tudo isso, e ao mesmo tempo, dar lugar para a chegada dos mais novos.
Mas ao contrário do pai, Michelle era uma pessoa volúvel em seus relacionamentos, nunca foi e pelas circunstâncias, jamais seria uma santa, adorava sexo em todas as suas vertentes, não havia nada que não encarasse, pois em sua mente, sexo era uma experiência tanto carnal quanto transcendental, algo espiritual, era a sua religião, era onde encontrava o verdadeiro prazer de se viver, o dia era outro quando começava com sexo e era um desperdício quando não havia, o que raras vezes era um dia desperdiçado.
Apesar disso, não se achava uma mulher vulgar, não, simplesmente gostava e não via nisso um fator que a sociedade gosta de taxar como imoral, claro que tinha seus limites na questão de onde fazia, não era o tipo de pessoa que gostava de expor isso para todos como algumas pessoas faziam, era o ato em si que a atraía e não aonde isso acontecia, pois, para fazê-lo, para soltar a fera indomável que existia dentro dela, tinha que estar o mais distante da sociedade possível.
Michelle estava deitava nua na cama do motel onde passara a noite com um rapaz que conhecera em uma balada, não era o homem dos seus sonhos, mas chegou a lhe dar certo prazer.
Ele estava tirando um cochilo com um leve sorriso no rosto quando ela pegou seu celular, o ligou e percebeu que tinha mais de vinte ligações perdidas de seu pai.
Será que alguma coisa grave aconteceu?
Ela retornou a ligação e, de repente o mundo sob seus pés caiu como um meteoro, sem aviso prévio sem nada, tudo o que ela conhecia como a vida simplesmente deixou de existir do dia para a noite.
Michelle chegou ao apartamento de Renata e viu o pai desfalecido no chão.
–– Meu Deus, o que aconteceu?
Renata estava tremendo, completamente aterrorizada com o que havia acontecido.
–– Ele... ele...
Michelle apertou seu pescoço e aferiu se ainda havia batimentos cardíacos, mas só de encostar nele já era mais do que comprovável que ele havia morrido, ela tentou manter-se serena, sua mãe jamais poderia saber daquilo tudo e só existia uma única pessoa que ela poderia contar.
3AntôniaAntônia era uma beata católica apostólica romana fervorosa – como sempre gostava de se autodenominar –, estava sempre à frente de todos os eventos que sua comunidade realizava, e a missa de Corpo–Presente de seu finado marido foi celebrada pelo padre e amigo da família, Marcelino, o qual cuidava da vida espiritual de toda a família de Antônia desde que eles se casaram. Antônia e Marcelino sempre tiveram uma amizade muito forte, estudaram nas mesmas escolas durante a adolescência tiveram até um pequeno romance relâmpago, mas na época, Marcelino já estava começando a sentir seu chamado sacerdotal e eles decidiram não investir mais naquele romance, o que para suas famílias foi um golpe baixo, principalmente a família dele, que esperava que tirasse
4DanielaA morte de Paulo Bittencourt foi uma verdadeira tragédia para toda a família Bittencourt e amigos, ele era o exemplo perfeito de marido, pai, amigo e profissional. Todos que conheceram Paulo jamais fora o mesmo...Paulo morreu após ter um ataque cardíaco fulminante durante o expediente, foi durante o almoço, quando todos perceberam que ele estava passando mal, mas já era tarde demais, todos tentaram fazer o possível por ele... Sua filha mais nova – Michelle – foi a primeira a ter conhecimento do incidente, ela fazia estágio no hospital em um bairro vizinho e ficou extremamente triste e abalada ao saber da morte do pai, afinal, ela era a filha mais próxima dele, enquanto Daniela – a primogênita – era mais apegada à mãe. 
5AntôniaAntônia acordou em seu quarto ao lado de toda sua família, dava para ver em seus rostos que o alívio tomava conta de seus corações preocupados. Antônia deu um sorriso tranquilo e disse: –– Está tudo bem, não tem nada para se preocuparem comigo. Apesar da terrível dor de cabeça... Antônia se levantou e foi tomar um banho muito quente, ela adorava ficar pelo menos quarenta e cinco minutos em sua banheira, e naquele dia em especial não foi diferente do convencional. Todos ficaram na sala conversando, lembrando–se dos bons e inesquecíveis momentos que passaram ao lado de Paulo. Ele era realmente inesquecível, tinha uma habilidade incr&iac
6MichelleRodrigo convidou Michelle para dar uma volta pela casa. Antônia insistiu para que ela fosse, e ela foi. Michelle estava andando completamente quieta – era como se fosse uma sonâmbula. Ela queria acordar de qualquer maneira daquele terrível pesadelo em que estava. Rodrigo segurou uma de suas mãos, colocou o outro braço na cintura dela e lhe deu um beijo na face esquerda de seu rosto pálido como a neve, bem devagar, foi arrastando seus lábios perto dos dela. Michelle também o beijou, sem se importar com aquilo, sua cabeça estava longe demais para se preocupar com um simples beijo, afinal, ela já tinha um longo histórico – para não dizer quase infinito – de rapazes que beijou, sem sequer saber seus nomes.
7MichelleAssim que Michelle acordou, sentiu seu corpo muito leve, apesar de que, dentro de sua cabeça, parecia que existia uma manada de elefantes correndo desesperadamente em busca da comida mais saborosa do mundo, que no caso, seria ela mesma, mas a sensação era muito boa, até a dor naquele momento parecia ser prazerosa. Michelle percebeu que estava nua, e quando olhou para o lado viu que Rodrigo estava deitado – também nu e com um sorriso de felicidade extrema. Parece que a noite foi boa para alguém... – pensou ela. Michelle pensou que Rodrigo estava tendo um sonho muito bom, afinal, ele tinha um leve sorriso sem–vergonha em seu rosto – mas Rodrigo estava fingindo o sono. Pela primeira vez em toda su
8AntôniaA relação entre Michelle e Antônia deu uma boa – talvez leve – melhorada depois da morte de Paulo, elas sabiam que iriam precisar uma da outra para se levantar na vida novamente. Mas é claro, ninguém consegue apagar uma vida de descaso do dia para a noite, aquilo seria um processo de cura para ambas. Antônia não sabia – não tinha a menor ideia – sobre o novo vício de sua filha – sobre nenhum vício dela, afinal, sexo era outro vício ainda mais constante e necessário para Michelle –, e muito menos sobre a vida secreta de Rodrigo – afinal, Antônia não sabia completamente nada sobre a filha. Para ela, Rodrigo era exatamente como os pais – que eram empresários de grande sucesso segundo ele dissera –, mas Antônia nã
9MichelleMichelle guardava os papelotes de cocaína em sua gaveta de roupas íntimas – onde ninguém, nem mesmo a empregada iria mexer –, depois de três meses usando quase que diariamente cocaína, Michelle percebeu o quanto já estava viciada e o quanto se afundara naquele vício sedutoramente maldito. Michelle sentia que ninguém poderia ajudá–la – apesar da aproximação da mãe –, aquilo ainda era muito pouco perto de uma vida inteira de descaso e falsidade, afinal, Michelle sempre culpou a mãe pelo distanciamento delas... As festas sempre eram mais importantes que ela, sua vida social perante a sociedade sempre foi mais importante do que instantes de carinho, e agora que o mundo desabou sobre as costas dela, ela queria compensar? Michel
10AriAri colocou a cabeça no encosto do banco de seu carro e estava sonhando sozinho, ele sempre sonhou com aquele dia em que encontraria a mulher dos seus sonhos... Tudo tinha acontecido de forma tão natural... De repente sentiu algo frio como a morte encostando em sua orelha esquerda, era um convite da própria morte lhe fazendo suas devidas formalidades excêntricas. Quando seus olhos viraram para o lado sem mexer um único centímetro a cabeça – tentando achar o dono daquele revólver, já imaginando o pior –, Ari percebeu que um rapaz muito bem vestido estava apontando uma arma para sua cabeça. Uma voz sussurrou no seu ouvido. –– Chega perto dela mais uma vez que te mato, você