AYLA ..O estalo ecoou pela casa, mergulhando-nos em uma escuridão opressora. Mas não era apenas a ausência de luz. Era algo muito pior. Era como se a própria noite houvesse ganhado forma, como se aquele maldito anjo invisível estivesse nos espreitando, esperando o momento certo para nos destruir.Meu corpo se arrepiou de imediato. O ar tornou-se denso, pesado, sufocante. Um terror primitivo tomou conta de mim antes mesmo que eu tivesse consciência plena do que estava acontecendo. Foi instintivo. A presença gelada dele roçou minha pele, e eu soube. Ele estava ali.Minha respiração falhou. O medo me fez congelar no lugar, e mesmo assim, minha mente gritava para que eu corresse, para que me escondesse, para que fizesse qualquer coisa além de permanecer imóvel, esperando pelo inevitável.E então, a voz ecoou pela casa.Minha garganta secou, e meu estômago revirou. A ameaça foi clara, cortante como uma lâmina afiada, antes que qualquer mudança pudesse acontecer, antes que nossa decisão
AZRAEL ..Eu vi a aflição nos olhos de Ayla antes mesmo de ouvir seus pensamentos. Mas quando as palavras tomaram forma dentro da mente dela, ecoando como se fossem minhas próprias dúvidas, eu soube que algo estava diferente.Por que Hariel faria isso? Por que o próprio irmão desejaria destruir a mulher que ele ama? Como ele permitiu que ele perdesse a memória? Como ele deixou Azrael vagar pelo mundo sem rumo, sem identidade, sem saber quem ele era?Essas perguntas rodopiavam na mente de Ayla, e eu as ouvia como se fossem gritos em um abismo silencioso. A compreensão me atingiu como um golpe seco no peito. Eu podia ouvi-la. Eu podia sentir suas emoções, cada tremor de medo, cada fagulha de dúvida, cada sombra de esperança. Como isso era possível?Aproximando-me dela, toquei seu rosto com suavidade, deixando que meus olhos encontrassem os dela.— Você tem razão, Ayla.Murmurei. — Nós temos que lutar. Juntos. Não importa o que aconteça.Ela piscou, surpresa, e eu vi quando a compreen
AZRAEL ..A noite havia sido longa e inquietante. Depois de organizarmos tudo, repormos as luzes e tentarmos trazer um pouco de normalidade àquele caos, sentamos para jantar. Ethan, Ayla e eu continuamos conversando, traçando planos para o dia seguinte, enquanto Laila permanecia calada, alheia ao que acontecia ao redor. Algo nela parecia diferente, mas eu estava tão cansado e frustrado que não me importei em tentar entender.Após o jantar, decidimos onde dormiríamos. Ethan e eu ficamos na sala, deixando que as meninas tivessem um pouco de privacidade nos quartos. Laila dormiria no quarto de Ethan, enquanto Ayla ficaria no meu.A noite pareceu passar em um piscar de olhos. Eu não dormi direito. A ausência de Ayla ao meu lado me incomodava mais do que eu gostaria de admitir. Quando a manhã chegou, levantei antes de Ethan e fui até a porta do quarto de Ayla. Bati uma vez, sem resposta. Bati de novo. Nada.Um frio percorreu minha espinha. Algo estava errado.Abri a porta sem hesitar. O
Por um momento, hesitei. Eu não queria companhia, mas acabei abrindo e voltando a sentar na cama.— Eu… só queria ver como você estava.Ela disse, caminhando lentamente pelo quarto. Seus olhos me analisavam como se procurassem rachaduras em minha alma, e, naquele momento, eu sabia que ela encontraria muitas.— Estou bem.Menti, desviando o olhar. Meu peito ardia com a ausência de Ayla, e minha mente não conseguia parar de pensar em como ela simplesmente se foi. Sem avisar, sem lutar.Laila soltou um riso baixo e descrente.— Você não está bem, Azrael. E eu te entendo. Ayla não é digna de você.Ela se aproximou, sentando-se ao meu lado. — Eu tentei te avisar, mas você estava cego demais para enxergar a verdade.Minhas mãos se fecharam em punhos. Eu queria dizer que ela estava errada, que Ayla era tudo para mim, mas uma voz sussurrava em minha mente: Então por que ela foi embora?— Você sabe que eu estou certaLaila continuou, inclinando-se para perto. — Ela mentiu para você. Fez prom
Quando vi Ayla, estendida ali, sem vida, algo dentro de mim se quebrou de forma irreparável. As pessoas ao redor começaram a se afastar, olhando com compaixão, mas não me importava com elas. Só havia eu e o corpo dela. Corri até ela, os braços estendidos, e a puxei para mim, como se fosse a última coisa que eu pudesse fazer por ela.Meu coração parecia estar se despedaçando, a dor era insuportável, como se todo o ar tivesse desaparecido do meu corpo. A pressão no meu peito só aumentava, e eu me vi ali, de joelhos, com os olhos embaçados por lágrimas que nunca imaginei ser capaz de derramar. Eu não sabia mais quem eu era, não sabia mais o que fazer.— Ayla… Sussurrei, mas a palavra mal saiu da minha boca. O som da sua ausência era muito mais forte do que qualquer coisa que eu pudesse dizer.O som de sirenes chegou, e logo a polícia se aproximou. Eles começaram a cercar a área, falando entre si, mas a dor que eu sentia era tão grande que eu não conseguia me mover. Eles estavam fazendo
A dor era tão intensa que mal consegui respirar. Cada passo que eu dava na mata parecia me afundar mais na escuridão, mais distante de qualquer coisa que eu já conhecera. O céu estava pesado, coberto por nuvens tão negras que parecia que o mundo inteiro iria desabar. Eu não me importava com os galhos arranhando minha pele, com a terra úmida e o frio cortante da chuva que caía incessantemente. Eu só precisava de uma coisa: extravasar.Eu não consegui mais segurar. A raiva, a tristeza, o vazio… tudo que estava se acumulando dentro de mim precisava sair. Sem pensar, me joguei de joelhos na terra, sentindo o peso do meu corpo contra o chão, e então, sem controle, gritei.— AYLA!O grito saiu com uma força que eu nunca soubera que tinha. Era como se o próprio ar ao meu redor fosse queimado pelo meu sofrimento. Meu corpo parecia entrar em combustão, as chamas da dor me envolvendo, e a pressão no meu peito me deixando sem fôlego. Eu sentia como se estivesse sendo consumido por algo maior, po
Ao voltar para a casa de Ethan, meu corpo estava pesado, como se eu tivesse carregado o peso do mundo nas costas. Eu queria fugir da dor, mas ela me seguia, me arrastava.Ao chegar, não encontrei Ethan. Só Laila estava lá, me olhando com uma expressão estranha. Por um momento, me perguntei o que havia de errado, mas depois percebi que isso só era mais uma consequência do que acontecera entre nós. Talvez ela estivesse me observando assim por causa disso.Ela não disse uma palavra sobre Ayla. Fiquei esperando que falasse, que pelo menos demonstrasse algum tipo de empatia, mas não. Um silêncio constrangedor se estendeu entre nós. Eu olhei para ela, desconfiado.— Onde está o Ethan? Perguntei, a voz rouca, sem paciência para jogos.Ela parecia hesitar antes de responder, como se o simples fato de me olhar fosse um desafio. Finalmente, ela disse:— Ele teve que ir dar o depoimento dele. Provavelmente, você e eu também teremos que ir, mais tarde. Ela falava com frieza, como se estivesse a
Eu ainda sentia a fúria fervendo dentro de mim quando mesmo diante da presença de Ethan, segurei os punhos de Laila com força, chacoalhando-a como se assim eu pudesse arrancar dela uma explicação que fizesse sentido. Seus olhos estavam arregalados, mas não havia arrependimento ali, apenas medo.— O que está acontecendo aqui?! Ele perguntou, a voz carregada de urgência. — Eu ouvi os gritos da rua!Soltei Laila bruscamente e recuei, tentando conter o ódio que me consumia. Passei as mãos pelos cabelos, tentando organizar meus pensamentos.— A vontade que eu tenho é de matá-la, Ethan.Rosnei, sentindo meu peito subir e descer com a respiração pesada.Ethan olhou para mim e depois para Laila, que tremia.— Laila, me diz o que está acontecendo. O que você fez?Laila soluçou, apertando as próprias mãos, como se quisesse se segurar.— Eu não queria... Eu não queria! Repetia como um mantra. — Mas ele me prometeu... o anjo me prometeu que, se eu fizesse tudo o que ele mandasse, Azrael seria