Eu decidi que iria esperar por ela novamente no mesmo ponto do dia anterior. À sombra da árvore que margeava o portão da escola. O sol estava mais suave dessa vez, mas meu interior era um caos. Eu podia sentir o tempo me empurrando contra a parede. O tempo… e Hariel.As aulas terminaram.O fluxo de estudantes começou a sair, ruidoso e apressado, como sempre. Mas quando ela apareceu, Ayla, tudo desacelerou.Ela me viu.E parou novamente.Meu coração, se ainda existisse como antes, teria quebrado o ritmo. Mas o que bate dentro de mim hoje é outra coisa. Algo mais profundo. Mais antigo.Dessa vez, ela não desviou o olhar.Ela caminhou em minha direção.Cada passo seu era uma lâmina que me atravessava com ternura e tortura. Eu tentei manter a calma. Tentei parecer firme, inalcançável. Mas por dentro… eu estava desmoronando.Ela parou a dois passos de mim.Dois.Se estendesse a mão, eu tocaria o rosto dela. Se sussurrasse, minha voz encostaria em sua alma. Mas eu permaneci ali, estático, c
Ouvir Ayla sussurrar meu nome com os lábios ainda entreabertos depois daquele beijo… foi como se o tempo tivesse parado. Por um instante, tudo o que eu fui, tudo o que sou e tudo o que me tornei se misturou em uma só emoção: ela me reconheceu. Ayla me reconheceu.— Você se lembrou? Perguntei, sentindo meu peito apertado, como se eu fosse capaz de sentir o coração de um humano.Ela me olhou confusa, as lágrimas ainda molhando seu rosto.— Eu não sei…Disse com a voz embargada. — Eu sonho com esse nome. Constantemente. Grito ele como se estivesse presa dentro de mim mesma. E quando você me beijou... foi como se eu estivesse dentro do próprio sonho.Engoli em seco. A sensação de ouvir aquilo da boca dela era quase insuportável de tão forte. Ela estava mesmo lembrando. Aos poucos.— Então... é você? O Azrael dos meus sonhos?— Sim.Respondi com firmeza. — Sou eu.Mas havia tanta coisa que ela ainda não podia entender. Tanta coisa que eu precisava contar com calma.— Eu vou te contar tu
Apareci no quarto de Ayla como um sopro de vento. A janela estava entreaberta. A luz da lua acariciava seu rosto que já havia adormecido com a minha demora, e por um instante, me perdi só em vê-la respirar. Mas não havia mais tempo para contemplações. Me ajoelhei ao lado da cama e sussurrei:— Ayla...Ela despertou lentamente, piscando os olhos, confusa, até me ver. Então se ergueu, assustada, puxando o lençol até o peito.— Como você entrou aqui?Perguntou, a voz tremendo.— Eu prometi que viria.— Isso é impossível. Você nem ao menos fez barulho. Isso é...— Real. Interrompi, olhando em seus olhos — Tudo isso é real, Ayla.— Pare de me chamar assim! Meu nome é Victória!Suspirei profundamente. Aquilo era o início. O início de tudo.— Eu te chamo de Ayla porque esse é o seu verdadeiro nome. Não o nome que te deram nesta vida... mas o nome que tua alma sempre carregou. Em cada existência, em cada ciclo, você foi Ayla. E eu… sempre fui Azrael.Ela se levantou da cama, caminhou até o
AYLA ..Desde que comecei a entender o que era estar viva, desde que minha mente começou a decifrar o mundo ao meu redor... algo em mim nunca se encaixou direito. Era como se eu estivesse num lugar errado, como se faltasse algo, ou alguém. E por mais que eu tentasse ignorar essa sensação, ela voltava. Sempre voltava. Como um sussurro constante no fundo da alma, me lembrando de que eu não era como as outras pessoas.Tudo começou a ficar mais estranho quando entrei na adolescência.As noites deixaram de ser apenas escuras. Começaram a ser densas. Nos sonhos, eu estava sempre em meio a um breu absoluto, como se estivesse presa dentro de um vazio sem fim, onde não existia chão, nem céu, nem paredes. Apenas a escuridão… e o meu próprio grito ecoando por um nome que eu não conhecia.AZRAEL...Esse nome me escapava dos lábios como se fosse uma oração. Um pedido de socorro. Um lamento. Como se eu estivesse à beira da morte e, ao mesmo tempo, renascendo. Eu não fazia ideia do que significava
AZRAEL ..Ela chorava.As lágrimas escorriam pelos olhos de Ayla como rios silenciosos, mas cada gota parecia atravessar o tecido da realidade e me atingir em cheio. Seu corpo ainda tremia sob os lençóis. A respiração acelerada, os olhos marejados... e mesmo assim, ela me olhava como se eu fosse o único capaz de curar a dor que eu mesmo, por destino, ajudei a provocar.Me aproximei dela, devagar, como segundo fosse um convite silencioso para algo que as palavras não sabiam descrever.— Ayla… Sussurrei seu nome como se fosse oração. — Não chore.Ela não disse nada. Apenas me olhou. E naquele olhar… havia tudo.Inclinei-me e a beijei. Um beijo diferente do primeiro. Mais profundo. Mais urgente. As lágrimas dela ainda estavam ali, mas agora se misturavam ao calor que se formava entre nós. Meu corpo sobre o dela, minhas mãos segurando seu rosto, como se eu temesse que, a qualquer momento, ela desaparecesse de novo.Ela correspondeu.Oh… como correspondeu.Seu corpo reagiu ao meu como
O céu estava carregado quando deixei o quarto de Ayla. O gosto do beijo dela ainda estava nos meus lábios. O calor do corpo dela… ainda impregnado em minha pele. Mas eu precisava sair. Respirar. Pensar. Me afastar antes que eu cruzasse a linha da qual talvez não pudesse mais voltar.Meus pés tocaram o chão por um segundo, e logo minhas asas se abriram. Em segundos, ganhei os ares, cortando nuvens como uma flecha. Meu destino: o refúgio de Ethan.Atravessar continentes nunca foi um obstáculo para mim, mas dessa vez, cada quilômetro parecia carregar o peso de tudo o que havia acontecido entre Ayla e eu. E tudo o que ainda estava por vir. Havia tanta coisa em jogo… e eu precisava de silêncio. Precisava do equilíbrio que só Ethan conseguia me trazer.Levei horas até chegar às florestas densas dos Estados Unidos. Planícies, lagos e montanhas passaram sob meus olhos, mas nada se comparava à força do lugar onde Ethan estava escondido.Quando me aproximei da região onde a cabana havia sido er
AYLA..Quando os lábios de Azrael tocaram os meus novamente, era como se o tempo se curvasse. Tudo ao meu redor desapareceu , a luz fraca do quarto, o som do meu coração descompassado, a respiração ofegante que escapava de mim sem controle. Era só ele. Só nós.Seu corpo estava sobre o meu, mas não havia medo. Havia calor. Um calor antigo, como se eu já o conhecesse há séculos. As mãos dele percorriam minha pele com reverência, como se eu fosse algo sagrado… e ainda assim, tão intensamente desejada. Eu sentia isso. Sentia seu desejo como uma onda, e meu corpo respondia, ainda que minha mente gritasse por limites.Mas foi quando ele parou que percebi algo diferente. O peito dele subia e descia, o olhar ardente e ofegante. Seus olhos encontraram os meus e, por um segundo, ele pareceu lutar contra ele mesmo. Como se estivesse se obrigando a parar, mesmo que não quisesse.Mas ele não podia, ele me explicou motivo.Senti meu rosto pegar fogo. A vergonha me atingiu como uma onda fria. Eu a
Eu pulei da cama em um pulo, o coração disparado, o suor frio escorrendo pelas minhas costas. Aquele… aquele monstro ainda estava ali. Hariel. O anjo das trevas. O mesmo do meu sonho.Tentei correr até a porta. Minhas mãos tremiam tanto que mal consegui segurar a maçaneta. Girei. Tentei puxar. Nada. A porta não abria. Tranquei e destranquei. Nada. Estava presa. Comecei a bater, a gritar:— SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA!Mas ele riu. Um riso cruel, zombeteiro, que ecoou pelas paredes como um trovão perverso.— Ninguém pode te ouvir, Ayla.Ele disse, com a voz baixa e venenosa. — Seus gritos são inúteis.Me encolhi ali, no chão frio, encostada à porta, o corpo inteiro tremendo. As lágrimas escorriam sem que eu pudesse conter. Eu estava com medo. Um medo real. Um medo que não me deixava respirar.— Azrael… Sussurrei desesperada. — Azrael, por favor…Hariel soltou um rugido que sacudiu o quarto, sua forma vibrando com fúria.— Azrael? Ele gritou, com os olhos ardendo como brasas. — Acha me