ANA MARIA Atualmente... — Hoje eu posso levar um brinquedo? É dia do brinquedo. — O que você quer levar? — A boneca que o tio Pedro me deu. — Pega, enquanto eu termino de arrumar sua bolsa. Depois de tudo organizado, coloquei ela no transporte. E então eu pude ir atrás da organização da sua festa. Rodrigo e Pedro entraram num consenso e ambos vão dividir os gastos, claro que o salão Pedro fez questão de pagar, como não conheço muitas crianças, mandei convites para alguns amiguinhos da escola, e outros deixei para que Kátia chamasse. A família dela tem bastante criança, não sei porque ela também não quer ter uma. Depois de uma manhã de correria, consegui falar com Miguel no horário do almoço. Não pude me encontrar com ele porque sempre dá alguma coisa errada nesses últimos dois dias. Quando não sou eu, é ele. Esse final de semana mesmo não poderei vê-lo, tenho um evento de divulgação no salão do Hilton Hotel. Mariana disse que eu não preciso me preocupar com nada, ela cuidaria
PEDRO — O que vocês estão fazendo aqui? Cadê a Ana? Miguel parecia surpreso em nos ver ali, e nós também. Pedi para Dante não lhe dizer nada, porque todo cuidado era pouco e não sabia qual atitude poderia tomar. Estava todo de preto, com um moletom, vestindo também o capuz. — O que você faz aqui? — perguntei. Ele entrou e fechou o portão. — Eu que pergunto. Vim encontrar a Ana, nós combinamos. — Então você não sabe? — Felipe o questionou. — Sabe o quê? — Ele mudou a feição assim que percebeu o tom de Felipe. — Levaram a Malú, ela estava na escola e levaram ela. Ele saiu não ligando para nada, adentrando na casa. — Ana? Ana? Malú? Princesa? Corri atrás dele para que não acordasse a Ana. — Miguel, Miguel! Eu o segurei, prendendo ele na parede do corredor que leva aos quartos. — Irmão, estamos resolvendo, não é bom você estar aqui. — Levaram a Malú? — Perguntou com a voz falhando. — Infelizmente. Dante já está vendo de onde eles vieram e quem são. Ana perguntou se fora
MIGUEL — Querido, é sábado onde você vai? Gabriela me perguntou assim que eu me levantei da mesa de café. A verdade é que eu já não estava mais aguentando de ansiedade. Queria ver com meus próprios olhos que minha princesa estava bem. — Tenho alguns assuntos a resolver com Pedro. — Nem no final de semana você tem um tempo para mim? Eu sou sua noiva, Miguel. — Gabriela, por favor. Você sabe que eu não tenho tempo para suas infantilidades, você nunca foi assim! — Eu me exaltei. — Eu tenho que resolver minha vida. Ou você acha que está sendo fácil para mim também? Acha que é fácil viver com um buraco na cabeça, sem memória de um momento fatídico da sua vida? Eu preciso de apoio nesse momento, não de mais cobranças. E me dá licença, tenho coisas a resolver. Saí sem olhar para trás. Ela estava me sufocando e a ansiedade me consumia. Passei no meu quarto para recolher minha carteira e as chaves e assim que eu cheguei na porta, ela me encontrou. — Não esqueça do evento hoje à noite, n
ANA MARIA As palavras daquela mulher gritavam em minha mente como uma luz caleidoscópica. “A barriga dela vai crescer”. Vi pela lateral, Pedro se mexer. Ele estendeu a mão até a minha que segurava o guardanapo na mesa com muita força, em sinal de apoio, ele também ouviu. Ele ouviu o que eu ouvi. Poderia por um mísero momento acreditar que eu ouvi demais, mas não. Ela está grávida. Grávida do homem que eu amo. E o pior é que dentro de mim tudo agora é um turbilhão. Não tive reação de olhar para mais ninguém, agora eu só queria me esconder. Ele me traiu? Ele foi capaz disso? Ele estava noivo da Gabriela, mesmo que por um mero plano, mas ele foi capaz de correr esse risco com ela? Criar um laço eterno, sabendo de tudo que ela tramou contra ele? A minha cabeça tentava compreender de todas as maneiras essa história. Mas no final, o que vinha era que, sim, eu era seu segredo sujo e como a mãe dele sempre falou, eu não caibo nessa família. O nervosismo dele me confirmou isso. Não c
ANA MARIA Tempos depois... A vida tem sido generosa comigo. Não na parte sentimental, mas em todo o resto eu tenho colhido frutos bons. Depois daquele fatídico final de semana em que eu e Miguel colocamos um ponto final, me dedico agora totalmente a minha filha e ao meu trabalho. O que tem me gerado frutos maravilhosos e experiências indescritíveis. Maurício tem se agradado do retorno que o meu rosto tem trazido para a marca aqui no Brasil, ele falou de entidades de causas negras terem abraçado a marca e a feito expandir, já que o conceito da empresa era apenas no ramo da maquiagem no âmbito nacional. Fico feliz por isso. Ele até falou de uma possível viagem a Paris para divulgação internacional, fiquei tão feliz por isso. Imagina, eu fazendo uma viagem para fora do Brasil? Logo eu que vim do interior? Claro que Felipe quis comemorar todo esse sucesso. Pela primeira vez em São Paulo eu estou indo para uma balada, acompanhada pelos meus amigos. — Você está simplesmente divina
ANA MARIA Meu corpo está horrível. Como se um carro o tivesse atropelado. Depois de um banho, nada de voltar ao normal. — Mamãe! — Malú pulou no meu colo, assim que Cida abriu a porta da sala. Fiquei um tempo sentada no sofá, tentando reorganizar a mente, porém não estava resolvendo. — Que cara é essa menina? — Estou mal, Cida. — Eu vejo. Quer ir no médico? Um chá? — Não, é só ressaca. — Malú já almoçou. — Teve sobremesa de chocolate, mamãe. Sorri para ela, que ficou do meu lado alisando meu rosto. — Comeu bem. Falei com uma amiga, ela vai me indicar uma pessoa de confiança para vir aqui te ajudar. Tenho que resolver isso também. Só que na minha condição atual, impossível. Foi um longo tempo para que me recuperasse, e por um milagre milagroso em líquido, enviado por Kel, eu consegui, para que no final da tarde eu fizesse um trabalho. Nesse a minha princesa foi comigo. Ela ama esses bastidores e o pessoal fica encantado com a sua curiosidade. Fiz as fotos com o outro fotó
MIGUEL — Vou a um encontro com ele mais tarde. — Você acha confiável? — Pedro me questiona. — A última vez que um desses tentou contato com você, ficou desaparecido por quase dois anos. — Ele me disse que é algo que preciso saber. Pedi para que Dante colocasse um rastreador no meu sapato. Ele vai me acompanhar e Gabriela está na minha mãe. — Você tem se arriscado demais por tudo isso, Miguel. Meu amigo caminhava de um lado para outro em sua sala, enquanto eu permanecia sentado, pensando no que poderia ser, qual assunto Andrade queria conversar comigo. Ele marcou comigo no estacionamento do shopping Santa Cruz, não quis um lugar aberto e muito movimentado. Confesso que estou temeroso, porém o desejo de resolver toda essa situação, o quanto antes, é maior. Não posso desistir no meio do caminho, ainda mais agora que Ana não quer olhar na minha cara. Preciso me livrar dessa ameaça a minha vida e a vida dos meus, antes de conseguir me resolver com ela. Eu sei que ela pensa que vacile
ANA MARIA Acordei naquela manhã como todas as outras; o dia anterior havia sido confuso e depois do meu desmaio, Mariana me mandou para casa e me pediu repouso, que talvez às situações que têm me acontecido estariam abalando meu emocional. Queria crer que era por tudo o que estava acontecendo na minha vida e ao mesmo tempo estava me abalando, mas havia algo que me causava pânico e eu queria acreditar que não. Levei Malú para a escola e voltei para o apartamento, pois hoje viria a pessoa que Cida indicou. Era tanta coisa para resolver, sem falar no Anderson que insiste em falar comigo. Cheguei em casa e para aguardar a mulher chegar, fiz um chá e liguei a TV para ver nada em questão, tanto que no canal que estava, ficou. Não sou acostumada a assistir e quando ligo é para não me sentir sozinha. Só que a notificação de “Urgente” com a informação de “Corregedor da Polícia Federal é morto e Delegado é ferido durante troca de tiros na noite passada” me chamaram a atenção. Eu olhei espa