No CativeiroALICEMinha cabeça dói, e meus braços estão dormentes. Tento me mexer, mas algo prende meus pulsos atrás do corpo. Meu coração dispara, e o medo me assombra. Onde estou?Forço os olhos, tentando enxergar no escuro. O cheiro de madeira úmida e mofo enche minhas narinas. Tento lembrar o que aconteceu, mas minha mente é um borrão. Sei que estava na rua, voltando para casa com Joel, e depois... nada.Meu peito sobe e desce em um ritmo descontrolado, como se meu próprio corpo lutasse para conter o pânico. O ar está pesado, denso, e cada respiração parece insuficiente. Meu estômago se revira, e um gosto amargo sobe à minha garganta. Tento engolir, mas minha boca está seca, e minha língua parece áspera como papel.Minhas mãos estão presas atrás de mim, e quando me mexo, sinto algo áspero raspar contra minha pele. Cordas. Apertadas, firmes o suficiente para que um formigamento suba pelos meus braços. Tento puxar, mas a dor vem rápida e cortante. Um nó aperta minha garganta.Há um
AliceO silêncio se arrasta por segundos que parecem uma eternidade. Meus olhos buscam algum traço de humanidade naquele rosto, algo que me diga que isso é um pesadelo, que há uma explicação. Mas tudo o que encontro é uma enorme incógnita.PG inclina a cabeça, analisando minha reação. Seus olhos brilham na penumbra, divertidos, como se estivesse se deliciando com meu choque.— O que foi, princesa? — Ele dá um passo à frente, e meu corpo se encolhe instintivamente.Meu coração bate tão forte que parece ecoar nas paredes. O ar no pequeno cômodo pesa sobre mim. Tento falar, perguntar, gritar, mas minha garganta está seca.— Você está... brincando, né? — Minha voz sai frágil, quase implorando por uma resposta que faça sentido.PG sorri, um sorriso lento e cruel.— Parece que a brincadeira só está começando.Ele dá mais um passo, e a luz da porta revela algo em sua mão.Um pequeno canivete.Meu estômago se revira. Meu corpo entra em alerta máximo.— Vamos nos divertir um pouco, não acha?A
AliceNão sei por quanto tempo dura o beijo, mas é o suficiente para comprovar a intensidade e a grandiosidade do amor que sinto por PG. Um sentimento que surge de maneira inesperada e até improvável, mas que toma uma proporção tão gigantesca que não sou capaz de evitá-lo.Tê-lo tão próximo faz meu corpo inteiro estremecer, e cada toque de suas mãos me leva diretamente para outra dimensão. Resumindo: PG é o meu ponto fraco.Suas mãos ágeis deslizam pelo meu corpo, parando em minha cintura, onde sinto um aperto preciso que me puxa para mais perto dele—justamente o lugar de onde não quero sair. Sua boca presa à minha, seus lábios macios e sua língua habilidosa me fazem ter reações indecifráveis. Esse homem tem muito poder sobre mim, mas ele não pode saber disso. Caso contrário, estou perdida para sempre.Meus braços envolvem seu pescoço, permitindo que eu sinta mais dele. Seu corpo está quente, e por um momento imagino que seja efeito da nossa aproximação e do desejo que temos um pelo o
Alice Seguro o cartão na mão e, ao ver o nome do Dr. Luís Filipe Belmonte, não consigo evitar que minha mente relembre sua reação ao saber de quem sou filha. Confesso que até hoje não compreendo a razão pela qual ele se assustou tanto quando confirmei o nome da minha mãe. Será que ele a conhece? Ele até diz que foram amigos no tempo de escola, mas não acredito. É óbvio que não é verdade. Com certeza, ele deve estar me confundindo com outra pessoa. Até porque, como um homem aparentemente rico conheceria uma mulher humilde como minha mãe? Isso é uma insanidade. Estou tão exausta psicologicamente que chego ao ponto de ter alucinações. E, neste momento, preciso estar mais lúcida do que nunca; só assim conseguirei ajudar o homem que amo. Observo os números de contato, e uma dúvida surge: como vou ligar para o médico se não tenho um telefone disponível? Droga! Ao esbravejar, minha mente queima, e só então me recordo do que aconteceu antes de despertar neste lugar. Eu tinha em minha
AliceSilenciosa, porém atenta, observo as expressões do doutor Filipe. Ele está angustiado, parece que algo o incomoda tanto que chega ao ponto de ser asfixiante.Nervosa com aquela situação, decido falar:— Pelo seu nervosismo, vejo que se trata de algo muito sério. — Ele me encara por alguns instantes, mas baixa o olhar em seguida, e isso só me deixa cada vez mais angustiada. — Tem a ver com o PG? É isso? O estado de saúde dele é pior do que imaginava? — pergunto, na tentativa de descobrir algo.Ele solta um longo suspiro, como se, através dele, conseguisse aliviar o peso que carrega consigo.— PG vai se recuperar. O assunto tem a ver com você, sua mãe e eu. — O doutor Filipe parece buscar as palavras certas, mas sua hesitação só aumenta a tensão dentro de mim.Meu coração acelera, e uma onda de ansiedade toma conta do meu corpo. Minhas mãos suam, e um aperto gelado se forma em meu peito, tornando a respiração irregular.Meus pensamentos correm em disparada, criando cenários cada v
AlicePassam das duas da manhã quando a febre de PG finalmente cede, e ele consegue dormir tranquilo. Dentro de mim, porém, há um turbilhão de emoções que me rouba a paz — justamente a paz que venho buscando há tanto tempo, mas que parece cada vez mais distante.Do lado de fora do quarto, o doutor Filipe, ou apenas Fellipe — não sei ao certo como devo chamá-lo —, monta guarda. Ele também sofre, porque, assim como eu, foi enganado por quem mais amava durante quase dezenove anos.Dou um beijo leve em PG e sigo para a porta. Preciso sair um pouco, respirar, pensar e tentar organizar minhas ideias antes que enlouqueça de vez.Ao sair do quarto, Fellipe vem ao meu encontro. Seu olhar é triste, perdido. Assim como eu, ele carrega a dor de uma injustiça e paga por um erro que não cometeu.Muitas dúvidas rondam minha mente, mas a maior delas é entender por que minha mãe escondeu sua gravidez. Por que não me deu a chance de conhecer meu pai biológico? Por que preferiu me deixar nas mãos de um
Alice O dia está quase amanhecendo. São 4h50, e os ponteiros do relógio não param de girar. Com esse novo amanhecer, cresce dentro de mim a certeza de que muitas mudanças acontecerão a partir de hoje. Só desejo que sejam boas. Um pouco mais animada, levanto da espreguiçadeira e sigo até a casa. Já estamos aqui há muitas horas, e a fome chega para fazer uma visitinha. Caminhando pelo corredor que dá acesso à cozinha, vejo Filipe sentado em uma poltrona, com a cabeça encostada na parede. A posição não parece nada confortável, e com certeza ele terá uma grande dor no corpo ao despertar. Mesmo eu dizendo que não precisava ficar, ele não me deu ouvidos, e agora me sinto culpada por vê-lo desse jeito. Meu pai. Uma expressão que sempre falei naturalmente, mas que agora, diante de toda essa verdade, parece um fardo para mim. Filipe aparenta ser um bom homem: educado, gentil, atencioso, prestativo... além de muito bonito. O pai ideal, aquele que toda garota adoraria ter. Mas, no meu cas
AliceEstou paralisada. O ar pesa nos meus pulmões, e minha mente se recusa a processar o que acontece. Minha vida já é um caos, e agora preciso lidar com a fúria cega e a desconfiança sem sentido de PG. Não sei de onde ele tira essa ideia absurda de que Filipe está interessado em mim. Depois de tudo o que passamos para estar aqui, juntos, é insano que, por um erro, PG coloque tudo a perder.Ele me encara com os olhos faiscando, como se cada segundo de silêncio entre nós fosse mais uma traição.— Você só pode estar brincando — diz, rindo de um jeito amargo, como se estivesse prestes a perder o controle. — Tá inventando essa merda pra proteger esse cara, né?— Não estou! — disparo, sentindo minha garganta apertar. Meu coração martela contra as costelas, mas me recuso a recuar.PG dá um passo para trás, como se precisasse de distância para não explodir. Seus punhos se cerram e relaxam, um sinal claro da batalha interna que ele trava.— Então é isso? Agora esse cara é teu pai? Tá pensand