PG— Qual é da boa, parceiro? — falo na tranquilidade enquanto puxo um cigarro e observo o movimento do morro, que por sinal estava frenético.— Tá de sacanagem com a minha cara, porra? Tô aqui pra mais de uma hora no teu aguardo pra resolver a parada da mercadoria e tu some sem dá satisfação. Virou bagunça, agora? — Nocaute fala já gritando e eu tranquilo dou outra tragada no cigarro, solto a fumaça pelo canto da boca e continuo observando o movimento do morro na hora do rush. — PG... PG... Tu está aí, cara? — Nocaute grita Jogo o cigarro no chão e apago com a ponta do meu Nike, e só depois falo:— Parceiro, já estou no morro, e tô colando aí pra nós desenrolar essa fita. Fica sussa, porra, que tudo vai ser agilizado. Termino de falar e Nocaute volta a gritar, até parecia a doida da Patricia quando as paradas não saiam do jeito que ela queria. Deve ser a convivência com aquela sequelada ou a falta de boceta que tá deixando ele assim. "Por falar nisso, eu também tô precisando alivi
PGAs horas passam e nós foi desenrolar a fita com o fornecedor no porto. Mas antes de sair, dei ordens para trazer Jamal até a boca, ele já estava há muito tempo na disciplina e acredito que já tinha aprendido a lição. Ele errou, mas quem nunca errou nesse meio que nós vive? Os menor executam minhas ordens e buscam Jamal no barraco no topo do morro, onde sempre eram feitos os acertos de contas.Já na minha frente, Jamal fica de joelhos, me aproximo dele e o encaro falando:— E ai, Jamal, beleza? — falo e o observo com atenção De longe não lembrava em nada o sujeito fodão e metido a valentão que executava minhas ordens sem vacilar. Seu olhar era baixo, suas roupas eram só poeira de tão sujas e o mal cheiro, que saia do seu corpo pelos dias sem banho, era difícil de suportar. Me afasto e consigo ver as marcas em seu corpo pelas horas de tortura que sofreu. Mas, quando eu ordenei que ele levantasse o rosto, só então pude confirmar até onde chegou o meu ódio naquele dia. Jamal perdeu a
Horas antes do atentado contra PG...MuzemaAliceJá passavam das sete da noite, eu não sabia o que pensar e muito o que fazer. Sophia não soltava a minha mão por um instante sequer, e muito menos aquele armário ambulante parava de nos seguir. Tudo o que me restava era me deixar guiar e suplicar a Deus que tudo terminasse da melhor maneira possível. Após algum tempo, mais correndo do que caminhando, chegamos no local onde Sophia morava. Fico boquiaberta apenas com a fachada da casa, que era toda revestida de gesso, com pedras portuguesas no chão e no contorno do muro altíssimo. Era cercada por seguranças fortemente armados, sem falar na cerca elétrica em torno de todo terreno, nos alarmes e câmeras de vigilância instalados. Aquilo não era uma casa, mas sim uma prisão, de luxo, contudo não deixava de ser uma jaula. Como uma criança pode crescer feliz em um lugar como esse? Sophia tem muito mais em comum com a Emilie do que eu imaginava. Só ainda não poderia afirmar que o pai a trata
Alice— Ah! Coloca no viva voz, professora. Só por precaução. Sabe como é né, a sua família por desconfiar de alguma coisa. — Salgom me adverte e bufo de raiva por estar sendo obrigada a fazer o quê não quero. Sem ter como escapar, seguro o telefone e finjo discar o número da Damares, mas na realidade disco um numero aleatório, até porque eu não seria louca de pôr em risco a vida da minha amiga. De besta esse Salgom não tinha era nada, mas eu também não sou tão inocente quanto aparento. Se Ele imaginava que me tinha em suas mãos e me dominaria, estava muito engano. Posso até morrer hoje, mas morrerei com dignidade e de cabeça erguida. Se morremos com Deus estamos é no lucro e assim diz a palavra do Senhor:"Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho." (Filipenses 1:21)Entao nessa palavra que eu me segurei naquele momento. Enquanto a ligação chamava o olhar interrogativo de Salgom me deixava cada vez pior e ainda mais constrangida, se é que isso era possível. Por um milagr
AliceSalgom dá uma golada na sua bebida, seca a boca com o guardanapo e com o olhar fixo em mim diz:— Pelo contrário, filha, o papai gostou e muito de conhecer a sua professora. Não é verdade, Alice? — Salgom fala e lança um olhar repleto de segundas intenções Engulo seco e dou de ombros tentando demonstrar indiferença, e apenas falo:— Se o senhor diz, deve ser assim.Robson observa tudo e era óbvio que já havia percebido que as coisas estavam estranhas por ali, e que nada era como parecia ser. Então ele logo interfere:— Não se preocupe com o horário, Alice. Assim que você terminar de contar a história para Sophia, eu te deixo em casa. — Robson diz carinhoso segurando a minha mão— Não quero dar mais trabalho. — falo sem jeito puxando a mão de volta e tentando evitar um contato visual com aquele maldito sujeito sentado a minha frente que nos fuzilava com o olhar— Você não dá trabalho algum, Alice. E, outra, ficarei feliz em fazer algo por alguém que gosta de verdade da minha sob
Alice— Te assustei? — Salgom pergunta dando passos em minha direção— Não. Eu não costumo me assustar com qualquer coisa. — falo firme e com desdém, mas por dentro estava só os nervos — Sei que mentiu e não ligou para sua casa. Por que fez isso? — ele fala firme e me encurrala contra a paredeTento me esquivar, mas era inútil. Esse sujeito era um predador disposto a tudo para abocanhar a sua presa, e para minha desgraça, ele enfiou dentro daquela cabeça louca que a próxima presa deveria ser eu. — Não sei do que está falando. — minto me fazendo de desentendida e desvio o olhar tentando me esquivarSalgom sorri e me encarando diz:— Eu não sou burro, Alice. Acha mesmo que eu teria todo esse império se acreditasse na palavra das pessoas? — Eu não acho nada, até porque não perdi nada. — Salgom sorri e permanece bem próximo me deixando imóvel — E outra, tudo o que penso é que o senhor tem problemas com posessividade, e por isso se sente dono de tudo e de todos. Mas vou logo lhe dando u
AliceNão sei ao certo por quanto tempo fiquei dentro daquele ônibus e muito menos quantas voltas o motorista deu pela cidade, mas foi o suficiente para eu ser vencida pelo cansaço e dormir com a cabeça encostada na janela. Desperto ao sentir as pontas dos dedos do motorista tocar no meu ombro. Assustada e totalmente perdida me afasto. O motorista me encara de um jeito estranho, como se me achasse louca ou algo parecido. Com a costa da mão esfrego meus olhos e agarrada a minha mochila encaro mais uma vez para o motorista que me adverte.— Moça, você precisa descer. Já chegamos no ponto final. — ele fala e só então percebo que o ônibus estava vazioAi meu Deus, onde estou? Não conheço nada aqui no Rio de Janeiro e muito menos sei como voltar para o morro. Que bela ideia você teve de entrar no ônibus sem ver seu destino dona Alice, e agora o que vai fazer?Sem graça e perdida encaro para o motorista que permanece aguardando que eu saisse do veículo para levar o ônibus para a garagem.
Copacabana/RJAlice — Damares, sou eu, Alice. — falo rápido para não abusar do celular do Fagner — Alicinha? Onde você está? Estamos preocupados com você. — agora Damares fala com uma voz diferente, como se estivesse realmente angustiada— Ai, amiga, aconteceram muitas coisas hoje, mas quando chegar em casa te conto melhor. Mas, a principal é que preciso da ajuda, estou em Copacabana e não sei como chegar em casa. — falo e Damares dá um grito de surpresa do outro lado da linha— Ah, meu Deus! O que aconteceu para você chegar até aí, garota? Esse lugar é um perigo em qualquer horário do dia. — Damares começa o seu sermão de sempre, mas logo a corto, primeiro porque eu estava morta de cansada, estressada por tudo o que aconteceu e ainda estava usando o telefone de um desconhecido — Damares, já disse que depois te explico tudo o que aconteceu nos mínimos detalhes, mas agora eu preciso que venha me buscar. Será que pode fazer isso por mim? — falo já sem paciência — Calma amiga. Eu vou