Alice— Alice, por Deus, abaixe essa faca! — dona Olga com uma das mãos à frente do corpo fala nervosa e eu não conseguia tirar os olhos de cima daquele monstro um instante sequer "Ainda não sabia o motivo dessa visita inesperada, mas confesso que aquilo pouco me importava, tudo o que eu menos desejava era rever aquele ogro tão cedo. E eu faria de tudo para ve-lo bem longe daqui... Nada que venha desse sujeito é bom e se ele tentar algo eu não responderei por meus atos." — penso enquanto trincava meu maxilar tamanha raiva que sentia— Eu não posso! E se esse monstro tentar algo contra todas nós? — falo agitada segurando com mais força no cabo da faca e o maldito ali com as mãos apoiadas na porta me encarando como se nada tivesse acontecido. Eu poderia afirmar que ele estava se divertindo com toda aquela situação grotesca e isso só servia para uma coisa: Que eu o odiasse ainda mais."Aí! Eu odeio esse sujeito com todas as minhas forças." — resmungo mentalmente e volto a trincar o maxi
AliceNaquele momento não consigo pensar em nada além de baixar a febre da Emilie e ve-la bem novamente. Então, rapidamente a carrego no colo e olho aflita para PG perguntando:— Onde fica o quarto dela?Ele me encara de um jeito estranho, como se não acreditasse que aquilo estivesse realmente acontecendo e principalmente, que eu teria aquela reação depois de tudo o que aconteceu a poucos instantes. Mas, Emilie sempre estaria bem distante das nossas desavenças, pois ela era a única inocente em meio a tanta podridão que o próprio tio já havia cometido. Logo, eu sabia muito bem separar as coisas, mas pelo visto, o tal chefão do morro ainda não havia compreendido esse detalhe. E sinceramente, aquele não era o momento, muito menos a hora e o lugar para explicações sobre minhas atitudes. O importante era cuidar da Emilie, ou caso contrário, algo de muito mais grave poderia acontecer. E aí sim, eu não me perdoaria.— Lá em cima, segunda porta a direita. Deixa que eu carrego ela. — PG se apr
Alice— Já disse para abrir a porta. O que foi, você é surdo ou quê? — falo já alterada e impaciente PG sorri de um jeito cafajeste e dá passos a frente se aproximando ainda mais.— Pra uma mina como tu posso ser tudo o que quiser e mais um pouco. Só basta eu ter o teu aval.Ele fala me fitando de cima abaixo e fixa seus olhos na minha boca. Tento recuar, mas sou impedida pela parede que havia bem atrás de mim. PG sorri vitorioso com minha situação nada favorável e posiciona as palmas das mãos uma de cada lado do meu rosto encostando-as na parede. Respiro ofegante me sentindo encurralada. Olho para os lados buscando uma solução para escapar daquela situação desconfortável, mas não havia nada além de paredes, portas, janelas e colunas diante de mim. Então, respiro fundo e sem ter o que fazer suplico a Deus em silêncio pela sua ajuda.Fecho os olhos por alguns instantes e em sequencia ouço algo que me faz engolir seco.— Mas, tem uma coisa que nunca fui e nunca vou ser. Ingrato. Sei re
Alice— A cachinhos está dormindo e sem febre. A tia Olga vai ficar de olho nela por enquanto, mas já consegui uma mina pra cuidar dela. Então, pode ficar sussa professorinha, que tua aluna vai ficar protegida. — PG fala sem desviar o seu olhar do meu— Hum... Assim espero. — falo e dando de ombros abro a porta— Tu é muito desconfiada, sabia? — PG fala seguindo meus passos — E não tenho motivos para ser? — falo sem olhar para trás — Tá certa. Mas, anota aí o que vou te dizer, tu vai mudar a tua opinião sobre mim e ainda vai dizer que sou um cara mil grau. Paro, viro de frente pra ele e cruzo os braços.— Mil grau? E o que isso significa? — pergunto curiosa— Que sou um cara ponta firme e que tu pode confiar cem por cento. Quando tô fechado com alguém ou alguma coisa vou até o fim. Não sou um príncipe encantado, tenho muitos erros em cima da carcaça, mas sou sujeito homem como poucos, e tu ainda vai enxergar isso professorinha.Aqueles olhos cor de mel me encaravam e pareciam conse
Algum tempo depois...AliceDepois de toda àquela loucura, enfim estava no lugar que tanto amava, que me fazia sorri e que me transmitia uma paz sem igual. Com exatamente uma hora de atraso chego na creche e ao entrar vou direto para a sala de aula. Abro a porta, já imaginando a bagunça que encontraria por ali, mas me engano, pois a sala estava vazia e tudo na mais perfeita ordem. As mochilas enfileiradas na parede ao lado da porta, as lancheiras organizadas lado a lado em cima das três mesas redondas que haviam no fundo da sala e os brinquedos paradidáticos enfileirados nas quatro prateleiras que haviam no armário de ferro próximo à minha mesa, do mesmo jeitinho que deixei na aula anterior. "Estranho, tudo está tão quieto, onde estão as minhas sementinhas?" — penso e após deixar a minha mochila em cima da mesa saio à procura delesCaminho até a direção, mas após dar alguns passos, ouço gargalhadas que eu reconheceria em qualquer lugar desse mundo, vindas do pátio, Sorrio, seguindo
AliceO tempo passou. As crianças terminaram a aula de educação física e em seguida foram lanchar. No final do lanche eu apareci, e adivinhem, quase cai no chão de tantos abraços apertados que recebi ao mesmo tempo. Adiantei um pouco as atividades do dia com eles, pois por conta do meu atraso não daria tempo de pôr em prática tudo o que havia planejado. Alguns minutos depois passei a lição de casa e como ainda faltavam trinta minutos para terminar a aula decidi contar uma história. Sentamos em torno do tapete mágico e eu enfileirei alguns livros para que eles escolhessem. As meninas queriam ouvir uma história de princesas e os meninos queriam dinossauros. Então, para não dá briga, contei a história de João e Maria. Todos ficaram satisfeitos e felizes. Meia hora depois o sinal soou. Então, oriento a cada um que pegasse sua mochila e formassem a fila. — Hoje sou a primeira, né tia!? A chata da Emilie não veio. — Sophia fala sorridente segurando a minha mão — É sim, meu amor. Mas, a
AliceContinuo caminhando, mas durante algum tempo, ainda conseguia ouvir o barulho da moto bem próximo a mim. Mas pouco tempo depois, para ser mais exata uns cinco minutos, eu não ouvia nada além do barulho de carros e pessoas conversando enquanto caminhavam pela calçada.Será que enfim PG compreendeu o que eu disse e me deixará em paz?Ai, Deus! Faz esse milagre acontecer, porque se ele continuar tentando se aproximar de mim, confesso que não sei por quanto tempo poderei resistir. Sou ser humano, fraca e propensa a errar, mas tenho a certeza que com o Senhor ao meu lado tudo ficará mais fácil. Pois, em Tua palavra está escrito."Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós." (Tiago 4:7)O Senhor é testemunha que estou tentando resistir, mas meu Deus, é tão difícil não olhar para uma perfeição de homem como aquele. Eu sei, eu sei que PG é um ser ruim e que sua vida toda é cercada pelas trevas. Mas o Senhor mesmo nos diz, Tudo é possível para aquele que crê. Entã
AliceSeguro forte nas alças da minha mochila, como se fossem a minha tábua de salvação, e com os olhos arregalados viro meu corpo ficando frente à frente com um homem que tinha um olhar tão demoníaco quanto o do PG. Mas esse sujeito parecia ser mil vezes pior e algo dentro de mim gritava afirmando que eu estava num beco sem saída e foi uma péssima escolha ter seguido pelo caminho mais fácil. Na hora lembro da palavra do Senhor que nos diz:"Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela." (Mateus 7:13)Começo a suplicar a misericórdia e benignidade de Deus. Eu errei, mas o Senhor é bondoso, perdoa e guarda todos aqueles que Nele crêem. Eu tinha certeza que o Senhor enviaria o seu socorro e que essa situação me serviria de lição para nunca mais seguir pelo caminho largo.Volto a realidade com uma voz grave e forte próxima do meu ouvido esquerdo.— Ei, o gato morreu a tua língua, gracinha? — o sujeito rodeava