PGAtrás daquele volante, eu piloto feito um louco. Nocaute e Damares berram no meu ouvido, dizendo que vou matar geral nesse carro, mas não ouço porra nenhuma. Só consigo seguir minha mente e meu coração, que gritam feito doidos querendo ver a Alice."Ela precisa me perdoar."É essa a frase que repito sempre dentro de mim, como se fosse um mantra. E, na real, é isso mesmo que Alice se tornou na minha vida: um vício muito pior do que heroína. Antes, eu até conseguia seguir a vida, mas agora, depois de ter certeza de que meu amor é correspondido, fodeu tudo de vez. Tô amarrado. Vidrado. Enfeitiçado. Essa porra toda que inventam só para dizer que um cara tá amando uma mulher.E eu tô amando... Tô gamado... Com os quatro pneus arriados pela mulher mais incrível desse mundo. E sou um puta sortudo, porque ela sente o mesmo por mim... Minha garota me ama...— Ela me ama, caralhoooo... — grito feito um maluco enquanto esmurrava o volante.Nocaute me olha assustado, e o mesmo acontece com Dam
Alice Na tentativa desesperada de manter o controle e não surtar, preparo um café e algo para servir ao Filipe. Ainda não o conheço bem o suficiente para saber seus gostos, mas acredito que um café fresquinho quase ninguém recusa. — Fique à vontade. Vou preparar um café para nós e ver se tem algo gostoso para comermos. — Entrego o celular dele e sigo até a cozinha. — Não precisa se preocupar, Alice. Eu não quero te dar trabalho. — Filipe diz. Firmo os pés no chão, viro o rosto na direção dele, cruzo os braços e, com uma sobrancelha arqueada, falo: — Vou ficar chateada se você não aceitar esse agrado. Sei que minha comida não chega nem aos pés daquele restaurante mil estrelas onde almoçamos, mas... dá pro gasto. Ele sorri fraco, tenta dizer algo, mas antes que inicie aquele papo de não querer incomodar, o advirto: — Não diga nada. Já está decidido. Vou preparar um café para nós dois e algo para o lanche. — Falo firme, e ele me encara de uma maneira serena que me deixa enca
AliceCorro o mais rápido possível, feito uma louca, e chego quase soltando o coração pela boca no posto de saúde, que fica próximo a praça três quadras de distância da padaria do seu Geraldo. Ao chegar, avistei o portão da garagem aberto, que era todo feito de ferro na cor azul, sem pensar vou entrando. Mas assim que coloquei os pés dentro daquele lugar, levo um baita susto com a quantidade de pessoas que haviam por lá. Simplesmente não tinha sequer um banco disponível para sentar, estavam todos os vinte bancos de concreto que haviam ao todo lotados de pessoas aguardando atendimento. Umas recebendo medicações e algumas em cima de macas sendo levadas para o interior do posto, que por sinal era pequeno e não compreendia como conseguiriam atender todas aquelas pessoas que ali estavam.Sinto um nó se formando na minha garganta. Sempre resmungo sobre os meus problemas, e agora percebo que existem pessoas passando por situações muito piores do que a minha, e mesmo assim continuam lutando.
AliceO clima continua tenso. O armário ambulante permanece quieto; pelo visto, compreende que PG não está para brincadeiras. A aglomeração de pessoas só aumenta. O suor brota na testa do vigilante, e sua pose de autoridade vacila diante da presença de PG. Ele tenta puxar o braço, mas PG ainda o segura, firme, sem pressa, como se avaliasse a situação, decidindo se vale a pena continuar jogando paciência ou se chegou a hora de derrubar o tabuleiro inteiro.Observo sua roupa — é a mesma de horas atrás. Pelo visto, ele não esteve em casa; caso contrário, teria se trocado. Mas onde esteve? E, o principal, como soube que eu estava aqui?Minha mente dá voltas, mas não posso perder o foco. Volto minha atenção para PG.— Solta o meu braço, rapaz. — O vigilante tenta manter a voz firme, mas há uma quebra sutil em sua postura, um quase tremor nos dedos.— Dá logo uma lição nesse vacilão, PG! — Uma voz surge do nada em meio à avalanche de pessoas.Engulo seco. No início, até parece divertido ver
AliceO corredor estreito parece se fechar ao meu redor conforme seguimos a enfermeira. Meus pés se movem rápido, mas minha mente já está um passo à frente, imaginando mil cenários, nenhum deles bom.Dona Olga não pode... Não agora.PG permanece ao meu lado, silencioso. Seguro sua mão com mais força, e ele percebe meu temor. É como se conseguisse ouvir meus pensamentos.— Fique tranquila. Estarei sempre com você em todos os momentos. Enquanto eu respirar, te protegerei. Lembra? — Sua voz firme e confiante nos meus ouvidos me faz sentir protegida. Mas não impede que um resquício de medo tente invadir meu coração. O medo da perda. Isso é incontrolável. Sufocante. Já senti isso uma vez, e ainda dói. Não quero sentir essa dor novamente. Não quero.Seguro firme no braço de PG e sussurro:— Eu sei que posso confiar em você. Mas eu... — Minha voz embarga.PG para no meio do corredor. De frente para mim, segura meu queixo e, com uma certeza gigantesca, fala:— Você tem medo. Eu sei. Eu também
Alice Bastou ouvir o nome de Filipe para que, como num passe de mágica, a enfermeira mudasse de humor e começasse a facilitar as coisas. Ao meu pedido, PG segura a onda e fica do lado de fora. Ele aproveita para resolver o assunto da assinatura. Óbvio que ele não sairia do meu lado, então liga para Nocaute, pedindo para ele ir buscar Filipe lá em casa e avisar Damares sobre o que está acontecendo. Enquanto isso, peço à enfermeira que me leve até onde dona Olga está, e, óbvio, toda solícita, ela concorda de imediato. Então, sigo até a ala vermelha, mas antes me despeço de PG com um breve beijo e acompanho a enfermeira. Já diante da porta, sinto um tremor no corpo, e as recordações dos momentos difíceis ao lado da minha mãe ressurgem com força dentro da minha cabeça. Respiro fundo e volto minha atenção para a enfermeira, que diz: — Pode ficar com ela por uns vinte minutos. Tente falar o menos possível para evitar que a paciente se emocione e o quadro de saúde dela se agrave. As
PGConhecer Alice é a melhor coisa que acontece nessa vida de merda e erros que levo há anos. Apesar do jeito difícil como tudo aconteceu, ela, com toda certeza, sempre será a melhor parte da minha história. Afinal, nem todas as histórias de amor acontecem de forma fácil ou convencional. Algumas surgem no pior momento, naquele menos provável, e se tornam o maior presente de nossas vidas. E é isso que minha garota significa para mim: um presente, minha tábua de salvação, capaz de me resgatar do mundo sombrio e do inferno em que vivo há tanto tempo.Ao ingressar no tráfico, nesse mundo paralelo e muitas vezes sem volta, tenho tudo o que o dinheiro sujo pode comprar. Carros velozes, as melhores roupas, perfumes importados, joias, mulheres, bebidas caras e até o melhor pó que se pode imaginar. Mas tudo isso serve pra quê? Apenas para me tornar um ser insaciável e, ao mesmo tempo, vazio, seco de sentimentos e compaixão. A única mudança razoável que acontece comigo é o nascimento da minha s
Algumas horas depois Alice Depois daquela visita, dona Olga tem uma leve alteração na pressão. Mas, graças a Deus, tudo se normaliza. Ela é transferida para um hospital particular, onde fazem todos os exames necessários para avaliar seu verdadeiro estado de saúde. Filipe cuida de tudo e, como sempre, é prestativo e gentil com todos nós. Agora estou na lanchonete do hospital com Damares, enquanto PG e Filipe conversam do lado de fora. Estou nervosa. Sei que PG compreendeu que tudo não passou de um mal-entendido e que Filipe não era nada daquilo que ele imaginava. Mas nunca se sabe o que pode acontecer, ainda mais com um homem tão explosivo e imprevisível como PG. — Você não acha que eles estão demorando muito para voltar? — pergunto, apreensiva. — Eles saíram daqui há menos de cinco minutos. Não acha que é pouco tempo para pôr o papo em dia? — Damares responde, mastigando um pedaço do seu segundo sanduíche natural. — E você, não acha que está comendo rápido demais? Isso pode fa