PGNão sei há quanto tempo estou atrás desse volante, dirigindo feito um louco. A única certeza que tenho é que a imagem daquele maluco segurando a mão da Alice e olhando pra ela daquele jeito meloso não vai sair tão cedo da minha cabeça.Sinto ciúmes. Confesso. Mas, ao mesmo tempo, sinto ódio, raiva e um desespero que nunca experimentei na vida. Sempre fui um vida loka que não se importava com nada além de mim mesmo. Se tem uma coisa que priorizo, é a minha liberdade. Mas só hoje percebo que posso ter sido tudo nessa vida, menos um cara livre.Minha vida está toda amarrada no tráfico e na ganância pelo poder. Quanto mais eu tenho, mais eu quero ter. E penso que isso sim é viver, que felicidade significa ser o chefe, o manda-chuva, o cara acima de todos, aquele que dá uma ordem e vê sendo cumprida.Mas depois de ver Alice sorrindo ontem ao lado daquele mauricinho e, hoje, da mesma maneira com aquele doutor, minha ficha cai. Minha alegria está nela, e, se não a tenho ao meu lado, nada
PGNocaute troca um olhar rápido com Damares e depois volta a me encarar, já sacando que eu não tô de brincadeira.— Eu vou contigo. — Nocaute afirma.— Eu também vou. — Damares vai logo entrando no carro. — Não. Vocês não vão. — Minha voz sai firme. — Isso é entre ela e eu.— Vai se foder, PG! Se Alice sumiu, o buraco é mais embaixo. Tu acha que vai resolver essa merda sozinho? — Nocaute fala puto da vida. — E sem falar no papo que nós vamos desenrolar sobre quem te ajudou nessa porra toda. — desvio o olhar, porque já sabia que enquanto eu não dissesse toda a verdade, Nocaute não sossegaria. Inferno!— Está louco se pensa que depois de tudo o que você fez eu vou deixar a minha amiga sozinha contigo — Damares fala soltando fumaça pelas ventas. — Nunca! — ela esbraveja.— Tenho opção de escolha? — falo já com a mão na chave do carro.— Não! — ambos respondem ao mesmo tempo.E eu fico em silêncio, já chega de confusão por hoje. Eu já tô quase arrancando com o carro quando Damares se
Alice O sábado foi conturbado, para ser sincera, um verdadeiro desastre. Já o domingo amanhece bem, mas num piscar de olhos se torna uma catástrofe. Imagino que o fim de semana tenha terminado no exato momento em que PG me deixa para trás, mas, novamente, tudo muda quando descubro o que Filipe tem para me dizer. Ainda não temos a certeza do nosso parentesco biologicamente falando, mas, no coração, já o considero parte da minha família, e afirmo que com ele acontece o mesmo. Permanecemos um longo tempo de frente para o lago. Conversamos bastante, conto um pouco da minha vida, tanto as boas coisas quanto as más recordações, e, muito orgulhosa, falo sobre o amor que sinto pelo magistério. Mas, quando menciono tudo o que sofri nas mãos de Filadélfio, ele se sente culpado. Logo o convenço de que ninguém tem culpa de absolutamente nada, nem mesmo minha mãe, até porque, como ela saberia o mau caráter que aquele sujeito era e as barbaridades que ele poderia cometer? Sempre procuro tira
Alice O silêncio entre nós dura alguns instantes, até Filipe decidir soltar mais um segredo em minhas mãos. — Eu me relacionava com uma pessoa durante um longo tempo antes de conhecer sua mãe. Éramos noivos, mas terminei tudo quando a vi e, consequentemente, me apaixonei por ela. Minha voz desaparece. Eu não esperava ouvir algo assim. — Eu... Eu... Não sei o que dizer. — Minha voz sai quase num sussurro. — Não precisa dizer nada. Eu desconfiava que você reagiria assim. — Como sempre, Filipe é compreensivo comigo. Parece que ele sempre tem a palavra certa a dizer em todos os momentos. — Desculpe. — É só isso que consigo falar antes de desviar o olhar para uma criança que brinca próxima ao lago. — Não tem por que se desculpar, Alice. A vida muitas vezes nos traz surpresas, e conhecer sua mãe foi o melhor que aconteceu na minha vida — ele diz emocionado. — É bonito ver o amor que ainda sente por minha mãe. — Minha voz embarga, e meus olhos marejam. É um amor como esse qu
Alice Depois daquela conversa, Filipe me convida para almoçar. Já passou das 13h, e como dizia minha mãe, minhas lombrigas estavam colando o meu estômago nas minhas costas. Coisa de mãe que tem uma filha gulosa em casa. Prontamente aceito o convite. Agora estou dentro de um restaurante sofisticado, observando o cardápio, que, por sinal, só tem pratos caríssimos. Estou sentada em uma cadeira de madeira acolchoada diante de uma mesa redonda, coberta por uma toalha branca e um cobre-manchas dourado, cercada por taças de cristal e um lindo solitário no centro com uma rosa amarela dentro. A janela ao lado nos dá uma vista privilegiada da Lagoa, um dos bairros mais encantadores do Rio de Janeiro. Diante de tanto requinte, me sinto envergonhada. — Acho que não estou usando a roupa apropriada para frequentar um lugar como este — falo baixo, enquanto observo as pessoas ao meu redor, vestindo roupas casuais chiques, bem diferentes da roupa simples que visto. Filipe segura minhas mão
Alice Ao chegarmos ao Hospital D'Or, uma enfermeira nos recebe e nos direciona até uma sala onde será feito o exame. Filipe fica de um lado e eu do outro, separados por uma cortina verde. Através de uma fenda no meio da cortina, ele segura a minha mão, que está tão gelada quanto a dele, durante o tempo em que a enfermeira realiza a coleta de sangue, e eu faço o mesmo com ele. O resultado ficará pronto dentro de uma semana. Sete dias me darão a maior alegria ou a maior tristeza da minha vida. Mas estou esperançosa e confiante de que Deus está à frente de tudo. Ao sair do hospital, peço para Filipe me levar para casa. Já estou distante há muito tempo, e com toda certeza, dona Olga e Damares devem estar preocupadas com o meu desaparecimento. Isso se ainda não descobriram o que PG fez. Aí sim, as coisas podem ficar piores. Já estamos chegando à comunidade quando Filipe pergunta: — Gosta de morar aqui? — No início, senti muito medo, por algumas razões que logo saberá, mas agora me ac
PGAtrás daquele volante, eu piloto feito um louco. Nocaute e Damares berram no meu ouvido, dizendo que vou matar geral nesse carro, mas não ouço porra nenhuma. Só consigo seguir minha mente e meu coração, que gritam feito doidos querendo ver a Alice."Ela precisa me perdoar."É essa a frase que repito sempre dentro de mim, como se fosse um mantra. E, na real, é isso mesmo que Alice se tornou na minha vida: um vício muito pior do que heroína. Antes, eu até conseguia seguir a vida, mas agora, depois de ter certeza de que meu amor é correspondido, fodeu tudo de vez. Tô amarrado. Vidrado. Enfeitiçado. Essa porra toda que inventam só para dizer que um cara tá amando uma mulher.E eu tô amando... Tô gamado... Com os quatro pneus arriados pela mulher mais incrível desse mundo. E sou um puta sortudo, porque ela sente o mesmo por mim... Minha garota me ama...— Ela me ama, caralhoooo... — grito feito um maluco enquanto esmurrava o volante.Nocaute me olha assustado, e o mesmo acontece com Dam
Alice Na tentativa desesperada de manter o controle e não surtar, preparo um café e algo para servir ao Filipe. Ainda não o conheço bem o suficiente para saber seus gostos, mas acredito que um café fresquinho quase ninguém recusa. — Fique à vontade. Vou preparar um café para nós e ver se tem algo gostoso para comermos. — Entrego o celular dele e sigo até a cozinha. — Não precisa se preocupar, Alice. Eu não quero te dar trabalho. — Filipe diz. Firmo os pés no chão, viro o rosto na direção dele, cruzo os braços e, com uma sobrancelha arqueada, falo: — Vou ficar chateada se você não aceitar esse agrado. Sei que minha comida não chega nem aos pés daquele restaurante mil estrelas onde almoçamos, mas... dá pro gasto. Ele sorri fraco, tenta dizer algo, mas antes que inicie aquele papo de não querer incomodar, o advirto: — Não diga nada. Já está decidido. Vou preparar um café para nós dois e algo para o lanche. — Falo firme, e ele me encara de uma maneira serena que me deixa enca