Dia seguinte....
Suzana— Amiga, acorda. — Uma mão sacudiu o ombro de Suzana, mas ela não queria despertar. — Suzana, você precisa acordar— O que foi? — Ela respondeu, sonolenta.— Seu celular estava tocando lá na sala, e eu atendi. — Priscila parou de falar e suspirou. — Houve um acidente com seus pais e precisamos ir para o hospital.O coração de Suzana acelerou, e ela acreditou que devia ter entendido errado. Certamente ainda estava dormindo ou sonhando, não podia ter ouvido a amiga falar em acidente.— Como assim um acidente?— Se arruma, que no caminho eu te explico, o Pablo está nos esperando para nos levar ao hospital. — Priscila saiu do quarto, deixando Íris sozinha com o coração descontrolado.Assim que ela se arrumou, encontrou ambos na sala a esperando. Eles saíram em disparada, e Priscila contou que o sargento do corpo de bombeiros ligou avisando que tinha acontecido um acidente com o carro em que seus pais estavam vindo para o Rio. Suzana tentou arrancar mais informações da amiga, mas não conseguiu. Quando chegaram ao hospital, informações divergentes pipocaram de todos os lados. Suzana ficou sabendo que a sobrinha estava bem e em observação, mas as notícias sobre a irmã eram subjetivas. Ninguém dizia nada de concreto e apenas informaram que ela estava em cirurgia. Quando perguntou sobre os seus pais, eles disseram que alguém iria aparecer para falar com ela. O desespero, junto com a falta de informação, a descontrolou, mas com a ajuda dos amigos, Íris tentou se manter equilibrada.— Calma, amiga, quanto mais nervosa você ficar será pior.— Preciso saber como meus pais estão, Pri, ninguém me diz nada. — Quando terminou de falar isso, um médico se aproximou e perguntou quem eram os parentes de Antônio e Madalena Guimarães. — Sou filha deles. — A voz de Suzana saiu trêmula— A senhorita não quer se sentar?— Não! — Gritou, começando a entrar em desespero com a voz delicada do médico e a maneira que trocou olhares com os seus amigos. — O que aconteceu com os meus pais?— Bem... O acidente foi grave, senhorita, e nós fizemos de tudo, mas... — Antes que ele terminasse de falar, Suzana se virou e abraçou seu próprio corpoEra nítido o que estava acontecendo ali.Os seus pais se foram, eles não estavam mais com ela. Isso não poderia ser verdade, certamente era um pesadelo. Perdeu anos de sua vida ao lado de um cretino e agora seus pais não estariam ao seu lado. Ela não merecia tanta desgraça assim, na verdade, ninguém merecia passar por tanta dor de uma só vez.— Suzana... — Ela sentiu as mãos do Pablo a segurando. — Estamos aqui com você, não está sozinha. — As palavras dele lhe deram força, e ela fechou os olhos para se controlar.Perdeu toda a sua referência de vida, mas ao menos ainda tinha verdadeiros amigos ao seu lado. E agora precisaria zelar por eles ainda mais. Se não fosse por eles ao seu lado, estaria sozinha no mundo.— E a minha irmã? Como ela está?— Ela também não resistiu, levamos para a sala de cirurgia, mas ela teve uma parada cardíaca irreversível. Lamento, mas só a sua sobrinha sobreviveu, ela está bem e teve apenas alguns arranhões, a cadeirinha a protegeu do impacto.Agora o mundo de Suzana desabou completamente.Ela perdeu a casa, o emprego, seu casamento de mentira e agora a sua família.O que seria dela agora?Como iria conseguir viver depois de todas essas tragédias?Suzana começou a pensar que não teria forças para enfrentar tanta dor, não sabia como conseguiria seguir em frente depois de todas essas pancadas da vida.Sem saber o que falar, ela deixou que os seus amigos a acomodassem em uma cadeira. Não tinha reação para fazer nada, nem lágrimas conseguia derramar. A dor que sentia era imensurável, nunca imaginou que viveria um momento tão duro quanto esse. Não sabia onde havia errado para ter um castigo tão grande de Deus, mas certamente ele estava dando um fardo que ela nunca seria capaz de carregar.[...]Suzana nunca imaginou que um dia enterraria a sua família. A dor que sentiu quando viu os corpos das três pessoas que eram seu mundo foi irreal. Não sabia como suportaria viver de agora em diante.O dia do enterro foi o mais difícil da vida dela, e se não fosse seus amigos a sustentando, ela não teria conseguido sair de casa. A dor dilacerante que rasgava o seu peito só lhe dava forças para chorar. Nenhum pensamento lógico passava pela sua cabeça em meio a tanto desespero. No fundo, Suzana só queria acordar e perceber que teve um pesadelo dos grandes e que sua vida continuava normal.— Amiga, você precisa comer alguma coisa, não pode ficar em jejum tanto tempo.— Não tenho fome. – Só em pensar em comida, o seu estômago revirava.— Mas você vai comer essa sopinha, foi a minha vizinha quem fez. A dona Fátima faz comidas maravilhosas, e você vai gostar. A sua sobrinha comeu tudo o que ela colocou em seu prato, e adorou. Agora ela está dormindo na casa da minha vizinha, você tem que ver o carinho que ela está tratando a Sofia. Está toda feliz em ter a pequena na sua casa.Essa notícia animou um pouco Suzana, e ela saiu do seu torpor para pegar o prato que a amiga tinha nas mãos.Graças a Deus Priscila tem essa vizinha tão abençoada, que imediatamente prestou solidariedade quando soube da história dela. Desde o momento que sua sobrinha saiu do hospital, Fátima tomou conta da menina e deixou Suzana livre para tomar todas as providências do enterro da família.A ajuda dos seus amigos foi fundamental. Eles conseguiram doações com familiares e amigos para ajudar Suzana a pagar o enterro. Depois do roubo que sofreu por parte do ex-marido, ela não tinha condições de arcar com o sepultamento dos pais e da irmã.Assim que experimentou a sopa, percebeu que realmente estava boa, por isso Sofia comeu bem. Sua pequena sobrinha estava reagindo muito bem ao trauma do acidente. Apesar dos médicos alertarem que ela poderia ficar agitada por um tempo, a pequena estava surpreendendo a todos e se comportando como uma pequena guerreira. Claro que o carinho que recebeu de dona Fátima foi essencial; desde que a tragédia aconteceu, ela cobriu Sofia de carinho.— Está gostando?— Claro que sim, realmente está gostosa, Pri. – Se fosse em outro contexto, Suzana apreciaria muito essa refeição— Eu tenho que ir trabalhar, amiga, mas se precisar de algo, chame a dona Fátima. Ela costuma dormir tarde, vendo séries, pois tem insônia e a televisão é sua companheira.— Não se preocupe comigo, eu vou ficar bem.— Eu sei que não vai, amiga, mas admiro a sua coragem. – Priscila sorriu, tentando animar a amiga, mas sabia que a sua tristeza não passaria tão cedo. – Se algo inusitado acontecer, ligue para o Pablo, não posso ficarcom o celular o tempo todo no serviço, mas juro que sempre vou tentar espiar para ver se precisou de mim.— Fique tranquila, nada irá acontecer, eu vou ficar bem.— Espero que sim. – Ela sorriu para sua amiga, se despedindo e indo emboraSuzana observou Priscila sair e pensou em todas as mudanças que a vida lhe deu. Há uma semana, tudo era normal, mas agora estava sem dinheiro, sem família e com uma criança para sustentar.Como iria sobreviver?Precisava encontrar uma solução para se sustentar e não sobrecarregar seus amigos. Não poderia passar seus dias na cama, chorando por ser uma desafortunada da vida.*****1 mês depoisDepois de um mês tentando resolver sua vida, Suzana já começava a entrar em desespero. Não tinha conseguido arrumar um emprego, e em todas as entrevistas que ia, o salário era tão irrisório, que não dava para bancar um aluguel e as compras do mês.Durante esse tempo, ela colocou a vergonha no bolso e procurou todos os amigos do tempo em que era casada, mas nenhum deles se disponibilizou a ajudá-la. Todos inventaram desculpas esfarrapadas e disseram que no momento não podiam fazer nada por ela.Suzana vendeu a maioria dos seus vestidos de festas, e com esse dinheiro conseguiu se manter durante o mês que passou. Ela guardou o resto para o próximo, mas sabia que precisava encontrar imediatamente um emprego descente para poder cuidar da sua vida sem atrapalhar os amigos. E ainda tinha a dívida do sepultamento da família: apesar de os seus amigos terem ajudado a pagar, ela se sentia na obrigação moral de devolver esse dinheiro e esperava saná-la com o seguro que receberia do a
Uma semana depois— O que é isso? – Priscila se assustou com o papel que Suzana jogou na mesa.— Leia! – Suzana acomodou a sobrinha no colo e fez sinal para a amiga olhar o papelAssim que Priscila começou a ler, sentiu-se indignada. Não era possível que aquele monstro desceu nesse nível. Ele não podia ter desferido esse último golpe na amiga, era muita crueldade até para alguém como ele.— Não acredito que ele fez isso.— Trezentos mil reais, Pri. Eu estou devendo trezentos mil reais ao banco e sequer sei onde esse dinheiro está. Como vou conseguir seguir em frente com uma dívida dessas? Até para arrumar emprego é difícil.O desespero na voz da amiga desestabilizou Priscila. De fato, a situação de Suzana só piorava, além de não ter casa e emprego, agora ela devia uma bolada ao cartão de crédito e ao banco. Realmente seria difícil seguir em frente, a situação estava ainda mais complicada.— Quem te enviou essa cobrança?— O gerente do meu banco me ligou e avisou que o Joaquim pegou u
Depois que Suzana resolveu o seu destino, um certo temor a deixou agitada. Agora que estava nas vésperas da entrevista na agência, ela estava nervosa. Ela não tinha muita experiência sexual, só teve dois homens em sua vida, isso a tornava uma mulher limitada no sexo. A verdade era que Suzana sempre foi tímida na cama e por isso fugia dos vários pretendentes que aparecia. Transou pela primeira vez com um antigo namorado de escola e com ele teve um relacionamento duradouro. Eles ficaram dois anos juntos, e depois dele, Suzana se manteve afastada dos homens até que conheceu seu cretino ex-marido.Essa sua falta de experiência estava deixando-a temerosa. Como iria dizer na entrevista que só transou com dois caras? Teria que mentir e dizer que tinha uma longa lista de homens na sua cama, caso contrário, perderia essa oportunidade de reerguer a sua vida.Ela ainda não sabia o que faria no momento em que ficasse sozinha com um cliente, mas teria que encontrar forças para fazer o que espera
Horas depois — Esse homem que você encontrou era amigo do canalha?— Era, mas sempre foi uma pessoa muito solícita. Tanto que ele foi o único que me ofereceu ajuda.— Não confio muito nele, amiga, vai que esse homem esteja de conluio com o seu ex? Do jeito que esse homem te massacrou, eu não confio em nada nos amigos dele.— Mas o Murilo apenas tinha negócios com o Joaquim, eles não eram amigos de fato, apenas parceiros de negócios.Priscila não se convenceu dessa história, mas ia tentar descobrir quem era esse Murilo. Ela não deixaria à amiga se meter em mais uma furada.— Nervosa para a entrevista que vai ter amanhã?— Muito. – Na verdade, Suzana não dormia há dois diasPor mais que tentasse se acalmar, a sua cabeça não parava de pensar. Queria que tudo desse certo, mas se fosse contratada, não sabia se conseguiria chegar até o fim. Todas as vezes que tentou se imaginar junto de um homem estranho, sentiu o seu estômago revirar. Nunca teve uma transa fora de um relacionamento, e iss
Ainda na agência...— O que ela está fazendo aqui? Ela não pode me ver! — A voz de Murilo beirava o desespero.— O que deu em você, Murilo? Por que está parecendo que viu um fantasma? — Theodoro questiona erguendo a sobrancelha — Mas eu vi.Nesse instante ela olhou ao redor e Murilo se escondeu atrás de Theodoro. Se Suzana o visse por aqui, acabariam todas as chances de ele conquistá-la. — Vamos voltar para a minha sala. — Murilo sequer deu tempo do amigo protestarOs dois voltaram como foragidos para a sala de Murilo, o que fez Theodoro perder a paciência de vez. O seu amigo andava com sérios problemas, e ele já estava chegando ao limite com isso.— Que porra está acontecendo? Quem era aquela mulher?— Cala a boca, Théo, agora não.Com desespero, Murilo ligou para Olga em busca de informações. Se a Suzana estivesse aqui pelo motivo que estava pensando, não sabia o que faria. Não podia deixar que ela se tornasse uma de suas garotas, ela era especial demais para esse tipo de serviço
O desespero de Suzana a deixava tão incapacitada, que ela não tinha forças sequer de sair correndo do lugar. Agora que estava na agência, ela não sabia como teve a coragem de cogitar ser uma garota de programa. Se para fazer uma simples entrevista, estava tendo palpitações descompassadas no coração, imagina como não ficaria se tivesse que ir para a cama com um cliente? Definitivamente isso não era para ela.Quando disse isso para si mesma, se sentiu aliviada e se preparou para ir embora. Segurou a sua bolsa com força e levantou, mas no primeiro passo que deu, uma jovem mulher apareceu e a chamou. O seu corpo quase entrou em síncope, mas ela conseguiu se segurar em seus belos saltos.— Por favor, venha por aqui, senhorita.Por alguns segundos, cogitou dizer que estava indo embora, mas acabou respirando fundo e seguindo a mulher. Faria a entrevista, mas no final diria que não está apta para o serviço. Por mais que precisasse de dinheiro rápido, dormir com diversos homens não estava ao s
Ainda na agência Theodoro começa o seu interrogatório, mas no fundo ele já sabia de todas as respostas.— Qual sua especialidade na cama? Preciso saber o que gosta ou não de fazer. – Como um verdadeiro profissional, ele começou a listar todas as habilidades que uma verdadeira garota de programa deveria fazer"Você aceita participar de trios masculinos, ou só com outra mulher?""Importa-se de participar de swing? Anal é um problema para você? Tenho clientes que só gostam dessa modalidade."O rosto de Suzana ganhou um tom vermelho adorável, e Theodoro mordeu o lábio para não rir do constrangimento dela. Podia estar enganado, mas ela nunca fez nada disso, incluindo o anal. Essa mulher seria um desastre como funcionária de Murilo. Ainda bem que ele não tinha intenção de disponibilizá-la para os seus clientes.— Eu... – Suzana queria abrir um buraco no chão e sumir. Nunca conseguiria discutir sobre sexo com um homem como ele.— Tenho clientes apenas do sexo feminino e preciso saber se você
No Escritório...— Tem certeza que quer trabalhar aqui?— Eu preciso. – Ela respondeu de imediato, encarando os seus olhos, descobrindo que eram de um tom azul acinzentado.— Está disposta a aprender a agradar meus clientes?— Sim. – Suzana respondeu, quase hipnotizada por seu chefe, ele era deslumbrante e tocava o seu rosto, fazendo com que ela desejasse que a possuísse aqui e agora!Uma respiração funda escapou de Theodoro, e ele retirou a mão do seu rosto para não culpar esse toque da decisão absurda que tinha acabado de tomar. Mesmo querendo se afastar dela, uma força invisível o fazia desejá-la como nunca desejou outra mulher. E para ficar com ela, ele faria o que sempre excomungou em outros homens. Ele iria pagar para ter Ashley, não importaria quanto fosse, mas ela seria sua e depois ele daria um jeito de encaminhá-la para um emprego descente e a tiraria das possíveis garras do seu amigo.— Se é isso o que você quer, eu vou te passar o endereço de um laboratório e você fará exa